HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO n.2
1. O contexto político-religioso (1500-1822)
Portugal surgiu como nação independente da Espanha
durante a Reconquista (1139-1249), ou seja, a luta contra os muçulmanos que
haviam conquistado boa parte da Península Ibérica vários séculos antes. Seu
primeiro rei foi D. Afonso Henriques. O novo país tinha fortes ligações com a
Inglaterra, com a qual iria firmar posteriormente o Tratado de Windsor, em
1386. O apogeu da história de Portugal foi o período das grandes navegações e
dos grandes descobrimentos, com a conseqüente formação do império colonial português
na África, Ásia e América Latina.
No final da Idade Média, a forte integração entre a
igreja e o estado na Península Ibérica deu origem ao fenômeno conhecido como
“padroado” ou patronato real. Pelo padroado, a Igreja de Roma concedia a um
governante civil certo grau de controle sobre uma igreja nacional em apreciação
por seu zelo cristão e como incentivo para futuras ações em favor da igreja.
Entre 1455 e 1515, quatro papas concederam direitos de padroado aos reis
portugueses, que assim foram recompensados por seus esforços no sentido de
derrotar os mouros, descobrir novas terras e trazer outros povos para a
cristandade.
Portanto, a descoberta e colonização do Brasil foi
um empreendimento conjunto do Estado português e da Igreja Católica, no qual a coroa
desempenhou o papel predominante. O estado forneceu os navios, custeou as
despesas, construiu as igrejas e pagou o clero, mas também teve o direito de
nomear os bispos, recolher os dízimos, aprovar documentos e interferir em quase
todas as áreas da vida da igreja.
Um dos primeiros representantes oficiais do governo
português a visitar o Brasil foi Martim Afonso de Souza, em 1530. Três anos
depois, foi implantado o sistema de capitanias hereditárias, que, todavia, não
foi bem-sucedido. Diante disso, Portugal começou a nomear governadores-gerais,
o primeiro dos quais foi Tomé de Sousa, que chegou em 1549 e construiu
Salvador, na Bahia, a primeira capital da colônia.
Com Tomé de Sousa vieram os primeiros membros de uma
nova ordem religiosa católica que havia sido oficializada recentemente (1540) –
a Sociedade de Jesus ou os jesuítas. Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e seus
companheiros foram os primeiros missionários e educadores do Brasil colonial.
Essa ordem iria atuar ininterruptamente no Brasil durante 210 anos (1549-1759),
exercendo enorme influência sobre sua história religiosa e cultural. Muitos
jesuítas foram defensores dos índios, como o afamado padre Antonio Vieira
(1608-97). Ao mesmo tempo, eles se tornaram os maiores proprietários de terras
e senhores de escravos do Brasil colonial.
Em 1759 a Sociedade de Jesus foi expulsa de todos os
territórios portugueses pelo primeiro-ministro do rei D. José I, Sebastião José
de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal (1751-1777). Por causa de sua riqueza e
influência, os jesuítas tinham muitos inimigos entre os líderes eclesiásticos,
proprietários de terras e autoridades civis. Sua expulsão resultou tanto do
anticlericalismo que se alastrava pela Europa quanto do “regalismo” de Pombal,
isto é, a noção de que todas as instituições da sociedade, em especial a
igreja, deviam ser inteiramente subservientes ao rei. Pombal também determinou
a transferência da capital colonial de Salvador para o Rio de Janeiro.
Desde o início da colonização, a coroa portuguesa foi
lenta em seu apoio à igreja: a primeira diocese foi fundada em 1551, a segunda
somente em 1676 e em 1750 havia apenas oito dioceses no vasto território.
Nenhum seminário para o clero secular foi criado até 1739. Todavia, a coroa
nunca deixou de recolher os dízimos, que vieram a ser o principal tributo
colonial. Com a expulsão dos jesuítas, que eram em grande parte independentes
das autoridades civis, a igreja tornou-se ainda mais fraca.
Durante o período colonial, a atuação dos
bandeirantes, aventureiros que se embrenhavam pelo interior em busca de pedras
preciosas e escravos, foi decisiva para a expansão territorial do Brasil. Suas
ações foram facilitadas e incentivadas pela União Ibérica, ou seja, o controle
de Portugal pela Espanha durante sessenta anos (1580-1640). Os bandeirantes
chegaram a atacar as missões jesuíticas da bacia do rio Paraná, conhecidas como
“reduções”, levando centenas de indígenas para os mercados de escravos de São
Paulo. A escravidão de índios e negros foi uma constante no período colonial.
Outro fenômeno marcante foi a corrida do ouro nas Minas Gerais (1693-1760), que
trouxe benefícios e problemas.
No período colonial houve dois tipos bastante
distintos de catolicismo no Brasil. Em primeiro lugar, havia a religiosidade
dos colonos, escravos e senhores de engenho, centralizada na “casa grande” e
caracterizada pela informalidade, pequena ênfase em dogmas, devoção aos santos
e Maria e permissividade moral. Ao mesmo tempo, nos centros urbanos havia o
catolicismo das ordens religiosas, mais disciplinado e alinhado com Roma. Havia
ainda as irmandades, que por vezes tinham bastante independência em relação à
hierarquia.
Em conclusão, no período colonial o estado exerceu
um rígido controle sobre a área eclesiástica. Com isso a igreja teve
dificuldade em realizar adequadamente o seu trabalho evangelístico e pastoral.
O catolicismo popular era culturalmente forte, mas débil nos planos espiritual
e ético. Apesar das suas debilidades, a igreja foi um importante fator na
construção da unidade e da identidade nacional.
2. Presença protestante no Brasil colonial
Nos séculos 16 e 17, duas regiões do Brasil foram
invadidas por nações européias: a França e a Holanda. Muitos dos invasores eram
protestantes, o que provocou forte reação dos portugueses numa época em que
estava em pleno curso a Contra-Reforma, ou seja, o esforço da Europa católica
no sentido de deter e mesmo suprimir o protestantismo. O esforço pela expulsão
dos invasores fortaleceu a consciência nacional, mas ao mesmo tempo aumentou o
isolamento do Brasil.
2.1 Os franceses na Guanabara (1555-1567)
Em dezembro de 1555 chegou à baía de Guanabara uma
expedição comandada por Nicolas Durand de Villegaignon. O empreendimento contou
com o apoio do almirante Gaspard de Coligny (1519-1572), um simpatizante e
futuro correligionário dos protestantes franceses (huguenotes).
Inicialmente, Villegaignon se mostrou simpático à
Reforma. Escreveu ao reformador João Calvino, em Genebra, na Suíça, pedindo
pastores e colonos evangélicos para sua colônia. Uma segunda expedição chegou
em 1557, trazendo um pequeno grupo de huguenotes liderados pelos pastores
Pierre Richier e Guillaume Chartier. Um integrante da comitiva era Jean de
Léry, que mais tarde se tornou pastor e escreveu o livro História de uma viagem
à terra do Brasil, publicado em Paris, em 1578. No dia 10 de março de 1557 esse
grupo realizou o primeiro culto protestante da história do Brasil e das
Américas.
Rapidamente surgiram divergências entre Villegaignon
e os calvinistas acerca dos sacramentos e de outras questões. O pastor Chartier
foi enviado de volta para a França e os colonos protestantes foram expulsos. O
navio em que vários deles voltaram para a França começou a apresentar problemas
e cinco deles se ofereceram para retornar à terra: Jean de Bourdel, Matthieu
Verneuil, Pierre Bourdon,, André Lafon e Jacques le Balleur.
Em resposta a uma série de perguntas apresentadas
pelo comandante, esses homens escreveram um belo documento, a Confissão de fé
da Guanabara (1558). Três deles foram executados por causa de suas convicções.
André Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Le Balleur fugiu
para São Vicente, ficou encarcerado por vários anos em Salvador, e finalmente
foi levado para o Rio de Janeiro em 1567, sendo enforcado quando os últimos
franceses foram expulsos pelos portugueses.
Os calvinistas tiveram uma preocupação missionária
em relação aos índios, mas pouco puderam fazer por eles. Léry expressou
atitudes contraditórias que provavelmente eram típicas dos seus comanheiros:
embora interessado na situação espiritual dos indígenas, a relutância dos
mesmos em aceitar a fé cristã o levou a concluir que eles talvez estivessem
entre os não-eleitos. A França Antártica entrou para a história como a primeira
tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na
América Latina.
2.2 Os holandeses no Nordeste (1630-1654)
Em 1568 as Províncias Unidas dos Países Baixos
tornaram-se independentes da Espanha. A nova e próspera nação calvinista criou
em 1621 a Companhia das Índias Ocidentais, na época em que Portugal estava sob
o domínio da Espanha (1580-1640). Em 1624 os holandeses tomaram Salvador, a
capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte.
Em 1630 a Companhia das Índias Ocidentais tomou
Recife e Olinda e dentro de cinco anos apossou-se de grande parte do nordeste
brasileiro. O maior líder do Brasil holandês foi o príncipe João Maurício de
Nassau-Siegen, que governou por apenas sete anos (1637-1644). Ele foi notável
administrador e incentivador das ciências e das artes. Concedeu uma boa medida
de liberdade religiosa aos habitantes católicos e judeus do Brasil holandês.
Os holandeses criaram sua própria igreja estatal nos
moldes da Igreja Reformada da Holanda. Durante os 24 anos de dominação, foram
organizadas 22 igrejas e congregações, dois presbitérios e um sínodo. As
igrejas foram servidas por mais de 50 pastores (“predicantes”), além de
pregadores auxiliares (“proponentes”) e outros oficiais. Havia também muitos
“consoladores dos enfermos” e professores de escolas paroquiais.
As igrejas destacaram-se pela sua atuação
beneficente e sua ação missionária junto aos índios. Havia planos de preparação
de um catecismo, tradução da Bíblia e ordenação de pastores indígenas. Todavia,
levados por considerações econômicas e agindo contra as suas convicções
religiosas, os holandeses mantiveram intacto o sistema de escravidão negra,
ainda que tenham concedido alguns direitos aos escravos.
Após alguns anos de divergências com os diretores da
Companhia das Índias Ocidentais, Maurício de Nassau renunciou em 1644 e no ano
seguinte começou a revolta dos portugueses e brasileiros contra os invasores,
que finalmente foram expulsos em 1654. No restante do período colonial, o
Brasil manteve-se isolado, sendo inteiramente vedada a entrada de protestantes.
Porém, com a transferência da família real portuguesa, em 1808, abriram-se as
portas do país para a entrada legal dos primeiros protestantes (anglicanos
ingleses).
3. Igreja e Estado no Brasil Império (1822-1889)
Com a independência do Brasil, surgiu a necessidade
de atrair imigrantes europeus, inclusive protestantes. A Constituição Imperial,
promulgada em 1824, concedeu-lhes certa liberdade de culto, ao mesmo tempo em
que confirmou o catolicismo como religião oficial. Até a Proclamação da
República, os protestantes enfrentariam sérias restrições no que diz respeito
ao casamento civil, uso de cemitérios e educação.
Desde o século 18, começaram a se tornar influentes
no Brasil novos conceitos e movimentos surgidos na Europa, tais como o
iluminismo, a maçonaria, o liberalismo político e os ideais democráticos
americanos e franceses. Tais idéias tornaram-se especialmente influentes entre
os intelectuais, políticos e sacerdotes, e tiveram dois efeitos importantes na
área religiosa: o enfraquecimento da Igreja Católica e uma crescente abertura
ao protestantismo.
O liberalismo de muitos religiosos brasileiros,
inclusive bispos, é ilustrado pelo padre Diogo Antonio Feijó (regente do
império de 1835 a 1837), que em diferentes ocasiões propôs a legalização do
casamento clerical, sugeriu que os irmãos morávios fossem convidados para
educar os índios brasileiros e defendeu um concílio nacional para separar a
igreja brasileira de Roma.
O imperador D. Pedro II (1841-1889) utilizou
plenamente seus direitos legais de padroado, bem como os poderes adicionais do
recurso (em casos de disciplina eclesiástica) e do beneplácito (censura de
todos os documentos eclesiásticos antes de sua publicação no Brasil), em
virtude da sua preocupação com o ultramontanismo. Um autor comenta que, durante
o longo reinado de Pedro II, a igreja não passou de um departamento do governo.
Todavia, no pontificado do papa Pio IX (1846-1878)
Roma começou a exercer um maior controle sobre a igreja brasileira. As idéias
da encíclica Quanta cura e seu Sílabo de Errostiveram rápida difusão, apesar de
não terem recebido o beneplácito de Pedro II. OSílabo atacou violentamente a
maçonaria numa época em que os principais estadistas brasileiros e o próprio
imperador estavam ligados às lojas. Isto acabou desencadeando a famosa “Questão
Religiosa” (1872-75), um sério confronto entre o governo e dois bispos do norte
do Brasil (D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira e D. Antônio de Macedo Costa)
que enfraqueceu o Império e contribuiu para a Proclamação da República.
A Questão Religiosa marcou o início da renovação
católica no Brasil, que se aprofundou no período republicano. À medida que
afirmava sua autonomia diante do Estado, a Igreja tornou-se mais
universalística e mais romana. O próprio sacerdócio tornou-se mais estrangeiro.
Ao mesmo tempo, ela teve de enfrentar a concorrência de outros grupos
religiosos e ideológicos além do protestantismo, tais como o positivismo e o
espiritismo.
O século 19 testemunhou um longo esforço dos
protestantes no sentido de obter completa legalidade e liberdade no Brasil, 80
anos de avanço lento, porém contínuo, em direção à plena tolerância
(1810-1890). Um passo importante na conquista da liberdade de expressão e de
propaganda ocorreu quando o missionário Robert Reid Kalley, pressionado pelas
autoridades, consultou alguns juristas destacados e obteve opiniões favoráveis
quanto às suas atividades religiosas. Finalmente, em 1890, um decreto do
governo republicano consagrou a separação entre a Igreja e o Estado,
assegurando aos protestantes pleno reconhecimento e proteção legal. A nova
expressão religiosa se implantou no Brasil em duas fases: protestantismo de
imigração e protestantismo missionário.
4. Protestantismo de imigração
O historiador Boanerges Ribeiro observa que “ao
iniciar-se o século XIX, não havia no Brasil vestígio de protestantismo”
(Protestantismo no Brasil monárquico, p. 15). Em janeiro de 1808, com a chegada
da família real ao Rio de Janeiro, o príncipe-regente João decretou a abertura
dos portos do Brasil às nações amigas. Em novembro, um novo decreto concedeu
amplos privilégios a imigrantes de qualquer nacionalidade ou religião.
Em fevereiro de 1810, Portugal assinou com a
Inglaterra tratados de Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação. Este
último, em seu artigo 12, concedeu aos estrangeiros “perfeita liberdade de
consciência” para praticarem sua fé. Tratava-se de uma tolerância limitada,
porque vinha acompanhada da proibição de fazer prosélitos e de falar contra a
religião oficial. Além disso, as capelas protestantes não teriam forma exterior
de templo nem poderiam utilizar sinos.
O primeiro capelão anglicano, Robert C. Crane,
chegou em 1816. A primeira capela anglicana foi inaugurada no Rio de Janeiro em
26 de maio de 1822; seguiram-se outras nas principais cidades litorâneas.
Outros estrangeiros protestantes que chegaram nos primeiros tempos foram
americanos, suecos, dinamarqueses, escoceses, franceses e especialmente alemães
e suíços, de tradição luterana e reformada.
Boanerges Ribeiro continua: “Quando se proclamou a
Independência, contudo, ainda não havia igreja protestante no país. Não havia
culto protestante em língua portuguesa. E não há notícia de existir, então,
sequer um brasileiro protestante” (Ibid., p. 18). Com a independência, houve
grande interesse na vida de imigrantes, inclusive protestantes. Isso exigiu que
se garantissem os direitos religiosos desses imigrantes. A Constituição
Imperial de 1824 afirmou no artigo 5º: “A religião católica apostólica romana continuará
a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu
culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma
exterior de templo”.
Em 1820, um contingente de suíços católicos iniciou
a colônia de Nova Friburgo. Logo a área foi abandonada e oferecida a alemães
luteranos que chegaram em maio de 1824. Eram 324 imigrantes acompanhados do seu
pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-1864). A maior parte dos imigrantes
alemães foi para o sul, cerca de 4.800 entre 1824 e 1830, 60% dos quais eram
protestantes. Seus primeiros pastores foram Johann Georg Ehlers, Karl Leopold
Voges e Friedrich Christian Klingelhöffer.
Em junho de 1827, por iniciativa do cônsul da
Prússia, Wilhelm von Theremin, foi criada no Rio de Janeiro a Comunidade
Protestante Alemã-Francesa, congregando luteranos e calvinistas, cujo primeiro
pastor foi Ludwig Neumann. Em 1837, o primeiro santuário passou a funcionar em
um edifício alugado, sendo o edifício próprio inaugurado em 1845.
Por falta de ministros ordenados, os primeiros
luteranos organizaram sua própria vida religiosa. Elegeram leigos para serem
pastores e professores, os “pregadores-colonos”. Todavia, na década de 1850, a
Prússia e a Suíça “descobriram” os alemães do sul do Brasil e começaram a
enviar-lhes missionários e ministros. Isso criou uma igreja mais institucional
e européia.
Em 1868, o Rev. Hermann Borchard, que havia chegado
em 1864, e outros colegas fundaram o Sínodo Evangélico Alemão da Província do
Rio Grande do Sul, que foi extinto em 1875. Em 1886, o Rev. Wilhelm Rotermund
(chegado em 1874), organizou o Sínodo Rio-Grandense, que se tornou modelo para
outras organizações similares. Até o final da II Guerra Mundial as igrejas
luteranas permaneceram culturalmente isoladas da sociedade brasileira.
Uma conseqüência importante da imigração protestante
é o fato de que ela ajudou a criar as condições que facilitaram a introdução do
protestantismo missionário no Brasil. O autor Erasmo Braga observou que, à
medida que os imigrantes alemães exigiam garantias legais de liberdade
religiosa, estadistas liberais criaram “a legislação avançada que, durante o
longo reinado de D. Pedro II, protegeu as missões evangélicas da perseguição
aberta e até mesmo colocou as comunidades não-católicas sob a proteção das
autoridades imperiais” (The Republic of Brazil, p. 49). Em 1930, de uma
comunidade protestante de 700 mil pessoas no país, as igrejas imigrantes tinham
aproximadamente 300 mil filiados. A maior parte estava ligada à Igreja Evangélica
Alemã do Brasil (215 mil) e vivia no Rio Grande do Sul.
5. Protestantismo missionário (1835-1889)
As primeiras organizações protestantes que atuaram
junto aos brasileiros foram as sociedades bíblicas: Britânica e Estrangeira
(1804) e Americana (1816). Havia duas traduções da Bíblia em português, uma
protestante, feita pelo Rev. João Ferreira de Almeida (1628-1691), e outra
católica, do padre Antônio Pereira de Figueiredo (1725-1797). Os primeiros
agentes oficiais das sociedades bíblicas foram: da SBA, James C. Fletcher
(1855); da SBBE, Richard Corfield (1856). Nesse período pioneiro, foi muito
importante o trabalho dos colportores, isto é, vendedores de Bíblias e
literatura religiosa.
A Igreja Metodista Episcopal foi a primeira
denominação a iniciar atividades missionárias junto aos brasileiros
(1835-1841). Seus obreiros iniciais foram Fountain E. Pitts, Justin Spaulding e
Daniel Parish Kidder. Eles fundaram no Rio de Janeiro a primeira escola
dominical do Brasil. Também atuaram como capelães da Sociedade Americana dos
Amigos dos Marinheiros, fundada em 1828.
Daniel P. Kidder foi uma figura importante dos
primórdios do protestantismo brasileiro. Ele viajou por todo o país, vendeu
Bíblias e manteve contactos com intelectuais e políticos destacados, como o
padre Diogo Antônio Feijó, regente do império (1835-1837). Kidder escreveu o
livro Reminiscências de viagens e permanência no Brasil, publicado em 1845, um
clássico que despertou grande interesse pelo Brasil.
James Cooley Fletcher (1823-1901) era pastor
presbiteriano. Estudou no Seminário de Princeton e na Europa, e se casou com
uma filha de César Malan, teólogo calvinista de Genebra. Chegou ao Brasil em
1851 como o novo capelão da Sociedade dos Amigos dos Marinheiros e como
missionário da União Cristã Americana e Estrangeira. Atuou como secretário
interino da legação americana no Rio de Janeiro e foi o primeiro agente oficial
da Sociedade Bíblica Americana. Foi um promotor entusiasta do protestantismo e
do “progresso”. Escreveu O Brasil e os brasileiros, publicado em 1857, uma
versão atualizada da obra de Kidder.
Robert Reid Kalley (1809-1888) era natural da
Escócia. Estudou medicina e foi trabalhar como missionário na Ilha da Madeira
(1838). Oito anos depois, escapou de uma violenta perseguição e foi com seus
paroquianos para os Estados Unidos. Fletcher sugeriu que ele fosse para o
Brasil, onde Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley (1825-1907) chegaram em
maio de 1855. No mesmo ano, fundaram em Petrópolis a primeira escola dominical
permanente do país (19 de agosto). Em 11 de julho de 1858, Kalley fundou a
Igreja Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863), cujo primeiro
membro brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade. Kalley teve importante atuação
na defesa da liberdade religiosa (1859). Sua esposa foi autora do famoso
hinário Salmos e hinos(1861). A Igreja Fluminense aprovou sua base doutrinária,
elaborada por Kalley, em 2 de julho de 1876. No mesmo ano, o missionário voltou
em definitivo para a Escócia. Os estatutos da igreja foram aprovados pelo
governo imperial em 22 de novembro de 1880.
Os missionários pioneiros da Igreja Presbiteriana
foram Ashbel Green Simonton (1859), Alexander Latimer Blackford (1860) e
Francis Joseph Christopher Schneider (1861). As primeiras igrejas organizadas
foram as do Rio de Janeiro (1862), São Paulo (1865) e Brotas (1865). Duas
importantes realizações iniciais foram o jornal Imprensa Evangélica(1864-1892)
e o Seminário do Rio de Janeiro (1867-1870). O primeiro pastor evangélico
brasileiro foi o ex-sacerdote José Manoel da Conceição, ordenado em 17 de
dezembro de 1865. Em 1870, os presbiterianos fundaram em São Paulo a Escola
Americana (atual Universidade Mackenzie). Em 1888, foi organizado o Sínodo do
Brasil, que marcou a autonomia eclesiástica da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Após a Guerra Civil americana (1861-1865), muitos
imigrantes norte-americanos se estabeleceram no interior da Província de São
Paulo. Eles foram seguidos por missionários presbiterianos, metodistas e
batistas. Os pioneiros enviados pela Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados
Unidos (PCUS) foram George Nash Morton e Edward Lane (1869). Eles fundaram o
Colégio Internacional, instalado oficialmente em 1873.
A Igreja Metodista Episcopal (do sul dos Estados
Unidos) enviou Junius E. Newman para trabalhar junto aos imigrantes (1876). O
primeiro missionário aos brasileiros foi John James Ransom, que chegou em 1876
e dois anos depois organizou a primeira igreja no Rio de Janeiro. A professora
Martha Hite Watts iniciou uma escola para moças em Piracicaba (1881). A partir
de 1880, a I.M.E. do norte dos EUA enviou obreiros ao norte do Brasil (William
Taylor, Justus H. Nelson) e ao Rio Grande do Sul. A Conferência Anual Metodista
foi organizada em 1886 pelo bispo John C. Granbery, com a presença de apenas
três missionários.
Os primeiros missionários da Igreja Batista, Thomas
Jefferson Bowen e sua esposa (1859-1861), não foram bem sucedidos. Em 1871, os
imigrantes batistas de Santa Bárbara organizaram duas igrejas. Os primeiros
missionários junto aos brasileiros foram William Buck Bagby, Zachary Clay
Taylor e suas esposas (chegados em 1881-1882). O primeiro membro e pastor
batista brasileiro foi o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, que já
estivera ligado aos metodistas. Em 1882 o grupo fundou a primeira igreja
brasileira em Salvador, na Bahia. A Convenção Batista Brasileira foi criada em
1907.
A Igreja Protestante Episcopal foi a última das
denominações históricas a iniciar trabalho missionário no Brasil. Um importante
e controvertido precursor havia sido Richard Holden (1828-1886), que durante
três anos atuou com poucos resultados no Pará e na Bahia (1861-1864). O
trabalho permanente teve início em 1890 com James Watson Morris e Lucien Lee
Kinsolving. Inspirados pela obra de Simonton e por um folheto sobre o Brasil,
eles se estabeleceram em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um estado até
então pouco ocupado por outras missões. Em 1899, Kinsolving tornou-se o
primeiro bispo residente da Igreja Episcopal do Brasil.
6. Igreja e estado: período republicano
A separação entre a igreja e o estado foi efetivada
pelo Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890, que consagrou a plena liberdade
de culto. Em fevereiro de 1891, a primeira Constituição republicana confirmou a
separação entre a igreja e o estado, bem como proclamou outras medidas liberais
como a plena liberdade de culto, o casamento civil obrigatório e a
secularização dos cemitérios. Sob influências liberais e positivistas, a
Constituição omitiu o nome de Deus, afirmando assim a caráter não religioso do
novo regime, e a Igreja Católica foi colocada em pé de igualdade com todos os
outros grupos religiosos; a educação foi secularizada, sendo a religião omitida
do novo currículo. Em uma carta pastoral de março de 1890, os bispos deram as
boas-vindas à República, mas também repudiaram a separação entre a igreja e o
estado.
A partir de então, a Igreja teve duas grandes
preocupações: obter o apoio do Estado e aumentar a sua influência na sociedade.
Um dos primeiros passos foi fortalecer a estrutura interna da igreja:
criaram-se novas estruturas eclesiásticas (dioceses, arquidioceses, etc.) e
fundaram-se novos seminários. Foi incentivada a vinda de muitos religiosos
estrangeiros para o Brasil (capuchinhos, beneditinos, carmelitas,
franciscanos). A igreja também manteve sua firme oposição contra a modernidade,
o protestantismo, a maçonaria e outros movimentos.
Dois grandes líderes foram especialmente influentes
nesse esforço renovador: primeiro, o padre Júlio Maria, que desde 1890 até sua
morte em 1916 foi muito ativo como pregador e escritor, visando mobilizar a
igreja e tornar o Brasil verdadeiramente católico. Ainda mais notável foi D.
Sebastião Leme da Silveira Cintra (1882-1942), o líder responsável pela
orientação e mobilização da Igreja Católica brasileira na primeira metade do
século 20, como arcebispo de Olinda e Recife (1916-21), coadjutor no Rio de
Janeiro (1921-30) e cardeal arcebispo do Rio até a sua morte.
Em 1925, D. Leme propôs emendas à constituição que
dariam reconhecimento oficial à Igreja Católica como a religião dos brasileiros
e permitiriam a educação religiosa nas escolas públicas. As chamadas “emendas
Plínio Marques” enfrentaram a vigorosa oposição dos protestantes, maçons,
espíritas e da imprensa, sendo eventualmente rejeitadas. Todavia, mediante um
decreto de abril de 1930, Getúlio Vargas permitiu o ensino religioso nas
escolas. Por fim, a Constituição de 1934 incluiu todas as exigências católicas,
sem oficializar o catolicismo. O Centro Dom Vital, cujos líderes iniciais foram
Jackson de Figueiredo e Alceu de Amoroso Lima, deu continuidade à luta pela
ascendência católica. A agenda da Liga Eleitoral Católica incluía tópicos como
a oficialização do catolicismo, o casamento religioso, o ensino religioso nas
escolas públicas, capelanias católicas nas forças armadas e sindicatos
católicos. Também foram realizadas campanhas contra as missões estrangeiras
protestantes.
7. Católicos e protestantes
Nas primeiras décadas do período republicano, os
protestantes tiveram diferentes atitudes diante da reação católica. Uma delas
foi a criação de uma frente unida contra o catolicismo. A entidade conhecida
como Aliança Evangélica havia sido criada inicialmente na Inglaterra (1846) e
nos Estados Unidos (1867). A congênere brasileira surgiu em São Paulo, em julho
de 1903, tendo como presidente Hugh C. Tucker (metodista) e como secretário F.
P. Soren (batista). Todavia, o Congresso do Panamá e a subsequente Conferência
do Rio de Janeiro, em 1916, revelaram atitudes divergentes em relação ao
catolicismo, sendo alguns elementos, principalmente norte-americanos,
favoráveis a uma aproximação e mesmo colaboração com a igreja católica. Uma das
questões discutidas foi o rebatismo ou não de católicos convertidos à fé
evangélica. Esse período também viu o recrudescimento de perseguições contra os
protestantes em muitos lugares do Brasil.
Na década de 1920, a Comissão Brasileira de
Cooperação, liderada pelo Rev. Erasmo de Carvalho Braga (1877-1932) procurou
unir as igrejas evangélicas na luta pela preservação dos seus direitos e no
exercício de um testemunho profético junto à sociedade brasileira. Esse esforço
teve prosseguimento até os anos 60 na Confederação Evangélica do Brasil. Após
1964, as relações das igrejas evangélicas e da Igreja Católica com o estado
brasileiro tomaram rumos por vezes diametralmente opostos, cujas conseqüências
se fazem sentir até os dias de hoje.
8. Progressistas x conservadores
Nas primeiras décadas do século 20, o protestantismo
brasileiro sofreu a influência de algumas correntes teológicas norte-americanas,
como o evangelho social, o movimento ecumênico e o fundamentalismo. Inspirado
em parte pelos dois primeiros, surgiu um notável esforço cooperativo entre as
igrejas históricas, sob a liderança do Rev. Erasmo Braga, secretário da
Comissão Brasileira de Cooperação (1917). Essa entidade se uniu em 1934 à
Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil e ao Conselho Nacional de Educação
Religiosa para formar a Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Nos anos 50 e
início da década de 60, a CEB criou a Comissão de Igreja e Sociedade (1955),
depois Setor de Responsabilidade Social da Igreja. Sua quarta reunião,
conhecida como Conferência do Nordeste, realizada em Recife em 1962, teve como
tema “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro”. Seus líderes foram Carlos
Cunha, Almir dos Santos e Waldo César, sendo preletores Sebastião G. Moreira,
Joaquim Beato, João Dias de Araújo e o bispo Edmundo K. Sherill.
O movimento ecumênico havia surgido com a
Conferência Missionária Mundial (1910), em Edimburgo, na Escócia, que deu
origem ao Concílio Missionário Internacional (1921). Outros dois movimentos,
“Vida e Trabalho” e “Fé e Ordem” se uniram para formar o Conselho Mundial de
Igrejas (Utrecht, 1938; Amsterdã, 1948). Algumas das primeiras igrejas
brasileiras a se filiarem a essa organização foram a metodista (1942), a
luterana (1950), a episcopal (1965) e a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil
Para Cristo (1968).
Por fim, o espírito denominacional suplantou o
ecumenismo. Duncan Reily observa: “O ecumenismo no Brasil foi muito mais um
projeto dos missionários e das sociedades missionárias do que dos brasileiros”
(História Documental, 233). Além de algumas igrejas históricas, também se
opuseram ao ecumenismo os grupos pentecostais, as “missões de fé” e “missões
indenominacionais”, e o movimento fundamentalista de Carl McIntire.
9. Denominações históricas (1889-1964)
9.1 Igreja Congregacional
Essa foi a primeira denominação brasileira
inteiramente nacional (não sujeita a nenhuma junta missionária). Até 1913, foram
organizadas somente treze igrejas congregacionais no Brasil, todas autônomas.
Oito eram filhas da Igreja Fluminense: Pernambucana (1873), Passa Três (1897),
Niterói (1899), Encantado (1903), Paranaguá, Paracambi e Santista (1912),
Paulistana (1913), e três da Igreja Pernambucana: Vitória (1905), Jaboatão
(1905) e Monte Alegre (1912). Em julho de 1913, essas igrejas se reuniram em 1ª
Convenção Geral, no Rio de Janeiro. Daí até 1942, a denominação mudou de nome
dez vezes.
Os ingleses fundaram missões para atuar na América
do Sul: Help for Brazil (criada em 1892 por iniciativa de Sarah Kalley e
outros), South American Evangelical Mission(Argentina) e Regions Beyond
Missionary Union (Peru). Após a Conferência de Edimburgo (1910), essas missões
vieram a constituir a União Evangélica Sul-Americana – UESA (1911). Dos seus
esforços, surgiu no Brasil a Igreja Cristã Evangélica.
Os congregacionais uniram-se à Igreja Cristã
Evangélica em 1942, formando a União das Igrejas Congregacionais e Cristãs do
Brasil. Separaram-se em 1969, tomando o nome de União das Igrejas Evangélicas
Congregacionais do Brasil. A outra ala dividiu-se em duas: Igreja Cristã
Evangélica no Brasil (Anápolis) e Igreja Cristã Evangélica do Brasil (São
Paulo).
9.2 Igreja Presbiteriana
A Igreja Presbiteriana do Brasil alcançou sua
autonomia formal em 1888, com a criação do Sínodo Presbiteriano. Surgiu então
uma crise no período 1892-1903 em torno das questões missionária, educativa e
maçônica que resultou em divisão, surgindo a Igreja Presbiteriana Independente.
Dois eventos significativos no início do século 20 foram a criação da
Assembléia Geral (1910) e o estabelecimento de um plano de cooperação entre a
igreja e as missões americanas, conhecido como Modus Operandi ou “Brazil Plan”
(1917). Com a Constituição de 1937, a Assembléia Geral foi transformada em
Supremo Concílio. Em 1955 surgiu o Conselho Interpresbiteriano, criado para
gerir as relações da igreja com as missões americanas e com as juntas
missionárias nos Estados Unidos.
Em 1948, Samuel Rizzo representou a IPB na
Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em Amsterdã. No ano seguinte, a
igreja optou pela “eqüidistância” entre o CMI e o CIIC de Carl McIntire. Em
1962, o Supremo Concílio aprovou o “Pronunciamento Social da IPB”.
Entre a juventude surgiu um crescente questionamento
da posição conservadora da igreja. Um importante canal de expressão foi o
controvertido Jornal Mocidade (1944). Billy Gammon, filha do Rev. Samuel
Gammon, foi nomeada secretária da mocidade a partir de 1946. Até 1958 o número
de sociedades locais cresceu de 150 para 600, com 17 mil membros. O Rev. M.
Richard Shaull veio ao Brasil para trabalhar entre universitários. Em 1953
tornou-se professor do Seminário Presbiteriano de Campinas e começou a cooperar
com o Departamento de Mocidade e a União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB).
Tornou-se uma voz influente na mocidade evangélica em geral. Em 1962, o Supremo
Concílio reestruturou o Departamento de Mocidade, tirando sua autonomia.
Igreja Presbiteriana Fundamentalista: Israel
Gueiros, pastor da 1ª Igreja Presbiteriana de Recife e ligado ao Concílio
Internacional de Igrejas Cristãs (Carl McIntire) liderou uma campanha contra o
Seminário do Norte sob a acusação de modernismo. Fundou outro seminário e foi
deposto pelo Presbitério de Pernambuco em julho de 1956. Em 21 de setembro do
mesmo ano foi organizada a IPFB com quatro igrejas locais (inclusive elementos
batistas e congregacionais), que formaram um presbitério com 1800 membros.
9.3 Igreja Presbiteriana Independente
Essa igreja surgiu em 1903 como uma denominação
totalmente nacional, sem qualquer vinculação com igrejas estrangeiras. Resultou
do projeto nacionalista de Eduardo Carlos Pereira (1856-1923). Em 1907 tinha 56
igrejas e 4.200 membros comungantes. Fundou um seminário em São Paulo. Em 1908
foi instalado o Sínodo, inicialmente com três presbitérios. Mais tarde, em
1957, foi criado o Supremo Concílio, com três sínodos, dez presbitérios, 189
igrejas locais e 105 pastores. Seu jornal oficial era O Estandarte, fundado em
1893. Após o Congresso do Panamá (1916), a IPI aproximou-se da IPB e das outras
igrejas evangélicas. A partir de 1930, surgiu um movimento de intelectuais
(entre eles o Rev. Eduardo Pereira de Magalhães, neto de Eduardo Carlos
Pereira) que pretendia reformar a liturgia, certos costumes eclesiásticos e até
mesmo a Confissão de Fé. A questão eclodiu no Sínodo de 1938. Um grupo
organizou a Liga Conservadora, liderada pelo Rev. Bento Ferraz. A elite liberal
retirou-se da IPI em 1942 e formou a Igreja Cristã de São Paulo.
A Igreja Presbiteriana Conservadora foi fundada
pelos membros da Liga Conservadora em 1940. Em 1957, contava com mais de vinte
igrejas, em quatro estados, e tinha um seminário. Seu órgão oficial é O Presbiteriano
Conservador. Filiou-se à Aliança Latino-Americana de Igrejas Cristãs e à
Confederação de Igreja Evangélicas Fundamentalistas do Brasil.
9.4 Igreja Metodista
A Conferência Anual Metodista foi organizada no Rio
de Janeiro em 15 de setembro de 1886 pelo bispo John C. Granbery, enviado ao
Brasil pela Igreja Metodista Episcopal do Sul. Tinha apenas três missionários,
James L. Kennedy, John W. Tarboux e Hugh C. Tucker, sendo a menor conferência
anual já criada na história do metodismo. Em 1899, a IME do Norte transferiu
seu trabalho no Rio Grande do Sul para a Conferência Anual. Em 1910 e 1919
surgiram outras duas conferências (norte, sul e centro).
A Junta de Nashville continuou a interferir na vida
da igreja de modo indevido, culminando com a insistência em nomear o presidente
do Colégio Granbery (1917). Cresceu o movimento pelo sustento próprio, liderado
por Guaracy Silveira. Em 1930 a IMES cedeu a autonomia desejada. No dia 2 de
setembro de 1930, na Igreja Metodista Central de São Paulo, foi organizada a
Igreja Metodista do Brasil. O primeiro bispo eleito foi o velho missionário
John William Tarboux. O primeiro bispo brasileiro foi César Dacorso Filho
(1891-1966), eleito em 1934, que por doze anos (1936-1948) foi o único bispo da
igreja. A Igreja Metodista foi a primeira denominação brasileira a filiar-se ao
Concílio Mundial de Igrejas (1942).
9.5 Igreja Batista
A Convenção Batista Brasileira foi organizada no dia
24 de junho de 1907 na Primeira Igreja Batista da Bahia (Salvador), quando 43
delegados, representando 39 igrejas, aprovaram a “Constituição Provisória das
Igrejas Batistas do Brasil”.
Na chamada “questão radical”, líderes batistas do
nordeste apresentaram um memorial aos missionários em 1922 e um manifesto à
Convenção em 1925 reivindicando maior participação nas decisões, principalmente
na área financeira. Não atendidos, mais tarde organizaram-se como um facção
separada da Convenção e da Junta. As bases de cooperação entre a igreja
brasileira e a Junta de Richmond voltaram a ser discutidas em 1936 e 1957.
9.6 Igreja Luterana
O Sínodo Rio-Grandense surgiu em 1886.
Posteriormente, surgiram outros sínodos autônomos: Sínodo da Caixa de Deus ou
“Igreja Luterana” (1905), com forte ênfase confessional; Sínodo Evangélico de
Santa Catarina e Paraná (1911) e Sínodo Brasil Central (1912). O Sínodo
Rio-Grandense, ligado à Igreja Territorial da Prússia, filiou-se à Federação
Alemã das Igrejas Evangélicas em 1929. Em 1932, o Sínodo Luterano também se
filiou à federação e começou a se aproximar dos outros sínodos. Em 1939 o
Estado Novo exigiu que toda a pregação pública fosse feita em português.
Em 1949 os quatro sínodos se organizaram em
Federação Sinodal, a Igreja Luterana propriamente dita. No ano seguinte a
igreja solicitou admissão ao Conselho Mundial de Igrejas e em 1954 adotou o
nome de Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). A Igreja
Luterana filiou-se à Confederação Evangélica do Brasil em 1959.
9.7 Igreja Episcopal
Uma Convocação especial reunida em Porto Alegre em
30 de maio de 1898 definiu a relação formal entre a missão e a Igreja Episcopal
dos Estados Unidos e elegeu Lucien Lee Kinsolving como o primeiro bispo
residente da igreja brasileira. Ele foi sagrado bispo em Nova York em 6 de
janeiro de 1899) e foi o único bispo episcopal no Brasil até 1925. O primeiro
bispo brasileiro foi Athalício Theodoro Pithan, sagrado em 21 de abril de 1940.
Em abril de 1952, foi instalado o Sínodo da Igreja
Episcopal Brasileira, contando com três bispos: Athalício T. Pithan, Luís
Chester Melcher e Egmont Machado Krischke. Em 25 de abril de 1965 a Igreja
Episcopal do Brasil obteve da igreja-mãe sua plena emancipação administrativa e
passou a ser uma província autônoma da Comunhão Anglicana. Logo em seguida,
filiou-se ao CMI.
10. Denominações Históricas (após 1964)
Dois eventos cruciais na década de 60 foram: (a) o
Concílio Vaticano II (1962-65), que marcou a abertura aos protestantes (“irmãos
separados”) e revelou novas concepções sobre o culto, a missão da igreja e a
relação com a sociedade; (b) o Golpe de 1964 e o regime militar no Brasil.
10.1 Igreja Presbiteriana
Esse período marcou o fim do antigo relacionamento
da IPB com as missões norte-americanas. Em 1954 havia sido criado o Conselho
Interpresbiteriano. Em 1962, a Missão Brasil Central propôs-se a entregar à
igreja brasileira toda a sua obra evangelística, educativa e médica. Em 1972 a
igreja rompeu com a Missão Brasil Central, sendo uma das possíveis causas a
adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos EUA. Em 1973 a
IPB rompeu relações com a Igreja Unida (criada em 1958) e firmou novo convênio
com a missão da Igreja do Sul.
Duas questões candentes da época foram o ecumenismo
e a postura social. A igreja enviou representantes à assembléia do Conselho
Mundial de Igreja em Amsterdã (1948) e observadores a outras assembléias.
Missionários como Richard Shaull deram ênfase a questões sociais, influenciando
os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo Concílio de 1962 realizou um
importante pronunciamento social.
Houve uma forte reação conservadora no Supremo
Concílio de 1966, em Fortaleza, com a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em
1970 e 1974. As principais preocupações do período foram a ortodoxia, a
evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-se os processos contra
pastores, igrejas locais e concílios.
Nessa época surgiram alguns grupos dissidentes, como
o Presbitério de São Paulo e a Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que
defendiam maior flexibilidade doutrinária. Em setembro de 1978, na cidade de
Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP).
10.2 Igreja Presbiteriana Independente
A IPI inicialmente teve uma postura menos rígida que
a IPB, mas a partir de 1972 tornou-se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à
renovação carismática. Em 1978 admitiu aos seus presbitérios os três primeiros
missionários da sua história, Richard Irwin, Albert James Reasoner e Gordon S.
Trew, que antes colaboravam com a IPB. Em 1973, um segmento separou-se para
formar a Igreja Presbiteriana Independente Renovada, que depois se uniu a um
grupo semelhante egresso da IPB, formando a Igreja Presbiteriana Renovada.
10.3 Igreja Batista
No período em questão, os batistas foram
caracterizados por forte ênfase evangelística, tendo realizado grandes
campanhas. Billy Graham pregou no Maracanã durante o X Congresso da Aliança Batista
Mundial (julho de 1960). O pastor João Filson Soren, da 1ª Igreja Batista do
Rio, foi eleito presidente da Aliança Mundial. Em 1965 foi realizada a Campanha
Nacional de Evangelização como uma resposta ao golpe de 1964. Seu lema foi
“Cristo, a Única Esperança”, indicado que soluções meramente políticas eram
insuficientes. Seu coordenador foi o pastor Rubens Lopes, da Igreja Batista de
Vila Mariana, em São Paulo. Houve ainda a Campanha das Américas (1967-1970) e a
Cruzada Billy Graham, no Rio de Janeiro, em 1974, tendo como presidente o
pastor Nilson do Amaral Fanini. Houve também uma Campanha Nacional de
Evangelização em 1978-1980.
10.4 Igreja Metodista
No início dos anos 60, Nathanael Inocêncio do
Nascimento, reitor da Faculdade de Teologia, liderou o “esquema” nacionalista
que visava substituir os líderes missionários do Gabinete Geral por brasileiros
(saíram Robert Davis e Duncan A. Reily e entraram Almir dos Santos e Omar
Daibert, futuros bispos).
Os universitários e estudantes de teologia pleiteavam
uma igreja mais voltada para a ação social e a política. A ênfase na justiça
social dominou a Junta Geral de Ação Social (Robert Davis, Almir dos Santos) e
a Faculdade de Teologia. Dom Helder Câmara paraninfou a turma de 1967. No ano
seguinte, uma greve levou ao fechamento da Faculdade e à sua reestruturação.
De 1968 em diante a igreja voltou-se para problemas
internos como o regionalismo. Em 1971 cada um dos seis concílios regionais
elegeu, pela primeira vez, o seu próprio bispo (os bispos sempre tinham sido
eleitos no Concílio Geral, como superintendentes gerais da igreja) e surgiram
vários seminários regionais. Essa tendência perdurou até 1978.
Nos anos 70 a IMB investiu na educação superior. No
campus da antiga Faculdade de Teologia surgiu o Instituto Metodista de Ensino
Superior e em 1975 o Instituto Piracicabano (fundado em 1881) foi transformado
em Universidade Metodista de Piracicaba. Em 1982 foi elaborado o Plano Nacional
de Educação Metodista, cuja fundamentação deu ênfase ao conceito do Reino de
Deus e à teologia da libertação.
10.5 Igreja Luterana
Em 1968, os quatro sínodos, originalmente
independentes um do outro, integraram-se em definitivo na IECLB, aceitando uma
nova constituição. No VII Concílio Geral (outubro de 1970) foi aprovado unanimemente
o “Manifesto de Curitiba,” contendo o posicionamento político-social da igreja.
Esse manifesto foi entregue ao presidente Emílio Médici por três pastores. Em
1975 entrou em vigor a reforma do currículo da faculdade de teologia de São
Leopoldo, refletindo as prioridades da igreja.
11. Igrejas pentecostais e neopentecostais
As três ondas ou fases do pentecostalismo brasileiro
foram as seguintes: (a) décadas de 1910-1940: chegada simultânea da Congregação
Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus, que dominaram o campo pentecostal por
40 anos; (b) décadas de 1950-1960: fragmentação do pentecostalismo com o
surgimento de novos grupos – Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo, Deus é
Amor e muitos outros (contexto paulista); (c) anos 70 e 80: advento do
neopentecostalismo – Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da
Graça de Deus e outras (contexto carioca).
(a) Congregação Cristã no Brasil: fundada pelo
italiano Luigi Francescon (1866-1964). Radicado em Chicago, foi membro da Igreja
Presbiteriana Italiana e aderiu ao pentecostalismo em 1907. Em 1910
(março-setembro) visitou o Brasil e iniciou as primeiras igrejas em Santo
Antonio da Platina (PR) e São Paulo, entre imigrantes italianos. Veio 11 vezes
ao Brasil até 1948. Em 1940, o movimento tinha 305 “casas de oração” e dez anos
mais tarde 815.
(b) Assembléia de Deus: teve como fundadores os
suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933). Batistas de
origem, eles abraçaram o pentecostalismo em 1909. Conheceram-se numa
conferência pentecostal em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi
influenciado pelo pastor batista William H. Durham, que participou do
avivamento de Los Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no
Brasil, chegaram a Belém em novembro de 1910. Seus primeiros adeptos foram
membros de uma igreja batista com a qual colaboraram.
fonte portal makenzie ,Saõ Paulo
fonte portal makenzie ,Saõ Paulo
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