Espanha
O país mais poderoso da Europa durante o tempo da
Reforma (1520-1580) era a Espanha. Dominou a América do Sul e a América Central
e uma boa porção da América do Norte, ilhas no Pacífico, as índias Ocidentais,
os Países Baixos (Holanda e Bélgica) e certas províncias da Itália. O rei
Carlos V era também Imperador da Alemanha, e seu filho Filipe II veio a ser
também rei de Portugal e do Brasil, em 1580. Tinha um grande e bem treinado
exército, e uma poderosa frota. O rei Filipe II era homem fanático, mesquinho,
teimoso e cruel. Animou a Inquisição a fazer seu serviço nefário, torturando e
queimando os "hereges protestantes" e os judeus. Antes de morrer
(1598), o rei gabou-se pelo fato de não existir nem um só "herege" no
país. A Holanda recebeu esses "hereges" e a Espanha fez guerra contra
esse povo, que se revoltara contra a introdução da Inquisição e contra a
terrível perseguição à sua fé evangélica; e, antes de morrer, o rei da Espanha
tinha perdido a Holanda.
Os espanhóis levaram sua religião e a Inquisição a todas as partes do mundo que
conquistaram. Antes da morte de Filipe, a decadência do país começara, e
continuou no século seguinte. O rei vira destruída sua "Invencível
Armada", a grande frota que mandara com a bênção do papa para castigar a
herética Inglaterra, com Isabel sua rainha protestante (1588). Os espanhóis
eram odiados devido a crueldade dos seus soldados e padres, e o rei era homem
sem misericórdia para com seus inimigos.
A Espanha foi de mal a pior nos séculos XVII e XVIII, e a imoralidade do povo
em geral durante o século XVIII, como descreve um contemporâneo, parece-nos
quase incrível. No tempo de Napoleão, os exércitos Franceses entraram e tomaram
posse do país com o consentimento do seu rei. Os generais franceses acabaram
com a Inquisição que ainda funcionava até aquela data. A Guerra Peninsular
assolava todo o país, trazendo terrível miséria ao povo, até que terminou no
ano de 1814, quando os exércitos ingleses expulsaram seus inimigos.
Vinte anos depois, rebentou uma guerra civil que durou muitos anos, com uma
ferocidade incrível. A administração das colônias espanholas era sempre
péssima, e estas aproveitaram as dificuldades internas da Metrópole para
declararem sua independência. Assim, as possessões da América revoltaram-se e
tornaram-se repúblicas, desde o México, no Norte, até a Argentina, no Sul. Isto
foi uma grande vantagem para o trabalho evangélico, pois missionários da Inglaterra
e da América do Norte agora trabalham em todas as repúblicas. A Espanha passou
poucos anos durante o século XIX com paz interna. Havia uma decadência,
produzindo uma degradação intelectual, moral e material. Mais de 80%. do povo
era de analfabetos. O país é muito rico em minerais, com clima bom e solo
fértil, mas tornou-se a nação mais atrasada da Europa. A corrupção da
administração das Ilhas de Cuba, e das Filipinas, no Pacífico, resultou numa
guerra com os Estados Unidos em 1896, e a Espanha perdeu suas últimas colônias
de importância e terminou o século com uma dívida enorme.
A Sociedade Bíblica Britânica enviou Jorge Borrow para vender Bíblias e Novos
Testamentos na Espanha no ano 1835, e imprimiu o Novo Testamento na Capital.
Enquanto isto se fazia, Jorge Borrow visitava as cidades principais do país,
vendendo bíblias, mas encontrou muitas dificuldades, e a oposição dos padres.
No princípio do presente século, diversos missionários ingleses começaram o
trabalho evangélico na Espanha, mas a guerra civil no ano de 1936 pôs termo a
este serviço, e mais uma vez produziu muita miséria e grande privação para o
povo. A Espanha tem sido uma filha fiel da infiel igreja de Roma, e tem pago
caro por ter rejeitado o Evangelho no tempo da Reforma.(notas historia do
cristianismo,A.knight e W.Anglin,2009,cpad)
De Espanha passamos naturalmente para os Países
Baixos, visto formarem parte dos domínios do rei espanhol. Aí, apesar da
perseguição, as doutrinas revivificadas espalharam-se com rapidez, e o martírio
de três monges da Ordem Agostinha, que foram condenados por lerem as obras de
Lutero, despertou um tal espírito de investigação entre o povo, que nem as
ameaças nem as torturas puderam-no reprimir.
No ano de 1566 foi uma deputação apresentar ao rei uma petição pedindo
tolerância, e assinada por cem mil protestantes, mas este, em vez de satisfazer
o seu pedido aconselhou sua irmã Margarida de Parma, a governadora dos Países
Baixos, a levantar um exército de 3000 homens de cavalaria e 10000 de
infantaria para dar cumprimento aos seus decretos. Mas exércitos e ordens reais
pouco valiam, pois Deus tinha decidido que a obra fosse por diante. O número
dos protestantes aumentava diariamente, apesar dos esforços da força armada
para o diminuir e espalhar. O insensível e fanático Filipe entendeu que tinha
de recorrer a medidas mais desesperadas do que as adotadas até então, se
quisesse exterminar mesmo aquela religião odiada.
Aumento da Perseguição
Pouco satisfeito com a clemência de Margarida, deu plenos poderes ao duque de
Alba, o qual, pouco depois, chegou ao país com um exército de 15000 espanhóis e
italianos. Começou então uma série de atrocidades que quase não tem igual nos
anais da perseguição.
A Inquisição começou logo a funcionar; e dentro em pouco podiam contar-se as
suas vítimas aos milhares. A maior parte das igrejas protestantes e casas de
oração foram destruídas, levantando-se forcas para enforcar os luteranos. As
cidades despovoavam-se porque o povo fugia como quem foge da peste – e o
comércio do país ficou paralisado. Mercadores, operários, artistas, gente de
todas as classes, saíam às pressas do país e consideravam-se felizes por serem
capazes de salvar as suas vidas. Para os que ficaram a morte era a certa.
Roberto Ogier
Em 1562, Roberto Ogier, de Ryssel, em Flandes, sofreu o martírio, em companhia
do seu filho mais velho. Este, que ainda era muito jovem, exclamou quando já
estava nas chamas, "Ó Deus Pai Eterno, aceita o sacrifício das nossas
vidas em nome do Teu Amado Filho". Um monge que se achava perto
retorquiu encolerizado: "Tu mentes, maroto, Deus não é teu pai; vós
sois filhos do Demônio". Um momento depois o mancebo exclamou: "Olha,
meu Pai, o Céu está se abrindo, e eu vejo um milhão de anjos que se regozijam
em nós! Estejamos contentes porque estamos morrendo pela verdade".
"Mentes! Mentes!" gritou o padre, "o Inferno é que se
está abrindo, e vem mais de um milhão de demônios que vão os lançar no fogo
eterno". A mulher de Roberto Ogier e outro filho que lhe ficou,
sofreram igual sorte alguns dias depois, e assim se reuniu toda a família no
Céu.
Misérias e Martírios
Tinha chegado o pior tempo para os Países Baixos. As execuções pela água, pelo
fogo e pela espada, e a confiscação de bens, sucediam-se sem cessar. As vítimas
eram aos milhares. O número de emigrantes aumentava na mesma proporção, e o
produto da confiscação chegou pouco a pouco à soma de trinta milhões de
dólares. Os antigos privilégios desses países estavam aniquilados; a população
tinha diminuído assustadoramente; a prosperidade de agricultura estava ameaçada
de ruína; o comércio, parado; as portas vazias, as lojas e armazéns devastados;
muitos braços sem trabalho; os grandes negócios parados, as cidades comerciais,
que tanto prosperavam estavam empobrecidas. Em suma, tudo que tinha contribuído
para a prosperidade comercial e industrial daquela região começou a decair.
Mas o duque de Alba não se importou com isso. Sendo escravo ativo dum senhor
cruel, nunca o pensamento da economia política perturbou o seu espírito; esse
medonho retrocesso nada era para ele. Ainda mais, ele ainda não tinha pensado
em acabar com o sacrifício das vidas humanas – a sua sede de sangue não estava
saciada! O assassinato de alguns milhares de protestantes não era bastante para
satisfazer a crueldade de um tal homem; a foice precisava ceifar mais vidas;
numa palavra: Toda nação de hereges devia cair debaixo das mãos do assassino!
No ano 1568, quando o "concílio de Sangue" se reuniu pela segunda
vez, foi decretado que todos os habitantes dos Países Baixos fossem condenados
à morte como hereges; e desta horrorosa sorte ninguém era excetuado senão raras
pessoas que foram especialmente indicadas.
Os efeitos deste estilo cruel foram terríveis. Muitos enlouqueceram, e outros,
que conseguiram fugir para os bosques de Flandes tornaram-se selvagens em
conseqüência da solidão e do desespero. Nas cidades e vilas ouvia-se o dobrar
dos sinos a todos os momentos; e é certo que o estado de coisas não podia ter
sido mais terrível se o país tivesse sido visitado por uma peste! Em todas as
casas havia luto, e os corpos carbonizados e mutilados das vítimas daquele
medonho decreto estavam expostos às centenas por toda a parte.
Guerra Civil
Por fim entenderam que não podiam mais suportar aquela opressão e,
levantando-se com a energia do desespero, saíram dos seus lares desolados e dos
seus esconderijos nos bosques, e reuniram-se em volta da bandeira de Guilherme
de Nassau, Príncipe de Orange. Não podemos agora entrar em detalhes da guerra
civil que se seguiu. O exército protestante a princípio não foi bem sucedido,
mas foi auxiliado por Isabel, da Inglaterra; pelo rei da França, e pelos
protestantes alemães; e no ano 1580 puderam finalmente ver-se livres do jugo
espanhol e firmar a sua independência, constituindo-se em um novo estado protestante
na Europa. (notas protestantismo.ieadog.com)
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