Os Anabatistas Importantes na Reforma da Igreja
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Os
Anabatistas era um grupo de cristãos que se levantaram contra algumas
doutrinas da Igreja Católica. Entre essas doutrinas, estava a do batismo
infantil. Por considerar o batismo infantil sem qualquer base bíblica, os
Anabatistas batizavam os convertidos que tivessem idade adulta. O nome
"anabatista" surgiu por causa do costume de "rebatizar"
os seus seguidores.
Os Anabatistas
surgiram primeiro na Suíça em função da liberdade que existia nesse país. Nem
o feudalismo nem o papado tinham sido capazes de estabelecer o domínio nessa
terra de intrépidos soldados mercenários.
Alguns
discípulos mais ardorosos de Zuinglio desiludiram-se com a lentidão das
reformas religiosas na cidade e passaram a atuar como dissidentes. O
conselho (Câmara dos Representantes do Povo) de Zurique declarou que a
doutrina romana da missa era infundada, mas decidiu adiar sua reforma de
imediato. Zuinglio concordou com essa decisão, acreditando que o povo de
Zurique tinha de ser mais plenamente preparado para as mudanças. Os dissidentes
não podiam aceitar tais medidas contemporizadoras.
Um dos
representantes dos dissidentes era Conrad Grebel, que pode ser considerado
como o fundador do anabatismo. Membro de uma família influente da nobreza
recebeu uma excelente educação nas universidades de Viena e Paris. Depois de
sua conversão em 1522, trabalhou ao lado de Zuinglio até romper com ele em
1525.
A
atenção dos dissidentes voltou-se para um sacramento que não havia sido
reformado na cidade, o batismo. Conrad Grebel, entre outros, recusou-se a
submeter seu filho ao batismo, pois não encontrava no Novo Testamento
justificativa para o batismo infantil. A ruptura decisiva com a ordenança
oficial do batismo infantil ocorreu em 21 de janeiro de 1525, na casa de
Felix Mantz, outro dos seguidores descontentes de Zuinglio. Naquela noite,
após um período de oração, George Blaurock, um futuro evangelista anabatista,
pediu a Grebel que o batizasse. Depois os outros presentes, igualmente
quiseram ser batizados e Grebel batizou a todos, sendo depois o próprio
Grebel batizado por Felix Mantz.
Quase
da noite para o dia, surgiu um convento anabatista numa vila de Zurique, a
apenas 6 quilômetros da cidade. Seguiram-se outros batismos em Zurique e nos
arredores. O batismo era negado a crianças recém-nascidas, os sermões dos
pastores oficiais eram interrompidos pelos pregadores anabatistas, as fontes
batismais, derrubadas e destruídas e as congregações separatistas de cristãos
rebatizados reuniam-se em desafio à lei. Muitos anabatistas agiam com violência
contra a igreja oficial.
O
conselho da cidade considerou tais distúrbios um desafio direto à sua
autoridade. Para encerrar a crise foi decretado a morte por afogamento para
quem fosse rebatizado. Em 5 de janeiro de 1527, Felix Mantz tornou-se o
primeiro anabatista a ser afogado em Zurique. Enquanto Zuinglio e os outros
pastores oficiais observavam, Mantz foi forçado a imergir nas águas geladas
do rio Limmat. As últimas palavras que se ouviu dele foram “Em tuas mãos, ó
Senhor, entrego o meu espírito”.
Zuinglio
desistiu da sua primitiva concepção da falta de fundamento bíblico para o
batismo infantil visto que com isso muitas pessoas perderiam sua cidadania
garantida pelo batismo na infância. Os anabatistas mais radicais que se
opunham ao controle da religião pelo Estado estavam pondo em perigo os
esforços de Zuinglio de convencer as autoridades conservadoras ainda
indecisas a passarem para o lado da Reforma. De início, Zuinglio usava a
técnica do debate para persuadir os anabatistas a mudarem de ideia, mas
quando o método falhou, o conselho adotou medidas mais drásticas, como multas
e exílio. O movimento praticamente não mais existia em Zurique em 1535 devido
aos tratamentos cruéis, e com isso os cristãos humildes que eram ligados ao
grupo anabatista fugiram para outras regiões onde sonhavam encontrar
segurança.
ANABATISTAS
NA ÁUSTRIA
Balthasar
Hubmaier foi um dos primeiros anabatistas na Áustria. De excelente formação,
era doutor em teologia pela Universidade de Ingolstadt, onde foi aluno de
Johann Eck, adversário de Lutero. Seu pastorado em Waldshut, perto da
fronteira Suíça, permitiu-lhe um contato com os radicais suíços cujas ideias
adotou. Ele e mais 300 seguidores foram batizados em 1525, pelo que teve de
fugir para Zurique a fim de escapar das autoridades austríacas. De Zurique
fugiu para a Morávia, onde assumiu a liderança dos anabatistas que haviam
fugido de Zurique com medo das perseguições de Zuinglio. Na
Morávia havia também milhares de pessoas convertidas ao anabatismo, todos
aceitaram a liderança de Balthasar. Por ordem do imperador, Balthasar
Hubmaier foi queimado numa estaca em 1528, e sua esposa foi afogada no rio
Danúbio pelas autoridades católicas romanas. Em todo seu ministério como
líder anabatista, ensinou a separação entre Igreja e Estado, a autoridade da
Bíblia e o batismo dos convertidos ao cristianismo.
A CONFUSÃO
DOUTRINÁRIA DOS LÍDERES ANABATISTAS
Os
anabatistas não se caracterizavam nem pela homogeneidade doutrinária, nem
pela eficiência organizacional. Vários líderes deixaram sua marca pessoal no
movimento. Hans Hut profetizou que Jesus Cristo voltaria a terra no domingo
de Pentecostes de 1528. Ele começou a reunir os 144 mil santos
eleitos, os quais ele “selou”, marcando-os na testa com o sinal da cruz. Ele
morreu antes de 1528. Após sua morte seus seguidores se dividiram, mas sua
mensagem apocalíptica foi assumida pelo novo líder Melchior Hofmann, que
estabeleceu uma nova data para a vinda de Jesus, 1534.
Com os
esforços evangelizadores de Hofmann, o anabatismo chegou aos Países Baixos.
Em 1530, ele batizou cerca de 300 convertidos na cidade de Emden, e também
constituiu pregadores leigos para levar a mensagem anabatista a todos os
lugares dos Países Baixos. Convencido de que era o Elias, uma das
testemunhas narradas em Apocalipse 11, Hofmann foi para
Estrasburgo, onde ele considerava que seria a Nova Jerusalém e
apresentou-se as autoridades para ser preso, e esperar a vinda de Cristo.
Permaneceu na prisão até a morte, cerca de dez anos depois, pateticamente
esperando o fim do mundo.
Quando
Hofmann foi preso em Estrasburgo, no ano de 1533, um de seus discípulos, um
padeiro de Haarlem chamado Jan Mathijs, declarou-se profeta enviado pelo
Espírito Santo. Como Hofmann era o Elias, ele era Enoque, a segunda das duas
testemunhas profetizadas em Apocalipse 11, no entendimento do grupo. Ele
passou a ordenar 12 apóstolos, entre eles Jan Beuckels, de Leyden. Todos
aqueles que recusassem o batismo deviam ser mortos. Quando Mathijs morreu, no
Domingo de Páscoa de 1534, Jan de Beuckels assumiu a liderança, e coroou
a si mesmo como “rei da justiça sobre todos”.
Reconsiderando
as profecias, Jan disse que a Nova Jerusalém não seria em Estrasburgo e sim
em Münster. Por isso o grupo mudou-se para essa cidade onde continuaram
batizando os adultos. Foi introduzida a poligamia numa imitação literal dos
patriarcas do Velho Testamento. Mas o real motivo da instituição desta
pratica foi motivada por causa do grande número de mulheres viúvas no grupo.
As
práticas do batismo adulto e a poligamia causavam preocupação para as igrejas
católica e protestante e eram também uma clara desobediência as leis do
Estado. Jan Beuckels e seus seguidores foram cercados na cidade de
Münster por tropas protestantes e católicas que haviam se unido contra os
anabatistas. Quando a luta terminou quase todos os anabatistas haviam sido
mortos, apenas uns poucos conseguiram fugir. Jan e dois de seus companheiros
foram capturados vivos e torturados até a morte com ferros em brasa, no dia
22 de janeiro de 1536. Os corpos foram expostos em jaulas de ferro na torre
da igreja de Saint Lambert, na rua principal da cidade de
Münster. Essas jaulas podem ser vistas ainda hoje, lembrança sinistra da
tragédia de 1534-1536.
Por
causa dos problemas causados pelos anabatistas em Münster, a causa dos
Reformistas ficou desacreditada na cidade. Em 1532 o conselho da cidade havia
autorizado o uso dos púlpitos oficiais pelos ministros luteranos. Após os
acontecimentos Imperador ordenou que todos os seguidores de Lutero fossem
expulsos da cidade.
MENNO
SIMONS
A
destruição do movimento anabatista pelas atrocidades acontecidas em Münster
foi evitada pelo surgimento da sadia liderança de Menno Simons na Holanda.
Menno
nasceu em 1496 na Holanda. Foi ordenado ao sacerdócio católico em março de
1524, aos 28 anos. Como Lutero, Zuinglio e Calvino, Menno teve de debater-se
com o Evangelho. Como os outros reformadores Menno também passou a contestar
a eucaristia, e em 1525 confessou ter dúvidas quanto ao dogma da
transubstanciação. Mesmo assim Menno poderia ter continuado na Igreja Romana
se não tivesse começado a questionar mais uma tradição da igreja, o batismo
infantil. Começou então a investigar o fundamento do batismo infantil. Ele
examinou os argumentos de Lutero, Zuinglio e outros reformadores, mas achou
que em todos faltava algo. Consultou os escritos dos Pais da Igreja e por fim
pesquisou com toda atenção e afinco as Escrituras e não encontrou nada que
abonasse o batismo de crianças. Chegou à conclusão de que todos estavam
equivocados quanto ao batismo infantil. Ele começou a pregar a partir da
Bíblia contra o batismo de inocentes crianças. Com novas convicções sobre a
ceia do Senhor e o batismo, abandonou o sacerdócio na Igreja Romana em 1536.
Aproximadamente
um ano depois de ter deixado o sacerdócio romano para tornar-se evangelista
itinerante, alguns irmãos anabatistas que viviam perto da cidade de Griningen
pediram-lhe que aceitasse o oficio de ancião ou pastor titular da irmandade.
Depois de algum tempo considerando a aceitação ou não do convite ele começou
a ensinar e batizar adultos.
Menno
foi ordenado de maneira adequada e batizado por Obbe Phillips, o primeiro
líder dos anabatistas holandeses. Alguns anos depois de ter ordenado Menno,
Obbe Phillips desiludiu-se com as divisões no movimento anabatista e
abandonou completamente a irmandade. Seu irmão Dirk Phillips continuou firme
na fé e tornou-se grande colaborador de Menno nas mudanças operadas na
teologia anabatista. Foi um trabalho árduo, mas que mostrou uma nova cara do
anabatismo. As controvérsias e “loucuras” cometidas pelos antigos líderes
foram totalmente apagadas. Agora o movimento tinha como base apenas os
ensinamentos bíblicos não “misturado” com as profecias da liderança, como era
anteriormente.
Em
1542, o Imperador Carlos V da Holanda, publicou um edito contra ele e
ofereceu uma rica recompensa em ouro a quem o colocasse na prisão.
Menno
disse em seu leito de morte que nada na terra lhe era tão precioso como a
Igreja. Durante 25 anos ele trabalhou de um extremo ao outro dos Países
Baixos e da Alemanha a fim de transformar comunidades cristãs em congregações
organizadas e comprometidas umas com as outras com a missão de evangelizar o
mundo. Mediante o trabalho de Menno e de seus cooperadores, o anabatismo
holandês recuperou-se de suas desilusões em Münster, tornando-se a mais
duradoura manifestação cristã da reforma radical.
Grande
parte dos escritos de Menno foram dedicados à exposição do caráter da igreja
verdadeira contra as falsas igrejas anticristãs legalmente reconhecidas e
sustentadas pelo Estado.
Menno
referia-se aos católicos, aos luteranos e aos zuinglianos como “as facções
grandes e confortáveis”. Eles partilhavam um aspecto em comum, dizia: “É
costume de todas as facções que se encontram longe de Cristo e de sua Palavra
tornar válidas suas posições, sua fé e sua conduta usando a espada”. Menno e
os anabatistas negavam a legitimidade do corpus chrsitianum, pela
qual a igreja e a sociedade formavam uma unidade orgânica, sendo a religião
envolvida pelo poder decisivo do Estado na “conversão” de novos adeptos. Essa
atitude era verdadeiramente revolucionária no século XVI, levando a
represálias violentas contra os anabatistas. Com muita frequência, eram os
líderes das igrejas oficiais que instigavam as autoridades a perseguirem os
reformadores radicais.
De sua
ordenação, em 1537, até sua morte em 1561, Menno exerceu influência marcante
nos anabatistas dos Países Baixos e da Alemanha. Durante a maior parte desses
anos ele foi perseguido e acusado de herege, mas continuou pregando em
lugares secretos e batizando novos cristãos em córregos, rios e lagos,
abrindo igrejas e ordenando pastores, de Amsterdã a Colônia. Um exame dos
perigos que Menno enfrentou cousa surpresa saber que ele morreu de morte
natural.
OS
ANABATISTAS MORÁVIOS
Um padrão comunitário baseado na Igreja Primitiva narrada em Atos dos Apóstolos foi desenvolvida por grupos de refugiados na Morávia, guiados por Jacó Hutter. A perseguição comandada pela Igreja oficial os atingiu levando-os para a Hungria e a Ucrânia e depois de 1874, para Dakota do Sul nos Estados Unidos e a província canadense de Manitoba, e para o Paraguai, onde ainda hoje praticam um comunismo agrário voluntário. Eles são conhecidos como Hutteritas.
CONCLUSÃO
É
difícil sistematizar as crenças anabatistas, porque houve muitos grupos
diferentes em suas doutrinas, como resultado da crença natural da convicção
de que o crente tem o direito de interpretar a Bíblia como autoridade literal
e final de sua fé. Mesmo assim há algumas doutrinas em que todos os
anabatistas, e atuais menonitas estão de acordo: A autoridade da Bíblia
como regra final de fé e prática; que a verdadeira igreja é uma
associação dos regenerados e não uma igreja oficial de que participam até os
não convertidos. Defendiam a total separação entre Igreja e Estado.
Praticavam o batismo dos convertidos por imersão.
Os
anabatistas exerceram atração especial sobre os artesãos e camponeses, não
alcançados pelos outros reformadores. Esse fato, relacionado à tendência
natural à interpretação literal da Bíblia pelas pessoas iletradas, levou-os a
excessos místicos, mas também a uma visão mais realista dos ensinamentos de
Jesus e dos apóstolos.
Nem os
Menonitas nem os Batistas devem se envergonhar de colocá-los como seus
predecessores espirituais. Seu conceito de Igreja influenciou os Puritanos
Separatistas, Batistas e Quacres.
J. DIAS
FONTES:
O
Cristianismo Através dos Séculos, Earle e. Cairns – Editora Vida Nova
Teologia
dos Reformadores, Timothy George – Editora Vida Nova
www.santovivo.net
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