A Reforma Protestante na França
Na frança ,a igreja católica possuá
mais liberdade do que no resto da EUROPA.Por essa razão era menos sentida a
necessidade de indenpendencia eclesiastica de roma.Contudo ,ali inicio-se um
movimento a reforma ,antes da Reforma na Alemanha.No ano de 1512,Jaques Lefevre
escreveu e pregou a doutrina da "justificação pela fé".Dois partidos
surgiram então na corte e entre o povo.Os reis que se sucediam no governo
,apesar de nominalmente católicos romanos,alternadamente se colocavam
ao lado de cada partido.
Porem o protestantismo sofreu um golpe quase mortal,no
terrivel massacre da noite de São Bartolomeu,dia 24 de agosto de 1572,quando
quase todos os chefes protestantes e milhares de seus adeptos foram
covardamente assassinados.A fé reformada enfrentou terrivel perseguição,mas uma
parte do povo pequeno em numero ,o protestantismo Frances exerceu grande
influencia.(ibidp.146,j.L,hurlbut).
O movimento reformado francês surgiu na década de 1530.
Inicialmente tolerante, o rei Francisco I (1515-1547) eventualmente mostrou-se
hostil contra os reformados. Henrique II (1547-1559) foi ainda mais severo que
o seu pai. Em 1559, reuniu-se o primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da
França, que aprovou a Confissão Galicana. Em 1561, havia duas mil
congregações reformadas no país, compostas de artesãos, comerciantes e até
mesmo de algumas famílias nobres, como os Bourbon e os Montmorency. Os
reformados franceses, conhecidos como huguenotes, estavam concentrados
principalmente no oeste e sudoeste do país, e recebiam decidido apoio de
Genebra. Ao norte e leste estava a facção ultracatólica liderada pela poderosa
família Guise-Lorraine.
No reinado de Francisco II (1559-1560), os Guise controlaram o
governo. Quando Carlos IX (1560-1574) tornou-se rei, sendo ainda menor, sua mãe
Catarina de Médici assumiu a regência, mostrando-se inicialmente tolerante para
com os huguenotes. Tentando conciliar as duas facções, ela promoveu um encontro
de católicos e protestantes, o Colóquio de Poissy, em 1561. Com o fracasso
desse encontro, houve um longo período de guerras religiosas (1562-1598), cujo
episódio mais chocante foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572).
Centenas de huguenotes achavam-se em Paris para o casamento da filha de
Catarina com o nobre protestante Henrique de Navarra. Na calada da noite, os
huguenotes foram assassinados à traição enquanto dormiam, entre eles o seu
principal líder, almirante Gaspard de Coligny. Nos dias seguintes, muitos
milhares foram mortos no interior da França. Mais tarde, quando o nobre
huguenote tornou-se rei, com o título de Henrique IV, ele promulgou em favor
dos seus correligionários o Edito de Nantes (1598), concedendo-lhes uma
tolerância limitada. Esse edito seria revogado pelo rei Luís XIV em 1685, dando
início a um novo período de duras provações para os reformados franceses(.NOTAS
PORTAL MAKENZIE-SP)
A França no tempo da Reforma era um país poderoso e rival da Espanha, então não possuía colônias. O Evangelho pregado por Pedro Waldo de Lyon no século XII produzia bom resultado, mas a perseguição diminuíra o número dos crentes, e a maior parte fugiu para a Suíça. No princípio do século XVI o "novo ensino" despertou muito interesse nas universidades mormente na Sorbone de Paris. O rei Francisco I era católico, mas no princípio não era perseguidor. A irmã do rei, Margarida de Angouleme, era uma mulher intelectual e piedosa, que estudava o Novo Testamento grego, e queria animar outros a lê-lo. Durante a ausência do seu irmão na guerra contra os espanhóis e quando ele estava prisioneiro do Imperador Carlos V, depois da batalha de Pávia, Margarida protegia da ira dos padres os novos conversos. Infelizmente havia alguns dos protestantes sem prudência, que começaram a derrubar os ídolos e pregar placas nas igrejas e até no palácio do rei, fazendo críticas à Igreja Romana.
Em virtude disso, houve uma grande perseguição.
Muitos foram presos e queimados na praça pública. Mas os huguenotes (como se
chamavam os protestantes da França) cresceram em número. Muitos dos nobres, por
motivos políticos, uniram-se aos novos convertidos, e tornaram-se um poder
político, e pegaram em armas. A guerra civil rebentou e continuou por muitos
anos. Com o morticínio no dia de S. Bartolomeu não terminou a luta. Henrique de
Navarra ficou à frente das forças dos huguenotes. Este príncipe era filho da
célebre Jeanne de Navarra, que era filha de Margarida de Angouleme, pelo
segundo marido, o rei de Navarra. Sua mãe e avó eram cristãs sinceras e
piedosas, mas para Henrique a religião era uma política. A morte dos herdeiros
ao trono da França deixou-o como o sucessor. Mas, sendo protestante, a maior
parte dos franceses opuseram-se a sua pretensão. Henrique, porém, venceu todos
os seus inimigos numa guerra civil, e, a fim de trazer tranqüilidade ao país, e
firmar seu trono, o novo rei (Henrique IV) professou a religião católica,
dizendo que "Paris valia uma missa".
Foi um bom rei, e uma das primeiras leis a ser promulgada
foi a chamada "O edito de Nantes", que deu liberdade religiosa e
política aos huguenotes. Quando o rei Henrique foi assassinado por um jesuíta,
seu filho (Luiz XIII) era menino, e depois um homem fraco, e o poder caiu nas
mãos dum grande estadista, o cardeal Richelieu que resolveu aumentar o poder do
rei e quebrar a força política dos huguenotes.
Estes mais uma vez pegaram em armas, e, apesar do
auxílio da Inglaterra, a fortaleza deles foi tomada, e os protestantes perderam
seu poder político para sempre, mas continuaram com certa liberdade religiosa
até o tempo de Luiz XIV. Este rei, instigado pelos jesuítas, desencadeou uma
grande perseguição contra seus súditos protestantes. Ele resolveu que todos
deviam aceitar a religião católica, e a fim de alcançar este objetivo, mandou
soldados brutais entrar pelas casas dos protestantes e "convertê-los"
à força. Esta perseguição é chamada "as dragonadas", porque os
soldados eram do regimento dos "dragões". As "conversões"
por meio destes "missionários" não produziam bastante resultado, e o
rei mandou o célebre Fenelon, (depois Arcebispo de Cambrai) para
"converter" os "heréticos". Fenelon, embora fiel servo da
Igreja Romana, era homem santo e piedoso.
Era venerado pela sua retidão e santidade, e converteu
alguns à sua religião. Recusou fazer qualquer tentativa até que os soldados
fossem retirados, porque não cria na força para este fim. Mas o serviço não lhe
era congenial, e ele o deixou. O edito de Nantes fora revogado, tirando toda a
liberdade religiosa do povo. Fenelon depois foi tutor do neto do rei, e seu
ensino deu bom resultado na vida do rapaz, que antes era vicioso. Mais tarde
Fenelon foi influenciado pelo ensino duma mulher célebre, chamada Madame Guyon,
cujas obras foram traduzidas em diversas línguas e ainda hoje são lidas,
principalmente por protestantes.
Os ensinos desta senhora são baseados nas Escrituras, porque ela estudava a Bíblia e passava diariamente muito tempo em oração. Era crente verdadeira e gastou seu tempo, quando viúva, em boas obras, ensinando a muitas mulheres as verdades da Bíblia. Converteu muitas almas a Cristo. Continuava católica, embora não ligasse importância às cerimônias da igreja. Foi acusada de heresia porque suas doutrinas aproximavam-se das dos protestantes, e foi lançada na infame Bastilha, onde passou muitos anos.
Os ensinos desta senhora são baseados nas Escrituras, porque ela estudava a Bíblia e passava diariamente muito tempo em oração. Era crente verdadeira e gastou seu tempo, quando viúva, em boas obras, ensinando a muitas mulheres as verdades da Bíblia. Converteu muitas almas a Cristo. Continuava católica, embora não ligasse importância às cerimônias da igreja. Foi acusada de heresia porque suas doutrinas aproximavam-se das dos protestantes, e foi lançada na infame Bastilha, onde passou muitos anos.
Fenelon defendeu as doutrinas dela, e um bispo bem
conhecido na história, chamado Bossuet, capelão do rei, atacou essas doutrinas.
Uma grande batalha literária foi travada entre estes dois campeões. Embora
Fenelon defendesse suas doutrinas com firmeza, o poder secular estava com
Bossuet, e Fenelon foi expulso da corte e proibido de sair da sua diocese. Era
venerado por quase todos, e até os inimigos da França durante as guerras
manifestaram seu respeito pelo arcebispo. Podemos considerar Fenelon e Madame
Guyon como semelhantes a "os vencedores" de Tiatira.
A Igreja Romana não era digna deles, e por isso os perseguia. Voltemos aos pobres huguenotes, entregues mais e mais à vontade dos soldados brutais. Milhares deles fugiram para a Holanda, Suíça, Alemanha e Inglaterra. Os filhos foram tirados aos pais e enviados aos conventos, a fim de serem educados como católicos. Tão grande foi o número dos que fugiram que o comércio e a indústria da França ficaram parcialmente paralisados; os huguenotes eram os mais inteligentes e industriosos homens no reino. Ê calculado em 400.000 os que fugiram do país, e representavam uma grande proporção naquele período.
A Igreja Romana não era digna deles, e por isso os perseguia. Voltemos aos pobres huguenotes, entregues mais e mais à vontade dos soldados brutais. Milhares deles fugiram para a Holanda, Suíça, Alemanha e Inglaterra. Os filhos foram tirados aos pais e enviados aos conventos, a fim de serem educados como católicos. Tão grande foi o número dos que fugiram que o comércio e a indústria da França ficaram parcialmente paralisados; os huguenotes eram os mais inteligentes e industriosos homens no reino. Ê calculado em 400.000 os que fugiram do país, e representavam uma grande proporção naquele período.
O rei mandou sentinelas para vigiarem as fronteiras, e,
navios para policiarem os mares. Foi em vão, porque embora alguns fossem
apanhados e presos, a saída dos huguenotes continuou. Os capitães dos navios
ingleses ajudaram os fugitivos, que saíram escondidos nos porões e até em
barris vazios entre as cargas de vinho. Os países vizinhos protestantes
receberam esta gente de braços abertos, e lucraram muito porque trouxeram suas
indústrias para esses que os protegeram. A França jamais recuperou esta grande
perda de muitos do seu povo, e das suas indústrias. Na Inglaterra os huguenotes
fundaram diversas indústrias, como as de ferro, louça, e renda, que têm trazido
muito lucro ao país. Hoje há milhares de pessoas na Inglaterra, que são
descendentes dos huguenotes. Alguns ainda seguem o mesmo ofício dos seus
antepassados que fugiram da França, e outros têm alcançado posições altas no
Estado.
A perseguição continuou impiedosa até o rei julgar que convertera todos os "hereges". Mas muitos que não podiam escapar do país fugiram para o interior entre os camponeses das montanhas chamadas as Cevenes. Alguns tomaram armas e acharam um jovem capitão de 21 anos chamado Cavalier. O rei enviou exércitos com generais para debelar este movimento, mas Cavalier e seus camponeses derrotaram esses contingentes. Os generais, para atemorizar os rebeldes, cometeram atrocidades, mas Cavalier respondeu com represálias terríveis.
A perseguição continuou impiedosa até o rei julgar que convertera todos os "hereges". Mas muitos que não podiam escapar do país fugiram para o interior entre os camponeses das montanhas chamadas as Cevenes. Alguns tomaram armas e acharam um jovem capitão de 21 anos chamado Cavalier. O rei enviou exércitos com generais para debelar este movimento, mas Cavalier e seus camponeses derrotaram esses contingentes. Os generais, para atemorizar os rebeldes, cometeram atrocidades, mas Cavalier respondeu com represálias terríveis.
O rei então mandou o Marechal Villars, que convidou
Cavalier para uma conferência e ofereceu-lhe uma grande recompensa em dinheiro
e a posição de coronel no seu exército. O jovem capitão aceitou a oferta e foi
para as guerras francesas com alguns dos seus fiéis seguidores, mas os outros
os chamaram de traidores. Finalmente este extraordinário homem foi a Inglaterra
onde alcançou a posição de general e governador da Ilha de Jersey, na Mancha.
A guerra serviu somente para desmoralizar os
crentes.
O rei pensava que vencera a luta, e que não existiam mais
protestantes em seu reino, mas no ano da sua morte os huguenotes convocaram uma
conferência de pastores para reformar a igreja, dando-lhe o título de A Igreja
no Deserto. Esta igreja cresceu, mas funcionava longe das grandes cidades.
Depois da morte do rei Luiz XVI, havia mais liberdade e menos perseguição.
Durante o tempo da Revolução Francesa e no "Reinado de Terror", que
se seguiu, diversos pastores sofreram morte pela guilhotina. Napoleão Bonaparte
concedeu a liberdade e reconheceu a Igreja protestante, mas ligada ao Estado, e
paga pelos fundos nacionais.
No século XIX esta igreja foi dividida, e os mais fiéis
separaram-se do Estado. Hoje há liberdade religiosa na França, e a República
reconhece todas as religiões como iguais. O povo geralmente continua católico,
mas os intelectuais são muitas vezes ateus. Os ensinos do célebre ateu Voltaire
estavam em voga durante o século XVII e ainda têm adeptos. Durante o século XIX
houve tantas mudanças no governo que produziram uma fraqueza política. O país
foi invadido três vezes em 70 anos pelos alemães, e muito sofreu em
conseqüência disso. Os evangélicos fazem bom serviço, e têm sido ajudados por
seus irmãos da Inglaterra e da Suíça.(NOTAS historia do cristianismo A.Knight e
W.Anglin,cpad,2009)
Carta ao Rei Francisco, mui poderoso monarca,
cristianíssimo rei dos franceses, seu príncipe, João Calvino roga paz e
salvação em Cristo.
"Quando
inicialmente, lancei mão da pena para escrever esta obra, meu principal
objetivo, ó Mui Preclaro rei, era o de escrever algo que, depois, pudesse ser
apresentado diante de tua majestade. Meu objetivo era o de apenas ensinar
certos rudimentos em função dos quais fossem instruído, na verdadeira piedade,
todos quantos são tocados por algum zelo de religião. Resolvi fazer este
trabalho principalmente, por amor aos nossos compatriotas franceses, muito dos
quais eu via famintos e sedentos de Cristo, e a muito poucos, porém, eu via
imbuídos devidamente de conhecimento sequer modesto a respeito dEle. O próprio
livro, composto de forma de ensinar simples e até chã, mostra que foi esta a
intenção proposta"
João
Calvino
Quando
João Calvino começou a escrever a primeira edição das Institutas da
Religião Cristã, em 1535, com a idade de 27 anos, sua intenção era de
servir grandemente aos interesses protestantes, mas sua influência deve ter
excedido em muito a sua expectativa. Provou ser o trabalho mais influente da
Reforma Protestante. Os protestantes de outros países, viram em Calvino, e em
sua obra, um pilar de grande força para a obra iniciada, pois que era um
teólogo do mais alto grau, enquanto que os romanistas temeram sua caneta como
um dos inimigos mais fortes. Certo escritor católico, teve que dizer o seguinte
a respeito das "Institutas":
"É
o Alcorão, o Talmud da heresia, a causa principal de nossa queda... o arsenal
comum do qual os oponentes da velha Igreja obtiveram emprestado as armas mais
agudas. Nenhum escrito da era da reforma é mais temido pelos católicos romanos
e mais zelosa e hostilmente combatido, que as "Institutas" de João
Calvino".
A
cidade suíça de Genebra, debaixo da influência de Calvino como pastor e
reformador, se tornou um refúgio para o qual os fugitivos podiam abrigar-se
livres de perseguição e era um local onde eles aprendiam e equipavam-se como
missionários e reformadores para o envio ao serviço do evangelho.
Verdadeiramente Genebra era o centro da reforma protestante. O imperador Philip
II, filho de Charles V, expressou o pensamento de muitos inimigos da Reforma
quando ele escreveu o seguinte para o Rei de França, relativo a Genebra:
"Esta cidade é a fonte de todo o dano para a França e o maior inimigo de
Roma. A qualquer hora que precises de mim, estou pronto para ajudar, com todo o
poder do meu reino, para subvertê-la".
O
governo francês, por sua parte, ameaçou destruir a cidade se ela não mantivesse
os seus evangelistas dentro de seus limites geográficos, tendo enviado um
embaixador com esta notificação àquela cidade. Os evangelistas protestantes,
continuaram vertendo adiante, em desafio ao governo francês, depois que Calvino
pronunciou aos magistrados da cidade de Genebra as seguintes palavras
corajosas: "Já que a cidade só depende do Deus Onipotente para sua
proteção, a prudência mais alta consiste na obediência mais perfeita ao
Testamento dEle".
Calvino
nasceu na pequena cidade de Noyon, na França, em 10 de junho de 1509, quando
Lutero já havia ditado suas primeiras conferências na Universidade de
Wittenberg. Seu pai pertencia à classe média da cidade e trabalhava
principalmente como secretário do bispo e procurador da biblioteca da catedral.
Fazendo uso de tais conexões, procurou para seu filho os benefícios
eclesiásticos com os quais custeasse seus estudos.
Com
esses recursos, Calvino foi estudar em Paris, onde conheceu tanto o humanismo
como a reação conservadora que se lhe opunha. A discussão teológica que tinha
lugar nos seus dias levou-o a conhecer as doutrinas de Wyclif, Huss e Lutero.
Porém, segundo ele mesmo disse: "estava obstinadamente atado às
superstições do papado". Em 1529 completou seus estudos em Paris, ao obter
o grau de Mestre em Artes, e decidiu dedicar-se à jurisprudência. Com esse
propósito, continuou seus estudos em Orleans e em Bourges, sob a orientação dos
dois mais célebres juristas daquela época: Pierre de I'Estoile e Andrea Alciati.
O primeiro seguia os métodos tradicionais no estudo e na interpretação das
leis, enquanto o segundo era um humanista elegante e talvez algo vaidoso.
Quando houve um debate entre ambos, Calvino interveio em favor do primeiro.
Isto é importante porque indica que, ainda nesses tempos em que começava a
desejar cultivar um espírito humanista, ela não sentia simpatias pela elegância
vã de que freqüentemente se viam possuídos alguns dos mais famosos humanistas.
Não
se sabe o motivo certo que levou Calvino a abandonar a fé romana, nem a data
exata em que isso ocorreu. Diferentemente de Lutero, Calvino nos diz muito
pouco sobre o estado interior de sua alma. Porém o mais provável parece ser
que, no meio do círculo de humanistas que freqüentava e através de seus estudos
das Escrituras e da antigüidade cristã, Calvino chegou à convicção de que teria
de abandonar a comunhão romana e seguir o caminho dos protestantes.
Em
1534, se apresentou em sua cidade natal e renunciou aos benefícios
eclesiásticos que seu pai havia conseguido e que eram a sua principal fonte de
sustento econômico. Se ele já estava decidido neste momento, a abandonar a
igreja romana, ou se esse ato foi simplesmente um passo a mais na sua
peregrinação espiritual, nos é impossível saber. O fato é que em outubro de
1534 Francisco I, até então relativamente tolerante com os protestantes, mudou
sua política e, em janeiro seguinte, Calvino se exilava na cidade protestante
de Basiléia.
Calvino
sentia-se chamado a dedicar-se ao estudo e às obras literárias. Seu propósito
não era de modo algum chegar a ser um dos líderes da Reforma, mas sim encontrar
um lugar tranqüilo onde pudesse estudar as Escrituras e escrever sobre a nova
fé. Pouco antes de chegar a Basiléia, havia escrito um breve tratado sobre o estado
das almas dos mortos antes da ressurreição. Segundo ele encarava sua própria
vocação, sua tarefa consistiria em escrever outros tratados como esse, que
serviriam para aclarar a fé da igreja numa época de tanta confusão.
Portanto,
seu principal projeto era um breve resumo da fé cristã do ponto de vista
protestante. Até então, quase toda literatura protestante, chegava pela
urgência da polêmica, e assim tratava somente dos pontos em discussão, e havia
dito pouca coisa sobre outras doutrinas fundamentais do cristianismo, como por
exemplo a Trindade, a Encarnação, etc. O que Calvino se propunha então era
cobrir esse vazio com um breve manual ao qual deu o título de "Institutas
da Religião Cristã".
A
primeira edição surgiu em Basiléia, no ano de 1536. Era um livro de 516
páginas, porém de formato pequeno, de modo que cabia facilmente nos amplos
bolsos que se usavam antigamente, e podia, dessarte, circular dissimuladamente
pela França. Constava de apenas seis capítulos. Os primeiros quatro tratavam
sobre a lei, o Credo, o Pai Nosso e os sacramentos. Os últimos dois , de tom
mais polêmico, resumiam a posição protestante com respeito aos "falsos
sacramentos" romanos e a liberdade cristã.
O
êxito desta obra foi imediato e surpreendente. Em nove meses se esgotou a
edição, que, por estar em latim, era acessível a leitores de diversas
nacionalidades.
A
partir de então Calvino continuou preparando edições sucessivas das Institutas que
foi crescendo segundo iam passando os anos. As diversas polêmicas da época, as
opiniões de vários grupos que Calvino considerava errados e as necessidades
práticas da igreja, foram contribuindo para o crescimento da obra, de tal
maneira que para seguirmos o curso do desenvolvimento teológico de Calvino e
das polêmicas em que se envolveu, bastaria comparar as edições sucessivas das Institutas.
O que não é possível fazer aqui.
Foram
editadas cerca de nove vezes, sendo que as últimas edições datam de 1559 e
1560. Este texto definitivo dista muito de ser o pequeno manual de doutrina que
Calvino tinha tido em mente publicar quando da primeira edição, pois os seis
capítulos de 1536 se haviam transformado em quatro livros com um total de
oitenta capítulos. O primeiro livro trata sobre Deus e sua revelação, assim
como da criação e da natureza do ser humano, porém sem incluir a queda e a
salvação. O segundo livro trata sobre Deus como redentor e o modo em que se nos
dá a conhecer primeiramente no Antigo Testamento, e depois em Jesus Cristo. O
terceiro livro trata sobre como, pelo Espírito, podemos participar da graça de
Jesus Cristo e dos frutos que Ele produz. Por último, o quarto livro trata dos
"meios externos" para essa participação, isto é, fala-nos sobre a
igreja e os sacramentos. Por toda obra se manifesta um conhecimento profundo,
não só das Escrituras, mas também de antigos escritores cristãos,
particularmente Agostinho, e as controvérsias teológicas do século XVI. Sem
dúvida alguma, esta foi a obra-prima de teologia sistemática protestante em
todo esse século.
Mas,
na realidade, Calvino não tinha a menor intenção de se dedicar ativamente à
obra de reformador. Pois mesmo sentindo grande admiração por aqueles que assim
fizeram, seu maior desejo era o de poder se dedicar ao estudo e a literatura
reformada, não se vendo como pastor ou mesmo capacitado para tal obra.
Seu
objetivo era de se estabelecer em Estrasburgo, onde a causa reformadora havia
triunfado, e onde havia uma grande atividade teológica e literária que lhe
parecia oferecer um ambiente propício para seus trabalhos.
Mas,
quando para lá se dirigia, teve de desviar seu caminho e passar por Genebra, em
virtude de uma guerra. A situação em Genebra diferia em muito da de
Estrasburgo, pois era muito confusa, tendo em vista a recém-chegada fé
reformada levada por Guilherme Farel e um grupo de missionários advindo de
Berna, que necessitava muito de ajuda para conduzir a vida religiosa na cidade.
Calvino
chegou a Genebra com a intenção de passar ali, não mais que um dia , e
prosseguir caminho para Estrasburgo. Porém, alguém avisou a Farel da presença
de Calvino, o autor das Institutas, que logo foi procurado e com
quem obteve uma entrevista marcante.
Farel,
que "ardia com um maravilhoso zelo pelo avanço do evangelho",
apresentou a Calvino várias razões pelas quais precisava de sua presença em
Genebra. Calvino escutou atentamente seu interlocutor, uns quinze anos mais
velho que ele, porém se negou a aceitar seu rogo, dizendo-lhe que tinha
projetado certos estudos e que não lhe parecia possível terminá-los na situação
em que Farel descrevia. Quando por fim Farel tinha esgotado todos os seus
argumentos, sem conseguir convencer ao jovem teólogo apelou ao Senhor de ambos
e insurgiu contra o teólogo com voz estridente: "Deus amaldiçoe teu descanso
e a tranqüilidade que buscas para estudar, se diante de uma necessidade tão
grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda".
Diante
de tal imprecação, nos conta Calvino: "essas palavras me espantaram e me
quebrantaram e desisti da viagem que tinha empreendido". E assim começou a
carreira de João Calvino como reformador de Genebra.
Mesmo
que de início Calvino aceitasse simplesmente permanecer na cidade, e colaborar
com Farel, logo sua habilidade teológica, seu conhecimento da jurisprudência e
seu zelo reformador fizeram dele o personagem central da vida religiosa da
cidade, enquanto que Farel gostosamente se tornava um seu colaborador. Porém
nem todos estavam dispostos a seguir o caminho da reforma que Calvino e Farel
haviam traçado. E quando começaram a exigir que se seguissem verdadeiramente os
princípios protestantes, muitos dos burgueses que haviam apoiado a ruptura com
Roma começaram a oferecer-lhes resistência, ao mesmo tempo que faziam chegar a
outras cidades protestantes da Suíça rumores sobre supostos erros dos
reformadores genebrinos. O conflito se travou finalmente em torno do assunto do
direito da excomunhão. Calvino insistia em que, para que a vida religiosa se
conformasse verdadeiramente aos princípios reformadores, era necessário excomungar
os pecadores impenitentes. Diante do que pareceu um rigor excessivo, o governo
da cidade se negou a seguir os conselhos de Calvino. Posteriormente, o conflito
foi tal que Calvino foi desterrado. O fiel Farel, que poderia permanecer na
cidade escolheu antes o exílio que tornar-se um instrumento dos burgueses, que
queriam uma religião com toda sorte de liberdade e poucas obrigações.
Calvino
viu nisso tudo uma porta que o céu lhe abria para continuar sua vida de estudos
e retiro, que havia projetado, e se dirigiu a Estrasburgo. Porém nessa cidade o
chefe do movimento reformador, Martinho Bucero, também não o deixou em paz.
Havia ali um forte contingente de franceses, exilados por motivos religiosos,
carentes de direção pastoral, e Bucero fez com que Calvino se encarregasse
deles. Foi aí então que o nosso teólogo produziu uma liturgia francesa e
traduziu vários salmos e outros hinos, para que fossem cantados pelos franceses
exilados. Além disso produziu a Segunda edição das Institutas, e se
casou com a viúva Idelette de Bure, com quem foi feliz até que a morte o levou
em 1549.
Os
três anos que Calvino passou em Estrasburgo foram provavelmente os mais felizes
e tranqüilos de sua vida. Porém apesar disso, lhe doía sempre não Ter podido
continuar a obra reformadora em Genebra, por cuja igreja sentia um grande amor
e responsabilidade. Portanto, quando as circunstâncias mudaram na cidade suíça
e o governo o convidou a regressar, Calvino não vacilou e uma vez mais ficou
com a responsabilidade da obra reformadora em Genebra.
Foi
em meados de 1541 que Calvino regressou a Genebra. Uma de suas primeira ações
foi redigir as Ordenanças Eclesiásticas, que foram aprovadas pouco
meses depois pelo governo da cidade, se bem que com algumas emendas. Segundo se
estabelecia nelas, o governo da igreja ficava principalmente nas mãos do
Consistório, que era formado pelo pastores e por doze leigos que recebiam o
nome de "anciãos". Visto que os pastores eram cinco, os leigos eram a
maioria no Consistório. Porém apesar disso o impacto pessoal de Calvino era tal
que quase sempre esse corpo seguia suas orientações e seus desejos.
Em
1559 Calvino viu cumprir-se um de seus sonhos, ao ser fundada a Academia de
Genebra, sob a direção de Teodoro de Beza, que depois sucedeu Calvino como
chefe religioso da cidade. Naquela academia se formou a juventude genebrina
segundo os princípios calvinistas, porém seu principal impacto se deve a que
nela cursaram estudos superiores pessoas procedentes de vários outros países,
que depois levaram o calvinismo a eles.
Transcrição
parcial de “A Era dos Reformadores” - Justo L. Gonzalez, publicado pela
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,1980
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