quarta-feira, 1 de outubro de 2014

INTRODUÇÃO DA REFORMA E JOHN WYCLLIF


                          INTRODUÇÃO GERAL

         Antecedentes –  final da Idade Média

                      Os Estados Nacionais

Nos séculos que antecederam a Reforma Protestante, a Igreja não vivia em um vácuo, mas sim em um contexto político e social mais amplo com o qual tinha múltiplas interações. No final da Idade Média, houve o surgimento dos chamados “estados nacionais”, as modernas nações européias, o que representou uma grande ameaça às pretensões do papado. Na Alemanha (Sacro Império Romano), Rudolf von Hapsburg foi eleito imperador em 1273. Em 1356, um documento conhecido como Bula de Ouro determinou que cada novo imperador seria escolhido por sete eleitores (quatro nobres e três arcebispos). Havia descentralização política, isto é, o poder dos príncipes limitava a autoridade do imperador, e forte tensão entre a igreja e o estado.

Na França, houve o fortalecimento da monarquia com Filipe IV, o Belo (1285-1314). Esse rei enfrentou com êxito o poder da Igreja e dos papas e preparou a França para tornar-se o primeiro estado nacional moderno. Na Inglaterra, o parlamento reuniu-se pela primeira vez em 1295. Esse país teve um grande rei na pessoa de Eduardo I (†1307), que subjugou os nobres e enfrentou com êxito o papa na questão de impostos.

 O Declínio do Papado

Este período começa com o pontificado de BonifácioVIII (1294-1303), um papa arrogante e ambicioso que entrou em confronto direto com o rei Filipe IV acerca de impostos e da autoridade papal. Bonifácio publicou três famosas bulas: Clericis Laicos, na qual reclama que os leigos sempre foram hostis ao clero; Ausculta Fili (“Escuta, filho”), dirigida ao rei francês, Unam Sanctam (1302), denominada “o canto do cisne do papado medieval”. Irritado com as ações papais, Filipe enviou suas tropas, o papa foi preso e faleceu um mês após ser libertado.

Seguiu-se um período de crescente desmoralização do papado. Clemente V (1305-1314), um papa francês, transferiu a Cúria, ou seja, a administração da Igreja, para Avinhão, ao sul da França, no que ficou conhecido como o “Cativeiro Babilônico da Igreja” (1309-1377). Em toda parte, cresceram as críticas às extravagâncias e ao luxo da corte papal. João XXII (1316-1334) mostrou-se eficiente na cobrança de taxas e dízimos para cobrir essas despesas. Finalmente, ocorreu o chamado “Grande Cisma”, em que houve dois e posteriormente três papas rivais em Roma, Avinhão e Pisa (1378-1417). Diante dessa situação constrangedora, surgiu em toda a Europa um clamor por “reformas na cabeça e nos membros”.

 O Movimento Conciliar

Durante o “Grande Cisma”, cada papa considerou-se o único legítimo e excomungou o rival. Assim, houve a necessidade de um concílio para resolver a crise. O Concílio de Pisa (1409) elegeu um novo papa, mas os outros dois recusaram-se a serem depostos, resultando em três papas ao mesmo tempo. João XXIII, o segundo papa pisano, convocou o Concílio de Constança (1414-1417), que depôs os três papas, elegeu Martinho V como único papa, decretou a supremacia dos concílios sobre o papa e condenou os pré-reformadores João Wycliff, João Hus e Jerônimo de Praga. O Concílio de Basiléia (1431-1449) reafirmou a superioridade dos concílios. Finalmente, o Concílio de Ferrara-Florença (1438-1445) tentou a união com a Igreja Ortodoxa (frustrada pela conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453) e reafirmou a supremacia papal. Essa tentativa fracassada de tornar a Igreja mais democrática e governá-la através de concílios ficou conhecida como conciliarismo.

                           Movimentos dissidentes



OS ANTECEDENTES DA REFORMA PROTESTANTE

                                        1. CONDIÇÕES EXISTENTES ANTES DA REFORMA

Antes da reforma, a igreja havia se tornado totalmente corrupta, vendia indulgências, cobrava altos impostos e disputava o poder com o estado romano. Luxo e riquezas se contradiziam com a fé cristã. A autoridade papal havia se auto-outorgada acima da autoridade da Bíblia. Motivos estes que fizeram com que João Wycliff, João Huss, Jerônimo Savanarola, Erasmo de Roterdã e Lutero, se levantassem para combater toda esta gama de incoerências.Erasmo, defendia que a igreja precisava ser reformada porque havia abandonado os verdadeiros ideais cristãos. Afirmava que a vida era muito mais importante que a doutrina ortodoxa, e que os frades enquanto se ocupavam com distinções sutís levavam vidas escandalosas. Erasmo desejava a reforma dos costumes e a prática da decência e da moderação. A igreja se desviou dos ensinos do evangelho e estava dando lugar aos vícios pagãos.  
  
2. OS VALDENSES

Os Valdenses eram seguidores de Pedro Valdo um ex-comerciante de Lyon que ouvira falar da lenda de São Aleixo, que tinha abandonado o seu povoado para se dedicar à vida ascética, tendo se dedicado de tal forma que ao retornar ao seu povoado não fora reconhecido, tendo passado o resto de seus dias à porta de sua própria casa pedindo esmolas.Após sua morte foi reconhecido em face de documentos que carregava consigo. Deste modo Valdo se entregou à pobreza e a pregação da Palavra. Foi proibido de pregar pelo bispo de Lyon. Apelou para o papa em Roma tendo sido igualmente proibido. Regressou a Lyon e continuou a sua pregação. Por fim um concílio reunido em Verona o condenou. Continuou pregando e espalharam-se por diversas cidades. Mais tarde, quando as perseguições se tornaram mais fortes se refugiaram nos vales mais retirados dos Alpes. Muitos dos valdenses mais tarde aceitaram os mensageiros da reforma e se uniram a eles.

3. AS ORDENS MENDICANTES

As ordens mendicantes eram assim chamadas porque adotavam o princípio da pobreza que consistia em se sustentar somente através de esmolas.

4. OS MOVIMENTOS POPULARES DE POBREZA

Estes movimentos nasceram sob a influência de João Wycliff e João Huss. Os partidários deste movimento eram pessoas quase que totalmente sem instrução, que não sabiam escrever ou não sentiram o desejo de deixar registros para a posteridade.
Muitos destes movimentos tinha o caráter apocalíptico porque acreditavam que o fim estava próximo. Os inimigos destes movimentos acusava-os de entusiasmo religioso para soltar as rédeas da imoralidade e do roubo. Eram acusados também de odiarem os sacerdotes e toda a hierarquia da igreja, que profanavam o altar, e diziam ter recebido uma nova revelação de Deus, ou que o Espírito Santo tinha encarnado neles. Foram considerados como tentativas de reforma porque achavam que a igreja havia se tornado muito rica, deixando os pobres abandonados. A sua hierarquia havia se tornado cada vez mais ambiciosa e exploradora. Deste modo prosperaram as doutrinas que apelavam a pobreza absoluta e um dos textos em que se baseavam é o de Mateus 10:7-10 “... não vos provereis de ouro nem prata, nem de cobre em vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão, porque digno é o trabalhador de seu alimento”. Eles tentavam imitar o Senhor, que não tinha “onde reclinar a cabeça”. São Francisco foi o que mais encarnou esta idéia amando a “irmã água” e o “irmão lobo”.    

5. JOÃO WYCLIFF

João Wycliff viveu na época do cativeiro babilônico do papado, e do início do Grande Cisma que começou em 1378. Ele se destacou na tentativa de corrigir as doutrinas da igreja medieval de modo que elas fossem ajustadas aos ensinos bíblicos. Estudou na Universidade de Oxford, tendo se tornado famoso por sua lógica e erudição. Destacou-se por sua mente privilegiada, levava seus argumentos até as últimas conseqüência. Saiu da universidade em 1371 para se colocar a disposição da coroa inglesa. Sua corrente doutrinária sobre o “senhorio” à medida que foi se desenvolvendo, atacava não somente o papa e os poderosos senhores da igreja, mas também o estado. Esta doutrina questionava se o senhorio era legítimo? Quais as suas origens? Como era reconhecido? etc. Motivo pelo qual muitos dos nobres que o apoiavam no início aos poucos foram se afastando dele. Suas doutrinas sobre a santa ceia entraram em choque com os ensinos oficiais da igreja. Seus ataques contra os frades igualmente levou-o a muitos inimigos. Com base nestas controvérsias o reitor da universidade convocou uma assembléia em 1380 para discutir os ensinos de Wycliff sobre a ceia, tendo sido condenado por pequena margem de votos. Durante vários meses esteve em sua própria casa, onde continuou escrevendo seus livros. Em 1381, ele se retirou para sua paróquia de Lutterworth que recebera da coroa por seus serviços prestados. Passou dificuldades financeiras, já que havia trocado o cargo eclesiástico que exercia por um outro menos lucrativo recebendo pequena quantia em compensação. Em Lutterworth ele continuava escrevendo seus livros. Em 1382 sofreu uma embolia. Em 1384, sofreu uma segundo embolia que o levou a morte. Como havia morrido em comunhão com a igreja foi enterrado em terra consagrada. Mais tarde o concílio de Constança o condenou e seus restos mortais foram exumados e queimados, e suas cinzas lançados no rio Swift. Os ensinos de João Wycliff foram relevantes porque demonstraram que havia incoerência tanto na hierarquia da igreja como do estado, principalmente na questão do senhorio e do pagamento dos impostos que eram exigidos também tanto pela autoridade papal como pelo estado.        

6. JOÃO HUSS

João Huss nasceu na pequena aldeia de Hussinek por volta de 1370. Era filho de uma família de camponeses. Aos dezessete anos ingressou na universidade de Praga, tendo vivido a maior parte de sua vida na capital de seu país. Foi exilado e encarcerado por dois anos em Constança. Foi nomeado reitor da universidade e pregador da capela de Belém em 1402, tendo se dedicado a reforma que muitos checos desejavam. Sua capela se transformou num centro reformador, tal era a eloquência e o fervor com que Huss se pronunciava. Embora a hierarquia da igreja o encarasse temerosa, muitos dos nobres e grande parte do povo o seguia e ainda contava com o apoio de reis. Em 1411, foi excomungado pelo cardeal Colonna, porque Huss se negou a ir a Roma, para atender a convocação do papa Alexandre V para dar conta de suas ações. Huss no entanto, continuou pregando a reforma no púlpito de Belém, chegando a incentivar a desobediência ao papa, porque afirmava que a autoridade final é da Bíblia e que o papa que não estivesse conforme ela não merecia ser obedecido. Levantou-se conta a indulgência afirmando que somente Deus poderia concedê-la e que ninguém poderia vender o que vem unicamente de Deus. O Rei proibiu que fosse criticada a venda de indulgência. Roma interpretou a posição de Huss como uma heresia e em 1412 Huss foi novamente excomungado por não ter comparecido diante da corte papal, tendo se fixado um prazo para ele se apresentar. Caso não se apresentasse nenhuma cidade poderia recebê-lo porque seria interditada. 
A partir daí Huss se refugiou no sul da Boêmia, onde continuou a sua atividade literária. Mais tarde Huss teve a garantia do imperador Sigismundo, para comparecer a um grande concílio que aconteceria em Constança, onde deveria se defender.  João Huss partiu para o concílio só que lá chegando teve que se avistar com o papa João XXIII que o acusou de herege, a partir daí, tornou-se prisioneiro. O imperador que lhe garantira salvo-conduto não estava em Constança quando João Huss lá chegara, tendo ficado muito irado porque havia prometido fazer com que o seu salvo-conduto fosse respeitado. Em seguida, o imperador ficou muito preocupado com os rumores de que Huss era um erege e temia ser acusado de protetor de hereges. Finalmente João comparece diante da assembléia todo acorrentado e é formalmente acusado de ser seguidor das doutrinas de Wycliff. João não conseguia expor seu ponto de vista diante da algazarra que se fazia na assembléia, tendo sido adiado a decisão para outro dia. Na assembléia seguinte Huss foi ouvido e demonstrou que era perfeitamente ortodoxo. Em momento algum se retratou de suas doutrinas ou de suas heresias como era acusado. Houve muita controvérsia sobre a questão e em nenhum momento Huss fraquejou com relação ao seu posicionamento. Finalmente, Huss disse: - “apelo para Jesus Cristo, o único juiz todo-poderoso e totalmente justo. Em suas mão eu deponho a minha causa, pois Ele há de julgar cada um não com base em testemunhos falsos e concílios errados, mas na verdade e na justiça”. Continuaram insistindo com ele para que se retratasse mas continuava firme. Levaram-no para a fogueira depois de escarnecerem dele. Antes de sua morte orou dizendo: “Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-te que tenhas misericórdia dos meus inimigos” . Morreu cantando os salmos. João Huss foi muito importante porque ele contestou a autoridade papal, a venda de indulgências e pregava a reforma da igreja.    

7. JERÔNIMO SAVANAROLA

Jerônimo Savanarola era um frade dominicano natural de Ferrara. Foi educado por seu avô paterno que era um médico muito conhecido tanto por seu conhecimento como por sua devoção moral. Savanarola nunca abandonou as orientações recebidas de seu avô e ainda jovem se uniu à ordem dos pregadores de São Domingos, onde se distinguiu por sua dedicação ao estudo e à santidade. Em Florença, Savanarola tornou-se um expositor das Escrituras para os frades do convento dominicano de São Marcos. Sua fama se espalhou, e muitas pessoas vinham ouvi-lo. Durante meio ano expôs o livro de Apocalipse e o que no início era apenas conferências passou a ser sermões, nos quais atacava a corrupção da igreja e profetizava que a igreja teria de passar por uma grande tribulação antes de ser restaurada. Atacava os poderosos, cujo luxo e avareza se constatava com a fé cristã.
Ao ser eleito prior de São Marcos, Savanarola mandou vender todos as propriedades do convento para dar o dinheiro aos pobres. Tendo servido de exemplo para outros conventos que o chamavam para proceder reformas semelhantes às que instaurou no convento Florentino.
   
8. A REFORMA CATÓLICA NA ESPANHA

Com a morte de Henrique IV, Isabel e Fernando herdaram a coroa de Castela. Nesta época a Igreja Católica na Espanha já se ressentia da necessidade de uma reforma. Antes da morte de Henrique havia muitas incertezas políticas do reinado.
O alto clero havia se dedicado às práticas belicosas, o que diferenciava muito do resto da Europa, porque seus bispos, com freqüência, se tornavam mais guerreiros do que pastores e se envolviam em cheio nas intrigas políticas, não para o bem de seus rebanhos, mas por seus próprios interesses políticos e econômicos.
O baixo clero, mesmo que distante do poder e dos luxos prelados, não estavam em melhores condições de servir ao povo. A maioria dos sacerdotes eram ignorantes e incapazes de responder às mais simples perguntas religiosas por parte dos seus paroquianos. Muitos não sabiam nem fazer a missa e as vezes não sabiam nem o que estavam dizendo. Outro problema que afetava o baixo clero, era que o alto clero recolhia a maior parte das entradas na igreja, os sacerdotes se viam envoltos em uma pobreza humilhante, e freqüentemente descuidavam dos seus trabalhos pastorais. Nos mosteiros e conventos a situação não era melhor. Em uns se praticava a vida monástica e em outros se praticava a vida mole. Haviam casas religiosas governadas, não segundo as regras, mas segundo os desejos de seus monges e madres da alta esfera. Em muitos casos se descuidavam da oração, que supostamente era a ocupação principal dos religiosos. A tudo isso se somava a questão do celibato, a questão dos filhos bastardos dos bispos do alto clero e as muitas concubinas entre os padres paroquianos, que apareciam publicamente com estas mulheres e seus filhos. Muitos sacerdotes tinham filhos de várias mulheres. A ética e a moral da igreja estavam abaladas.
Isabel era uma mulher devota e seguia rigorosamente as horas de oração. Para ela, os costumes licenciosos e belicosos do clero eram um escândalo. Juntamente ao seu marido Fernando impunharam a bandeira da reforma católica. Para Fernando a preocupação era o excessivo poder dos bispos, convertidos em grandes senhores feudais. Em conseqüência, quando os interesses políticos de Fernando coincidiam com os propósitos reformadores de Isabel a reforma marchava adiante. E quando não coincidiam, Isabel fazia valer sua vontade em Castela, e Fernando em Aragão. Com a finalidade de reformar o alto clero, os reis católicos obtiveram de Roma o direito de nomeação. A partir daí Isabel se convenceu da necessidade de reformar a igreja em seus domínios, e o único modo de faze-lo era tendo à sua disposição a nomeação daqueles que deveriam ocupar os altos cargos eclesiásticos. Logo, muito antes do protesto de Lutero, os desejos reformadores já haviam se instalado em boa parte da Espanha, graças a obra dos reis católicos Isabel e Fernando.
No curso da reforma Isabel se convenceu de que a igreja tinha necessidade de dirigentes melhor adestrados, pelo que se dedicou a fomentar os estudos. Ela era uma pessoa erudita, conhecedora do latim se juntando a outras mulheres de dotes semelhantes.
Com o início da imprensa em Barcelona, Saragoça e outras grandes cidades espanholas, houve uma grande contribuição para a reforma religiosa dentro do estilo humanista. Deste modo a Universidade de Alcalá e a Bíblia Poliglota Complutense se encaixaram perfeitamente. Aí está o grande efeito da reforma católica na Espanha. A Bíblia, que era composta de seis volumes, sendo quatro do Antigo Testamento, um do Novo Testamento e um que era uma gramática hebraica, aramaica e grega. Sua tradução durou dez anos e ocupou muitos eruditos. Três convertidos do judaísmo, que se encarregaram do texto hebreu. Um cretense e dois helenistas espanhóis que se encarregaram do grego. Já os melhores latinistas da Espanha se preocuparam em preparar o texto latino da Vulgata. Ao receber a impressão completa da Bíblia, Cisneros que era um frade franciscano escolhido por Isabel para ser o arcebispo de Toledo, assim se pronunciou: “...esta edição da Bíblia que, nestes tempos críticos, abre as sagradas fontes de nossa religião, das quais surgirá uma teologia muito mais pura que qualquer que tenha surgido de fontes menos diretas”. Esta afirmação clara da autoridade das Escrituras sobre a tradição, se tornou rapidamente em uma das teses principais dos reformadores protestantes.   
  
9. O RENASCIMENTO

O Renascimento foi um movimento intelectual e artístico que surgiu na Itália nos séculos XIV e XV, onde teve a sua melhor expressão. O Renascimento não somente se inspirou nas fontes clássicas de literatura e arte, mas também nos séculos XII e XIII. Sua arte tinha profundas raízes no gótico; sua forma de ver o mundo tinha muito a ver com a cosmovisão de São Francisco e de Cícero; sua literatura se inspirou em parte aos cânticos medievais que os trovadores levavam de região para região. Muitos dos principais intelectuais da época viam no passado imediato, e às vezes no presente, uma época de decadência com respeito à antigüidade clássica, e por esta causa se empenhavam em provocar um renascer desta antigüidade, em voltar às usas fontes, e em imitar sua linguagem e estilo. É a isto que se chamou de “Renascimento”.

9.1 OS RESULTADOS

O poeta Petrarca que já havia escrito sonetos em italiano em sua juventude, passou a escrever em latim, imitando o estilo de Cícero. Surgiram-lhe então, muitos seguidores que começaram também a imitar as letras clássicas. Passaram a copiar manuscritos dos velhos autores latinos. Outros viajaram até Constantinopola, e de volta à Itália trouxeram manuscritos gregos. Em 1453, muitos exilados bizantinos chegaram à Itália com seus manuscritos e conhecimentos da antigüidade grega. Tudo isto contribuiu para o despertar literário que teve seu início na Itália e foi se estendendo por toda a Europa ocidental. O interesse pelo clássico incluiu também em pouco tempo, o pelas artes. Deste modo os pintores, escultores e arquitetos foram buscar sua inspiração na arte pagã da antigüidade. Estes artistas não conseguiram se desvencilhar totalmente de sua herança direta, assim boa parte do Renascimento teve suas raízes no gótico. O ideal de muitos artistas italianos da época era redescobrir as belezas da antigüidade e assimilá-los em suas obras.

9.2 A INVENÇÃO DA IMPRENSA

A invenção da imprensa com a arte tipográfica teve um impacto notável sobre as letras renascentistas. Os livros se tornaram mais acessíveis e era possível reproduzir-se em quantidades maiores os livros mais apreciados da antigüidade. A exposição literária dos autores estava preservada, porque podia-se ter centenas ou milhares de cópias idênticas. As edições produzidas pelos copistas não mereciam muita confiança porque aos serem checadas pelos autores verificava-se que haviam erros que variava de copista para copista. Os livros não eram tão baratos. Mesmo depois da invenção da imprensa eles eram tão caros que em muitas bibliotecas eram amarrados às estantes com correntes. Uma pessoa de classe média podia possuir apenas alguns poucos livros. Para os humanistas a imprensa foi um meio magnífico para comunicarem entre si, ou para reeditar as obras da antigüidade, mas não para difundir estas idéias entre o povo. Estas idéias eram posse exclusiva da aristocracia intelectual. A partir da Reforma protestante Savanarola utilizou-se da imprensa como meio de comunicação com as massas, para a divulgação das idéias teológicas e filosóficas. 

10. A IMPORTÂNCIA DE ERASMO

Erasmo de Roterdã foi o maior e mais famoso humanista. Seu pai era um sacerdote e sua mãe era filha de um médico. Estudou um pouco da teologia escolástica e as letras clássicas. Depois de haver visitado a Inglaterra interessou-se pelas Escrituras na literatura cristã antiga. Estudou grego passando a dominar este idioma como poucos em sua época. Mais tarde tornou-se famoso e passou a ser o centro de um círculo internacional de humanistas que queriam reformar a igreja. Para Erasmo o cristianismo é antes de tudo um tipo de  vida decente, equilibrado e moderado. Segundo ele, os mandamentos de Jesus, que são o centro da fé cristã, são muito semelhantes às máximas dos estóicos e dos platônicos. Sua meta é chegar a dominar as paixões, colocando-as sob o governo da razão. Isto dá lugar a uma disciplina que tem muito de ascetismo, mas que não deve ser confundida com o monaquismo. O monge se retira do mundo, mas o verdadeiro soldado de Cristo, tem por metas do seu treinamento a vida prática e cotidiana.  Para Erasmo as doutrinas tinham importância secundária.  Mas uma vida reta era muito mais importante que a doutrina ortodoxa, e os frades que se ocupavam com distinções sutis enquanto levavam vidas escandalosas eram objeto de freqüentes ataques do humanista.  Erasmo contribuiu positivamente para a reforma da igreja, porque desejava mudanças nos costumes, nas práticas da decência e na moderação. Deste modo a sua visão era de uma reforma ao estilo humanista, e a volta às virtudes dos estóicos e platônicos de antigamente.     

10.1 O SENTIMENTO DE NACIONALISMO

Os sentimentos nacionalistas deram origem a estados modernos como a França, a Inglaterra e os países escandinavos, que se uniram sob monarquias relativamente fortes. Na Espanha a unidade nacional só foi alcançada com o casamento de Isabel e Fernando. Portugal era governado pelo regime monárquico, tendo aumentado o poder da coroa com relação aos nobres. A Alemanha e a Itália chegaram à unidade nacional somente muito tempo depois. O espírito nacionalista crescia em toda a Europa.  Nos séculos anteriores a maior parte do povo europeu se sentia cidadãos de condados ou burgos. Em 1499 a Suíça se tornou independente sob o domínio do imperador Maximiliano I. Na Alemanha, mesmo não havendo um movimento de insurreição semelhante ao que se verificou na Suíça, houve indícios de que as pessoas que habitavam nos diversos eleitorados, ducados, cidades livres etc. começaram a se sentir alemães.
O crescente sentimento nacionalista que se tornaram comuns nos séculos XIV e XV, militavam contra a relativa unidade conseguida em épocas anteriores. Quando o papado se inclinava a apoiar os interesses franceses, como aconteceu durante a sua residência em Avignion, os ingleses não vacilavam em se opor a ele. Se no entanto o papa se negasse a ser instrumento dócil nas mãos da coroa francesa, esta apoiava o outro papa, como aconteceu durante o Grande Cisma. Neste período estas situações passaram a serem constantes, o que deixava a autoridade papal cada vez mais abalada. Na verdade a decadência do papado começara desde o reinado de Bonifácio.       fonte bibliapage.com   



Outro aspecto desse período de efervescência foi o surgimento de alguns movimentos dissidentes no sul da França que despertaram forte oposição da Igreja Católica. Um deles foi o dos cátaros (em grego = “puros”) ou albigenses (da cidade de Albi), surgidos no século 11. Caracterizavam-se por um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, com um dualismo radical (espiritual x material) e extremo ascetismo. Foram condenados pelo 4° Concílio Lateranense em 1215 e mais tarde aniquilados por uma cruzada. Para combater esses e outros hereges, a Inquisição foi oficializada em 1233.

Outro movimento foi liderado por Pedro Valdo ou Valdes († c.1205), de Lião, cujos seguidores ficaram conhecidos como “homens pobres de Lião”. Tinham um estilo de vida comunitário, ensinavam as Escrituras no vernáculo (enfatizando o Sermão do Monte), incentivavam a pregação de leigos e de mulheres, negavam o purgatório. Condenados pelo Concílio de Verona em 1184, foram muito perseguidos, refugiando-se em vales remotos e quase inacessíveis dos alpes italianos. Mais tarde, abraçaram a Reforma Protestante, sendo assim uma das poucas Igrejas protestantes anteriores à Reforma do Século 16.

              Eventos antecedentes à Reforma N.2

A Reforma iniciou num ambiente favorecido pela crise que a Europa sofria durante a Idade Média. Seis eventos podem esclarecer a origem deste movimento:

1. A origem e desenvolvimento da burguesia. Durante a Idade Média uma nova classe social surgiu no sistema feudal. Uma "classe média" interpôs-se entre os senhores feudais e os seus miseráveis vassalos. Artesãos enriqueciam, e começaram a enviar os seus filhos para os monastérios, não com o intuito de tornarem-se monges, mas para aprenderem o uso das letras, para adquirir a cultura necessária para aplicá-la nas transações comerciais emergentes.

2. A origem das universidades. Os monges eram os detentores da cultura, por isso, criaram escolas anexas aos seus monastérios. Os senhores feudais e os burgueses com recurso financeiro enviavam os seus filhos para serem educados por eles. A partir do século XI a Europa passa a ter seis centros culturais nas cidades de Salerno, Bolonha, Salamanca, Coimbra, Orfoxd, e Paris. Este movimento educacional conhecido como Escolasticismo limitava-se ao estudo de quatro áreas especiíficas como a medicina, direito, artes e a teologia, que era o centro unificador destes cursos recebendo o título de rainha das ciências.

3. O enfraquecimento do poder político da Igreja Católica Romana. O evento conhecido como Cativeiro Babilônico, em que o Papa Bonifácio VIII, ficou prisioneiro do rei francês Felipe, causou uma mudança no eixo do controle da Europa medieval. O Papa que então entronizava, ou efetiva maldições sobre reis e reinos, tornava-se detento de sua própria estratégia de centralizar o poder. Em reação, o clero romano propõe anular o seu papado, sob domínio francês, e anunciar um substituto; então, surgem simultaneamente três papas na Europa: Urbano VI, em Roma, Bento XIII, em Avinhão e Clemente VIII, em Anagni. Esta controvérsia ficou conhecida como o Grande Cisma (1378-1423).

4. O grande número de mortes por causa da Peste [bubônica], em 1347. Com a desestruturada migração para as cidades, a falta de recursos básicos em higiene e moradia, bem como a proliferação de animais peçonhentos, propiciou para um ambiente em que uma pandemia como a peste bubônica se alastrasse de uma forma nunca vista antes na Europa medieval. A religião não forneceu respostas, nem garantias para a presente vida. As pessoas procuravam assegurar a sua vida eterna através das exigências da Igreja Romana. Este ambiente religioso gerou um sentimento apocaliptíco na Europa, de modo que a Igreja reconquistou o controle sobre a população européia.

5. A crise moral e doutrinária da Igreja Católica. Apesar dos conflitos internos e externos a Igreja tentava centralizar o poder em Roma, convergindo a atenção da Cristandade na construção da suntuosa Basílica de São Pedro. A simonia tornou-se a prática dominante entre os arrecadores de dinheiro para tamanho empreendimento arquitetônico. Vendia-se de tudo o que era identificado como "sacro", desde unhas, ossos, roupas, objetos de santos, dos apóstolos, e do próprio Cristo. Mas, a indulgência era o produto mais procurado para aquisição, pois, segundo o ensino católico, garantia o perdão dos pecados passados e futuros, bem como o alívio das almas presentes no purgatório. A imoralidade havia se alastrado em todas as áreas da Igreja e da sociedade.

6. O desenvolvimento do movimento Humanista nas universidades. Apesar da maioria da população ser controlada pela Igreja Romana, um grupo pensante questionava as incoerências doutrinárias e morais ensinadas pela Igreja Romana. O espírito pesquisador levou os humanistas a procurarem esclarecimento, não apenas nas respostas prontas da tradição católica, mas a retornarem ad fontes. O estudo dos textos clássicos impulsionaram estes pesquisadores a redescobrirem os antigos filósofos, os Pais da Igreja, mas principalmente, o estudo das Escrituras a partir dos originais hebraico e grego. Assim, descobriram que algumas das doutrinas centrais da fé católica derivaram a sua origem de uma má interpretação e tradução da Vulgata Latina, e de uma tradição distorcida.

O início da Reforma

Dentro deste contexto ocorre uma mudança na vida de Martinho Lutero. A conversão de Lutero aconteceu entre 1516-17, sobre a qual ele descreveu o seguinte: “embora eu vivesse irrepreensível como um monge, percebi que era um pecador diante de Deus, com uma consciência extremamente perturbada. Não conseguia crer que Ele estava satisfeito com a minha dedicação. Eu não o amava; sim, eu odiava o Deus justo que punia pecadores, e secretamente, se não de maneira blasfematória, certamente murmurando, estava com ódio de Deus... Finalmente, pela misericórdia de Deus, meditando dia e noite, dei ouvidos ao contexto das palavras: ‘A justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito, 'O justo viverá por fé'’ (Rm 1:17). Então, comecei a compreender que a justiça de Deus é aquela mediante a qual o justo vive por uma dádiva de Deus, ou seja, pela fé. E, é este o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, a saber, a justiça passiva com a qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, segundo está escrito: ‘O justo viverá por fé’. Aqui, senti como se renascesse totalmente e entrasse no paraíso pelos portões abertos" (Preface to Writings on Latim, Luther's Works, vol. 34, pp. 336-37).

Houve muita controvérsia dentro da Igreja, por causa dos escritos de Martinho Lutero, porque muitos desejavam uma reforma moral, educacional, social, mas principalmente teológica. Com a excomunhão de Lutero, em 15 de Junho de 1520, ficou consumado a divisão entre reformadores e católicos. Com o reformador alemão outros adotaram o programa de reformar a Igreja e a sociedade, usando o princípio da sola Scriptura [somente a Escritura é fonte e autoridade final], como Ulrich Zuínglio, Felipe Melanchton, Martin Bucer e João Calvino. A Reforma expandiu-se da Alemanha e Suiça para todo o continente europeu. 


 Primeiros Movimentos de Reforma

Nos séculos 14 e 15, surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra certos ensinos e práticas da Igreja Medieval. Um deles foi encabeçado por João Wycliff (1325?-1384), um sacerdote e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Wycliff atacou as irregularidades do clero, as superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a transubstanciação, o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e as pretensões papais. Seus seguidores, conhecidos como os lolardos, tinham a Bíblia como norma de fé que todos devem ler e interpretar.

João Hus (c.1372-1415), um sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Boêmia, foi influenciado pelos escritos de Wycliff. Definia a igreja por uma vida semelhante à de Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o papa. Insistia na autoridade suprema das Escrituras. Hus foi condenado à fogueira pelo Concílio de Constança. Seus seguidores ficaram conhecidos como Irmãos Boêmios (1457) e foram muito perseguidos. Foram os precursores dos Irmãos Morávios, que veremos posteriormente, outro grupo protestante cujas raízes são anteriores à Reforma do século 16. Outro indivíduo incluído entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola (1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege.

 Movimentos Devocionais

Além dos movimentos que romperam com a Igreja, houve outros que permaneceram na mesma por se concentrarem na vida devocional, sem críticas aos dogmas católicos. Um deles foi o misticismo, bastante forte na Inglaterra, Holanda e especialmente na Alemanha (Reno). Os principais místicos dessa época foram Meister Eckhart (†1327); Tauler (†1361) e os “Amigos de Deus”, Henrique Suso (†1366) e mais tarde o célebre teólogo e líder eclesiástico Nicolau de Cusa (1401-1464). O misticismo dava ênfase à união com Deus, ao amor, à humildade e à caridade, e produziu uma belíssima literatura devocional.

Outro importante movimento foi a Devoção Moderna, que se manteve forte durante todo o século 15. Suas ênfases recaíam sobre a espiritualidade, a leitura da Bíblia, a meditação e a oração. Também valorizava a educação, criando ótimas escolas. Foi um movimento leigo, para ambos os sexos, e também exerceu grande influência sobre os reformadores protestantes. Os participantes eram conhecidos como Irmãos da Vida Comum. A obra mais importante e popular produzida por esse movimento foi o belíssimo livreto devocional A Imitação de Cristo (1418), escrito por Thomas à Kempis.

 Os humanistas bíblicos

O interesse pelas obras da Antiguidade levou ao estudo da Bíblia nas línguas originais pelos chamados humanistas bíblicos. Os principais deles foram o italiano Lorenzo Valla (†1457), estudioso do Novo Testamento; o inglês John Colet (†1519), estudioso das epístolas paulinas; o alemão Johannes Reuchlin (†1522), notável hebraísta; o francês Lefèvre D’Étaples (†1536), tradutor do Novo Testamento; e o holandês Erasmo de Roterdã (1466?-1536), “o príncipe dos humanistas”, que publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego com uma tradução latina, talvez a obra mais importante publicada no século 16, que serviu de base para as traduções de Lutero, Tyndale e Lefèvre e muito influenciou os reformadores protestantes. Esse retorno às Escrituras muito contribuiu para a Reforma do Século 16.

 Situação Geral

O final da Idade Média foi marcado por muitas convulsões políticas, sociais e religiosas. Entre as políticas destacou-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a Inglaterra e a França, na qual tornou-se famosa a heroína Joana D’Arc. Houve também muitas revoltas camponesas, o declínio do feudalismo, a expansão das cidades e o surgimento do capitalismo. No aspecto social, havia fomes periódicas e o terrível flagelo da peste bubônica ou peste negra (1348). As guerras, epidemias e outros males produziam morte, devastação e desordem, ou seja, a ruptura da vida social e pessoal. O sentimento dominante era de insegurança, ansiedade, melancolia e pessimismo. Isso era ilustrado pela “dança da morte”, gravuras que se viam em toda parte com um esqueleto dançante.

Na área religiosa, houve a erosão do ideal da cristandade ou “corpus christianum”, a sociedade coesa sob a liderança da igreja e dos papas. A religiosidade era meritória, com missas pelos mortos, crença no purgatório e invocação dos santos e Maria. Ao mesmo tempo, havia grande ressentimento contra a igreja por causa dos abusos praticados e do desvio dos seus propósitos. Isso é ilustrado pela situação do papado no final do século 15 e início do século 16. Os chamados papas do renascimento foram mais estadistas e patronos das artes e da cultura do que pastores do seu rebanho. A instituição papal continuou em declínio, com muitas lutas políticas, simonia, nepotismo, falta de liderança espiritual, aumento de gastos e novos impostos eclesiásticos. Como papa Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja foi um generoso promotor das artes e da carreira dos seus filhos César e Lucrécia; Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro, comandando pessoalmente o seu exército; Leão X (1513-1521), o papa contemporâneo de Lutero, teria dito quando foi eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”.
                    

                 O contexto social e religioso

Vimos, no final da seção anterior, alguns elementos que caracterizavam a sociedade européia às vésperas da Reforma. Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou “matemática da salvação” (débitos = pecados; créditos = boas obras).

Foi bastante inusitado o episódio mais imediato que desencadeou o protesto de Lutero. Desde meados do século 14, cada novo líder do Sacro Império Romano era escolhido por um colégio eleitoral composto de quatro príncipes e três arcebispos. Em 1517, quando houve a eleição de um novo imperador, um dos três arcebispados eleitorais (o de Mainz ou Mogúncia) estava vago. Uma das famílias nobres que participavam desse processo, os Hohenzollern, resolveu tomar para si esse cargo e assim ter mais um voto no colégio eleitoral. Um jovem da família, Alberto, foi escolhido para ser o novo arcebispo, mas havia dois problemas: ele era leigo e não tinha a idade mínima exigida pela lei canônica para exercer esse ofício. O primeiro problema foi sanado com a sua rápida ordenação ao sacerdócio.

Quanto ao impedimento da idade, era necessária uma autorização especial do papa, o que levou a um negócio altamente vantajoso para ambas as partes. A família nobre comprou a autorização do papa Leão X mediante um empréstimo feito junto aos banqueiros Fugger, de Augsburgo. Ao mesmo tempo, o papa autorizou o novo arcebispo Alberto de Brandemburgo a fazer uma venda especial de indulgências, dividindo os rendimentos da seguinte maneira: parte serviria para o pagamento do empréstimo feito pela família e a outra parte iria para as obras da Catedral de São Pedro, em Roma. E assim foi feito. Tão logo foi instalado no seu cargo, Alberto encarregou o dominicano João Tetzel de fazer a venda das indulgências (o perdão das penas temporais do pecado). Quando Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se sobre o assunto.
fonte FERENCIAS.PORTAL MAKENZIE
Não há como negar a influência da reforma em nosso século. Qualquer livro de história que aborde o tema: idade média, tem obrigatoriamente a necessidade de discorrer sobre um dos principais marcos dessa época que veio a ser conhecido como “A Reforma Protestante”, liderada pelo monge agostiniano Martinho Lutero. Todavia, apesar de tão velho (quase 500 anos) ainda é um tema vivo em debate hoje em dia.

Mas o que venha a ser “A Reforma Protestante” ? Por que começou ? Quais foram as suas principais causas ? Quem foram seus líderes ? Não pretendendo ser prolixos ao analisarmos este assunto, mesmo porque, existem livros abalizados para tratar de forma exaustiva desse tema, desejamos dar apenas uma sinopse do mesmo.


UMA ÉPOCA PARA REFORMAS
Antes de adentrarmos ao tema proposto, vamos acentuar as razões que levaram à causa.

Os historiógrafos mostram que ao fim da idade média os fundamentos do velho mundo estavam ruindo. Houve várias transformações nessa época, mesmo antes, cuja importância não podem ser alienadas do pano de fundo histórico da reforma. As mudanças foram cada vez mais acentuadas com as descobertas de novos mundos por Colombo e Cabral . A idéia de um estado universal foi cedendo lugar ao conceito de nação-estado. Com a formação das cidades, a economia comercial tomou lugar da feudal. Isso teve conseqüências sociais, pois o estilo de vida das pessoas começou a ascender formando uma classe média forte - a burguesia. Também no campo da cultura e da arte com o surgimento do Renascimento as transformações intelectuais fizeram com que o protestantismo encontrasse apoio para seu desenvolvimento. Urge rememorar que todas essas mudanças afetavam direta ou indiretamente a Igreja Católica Romana. Mas nenhuma delas talvez, se fez sentir mais, do que as que ocorreram no campo religioso.

ANTECEDENTES DA REFORMA


É claro que de acordo com os pressupostos históricos que o historiador vier aplicar na interpretação da reforma, irá determinar a sua causa. Assim, temos várias correntes e escolas pelas quais os historiadores farão sua análise crítica da reforma de maneira puramente racionalista secular, tais como aquelas que só vêem as causas da reforma nos fatores político-sociais, outros no fator da economia e outros ainda vêem a reforma puramente como produto do intelectualismo. Entretanto, uma cosmovisão puramente racionalista tende a distorcer a definição e dar razões incompletas e deficientes à verdadeira origem da reforma. Ora, se analisarmos o assunto somente sob a ótica religiosa, ignorando a corroboração de todos esses fatores seculares e o impacto que tiveram sobre o movimento reformista é tão errado quanto analisar a reforma sem levar em conta a sua principal causa, qual seja, a religiosa. Na verdade, a reforma protestante nada mais é do que o cumprimento de um clamor por mudança religiosa, ainda que de maneira esporádica através dos anos anteriores à própria origem da reforma.
Nas últimas décadas da Idade Média, a igreja ocidental viveu um período de decadência que favoreceu o desenvolvimento do grande cisma do Ocidente, registrado entre 1378 e 1417, e que teve entre suas principais causas a transferência da sede papal para a cidade francesa de Avignon e a eleição simultânea de dois e até de três pontífices. O surgimento do "conciliarismo" - doutrina decorrente do cisma, que subordinava a autoridade do papa à comunidade dos fiéis representada pelo concílio - bem como o nepotismo e a imoralidade de alguns pontífices demonstraram a necessidade de uma reforma radical no seio da igreja. Por outro lado, já haviam surgido no interior da igreja movimentos reformistas que pregavam uma vida cristã mais consentânea com o Evangelho. No século XIII surgiram as ordens mendicantes, com a figura de são Francisco de Assis. Outros movimentos reformistas surgiram em aberta oposição à hierarquia eclesiástica.
 No século XII os valdenses, conhecidos como "os pobres de Lyon" ou "os pobres de Cristo", questionaram a autoridade eclesiástica, o purgatório e as indulgências. Os cátaros ou albigenses defenderam nos séculos XII e XIII um ascetismo exacerbado, considerando a si mesmos os únicos puros e perfeitos. Os Petrobrussianos rejeitavam a missa e defendiam o casamento dos padres. No século XIV, na Inglaterra, John Wycliffe defendeu idéias que seriam reconhecidas pelo movimento protestante, como a posse do mundo por Deus, a secularização dos bens eclesiásticos, o fortalecimento do poder temporal do rei como vigário de Cristo e a negação da presença corpórea de Cristo na eucaristia. As idéias de Wycliffe exerceram influência sobre o reformador tcheco João Huss e seus seguidores no território da Boêmia, os hussitas e os taboritas, nos séculos XIV e XV. Entre essas vozes protestantes estava também a do monge dominicano Girolamo Savanarola o qual, a mando do papa, foi preso, torturado e enforcado.
Em posição intermediária entre a fidelidade e a crítica à igreja romana situou-se Erasmo de Rotterdam. Seu profundo humanismo, conciliatório e radicalmente oposto à violência, embora não isento de ambigüidade, levou-o a dar passos importantes em direção à Reforma, como a tradução latina do Novo Testamento, afastando-se da versão oficial da Vulgata; ou a sátira contra o papa Júlio II, de 1513.




                        MAIS NOTAS ESCLARECEDORAS

A Reforma Protestante começou em 1517, quando Martinho Lutero divulgou suas 95 Teses em Wittenberg, Alemanha. O que levou ao movimento é mais complexo. O movimento foi condicionado pelos fatores políticos, sociais, econômicos, morais e intelectuais. Mas, acima de tudo, foi um movimento religioso liderado por homens interessados em uma reforma verdadeira do cristianismo.

O declínio do poder papal

O surgimento de monarquias nacionais nos séculos XIII a XV veio às custas do poder do papado. Este fato é ilustrado pela luta do Papa Bonifácio VIII com o rei da França, que resultou na humilhação e morte precoce do papa em 1303. O papado subseqüentemente estava localizado em Avinhão, França durante um período de aproximadamente 75 anos, conhecido na história como o Papado de Avinhão ou o Cativeiro Babilônico da igreja (1303-1377). Durante aquele tempo o papa foi dominado pela monarquia francesa. Esforços de restaurar o papado para Roma apenas provocaram, inicialmente, uma divisão, conhecida como o Grande Cisma. Papas rivais alegaram legitimidade até a situação finalmente se resolver em 1417.
Acontecimentos tão escandalosos na alta liderança da Igreja Católica Romana levaram ao aumento de corrupção e à perda de confiança na igreja. Muitos questionaram a autoridade absoluta reivindicada pelo papa. Outros clamavam cada vez mais por uma reforma da igreja nos “líderes e membros”.

Corrupção moral na liderança da igreja

Os anos antes da Reforma Protestante também foram marcados pela corrupção moral e o abuso de posição na igreja Católica Romana. O sacerdócio era culpado de vários abusos de privilégios e responsabilidades, inclusive simonia (usar as próprias riquezas ou influência para comprar uma posição eclesiástica), pluralismo (ocupar vários cargos simultaneamente) e absentismo (a falha em residir na paróquia onde deviam administrar). A prática do celibato que foi imposta pela igreja no sacerdócio muitas vezes era abusada ou ignorada, levando a conduta imoral por parte do clero. Padres ignorantes com mentes mundanas corromperam suas posições pela negligência e abuso de poder.
Durante o século XV, o mundanismo e a corrupção na igreja chegou ao pior. O problema da corrupção chegou até o papado.
Entre aqueles que pediam uma reforma da igreja estava o domiciano Giralamo Savonarola (1452-1498) de Florença, Itália. Este pregador impetuoso falou contra os morais corruptos dos líderes da cidade e dos abusos do papado. O povo foi ganho pela causa de Savonarola em Florença, mas devido a rivalidades religiosas e circunstâncias políticas, o movimento durou pouco. Savonarola foi enforcado e queimado por heresia em 1498.

Primeiros movimentos religiosos da Reforma

Durante o final da Idade Média surgiram vários movimentos que desafiaram algumas das doutrinas básicas da Igreja Católica Romana. Muitos destes movimentos foram oficialmente condenados pela igreja como heresias e foram severamente oprimidos.
Os Albigensianos surgiram no sul da França no final do século XII e início do século XIII. Os Albigensianos (também chamados de Catari) seguiam um dualismo rigoroso semelhante ao antigo gnosticismo. Eles defendiam o Novo Testamento como o único padrão de autoridade — um desafio à autoridade alegada pelo papa. A seita tornou-se o objeto de uma campanha terrível de perseguição quando o Papa Inocêncio III lançou uma cruzada contra eles em 1204.
Um movimento conhecido como os Waldensianos provavelmente foi fundado no século XI por Pedro Waldo. Pregadores viajantes conhecidos como os Homens Pobres de Lyons enfatizaram o estudo e a pregação da Bíblia. Traduziram o Novo Testamento para a língua comum do povo, rejeitaram as doutrinas católicas do sacerdócio e purgatório, e defenderam à volta às Escrituras como a única autoridade na religião.
Na Inglaterra, João Wiclif (1324-1384), um professor bem-conhecido da Oxford, também desafiou a autoridade do papado. Durante o Papado de Avinhão, ele argumentou que todo o domínio legítimo vem de Deus e é caracterizado pela autoridade exercida por Cristo na terra – não de ser servido mas sim, de servir. Durante o Grande Cisma, Wiclif ensinou que a verdadeira igreja de Cristo, em vez de consistir em um papa e hierarquia da igreja, é um corpo invisível dos eleitos. Ele promoveu o estudo das Escrituras sobre a tradição da igreja. E ensinou que as Escrituras devem ser colocadas nas mãos dos eleitos, e na sua própria língua. Assim Wiclif fez uma tradução inglesa em aproximadamente 1384.
No fim, Wiclif foi condenado por heresia, mas sua influência continuou. Seus seguidores, chamados de lolardos espalharam seus ensinamentos como um movimento oculto na Inglaterra. Rejeitaram a doutrina da transubstanciação, a veneração de imagens, o celibato do clero e outras doutrinas católicas como abominações. Foram uma influência importante na Inglaterra na véspera da Reforma Protestante.
Uma outra voz precoce clamando pela reforma foi a de João Hus (1369-1415), um pregador e estudioso boêmio. Influenciado pelos escritos de Wiclif, Hus argumentou que a verdadeira igreja não era a instituição como definida pelo catolicismo, mas o corpo dos eleitos sob a liderança de Cristo. Ele insistiu que a Bíblia é a autoridade final pela qual o papa e qualquer cristão será julgado. Hus foi queimado por heresia em 1415, aproximadamente um século antes da resistência de Lutero em Wittenberg. O movimento Husita continuou a crescer depois da morte do seu líder, preparando o caminho para a Reforma Protestante.

Religião, movimentos místicos e pietistas

No final da Idade Média uma forma de misticismo religioso surgiu na Alemanha. Muitos dos místicos, como Meister Eckhart, enfatizaram temer o divino através da contemplação mística, em vez de através de uma abordagem racional à religião.
Outros, como Gerhard Groote, ensinaram uma abordagem mais prática ao cristianismo. Groote fundou os Irmãos da Vida Comum como um esforço de chamar seguidores a uma devoção e santidade renovadas. Seguiram a devotio moderna, uma vida de devoção disciplinada centralizada em meditar na vida de Cristo e seguir a mesma. A obra de mais influência desta escola de pensamento foi A Imitação de Cristo, escrita por Thomas à Kempis. Quando não se opuseram à igreja católica ou à hierarquia, o movimento criticava a corrupção da igreja. Seu ênfase no relacionamento pessoal com Deus parecia minimizar o papel da função sacramental da igreja. Escolas fundadas pelos Irmãos enfatizavam escolaridade e devoção e tornaram-se centros para a reforma. Muitos dos líderes da Reforma Protestante foram influenciados pelos seus ensinamentos.

O Renascimento

O Renascimento (ou Renascença) foi um movimento que constituiu a transição do mundo medieval para o mundo moderno. Começou no século XIV na Itália como resultado de um interesse renovado na cultura clássica ou humanística da Grécia e Roma. Estudiosos do Renascimento estudaram antigos manuscritos recuperados de um mundo que era decididamente mais secular e individualístico do que religioso e unido. Os artistas do período enfatizaram a beleza da natureza e do homem. A religião no Renascimento tornou-se menos importante conforme os homens voltaram sua atenção ao prazer do aqui e agora.
O Renascimento afetou os papas do período. Muitos dos “Papas do Renascimento”, como Júlio II (1441-1513), eram humanistas mais interessados na cultura clássica e arte do que em assuntos espirituais. Alguns, como Alexandre VI (1431-1503), viveram vidas notoriamente malvadas e escandalosas. Leão X (1475-1521), o filho de Lorenzo de’Medici e papa quando Martinho Lutero afixou as 95 Teses, uma vez disse que Deus lhe deu o papado, então ele ia “aproveitar”.
O Renascimento contribuiu para a Reforma de outras maneiras mais positivas. A invenção da prensa de impressão móvel por Johann Gutenberg, em aproximadamente 1456, forneceu um meio para a divulgação de idéias. Estudiosos do Renascimento ao norte dos Alpes dividiram muitos dos mesmos interesses – uma paixão pelas fontes antigas, uma ênfase no ser humano como indivíduo e uma fé nas capacidades racionais da mente humana. No entanto, esses “cristãos humanistas do norte” estavam menos interessados no passado clássico do que no passado cristão. Eles aplicaram as técnicas e os métodos do humanismo do Renascimento no estudo das Escrituras nas suas línguas originais, assim como o estudo dos “pais da igreja” como Augustinho. Sua preocupação principal com os seres humanos era pelas suas almas. Sua ênfase era étnica e religiosa em vez de estética e secular.
O resultado desta ênfase era um interesse num retorno às Escrituras e a restauração do cristianismo primitivo. Os humanistas bíblicos apontaram os maus na igreja da sua época e pediram uma reforma interna. Talvez quem teve mais influência foi Disidério Erasmo (aproximadamente 1466-1536). Conhecido como o “príncipe dos humanistas”, Erasmo usou sua ampla escolaridade para desenvolver um texto do Novo Testamento em grego, baseado em quatro manuscritos gregos que estavam disponíveis para ele. Como a ajuda da prensa de impressão, Erasmo publicou o texto grego do Novo Testamento em 1516. A capacidade de estudar a Bíblia na sua língua original encorajou uma comparação mais precisa da igreja dos seus dias com a igreja do Novo Testamento. Martinho Lutero, por exemplo, usou imediatamente o texto grego de Erasmo. Ele logo percebeu que a interpretação da Vulgata Latina em Mateus 4:17 de “pagar penitência” mais precisamente seria “arrepender-se”. Tal conhecimento contribuiu para uma percepção crescente de que o sistema sacramental não era apoiado pelas Escrituras.

Assuntos doutrinárias e autoridade religiosa

O assunto imediato que levou Lutero a afixar suas 95 propostas para debate em 1517 foi o abuso do sistema católico romano de indulgências. A doutrina de indulgências, inicialmente formulada no século XIII, era associada com o sacramento de penitência e a doutrina do purgatório. Enquanto acreditava-se que o sacramento fornecia perdão dos pecado e do castigo eterno, acreditava-se que havia uma satisfação temporal que o pecador arrependido teria que cumprir nesta vida ou no purgatório. A indulgência era um documento que a pessoa podia comprar por uma certa quantia de dinheiro que a livraria da punição temporal do pecado. Acreditava-se que os méritos excedentes de Cristo e dos santos seriam guardados numa “tesouraria de mérito” celestial da qual o papa podia tirar méritos para o benefício dos vivos. Em 1517 o dominicano Johann Tetzel estava vendendo uma indulgência plena especial (prometendo o perdão completo dos pecados) para conseguir dinheiro para a igreja. Metade do dinheiro seria dada ao Arcebispo Alberto, a quem o papa havia dado uma dispensa especial para ocupar dois cargos. O resto ajudaria a financiar o término do catedral de São Pedro em Roma. O protesto de Lutero inicialmente era contra o que via como o abuso do sistema de indulgências. Também era um desafio à autoridade papal que tornava tais abusos possíveis.
Depois de um tempo Lutero rejeitou todo o sistema sacramental católico romano. Mais do que qualquer outro fator, suas conclusões surgiram de seu estudo intensivo da Bíblia. A partir de aproximadamente 1513 até 1519 Lutero discursou sobre as Escrituras na Universidade de Wittenberg. Ele estava convicto de que a Bíblia era a única autoridade verdadeira na religião (sola scriptura), em oposição ao papa ou um conselho geral da igreja. Através do seu estudo ele percebeu que muitos dos aspectos do sistema teológico da Igreja Romana não eram baseados nas Escrituras. Lutero acreditava que havia resgatado a verdadeira essência do cristianismo nos seus ensinamentos de que a salvação é pela graça através da fé em Cristo (sola fide), e não através de um sistema de obras como manifestado no sistema sacramental católico. Ele desafiou o conceito católico do sacerdócio com a declaração de que o Novo Testamento ensinava o sacerdócio de crentes.

Enquanto muitos outros fatores se combinaram para tornar a Reforma Protestante possível, acima de tudo era a crença dos reformadores em voltar à autoridade única da Bíblia que definiu o movimento. A que ponto conseguiram em fazer uma verdadeira reforma pode ser julgado pelo quanto aderiram a esse princípio.     fonte www.estudosdabiblia.net


                       O ESTOPIM PARA A REFORMA


A faísca veio em 1517, ocasião em que a campanha das indulgências para a basílica de São Pedro em Roma estava a todo vapor. Tetzel um padre dominicano, pregava sobre as indulgências com grande exibicionismo: diz que cada vez que cai a moeda na bolsa do frade, uma alma sai do purgatório.Diante disso, Lutero resolveu protestar fixando suas 95 teses condenando o uso das indulgências. A resposta do papa Leão X, veio na bula “Exsurge Domine” ameaçando Lutero de excomunhão. Mas já era tarde demais pois as teses de Lutero já haviam sido distribuídas por toda a Alemanha. Lutero então foi chamado a comparecer a dieta de Worms para se retratar. Porém respondeu ele que não poderia se retratar de nada do que disse. Foi na dieta de Spira em 1529 que os cristãos reformistas foram apelidados pela primeira vez de “protestantes”, devido ao protesto que os príncipes alemães fez ante o autoritarismo do catolicismo.

Nessa época, os ideais da reforma já estavam estourando em diversas partes como em Zurique sob o comando de Zuinglio, na França sob a liderança de Calvino e nos paises baixos.Em todos estes paises houve perseguição aos reformadores e aos novos protestantes. A perseguição veio se intensificar ainda mais com a chamada “Contra Reforma” promovida pelo catolicismo, como método de represália.
O movimento de reforma foi seguido de cem anos de guerras religiosas dos reis católicos contra os protestantes. Mas a reforma prosperou pois não era obra de homem mas de Deus! Igrejas protestantes foram fundadas em todas as partes do mundo. Hoje graças a Deus, uma grande parcela da população Ocidental é protestante. E o Brasil caminha a passos largos para ser conquistado totalmente pelo protestantismo.

fonte www.estudarhistoriadaigreja.blogspot.com

                          I. Os precursores da Reforma .

                                 JOÃO WYCLIFF

A REFORMA, é o nome comum dado ao movimento religioso e eclesiástico do século 16, que resultou na derrubada do então todo-poderoso autoridade dos papas romanos em uma grande parte do mundo cristão, e na construção de uma série de novos religiosos organizações. O nome em si é altamente significativo, e aponta para a importância do novo ponto de partida na história do cristianismo, que então começou. Ele tem sido usado bastante geral, mesmo entre os escritores católicos romanos, embora os teólogos da Igreja que tentaram substituí-la por outros termos, como a "chamada Reforma", ea "separação da Igreja." Já tivemos ocasião de numerosos artigos deste Cyclopedia para se referir a partes isoladas da Reforma. A história da Igreja de nenhum país importante da Europa poderia ser completa sem uma menção de seus movimentos reformatórios, wdnhether eles estavam bem ou mal sucedidas, e as biografias dos grandes pais da Reforma consistem principalmente de uma conta de seus trabalhos em prol da reconstrução da Igreja sobre uma nova base. O presente artigo trata da grande ponto de viragem na história do cristianismo como um todo.                     

 - Como a maioria dos grandes acontecimentos da história da humanidade, a Reforma teve sua história de preparação, no qual tenta de natureza similar foram feitas para o mesmo fim, o encontro com nenhuma ou mas sucesso parcial, mas ainda abrindo o caminho para as mudanças maravilhosas que foram alcançados pela reforma vitoriosa do século 16. 

1. Todas as igrejas reformadas que surgiram a partir dos movimentos do século 16 estão de acordo em relação ao poder indevida que os bispos de Roma em um momento inicial começaram a se arrogam, ea constituição centralizada que, consequentemente, foi imposta a Igreja Cristã , como um dos desvios mais fatais das doutrinas da Bíblia e da prática e da vida da era apostólica. 

Em um sentido mais amplo da palavra, todos os esforços, portanto, que foram feitas para reprimir e abolir o poder arrogante e invasora dos papas romanos, e trazer de volta a Igreja a sua pureza na época de seu fundador e seu primeiro discípulos, poderia ser chamado de movimentos preparatórios e precursando da grande Reforma. Estes movimentos têm sido múltiplas e muito diferentes em sua origem, progresso e ramificações, e cada um deles tem de ser julgado individualmente por seu próprio caráter e história. De fato, durante a Idade Média, mesmo quando o poder do papado era o mais despótico e absoluto, uma tendência reformatório foi permeando a Igreja, muitas vezes limitando-se ao sigilo e ocultas trabalhos, mas muitas vezes rompendo os laços da Igreja, proclamando seus princípios reformatórios em público, e desafiando a ira de uma hierarquia enfurecido. Algumas dessas explosões correu sem problemas em nos canais de uma crença puramente evangélico; outros ficaram impregnados de fanáticos, às vezes até mesmo anti-cristã, elementos, e ameaçado com uma derrota comum tanto o Estado como a Igreja dos tempos. Entre os movimentos reformatórios mais proeminentes na primeira parte da Idade Média eram os dos Albigenses, os cátaros e os valdenses, para os quais (e muitos outros) esta Cyclopedia dedica artigos especiais. 

Na última parte da Idade Média, o desvio da Igreja no poder das Escrituras e do cristianismo primitivo tornou-se cada vez mais evidente, ea corrupção em todas as classes do clero, do mais alto ao mais baixo. mais e mais geral. O apelo por uma "reforma na cabeça e membros" espalhou-se rapidamente, e até mesmo grandes nações começaram a olhar para a reforma da Igreja como uma causa nacional. Foi justamente observou que o significado atribuído ao termo "reforma na cabeça e membros" não era de forma uniforme, e que "cada um entendeu a significar principalmente o que ele mais desejava - a remoção do que lhe parecia mais opressivo e anticristão ". Todos os descontentes, no entanto, pareceu concordar em relação à administração da Igreja Cristã pelo tribunal papal como totalmente depravado, e tão subversivo do verdadeiro cristianismo. 

Os esforços feitos para pôr fim ao desgoverno papal e alcançar uma reforma da Igreja eram principalmente de dois tipos. A única classe encontrada na sede da degeneração não tanto em uma partida da doutrina da Bíblia como a usurpação pelos papas de maior poder do que lhes pertenciam por direito divino e da Igreja. Estes homens stroligly acreditava na continuidade da Igreja visível; eles rejeitaram o direito de separação e separação, e olhou para os conselhos ecumênico da Igreja como o único meio através do qual a reforma necessária da Igreja, devem ser garantidas. Esta escola teve por muito tempo um centro na mais famosa instituição literária da Igreja - da Universidade de Paris. Seus principais representantes foram Pedro d'Ailly, o chanceler, seu aluno Gerson, e Nicolas de Climanges, reitor daquela universidade. 

O apoio sincero de muitos dos príncipes foremnost da época, incluindo vários imperadores, foi garantido, e os três grandes concílios de Pisa, Constança. e Basileia a maioria dos bispos e teólogos reunidos expressaram sua: concordância nestes pontos de vista, e sinceramente se esforçado para realizar uma reforma radical nesta base. Thejoyous esperanças que tinha sido criado na igreja por esses esforços reformatórios, entretanto, foram muito decepcionado quando o papa conseguiu dissolver o Conselho de Basileia. 

Muito mais profundo do que esta classe de reformadores foram um segundo, que não só se voltou contra usurpações papais no governo da Igreja, mas também por um estudo das Escrituras foram levados a olhar para todo o sistema doutrinal da Igreja, como tinha gradualmente desenvolvido sob a desorientação dos papas, como uma apostasia da cristandade da Bíblia, e que, portanto, acredita que, mais do que uma reforma em sua cabeça e membros, a Igreja precisava de uma reforma em seu espírito e doutrinas. Os principais representantes desta: escola eram Wycliffe, na Inglaterra, e Huss na Boêmia. Para Wycliffe o papado apareceu como anti-cristianismo, eo poder papal, em sua opinião, não foi derivado de Deus, mas do imperador.

 Ele rejeitou totalmente a constituição hierárquica existente da Igreja, e defendeu a substituição para ele da Constituição presbiteral como ele acreditava ter existido na era apostólica. Para as tradições da Igreja, ele absolutamente negado um caráter autoritário, e declarou toda a Escritura para ser a única fonte e regra do conhecimento religioso. Huss derivou seus pontos de vista de reforma da Igreja em grande parte de Wycliffe, e em 1410 foi excomungado da Igreja como um Wycliffite. Uma das doutrinas centrais da reforma do "século 16 aumentou, no entanto, em seu sistema de maior destaque, e ele também parecia com seus grandes seguidores mais do que Wycliffe, despertando as massas do povo em favor da reforma. Nem Wycliffe nem Huss conseguiu fazer aprovar uma reforma.

 Quando o governmelnt Inglês, que havia protegido Wycliffe durante a sua vida de danos pessoais, começou uma perseguição sangrenta contra seus seguidores, a maioria dos quais foram encontrados nas classes mais altas e entre os homens de saber, o movimento de reforma na Inglaterra chegou a um impasse súbita . As ideias reformadoras de Huss apareceu por um tempo para ganhar o controle completo de um país inteiro, e, assim, estabelecer uma fortaleza do cristianismo evangélico: no centro da Europa. Mas dissensões internas e o poder superior do imperador alemão aniquilado em 1434 as perspectivas do movimento Hussite, que reduziu-se em uma pequena seita chamada a Boémia e Morávia Irmãos. Numericamente muito fraco para exercer uma influência missionária sobre o restante da Europa cristã, esta denominação religiosa, mas sempre ser contado entre as frutas mais maduras e mais deliciosas das tendências reformadoras da Idade Média.

 Nada mostra melhor a grande diferença entre as duas classes de reformadores que foram caracterizados nas linhas acima do que o fato de que Gerson, o representante mais talentoso do primeiro nomeado, foi o espírito de liderança, no Conselho de Constance que condenou Huss ser queimado na fogueira. Além dessas duas grandes correntes de movimentos reformatórios que são visíveis na história da Igreja da última parte da Idade Média, havia um grande número de escritores teológicos que corajosamente sustentou por trazer a Igreja corrupta de seus tempos de volta à pureza do cristianismo bíblico , e que mais ou menos discutidas todas as grandes questões reformatórios que agitaram o mundo no século 16. Entre os mais célebre desses reformadores foram John (Pupper) de Goch, reitor de um convento de freiras em Malines, John Wessel (Gansfort), chamado por seus amigos Lux Imundi, e John (Ruenrath) de Wesel. Embora muitos desses escritores fizeram assaltos indisfarçável nas doutrinas recebidos pela igreja, os seus pontos de vista, se não diretamente dirigida ao povo, eram freqüentemente tolerado como opiniões learnied da escola. 

Um dos pregadores reformatórios mais talentosos da Idade Média apareceu para o fim do século 15 na Itália. Com uma rara eloquência e ousadia ele atacou a vida imoral prevalecente em ambos Igreja e Estado, e exigiu uma reforma radical de ambos. Embora alguns pregadores reformatórios já conseguiu melhor do que Savonarola em balançando as emoções de grandes massas do povo, ele não estabelecer as bases de qualquer organização reformatório; e quando ele foi queimado na forca, não havia ninguém para continuar o trabalho de sua vida. 

John Wyclif (também se escreve wycliffe,wicliffe,ou wiclif) nasceu em Hipswell   Yorkshire     na Inglaterra  por volta de 1329 .Foi estudar em Oxford ;tornando-se doutor em Divindade(teologia)em 1372.Logo se  notabilizou por sua inteligencia e erudição.Dominou a filosofia e os ensinos de Agostinho (ensinos que mais tarde influenciaram homens como Lutero e Calvino).Por ser um grande teólogo ;tornou-se capelão do Rei   da Inglaterra,Ricardo 2.Nesta posição pôde fazer muito pela reforma de sua igreja.Huss pode ser considerado um discípulo de Wicliff,pelo menos no sentido teológico.Wicliff trabalhou na Inglaterra;foi teólogo de Oxford ;reconhecido por sua erudição;bem visto pelo povo e apoiado pelos nobres.(notas ibid).
 Estando numa posição de grande destaque ;wicliff pôde ter acesso ao parlamento e traduzir a Vulgata (Biblia em latim) para o Ingles.Essa tradução foi de fundamental importancia ;tanto para a vida espiritual do povo ;como também para o própio idioma Ingles.Embora não tenha rejeitado de todo o papado;entendia que um papa que aspira ao poder humano e tem ânsias por impostos nem sequer poderia ser um eleito.
  Essa idéia de eleição;Wicliff extraiu principalmente dos ensinos de Agostinho.Mas ;com certeza ;a maior contribuição de Wyicllif para a Reforma foi ter colocado a Biblia no idioma do povo.Convicto de que ele era a única lei  da igreja;direcionou todos os seus esforços para traduzi-la do latim .Com ajuda de Nicolau de Hereford ;que traduziu o Antigo Testamento ;a Biblia foi traduzida para o inglês.O trabalho durou de 1382 a 1384.Wycliff e seus  seguidores os "lolardos";foram muito perseguidos pela igreja;que considerou heréticos os seus ensinos .Se wicliff não foi martirizado ;isso se deve;humanamente falando;á proteção que tinha dos nobres da Inglaterra.Mas muitos de seus seguidores foram mortos.
       A igreja esforço-se para sufocar as idéias de Wicliff e tentou destruir as traduções da biblia;mas pelo menos 150 manuscritos sobreviveram.Curiosamente a maior influencia de Wicliff se fez sentir na boemia ;onde alguns estudantes de Oxford difundiam suas idéias na universidade da Praga.
            
                                                   Wycliffy Traduz a  Bíblia

       Assim pis;pele graça de Deus ;Wycliff escapou ainda mais uma vez das garras dos perseguidores ;e pode ;pouco depois ;ocupar-se com a grande obra da tradução da bíblia na linguagem do país.Havia muito tempo que ele manisfestara o desejo de que os patricios pudessem ler o evangelho da vida de Cristo em inglês;e havia agora todas as possibilidades de ver o seu desejo satisfeito poucos meses mais tarde essa provabilidade tornaram-se em certeza ;e;a proporção que o trabalho ia chegando ao fim; o ousado reformador começou a sentir que a missão na terra estava quase terminada.
      No ano de 1383 viu sua obra completa;e;apesar de os bispos fazerem toda a diligencia para que a versão fosse suprida por lei do parlamento;os esforços não tiveram resultado ;e em breve a Bilbia começou a circular.(notas W.Anglin e A.kNIGHT P.185-186).  
       Nessa escola;de Oxford ;estudou como vimos mais tarde veio a ser reitor ;um filho de camponeses ;de Husinecz(donde veio o nome hus).Tanto Wycliff tinham suas idéias fundamentadas nas Escrituras;;o que os tornava ainda mais ardentes na defesa do Cristianismo.

                                    Sua influencia que atravessou fronteiras
                                                   1°) Os Lollardos

       Para que ensino bíblico fosse transmitido por toda Inglaterra;Wycliff fundou um grupo de pregadores leigos ;os quais recebiam o nome de Lollardos.O trabalho de expansão deu certo ;mas o papa não gostou.Em um decreto ;a igreja condenou  os Lollardos á pena de morte.Apesar disto ;nenhum desses pregadores foram mortos.Quando  Wycliff morreu os seus seguidores   eram muitos;e havia entre eles todas as classes da comunidade.Parece que era em Oxford que havia um maior numero ;e quando o Dr. Rigge ;chanceler da universidade ;recebeu ordem para  por silencio á queles que favoreciam o reformador;respondeu que não ousava faze-lo por ter medo de ser morto.
  Todos os que adotaram publicamente a doutrina de Wycliff eram chamados de Lollardos;mas é certo que mesmo antes de Wycliff aparecer já existiam muitos cristãos com essa denominação.As suas doutrinas e opiniões eram em tudo iguais as do reformador ;e parece que foram tão infatigáveis como ele em as espalhar.(notas w.anglin e a.knght ;hist do crist.p.185).   
        Assim como Wycliff;eles também  ensinarem que "o evangelho de Jesus Cristo é a origem da verdadeira salvação;que não há nada no Evangelho que mostre que Cristo estabeleceu a missa;que o pão e o vinho;ainda depois de consagrados;ficam sendo pão e vinho ;que os que entram para os mosteiros ainda se tornam mais incapazes de observar as ordens de Deus ;e finalmente ,que a penitencia ;a confissão ;a extrema unção ;não são precisas ;nem se fundamentam nas Escrituras Sagradas".(ibid/p.186).
        Pensar que roma deixaria viver tais incorrigíveis hereges;sem se incomodar ;seria supor que ele fosse capaz de tolerância e misericordia -qualidade estas que nunca patenteou.Não era este o seu modo de proceder;e se os  Lollardos não foram logo perseguidos pele sua cólera;foi unicamente porque lhes faltavam os meios de tornar bastante eficaz a perseguição.
 Contudo ;a subida ao trono de Henrique 4;forneceu-lhes a oportunidade que esperava.Os padres e os frades tinham estado no entanto bastante ocupados em espalhar falsos boatos sobre o procedimento revolucionario dos Lollardos;e tinham inspirado tais receios á nação que;quando no ano de 1400 o novo rei fez publicar um edito real determinando que os hereges fossem queimados ;o Parlamento prontamente o sancionou.(ibid).
 Os lollardos ;na Inglaterra tinham revindicações a saber:1°.queriam a bilbia traduzida para o seu idioma do povo inglês 2°.não faziam distinção entre o clero (classe eclesiastica /os sacerdotes) e o laico (que não pertence a classe eclesiastico/leigo)3°.O celibato (voto do sacerdote de não se casar)é contrario ás Escrituras e só produz imoralidade 4°.O culto ás imagens ;as orações em favor dos mortos e a doutrina da transubstanciação são erros doutrinários.(apost;inst;b;ig presb.maua 2002).
Como os Lollardos aumentassem cada vez mais ;o arcebispo Arundel fez convocar os melhores meios de os suprimir;e desde esse tempo ;durante perto de um século ;as chamas da perseguição foram ardendo por toda a Inglaterra;e conservou o mesmo rigor na busca dos hereges;mas Deus tinha decretado que a obra dos seus servos prosseguisse ;e quem poderia deter sua mão?As criaturas  de Roma podiam fazer diminuir o pequeno grupo de cristãos ;por meio de fogo e outras torturas ;e prisões(as tribulações eram o quinhão que os fiéis discípulos esperavam);mas não podiam destruir a obra que Deus tinha começado .
  A Sua Palavra -aquela semente incorruptível que vive e permanece eternamente-estava nas mãos do povo ;e enquanto o poder dela estivesse entre eles ;as armas de Roma eram impotentes ;e a obra de Deus nas almas havia de se efetuar para a Sua Glória.(notas A.knight e W.anglin p.187;cpad).  
                     
               Sua influencia na  Boemia:estudantes  que  foram para   Oxford.
     
 Estudantes da região da Boemia ;no centro da Europa ;foram para Oxford e lá tiveram contato com os escritos de Wycliff e com alguns do Lollardos.Ao regressar para sua terra;os boêmios levaram as novas convicções e ensinos que acabaram de influenciar aquele que seria um outro grande reformador ;Jhon Huss.Ao tomar conhecimento ;os primeiros contatos com os escritos de Wycliff ;Huss escreveu na margem de seus papéis"Wycliff;Wycliff;você vai virar muitas cabeças".Anos mais tarde ;Huss teria sido acusado pela igreja de Wycliffismo.
 A história nos mostra que Deus vai espalhando sua semente.Assim como na igreja Primitiva ;crentes foram influenciado pessoas ;autoridades e até reis;a ponto de ocupar todo o mundo.Temos a biblia em nossas mãos hoje porque servos e servas de Deus se dedicaram para isso.Enquanto os Lollardos eram perseguidos na Inglaterra; dava-se um despertamento noutro ponto da Europa;para o qual chamamos a atenção.Este despertamento teve como chefe o martir João Huss.Não resta dúvida de que foram os escritos de Wycliff que acenderam as primeiras centelhas desta revivificação;e as circunstancias que conduziram a isto;para quais nos podemos apenas referir em breves palavras;assim descritas:A esposa de Ricardo 2 da Inglaterra era uma princesa Boemia;irmã de Wenceslau ;rei de Boemia.
  Era mulher piedosa ;tinha estudado as Escrituras Sagradas;sendo isto mesmo afirmado pelo perseguidor arcebispo Arundel;que disse"Embora ele fosse estrangeira ;estudava constantemente os quatro Evangelhos em inglês ,com as explicações dos doutores ;mostrando neste estudo e na leitura dos livros piedosos mais diligentes do que os própios prelados".(w.anglin e a.knight p.189-190 cpad).  
   Depois um sábio boêmio de Praga ;chamado Jeronimo;visitou a Inglaterra;travando conhecimento com vários Lollardos ;em cujos ensinos adquiriu.Em seguida voltou para a sua cidade onde ensinou as novas doutrinas com zelo e bom êxito.Num período ainda posterior(1404);depois ingleses de Cantuária também tinham ido a Praga ;e ali manifestaram sentimentos antipapais.
  Estabeleceram a sua residencia nos subúrbios da capital ;em seu consentimento ;pintaram nas paredes do seu quarto dois quadros ;um representando a história da paixão de Jesus ;o outro a pompa da corte papal.A ignificação da antítese daqueles dois quadros era bastante clara ;o povo foi ver aquelas  pinturas toscas ;e Huss ;que era então pregador na capela  de Belém ;e igualmente deão da faculdade de filosofia ;referiu-se a elas nos seus sermões.(notas A.anglin e W.knight/hist,reform;p.190 cpad).

                         
                                   Convicção e  autenticidade de Wycliff

       Em seus ensinos ;esse mestre  se diferenciava de seus contenporraneos porque negava que os homens precisassem de um sacerdote humano para chegar a Deus.Ao contrario 150 anos antes da reforma;ele já proclamava o sacerdócio de todo crente e ensinava todos os homens a irem;pela fé em Jesus;diretamente a Deus.(notas;rev.ens.crist.p.17 cpad).      
    
                                 Ensinos voltados para a biblía     

     Wycliff defendeu as seguintes idéias para a reforma da sua igreja:
                                                  1°)Sobre a bíblia

        Ensinava que os concílios e a liderança da igreja deveriam ser provados pelas Escrituras.A palavra do papa e a tradição da igreja não poderiam ter uma autoridade maior do que a biblia.Para o reformador Inglês a Bíblia é a única regra de fé pratica.Ela é suficiente para suprir as necessidades da  humana ;sem que sejam necessárias as intervenções da igreja e as magicas de seus sacerdotes.Wycliff entendia também que  as Escrituras deveriam ser colocadas na mão do povo e não ficarem limitadas ao clero (liderança da igreja).

                                                     2°)Sobre o papa

      Wycliff ensinava que os papas eram homens sujeito ao erro a ao engano.Assim dentro da igreja de Cristo havia joio e trigo ;ser líder da igreja não era garantia de salvação;muito menos de perfeição .Ensinava que o oficio do papado era invenção do homem e não de Deus e que o papa seria o anticristo se não seguisse fielmente os ensinos de CRISTO.Censurou monges quanto a preguiça e ignorância deles no que diz respeito ao estudo das Escrituras.

                                                       3°)Sobre a ceia

        Segundo a igreja Católica Romana ;no momento da ceia o pão e o vinho se transformam no corpo no sangue de Cristo.Este dogma é chamado de transubstanciação.Wycliff declarou que esta doutrina era anti bilbia;pois Cristo está presente nos elementos de forma espiritual e não fisica .O historiador E.E.Carins diz"se a idéia de Wycliff fosse adotada;significaria que o   sacerdote não mais reteria a salvação do alguem por ter em suas mãos o corpo e o sangue de CRISTO'.
        Com seu conhecimento bíblico apologético;e posição dada por Deus;a pregação de Wycliff começou a ser ouvido nos mais distantes cantões da Inglaterra ;chegando a atravessar o mar em direção continente.Muitas pessoas devem ter recebido seus ensinos ou ganhando uma Bilbia  na sua própia idioma conhecendo assim a vontade de Deus para suas vidas.(notas rev.palavra da vida p6-7;ed.cult.cristã.)

                                Influencia de  de Jonh Huss  

                                                1°  NASCIMENTO

       John Huss foi um homem de origem simples.Nasceu no vilarejo de hussinecz sul da boemia.Por volta de 1373,(boemia)atual país ou republica checa;região da Europa central hoje republica theca.Sua mãe ,muito religiosa quis que o filho fosse sacerdote.Mais tarde Huss admitiu ter iniciado a carreira religiosa´por motivo financeiro e prestigio que ela concedia  ,mas seu desejo verdadeiro pelo reino de Deus veio quando ele começou a estudar mais profundamente(notas rev.palavra viva p.9;cult.crist.ed.).  Sua origem era humilde de nascimento cedo ficou órfão pelo falecimento de seu pai;sua .Piedosa mãe considerando a educação e o temor de Deus como a mais valiosa para seu filho.

                                               2°ALUNO MÉDIO 

          Huss não foi um aluno brilhante ,mas parecia determinado a estudar e crescer.Huss estudou na escola da província passando depois para universidade de praga.Onde ele teve admissão gratuita como estudante pobre na (universidade0.Huss logo se distinguiu pela sua incançavel aplicação e rápidos progressos de modos afáveis e simpáticos lhe conquistaram estima geral(notas e.g.w g.con. p.105).
         Era sincero adepto de Roma ;depois  de completar o curso colegial ;entrou para sacerdote ;com 30 anos e atingiu rapidamente iminência;foi logo chamado a corte do rei ;tornou-se (professor).Após formar-se  na universidade em praga ;e mestre e dirigente da capela de Belém ;em 1404;tornou-se reitor da universidade em que ele estudou em Praga;em poucos anos ;o humilde estudante pobre ;se educou;torno-se orgulho de sua mãe.
          Seu nome teve fama em toda a Europa.Foi porem outro campo que Huss começou a obra da Reforma .Após haver recebido a ordenação de sacerdote e passado alguns anos;ele Huss foi nomeado Pregador da capela de Belem.A rainha Zofie influenciou o rei para que facilitasse as reformas pretendidas por Huss.Com isso ;a reforma floreceu cresceu ;tendo Huss o lider ;eo rei como escudo contra a investida do Papa(notas;rev.palavra viva;cult.crist.ed). 
               O fundador desta capela defendera alguns assuntos de grande importancia a respeito da pregação das Escrituras no idioma do povo.Desde o inicio de seu ministério ;quando assumiu o púlpito da capela de Belém ;em praga ;tornou-se um incomodo e um obstaculo para muitos dos seus colegas ;pois pregava constantemente contra os privilégios do clero e defendia a necessidade urgente de uma reforma.Fervoroso e avivado pregador ;Huss exerceu rápido forte influencia sobre o povo(notas;rev.ensindor;p.17;cpad).
           Conta-se que boa parte da população afluía para ouvir suas menssagens;mas só o povo simples ;os nobres também foram influenciados .Claro que alguns destes simpatizavam com seu discurso apenas por interesse que tinham de limitar o poder da igreja católica Romana ;mas outros nobres o seguiram.Por convicção(.not.rev.ens.crist.p.17;cpad). 
           Para se ter uma idéia do poder de Roma nesta época na Europa;especialmente que na época ;metade do território nacional da Boemia pertencia á igreja católica Romana enquanto a coroa detinha só sexta parte do território(notas.ibid p.17).

2. No final do século 15, a Igreja tinha conseguido reprimir todos os movimentos reformadores da Idade Média, pelo menos até agora, para evitar, principalmente pela espada do braço secular, a consolidação de qualquer um desses movimentos em uma poderosa organização eclesiástica, como a da Igreja do Oriente.

 Mas seu triunfo, afinal, era mais aparente do que real. Sua autoridade foi completamente minado, e manteve-se abalada em todos os países da Europa. As ameaças da Igreja pode extorquir retratações relutantes de uma série de reformadores intimidados; mas seus próprios sucessos deste tipo teve o efeito de espalhar o descontentamento latente com uma organização religiosa que tão palpável se preocupava mais com o poder do que para a pureza da doutrina cristã e da vida cristã. Outras agências poderosas auxiliado em sacudir a crença das classes educadas na Igreja. O mais influente entre eles era a escola dos Humainists, .que utilizados o renascimento dos estudos clássicos para a promoção de uma cultura literária em geral, que não só se plenamente emancipado da gilardianship da Igreja, mas freqüentemente assumiu uma posição indiferente e antagônica, mesmo com relação ao cristianismo. Especialmente na Itália, o humanismo se tornou um adorador entusiasta da antiguidade pagã, e tornou-se bastante comum que os altos dignitários da Igreja estavam nos círculos de seus amigos e conhecidos, conhecidos como ateus declarados. 

Até o Papa Leão X foi creditado com a observação - e, se verdadeira ou não, foi considerado credível pelos seus contemporâneos - "geralmente Sabe-se o quanto nós e as nossas têm lucrado com a fábula de Cristo." Enquanto na Itália muitos dos principais humanistas tornaram adversários da fé cristã, embora não tivessem nenhuma objeção a manter as suas posições, que muitas vezes eram do mais alto nível, na Igreja, os principais patronos dos estudos clássicos nos países teutônicos eram em sua maioria homens de convicções cristãs fervorosas, que os cultivados com vista a reforçar a causa do Cristianismo, e de reformar a Igreja.

 Foi especialmente a comunidade dos Irmãos da Vida Comum que fundaram uma série de excelentes escolas, sendo que as maiores realizações nos estudos clássicos reviveu, e uma educação nos princípios da seriedade, o cristianismo purificado, foram destinadas a. Embora a comunidade como um todo nunca entrou em uma atitude de oposição em relação à Igreja, mas sim, como seu maior membro, Thomas a Kempis, limitou-se a ensinar, pregar e praticar o que no sistema da Igreja no poder parecia não condenáveis ​​a sério e piedosos cristãos, seus professores e alunos em geral favoreceu a idéia de uma reforma da Igreja, e, no século 16 muitos deles se tornaram enthusiastical colegas nos trabalhos reformatório de Lutero, Zwinglio e Calvino. 

Os trabalhos de tais homens não poderia deixar de acender na Alemanha ainda mais o desejo de uma reforma, e para reforçar a expectativa de que em retomar a obra de reforma em grande escala da nação alemã iria assumir a liderança. Já em 1457, o chanceler Mayer de Mentz escreveu a Enéias Svlvius, posteriormente Papa Pio II: "A nação alemã, uma vez que a rainha do mundo, mas agora é uma serva afluente da Igreja Romana, começa a despertar a si mesma como de um sonho , e está decidido a se libertar do jugo. " Este espírito de preparação para a derrubada do jugo papal ea purificação do cristianismo no tempo apropriado foi carinhosamente alimentada por centenas de homens eruditos e piedosos na última parte do 15 e do início do século 16; e quando finalmente o líder certo apareceu na plenitude do tempo, ele encontrou centenas de milhares pronto para cair imediatamente em linha como combatentes no Grande Exército de reforma.

FONTE www.estudarhistoriadaigreja.blogspot.com

LOCAL ONDE NASCEU  WYCLIFF


Supõe-se que João Wycliff nasceu nas proximidades de Richmond, no condado de York, na Inglaterra, pouco mais ou menos em 1324. A pobreza de seus pais, que parece terem sido camponeses, não o impediu de entrar, na idade própria, na universidade de Oxford, onde aproveitou todas as ocasiões para se instruir, ganhando bem depressa as boas graças do seu tutor, o piedoso e sábio Thomas Bradwardine, que fazia dele muito bom juízo. Durante os seus estudos adquiriu um bom conhecimento não só das leis civil, canônica e municipal, mas também da ruína da natureza humana, como as Escrituras a ensinam, da inutilidade do merecimento humano para a salvação, e da grandeza da graça divina, pela qual o homem pode ser justificado sem as obras da Lei. Diz-se também que, por conselho do seu tutor, estudara as obras de Grostete, e dali lhe viera a idéia de que o papa era o Anticristo.

Os seus ataques às ordens mendicantes, que atraíam os estudantes da universidade para os seus mosteiros, tornaram-no notável em Oxford. Ele escreveu alguns folhetos sobre o assunto. Era Wycliff nesse tempo professor da universidade, mas isso não o impediu de continuar no seu trabalho pelo Senhor, e, aos domingos, despia a toga de professor e pregava ao povo o Evangelho simples na linguagem popular.

A fama das suas pregações bem depressa chegou a Roma, e os frades mendicantes, cuja influência estava muito abalada pelo seu ensino, apressaram-se a dar a saber ao papa os seus receios. Para isso usaram de um meio muito eficaz extraindo dos escritos de Wycliff dezenove artigos, e mandando-os ao papa, juntamente com as suas cartas; e, como a maior parte destes artigos, combatiam de uma maneira muito clara as pretensões temporais do papa, pode-se facilmente imaginar qual foi o resultado. Nove dos extratos foram logo condenados como heresias e outros declarados errados, e foram mandadas imediatamente ordens à Inglaterra para que o ousado herege fosse levado aos tribunais pelas suas opiniões. Isto foi o princípio do conflito, mas Roma ainda desta vez se enganou.NOTAS historia do cristianismo,A.Knight e W.Anglin,2009,cpad)

                                      
O Dr. William P. Grady, erudito bíblico americano, traça um perfil dogrande reformador John Wycliff, em seu livro "Final Authority". Vejamos o que ele diz:
Biografia: Nascido de sangue saxônico, perto da Vila de Wycliff, em Yorkshire, John Wycliff tornou-se o principal porta voz dos patriotas ingleses, através do período de emancipação política do seu país. Sua escalada a um lugar de erudita eminência foi rápida. Brilhando em Oxford, ele foi nomeado capelão do rei em 1366, enquanto recebia o seu doutorado, em 1374. Contudo, bem depressa voltou suas armas intelectuais contra Roma, conforme Schaff declara:
Em sermões, folhetos e escritos mais extensos, Wycliff apresentou a Escritura e o senso comum como testemunhas. Sua pregação era tão cortante como a "Espada de Damocles". Ele nunca hesitava em usar a ironia e a invectiva, nas quais era mestre; a objetividade e a pertinência de seus apelos traziam tudo facilmente à compreensão da mente popular.
Em sua condenação do abuso doutrinário, Wycliff condenava a complacência dos últimos reformadores contra os prelados imorais, excesso de posses territoriais, extorsão religiosa, e heresias tais como o purgatório, a transubstanciação, o sacerdócio e a confissão auricular. Poucos eram poupados da "Espada de Damocles". Ele acusava o papa de ser o Anticristo, o orgulhoso sacerdote universal de Roma e o mais amaldiçoado dos tosquiadores e caçadores níqueis. Como os frades de seu tempo eram conhecidos pelo seu apego "à boa comida e às mulheres" Wycliff depreciava os seus mosteiros, chamando-os de covis de ladrões, ninhos de serpentes, casas de habitação de demônios vivos, etc.
Numa linguagem que iria rivalizar com a de Lutero, ele escreveu que os padres: Roubam o sustento dos pobres, os quais não podem se opor à opressão; cobram mais alto por um tostão furado do que pelo sangue precioso de Cristo; rezam apenas para se mostrar e coletam taxas por qualquer serviço religioso que oficiam; vivem na luxúria, cavalgando gordos cavalos forrados de prata e ouro; são roubadores... raposas maliciosas... lobos vorazes... glutões... demônios... chimpanzés.
Como nenhum país pode crescer além da moral de suas mulheres, uma narrativa da época demonstra as baixas marcas no barômetro de todas as mulheres importantes em matéria de pureza (como no caso de Alexandria): Naqueles dias havia um grande rumor e clamor entre o povo de que, sempre que havia uma competição, ali acontecia uma grande afluência de mulheres da mais alta vaidade e beleza, porém não as melhores do reino; algumas em número de quarenta ou cinqüenta, como se fizessem parte dos torneios, vestidas de roupagens masculinas diversas e maravilhosas, com túnicas ostentando as cores do partido, usando pequenos bonés atados às suas cabeças, cintos bordados de ouro e prata e adagas em bolsinhas penduradas ao corpo, com palavreado grosseiro, que o rumor popular escutava em toda parte; e desse modo, elas nem só deixavam de temer a Deus como não ligavam para a voz do povo.
Entende-se que esse declínio moral assegurava à Inglaterra, pelo menos, uma queda em seu horizonte. O Dr. Green resume: Era um tempo de vergonha e sofrimento, como a Inglaterra jamais havia conhecido. Suas conquistas foram perdidas, suas fronteiras insultadas, suas frotas aniquiladas, seu comércio varrido do mar enquanto interiormente ela se exauria por causa de longas e custosas guerras, bem como pela corrupção e pestilência.
Embora a pátria de Wycliff precisasse de arrependimento, seus detratores religiosos de dura cerviz lhe apresentavam tremenda oposição. À medida em que se intensificavam suas cáusticas denúncias, assim também a ameaça de violência física. Para contrabalançar este perigo o Senhor levantou-lhe um poderoso protetor na pessoa de John de Gaunt, Duque de Lancaster (filho predileto de Eduardo e irmão mais novo do melhor conhecido, embora pouco lembrado, Príncipe Negro).
Quanto mais Wycliff laborava, mais convencido ficava de que sua amada Inglaterra precisava de algo mais do que seus sermões e folhetos. Precisava de uma Bíblia! Neste escrito intitulado "The Wycket" (A Posição) ele exclama com emoção:
Se a Palavra de Deus é a vida do mundo e cada palavra de Deus é a vida da alma humana, como pode qualquer Anticristo, para o horror divino, tirá-la de nós, que somos cristãos, e desse modo levar o povo a morrer de inanição, na heresia e na blasfêmia das leis dos homens, que corrompem e assassinam a alma?
Por causa dessa necessidade, Wycliff dedicou o resto de sua vida a completar a primeira tradução da Bíblia inteira para a língua inglesa. Conhecendo bem o Grego e o Hebraico, primeiro ele embasou a sua obra em manuscritos latinos. Embora a erudição moderna goste de frisar a confiança de Wycliff na leitura da Vulgata, uma revisão posterior da obra por John Purvey, que trouxe de volta a tradução de acordo com Jerônimo, traz a evidência de que Wycliff teve acesso aos manuscritos latinos. O abandono posterior de Purvey de Roma acrescenta uma luz a este assunto.
Apesar da consistência latina, a nova Bíblia representava a primeira em existência para o povo de língua inglesa. Como a imprensa ainda não fora inventada, o manuscrito teve de ser copiado à mão, exigindo um exorbitante custo diário. (Foram precisos quase dez meses de trabalho árduo de um copista experiente). A taxa da mão de obra, de uma hora apenas, com essa obra custava o mesmo que um carregamento inteiro de feno). Enquanto isso, McClure nos conta que o preço de compra se aproximava de "quatro marcos e quarenta pences", o qual eqüivalia ao salário total anual de um clérigo.
A chegada da imprensa cumpriu a estranha profecia: "Esperemos que o baixo custo da Bíblia jamais ocasione o baixo apreço pela mesma". (Os crentes dos dias atuais, infelizmente, podem constatar o cumprimento desta profecia).
Foxe nos informa: Tão escasso era o suprimento de Bíblias, nesses tempos, que apenas uns poucos entre aqueles que suspiravam pelo seu ensino podiam ter a esperança de possuir o volume sacro. Mas essa escassez decorria parcialmente da firmeza daqueles, cujo interesse fora despertado pela Bíblia. Se apenas uma simples cópia era possuída na vizinhança, esses denodados trabalhadores e artesãos seriam encontrados juntos, após um exaustivo dia de trabalho, lendo em turnos e escutando as palavras da vida; e tão doce era o frescor dos seus espíritos, que algumas vezes o romper da manhã os surpreendia com a chamada para um novo dia de trabalho, sem que tivessem pensado em dormir.McClure cita um poema contemporâneo, que descreve esse espírito de gloriosa libertação:
Mas para compensar todo o dano, o Livro Sagrado, em poeirento esconderijo guardado tanto tempo, agora assume o falar de nossa língua nativa. E o que dirige o arado, ou maneja o bordão, com espírito de compreensão, pode agora olhar sobre o seu registro e ouvir sua canção e examinar suas leis – mais querendo saber do que errar qual a fé que tem mantido. E o céu pôde suportar calmamente o transcendente favor! Mais nobre do que o rei terreno sempre concedido para igualar e abençoar sob o peso da desgraça mortal.
Uma porção da Bíblia de Wycliff de João 17:1-3 diz: "Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". Claro que a reação católica foi de tremendo pânico! Enquanto um padre se lamentava: "Agora a jóia do clero se tornou um brinquedo do laicato", Henry Knighton elaborava:
Este mestre John Wycliff traduziu o Evangelho do Latim para o Inglês, o qual Cristo havia confiado ao clero e aos doutores da Igreja, para que o ministrassem ao laicato e aos menos afortunados, conforme a declaração dos tempos e necessidades dos homens. Assim, por esse meio, o evangelho se tornou vulgar e mais aberto ao laicato... do que costumava ser para os mais letrados do clero e os de melhor compreensão! E o que antes era dádiva principal do clero e doutores da igreja, agora se torna para sempre comum ao laicato.
Como seria o caso de Martinho Lutero, Wycliff foi providencialmente poupado do martírio na estaca, sofrendo um ataque, enquanto oficiava na igreja, com a idade de sessenta e quatro anos, em 1384. Seus inimigos ficaram extasiados, com o prelado Walsingham "elogiando":
Na festa da Paixão de S. Tomás de Canterbury, John Wycliff – esse órgão do diabo, inimigo da igreja, esse autor da confusão entre o povo comum, esse ídolo de hereges, essa imagem dos hipócritas, esse restaurador do cisma, esse armazenador de mentiras, esse poço de lisonja – sendo abatido pelo terrível julgamento de Deus, foi atacado de paralisia e continuou a viver nessa condição até o dia de S. Silvestre, quando entregou o seu malicioso espírito nas regiões das trevas.
Contudo, embora a história tinha esquecido o nome de Walsingham, o nome de Chaucer tem sobrevivido, talvez em razão do seu memorial a Wycliff:
Ele foi um grande homem da religião; Ele foi uma personalidade que chamou a atenção de uma cidade. Mais rico ele foi de sagrado pensamento e realização. Era também um homem letrado, um funcionário que o evangelho de Cristo verdadeiramente quis pregar. Este nobre exemplo às suas ovelhas ele deu de primeiro praticar para depois ensinar. Um pastor melhor não existe em parte alguma. Ele não gostava de pompa nem de reverência, nem jamais lisonjeou qualquer consciência, mas pregou a Cristo e seus doze apóstolos. Ele ensinou, mas primeiro ele mesmo praticou.
Como um interessante aparte, a influência de Wycliff pode ter sido um fator na última renúncia de Chaucer das obras de sua vida – "The Canterbury Tales, Troilus and Criseyde", e "The Book of the Duchess" - como " vaidades do mundo" tendo expressado a preocupação de que "eu devo ser um daqueles do tempo da condenação, que serão salvos."
A ira dos nicolaítas explodiu em 1410, com o seguinte decreto sendo levado ao Parlamento: Nosso soberano senhor, o Rei... pelo consentimento dos estados e de outros homens discretos... reunidos no Parlamento, tem concedido, estabelecido e ordenado que nenhum dentro do... reino, ou de quaisquer outros domínios sujeitos a Sua Majestade Real, presumirá pregar aberta ou secretamente, sem primeiro procurar e obter a licença do diocesano local, sempre excetuando os curas em suas próprias igrejas, pessoas que até agora têm sido tão privilegiadas, e outras permitidas pela lei canônica; e que, a partir de agora, ninguém, quer aberta ou secretamente, deve pregar, manter, ensinar ou instruir ou produzir ou escrever qualquer livro contrário à fé católica ou à determinação da Santa Igreja, nem permitirá qualquer (Lolardo) seita organizar reuniões (ajuntamentos desorganizados para adoração) em parte alguma, ou de qualquer maneira conservar ou manter escolas com as suas malignas doutrinas e opiniões; e também que, daqui para a frente, ninguém, de modo algum, favoreça qualquer pessoa que pregue dessa maneira, informe ou excite o povo... E se qualquer pessoa dentro do reino e domínio for condenada por sentença diante do diocesano local, ou dos seus comissários, por essas mencionadas pregações malignas, doutrinas, opiniões, escolas e instrução herética e errônea, ou se qualquer uma delas, se recusar devidamente a abjurar a mesma... então o xerife do condado... e o prefeito e os xerifes ou xerife, ou o prefeito e os oficiais da cidade, cidadezinha ou condados agregados... mais próximos do dito diocesano e seus comissários... receber, após terem sido proclamadas essas sentenças, essas pessoas... isso poderá levá-las a serem queimadas diante do povo em local de destaque, a fim de que esse castigo possa desencadear o medo nas mentes dos demais, para que nenhumas doutrinas malignas e heréticas e opiniões errôneas contra a fé católica a lei cristã é a determinação da Santa Igreja) nem os seus autores e favorecedores sejam mantidas... ou de qualquer forma toleradas.
No ano de 1415, o Concílio de Constança determinou que os livros e ossos de Wycliff fossem queimados e suas cinzas atiradas no rio Severn (que desaguava em sua cidade). Thomas Fuller observa: Desse modo, este pequeno arroio levou suas cinzas até Avon, de Avon até Severn, de Severn até os estreitos mares e destes até o mar aberto. E assim, as cinzas de Wycliff são o emblema de suas doutrinas, que agora estão dispersas pelo mundo inteiro.
Por causa desses editos, muitos Lolardos piedosos não tiveram a mesma sorte do seu afortunado pai. Os registros dos perseguidores locais nos contam de grupos se reunindo, aqui e ali, para ler "num grande livro de heresias, a noite inteira, certos capítulos dos evangelistas em inglês".
Foxe acrescenta: Os Lolardos eram levados a locais ermos e não freqüentados para se encontrar, muitas vezes sob as sombras da noite, a fim de adorar a Deus. Vizinho era ordenado a espiar vizinho; maridos e esposas; pais e filhos; irmãos e irmãs eram duramente forçados a dar testemunho um contra o outro. A prisão dos Lolardos também ecoou com o ranger das correntes; o cadafalso e estaca mais uma vez calmavam por sua vítimas.
Para aumentar a culpa dos cristãos indiferentes de hoje, uma das acusações comuns feitas contra aqueles crentes piedosos era, não apenas o fato de possuírem a Bíblia de Wycliff, mas também a sua habilidade de "repetir a mesma de cor".
Entre as muitas vítimas estavam: John Badby, alfaiate, (1410). Dois comerciantes de Londres: Richard Turming e John Claydon, em Smithfield, (1415). 
William Taylor, (1423). William White, (1428). Richard Hoveden, (1430). Thomas Bagley, (1431) e Richard Wyche, (1440). Joan Broughton foi a primeira mulher queimada na estaca, na Inglaterra, perecendo em Smithfield com a filha, Lady Young, ao seu lado.
A história da verdadeira Bíblia Inglesa é bem diferente da história da New International Version e de outras falsificações construídas com a preferência pelos Códices Alfa e B. É uma história banhada em sangue.
Foxe prossegue: Um certo Christopher Shoemaker, que foi queimado vivo em Newbury, foi acusado de ter ido à casa de John Say e "ler para ele, em um livro, as palavras que Cristo falou aos seus discípulos..." Em 1519, sete mártires forma jogados ao fogo em Coventry, por terem ensinado a seus filhos e empregados a "Oração do Senhor" e os "Dez Mandamentos" em Inglês... Jenkins Butler acusou o seu próprio irmão de ler para ele um certo livro da Escritura e de tê-lo persuadido a dar ouvidos ao mesmo. John Barret, joalheiro de Londres, foi preso por ter recitado para sua esposa e criada a epístola de São Tiago ... Thomas Phillip e Lawrence Taylor foram presos porque leram a Epístola aos Romanos e o primeiro capítulo de São Lucas, em inglês.
Em estranho cumprimento da analogia de Fuller, as cinzas de Wycliff nem haviam chegado ainda à Bohêmia (atual Checoslováquia) quando o piedoso inglês foi homenageado postumamente com o título de "O Quinto Evangelista".
Exatamente treze anos antes que o cadáver do reformador fosse profanado, John Hus (1372-1415) foi reconhecido como o apologista da "heresia Wyclifiana", na universidade de Praga. A difusão da doutrina de Wycliff por Hus resultou em que a Bohêmia recebesse a herança de "Berço da Reforma". Schaff escreve sobre Hus:
É fato bem conhecido que era a causa de Wycliff que ele estava representando e as visões wyclifianas que ele estava defendendo, e os escritos de Wycliff eram abertamente expostos aos olhos dos membros das faculdades da Universidade. Ele não fazia segredo de que seguia Wycliff e de que desejava morrer pelas visões que Wycliff ensinava. Quando escreveu a Richard Wiche, ele se confessou grato porque: "sob o poder de Jesus Cristo" a Bohêmia havia recebido tanto bem da abençoada terra da Inglaterra.
Durante o Concílio de Constança, quando Hus foi traído e condenado à morte, a sentença oficial também provou ter sido uma centelha inglesa que acendeu as chamas da Reforma Européia: O Sagrado Concílio, tendo somente Deus diante dos seus olhos, condena John Hus por ter sido e ainda ser um verdadeiro, real e declarado herege, discípulo, não de Cristo, mas de John Wycliff.
A influência do primeiro tradutor da Bíblia pode ser rastreada, indiretamente, ao reformador florentino Savanarola (1452-1498). Colocado aos pés de Lutero e ao lado de Wycliff e Hus, no Monumento da Reforma, em Worms, o dominicano convertido foi alcançado primeiramente através do ministério dos irmãos da Bohêmia.
A preocupação de Wycliff na Escritura pode ser vista no desdém de Savanarola pelos seus contemporâneos ignorantes, escrevendo: Os teólogos do nosso tempo têm manchado todas as coisas com o seu piche, através de suas incomparáveis disputas. Eles não conhecem o mínimo de Bíblia, sim, eles nem sequer sabem os nomes dos seus livros.
A coragem de Wycliff pode ser vista nos sermões de Savanarola descritos por Schaff como "os raios de um coruscante e estrondoso trovão".
Denunciando os abusos costumeiros do Catolicismo ele escreveu: Começa em Roma, onde o clero zomba de Cristo e dos santos; sim, eles são piores do que os turcos e mouros. Fazem o tráfico de sacramentos. Vendem benefícios para quem paga mais. Os sacerdotes de Roma não têm cortesãs, namorados, cavalos e cachorros? Não têm palácios cheios de tapeçarias, de sedas, de perfumes e parasitas? Esta parece ser a igreja de Deus?
Dois anos antes de incitar a multidão a levar Savanarola até a estaca, o perverso Alexandre VI deu ao seu corretor de apostas um "chapéu vermelho" (ofício de cardeal) pelo que este foi zombado pelo reformador, declarando sua preferência por uma coroa de púrpura "tinta de sangue".
Com tanta influência brotando de um solitário tradutor inglês durante a época do primitivo manuscrito, a invenção do tipo móvel de Gutenberg veio destinada a "arrebentar as portas" e com o primeiro livro completo impresso, a Bíblia de Gutenberg, em 1456 (uma Vulgata Latina que levou seis meses para ser impressa), a proverbial "caligrafia" foi pendurada na parede. Enquanto Martinho Lutero chamava a arte de imprimir "o último e melhor presente da Providência" (54), o católico Howland Phillips, num sermão pregado no "Saint Paul Cross", em Londres, no ano de 1535, observou ameaçadoramente: "vamos destruir a imprensa para que a imprensa não nos destrua".
A paranóia de Roma com o ressurgimento da Palavra de Deus também se manifestou contra o estudo do Grego e do Hebraico (vigorando desde a queda de Constantinopla em 1458, o que forçou uma retirada ocidental dos manuscritos dos eruditos gregos). A Universidade Conrad Hersbach de Colônia admoestou:
Eles descobriram uma língua chamada grego, contra a qual devemos ter o cuidado de nos guardar. Ela é a mãe das heresias. Nas mãos de muitas pessoas tenho visto um livro que chamam de Novo Testamento. É um livro cheio de espinhos e veneno. Quanto ao hebraico, meus irmãos, é certo que aqueles que o aprendem, mais cedo ou mais tarde irão se tornar judeus 
.(notas blog Pastor Zico -São Paulo) 

                            Wycliff parte para o Senhor 1384

        Próximo de 60 de idade ;31 de dezembro de 1384;sofreu um derrame e morreu.Passado 30 anos o Concilio de Constança;convocado pelo papa João 23;reuniu-se em 1415 e ;sob a condenação de heresia ;decidiu exumar o corpo de Wycliff e queima-lo em praça pública.como pode-se observar ;o poder arbitario tomou conta da igreja .Absurdo como a punição de um homem depois de morto e outros mais preencheram a sua história.Mas tudo isso não foi suficiente para calar a voz do Evangelho.O clero não percebeu que estava lutando conta o próprio Deus.(notas;rev. palavra viva p.7;cultura cristã).
  Wycliff não viveu para ver a oposição dos   bispos.Pois que em 31 de dezembro de 1384;depois de uma vida agitada de 60 anos entrou no descanço eterno;e posto que seus amigos receassem que lele morresse de morte violenta;Deus tinha determinado outra cisa e assim faleceu pacificamente em Leterworth.
  Os agentes de roma pois logrados na esperança de lançar a desejada presa;mas ainda assim o seu corpo foi mais tarde desterrado como vimos;e as cinzas lançaram num regato próximo ;"o regato";diz Fuller ;"levou as cinzas ao rio Avon;o Avon levou ao Saverna;o SAVERNA AO CANAL ;E ESTE AO GRANDE OCEANO.e ASSIM AS CINZAS DE wYCLIFF SÃO OS EMBLEMAS DA SUA DOUTRINA ;QUE SE ACHA AGORA ESPANHA DA PELO MUNDO INTEIRO"(w.knight;e w.anglin p.185 cpad).   
  Vimos  que a escuridão da idade média começa a ser  vencida pelos primeiros raios de luz da manhã.Deus prepara um homem ;coloca-o numa posição de influencia e autoridade e começa a trazer a igreja para o seu e único salvador Jesus.John W. envolveu-se numa batalha de fé pela verdade das Escrituras ;coloca a Biblia na mão do povo ;ensina e tenta tirar este povo das mãos daqueles que exploravam suas vidas.Morre wycliff ;mas deixa uma mensagem vivia ;um exemplo de luta pelo Evangelho.Certo autor escreveu que a luta dos pré-reformadores terminou com insucesso.Entretanto ;devemos crer que a perseguição e morte do homens como Wycliff e huss não foram empreendimento frustrados ;e;sim soberano de Deus abrindo caminho para acontecimentos maiores.  Anos mais tarde os reformadores levantaram a bandeira da "Sola Escriptura";em favor da suficiência e autoridade exclusiva da Palvra de Deus sobre qualquer dogma ou direção humana.A semente do ensino de Wycliff  e Huss estava lá;e;até hoje;dá os seus frutos.(notas rev. palavra viva;p.7-8;cult.cristã ed.).


       Toda reforma verdadeira começa com a descoberta da palavra de DEUS e prossegue de acordo com a fidelidade a essa palavra. O movimento de Wycliff e hus também foi uma descoberta da bilbia.Graças á tradução de Wycliff ;que coloca a bilbia no idioma do povo ;e ao zelo ardente de huss pela Palavra ;aquele obscuro período da igreja não ficou sem um testemunho fiel.     

                             WYCLIFF MAIS NOTAS PARA PESQUIZAR

J

Sua família era tradicional na região de Yorkshire, e à época do seu nascimento as propriedades familiares cobriam amplo território nas redondezas de Ipreswell (hoje Hipswell). Não há certeza sobre o ano de seu nascimento, um dos anos mais citados é 1320, mas há variações de 1320 a 1328. Também não se sabe o ano em que foi enviado pela família para estudar na Universidade de Oxford, mas há certeza de que estava lá desde pelo menos 1345.

Na Universidade, aplicou-se nos estudos de teologia, filosofia e legislação canônica. Tornou-se sacerdote e depois serviu como professor no Balliol College, ainda em Oxford. Por volta de 1365 tornou-se bacharel em teologia e, em 1372, doutor em teologia.

Como teólogo destacou-se pela firme defesa dos interesses nacionais contra as exigências do papado, ganhando reputação de patriota e reformista. Wycliffe afirmava que havia um grande contraste entre o que a Igreja era e o que deveria ser, por isso defendia reformas, apontando a incompatibilidade entre várias normas do clero e os ensinos de Jesus e de seus apóstolos.

Uma destas incompatibilidades era a questão das propriedades e da riqueza do clero. Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder temporal do papa e dos cardeais. Para ele o Estado deveria tomar posse de todas as propriedades da Igreja e encarregar-se diretamente do sustento do clero. Logo, a cátedra deixou de ser o único meio de propagação de suas ideias, quando iniciou a redação de seu trabalho mais importante, a Summa theologiae. Entre as ideias mais revolucionárias desta obra, está a afirmação de que, nos assuntos de ordem material, o rei estava acima do papa e que a Igreja deveria renunciar a qualquer tipo de poder temporal. Sua obra seguinte, De civili dominio, continha 18 teses que vieram a público em Oxford em 1376, e aprofundava as críticas ao papado de Avignon (onde esteve a sede provisória da Igreja de 1309 até 1377), com seu sistema de venda de indulgências e a vida perdulária e luxuosa de muitos padres, bispos e religiosos sustentados com o dinheiro do povo. Wycliffe defendia que era tarefa do Estado lutar contra o que considerava abusos do papado, e pregava nas igrejas em Londres onde sua mensagem era bem recebida. Rapidamente suas teses espalharam-se pela Inglaterra, em parte pelos interesses da nobreza em confiscar os bens então em poder da igreja.

Apesar de sua crescente popularidade, a Igreja começou em censurar Wycliffe, e em 19 de fevereiro de 1377, ele é intimado a apresentar-se diante do bispo de Londres para justificar-se. Compareceu acompanhado de vários amigos influentes e quatro monges foram seus advogados. Uma multidão aglomerou-se na igreja para apoiar Wycliffe, houve discussão com o bispo, o que irritou ainda mais o clero, e os ataques contra Wycliffe se intensificaram, com acusações de blasfêmia, orgulho e heresia. Enquanto isso, os partidos no Parlamento inglês pareciam convictos de que os monges poderiam ser melhor controlados se fossem aliviados de suas obrigações seculares.

É importante lembrar que, neste período, desenrolava-se a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra, por isso na Inglaterra daquele tempo, tudo que era identificado como francês era visto como inimigo e nessa visão se incluiu a Igreja, pois havia transferido sua sede de Roma para Avignon, na França. A elite inglesa (realeza, parlamento e nobreza) reagia à ideia de enviar dinheiro aos papas, atitude que era considerada como ajuda ao sustento do próprio inimigo. Neste ambiente hostil à França e à Igreja, um teólogo como Wycliffe desfrutou quase imediatamente de grande apoio, não apenas político, como também popular, despertando o nacionalismo inglês.

Em 22 de maio de 1377, o Papa Gregório XI, que em janeiro havia abandonado Avignon para retornar à sede da Igreja a Roma, expediu uma bula contra Wycliffe, declarando que suas 18 teses eram errôneas e perigosas para a Igreja e o Estado. O apoio de que Wycliffe desfrutava na corte e no parlamento tornaram a bula sem efeito prático, pois era geral a opinião de que a Igreja estava exaurindo os cofres ingleses.

Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu livro De officio regis defendia que o poder real também era originário de Deus, e encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributo. O rei devia aplicar seu poder com sabedoria e suas leis deviam estar de acordo com as de Deus – das quais derivava a autoridade das leis reais – inclusive daquelas em que o rei atuava contra o clero, porque se o clero negligenciava seu ofício, o rei devia chamá-lo à responsabilidade. Ou seja, o rei devia possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja devia submeter-se às leis do Estado, assim os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei e não do papa.

Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra – que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da Igreja – mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wycliffe dirigia aos reis para que protegessem seus teólogos, sustentando que, já que as leis do rei deveriam estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia seria necessário para fortalecer o exercício do poder real, e desta forma o rei deveria cercar-se de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais.

Os escritos de Wycliffe em seus seis últimos anos incluem contínuos ataques ao papado e à hierarquia eclesiástica da época, e observa-se que se seus primeiros escritos eram muito mais moderados, à medida que suas relações com a Igreja foram se deteriorando, os ataques cresceram em intensidade.

Na questão relacionada ao cisma da Igreja, com papas reivindicando em Roma e em Avignon a liderança da Igreja, Wycliffe entendia que o cristão não precisava de Roma ou de Avignon, pois Deus está em toda parte. “Nosso papa é o Cristo”, sustentava. Em sua opinião, a Igreja poderia continuar existindo mesmo sem a existência de um líder visível, mas os líderes poderiam surgir naturalmente, desde que vivessem e exemplificassem os ensinamentos de Jesus.

A batalha de Wycliffe contra as ordens monásticas – que ele chamava de “seitas” – iniciou-se por volta de 1377 e alongou-se até a sua morte. Afirmava que o papado imperialista era suportado por estas “seitas”, que serviam ao domínio do papa sobre as nações daquele tempo. Em vários de seus escritos, como Trialogus, Dialogus, Opus evangelicum e em alguns sermões, Wycliffe dizia que a Igreja não necessitava de novas “seitas” e que eram suficientes os ensinos dos três primeiros séculos de existência da Igreja. Defendia que as ordens monásticas não eram suportadas pela Bíblia e deveriam ser abolidas, junto com suas propriedades. O povo então se insurgiu contra os monges e observaram-se os maiores efeitos dessa insurreição na Boêmia, anos mais tarde, com a revolução hussita. Na Inglaterra, entretanto, o resultado não foi o esperado: as propriedades acabaram nas mãos dos grandes barões feudais.

Wycliffe organizou um projeto de tradução das Escrituras, defendendo que a Bíblia deveria ser a base de toda a doutrina da Igreja e a única norma da fé cristã. Sustentava que o papa ou os cardeais não possuíam autoridade para condenar suas 18 teses, pois Cristo é a cabeça da Igreja e não os papas.

“A verdadeira autoridade emana da Biblia, que contém o suficiente para governar o mundo”, cita Wycliffe em seu livro De sufficientia legis Christi. Wycliffe afirmava que na Bíblia se encontra a verdade, a fonte fundamental do Cristianismo e que, por isso, sem o conhecimento da Bíblia não haveria paz na Igreja e na sociedade. Com isso, contrapunha a autoridade das escrituras à autoridade papal: “Enquanto temos muitos papas e centenas de cardeais, suas palavras só podem ser consideradas se estiverem de acordo com a Bíblia”. Idêntico princípio seguiria Lutero mais de 100 anos depois, ao liderar a Reforma Protestante.

Wycliffe acreditava que a Bíblia deveria ser um bem comum de todos os cristãos e precisaria estar disponível para uso cotidiano, na língua nativa das populações. A honra nacional requeria isto, desde quando os membros da nobreza passaram a possuir exemplares da Bíblia em língua francesa. Partes da Bíblia já haviam sido traduzidas para o inglês, mas não havia uma tradução completa, e Wycliffe atribuiu a si mesmo esta tarefa. Embora não se possa definir exatamente a sua parte na tradução baseada na Vulgata, não há dúvida de que foi sua a iniciativa, e que o sucesso do projeto foi devido à sua liderança. A ele devemos a tradução clara e uniforme do Novo Testamento, enquanto seu amigo Nicholas de Hereford traduziu o Antigo Testamento. Ambas as traduções foram revisadas por John Purvey em 1388, quando então a população em massa teve acesso à Bíblia em idioma inglês, ao mesmo tempo que se ouvia dos críticos: “a jóia do clero tornou-se o brinquedo dos leigos”.

Algumas ressalvas, no entanto, precisam ser feitas: durante a Idade Média os livros eram raros e caros, por serem feitos à mão, e a Bíblia não era exceção. O uso exclusivo do latim era comum a todos os livros, em função da universalidade da língua e do seu reconhecimento erudito e intelectual na Europa Ocidental, o que era válido também para a Bíblia. A tradução de Wycliffe da Bíblia para o inglês pode ter sido entendida mais como movida pelo nacionalismo inglês e menos por uma inclinação popular de democratização de acesso à Palavra de Deus. Os pobres continuaram sem ter acesso a ela por dois motivos: o primeiro é que era cara por sua confecção ainda manual, e segundo, porque o povo continuava analfabeto. A grande difusão da Bíblia só foi de fato possível com a invenção da imprensa no século XV e a universalização da educação a partir do século XIX. Então, somente após o século XIX reuniram-se as condições para a Bíblia se tornar um livro popular.

Apesar do empenho da hierarquia eclesiástica em destruir as traduções em razão do que consideravam como erros de tradução e comentários equivocados, ainda existem ao redor de 150 manuscritos, parciais ou completos, contendo a tradução em sua forma revisada. Disso podemos inferir o quão difundida essa tradução foi no século XV, razão pela qual os partidários de Wycliffe eram chamados de “homens da Bíblia” por seus críticos. Assim como a versão de Lutero teve grande influência sobre a língua alemã, também a versão de Wycliffe influenciou o idioma inglês, pela sua clareza, força e beleza.

Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos para divulgar os ensinos de Cristo. Estes padres – depois chamados de “lolardos” – não faziam votos nem recebiam consagração formal, mas dedicavam sua vida a ensinar o Evangelho ao povo. Estes pregadores itinerantes espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra, agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas mãos.

Em meados de 1381 uma insurreição social amedrontou os grandes proprietários ingleses, e o rei Ricardo II foi levado a crer que os lolardos haviam contribuído com ela. Ele ordenou à Universidade de Oxford – que havia sido reduto de líderes insurretos – que expulsasse Wycliffe e seus seguidores, apesar destes não haverem apoiado qualquer movimento rebelde. O rei proibiu a citação dos ensinos de Wycliffe em sermões e mesmo em discussões acadêmicas, sob pena de prisão para os infratores.

Wycliffe então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano.

A influência dos escritos de Wycliffe foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e por seu principal discípulo, Jerônimo de Praga. Para sustar tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (1414 – 1418). Um decreto deste Concílio, expedido em 4 de maio de 1415, declarou Wycliffe herege, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados, e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V, tendo suas cinzas sido jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.

FONTE WIKIPEDIA




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