quarta-feira, 1 de outubro de 2014

HISTORIA DA IGREJA PRIMITIVA


                                                      IGREJA PRIMITIVA  

O livro de atos dos apóstolos ,que relata a história da igreja Primitiva ,contem um bom numero de exemplos  do recebimento do Espirito Santo.Examinando bem o que aconteceu nessas ocasiões ,chegaremos a uma conclusão satisfatória.Podemos tambem determinar se o falar em linguas ,como experiencia para o crente nos nossos dias ,segue ou não as normas biblicas. Primeiramente notemos que no dia de pentecostes ,na experiencia do batismo no Espirito Santo ,participavam individuos ,e não uma coletividade.Essa recepção individual foi a cumprimento da promessa de Jesus mencionada em João 7.37,38.Todos os crentes que se achavam no Cenaculo no dia de Pentecostes foram cheios do Espirito Santo e falaram em outras li.Perguntaram os oponentes por que os pentecostais   apontam o "falar em linguas" como evidencia inicial do batismo ,uma vez que se manifestaram outros sinais ,como as linguas de fogo e o vento veemente no dia de pentecostes?É que verdade que houve esses fenomenos fisicos,contudo  somente no livro de atos ,levando-os a crer que esses sinais ,como que de fogo e vento ,eram peculiares aquela ocasião inicial,ao passo que as linguas continuam(ibid).
O livro de atos do apostolos que alguem ousou dizer poder-se-a chamar "atos do Espirito Santo" ou"atos da igreja",narra os primeiros passos da igreja do Senhor.A igreja começou em Jerusalem e dali estendeu-se em seus primeiros anos praticamente a todo mundo.Permaneceram na cidade de Jerusalém no monte das oliveiras,Jesus determinou aos seus discipulos que ficassem em Jerusalem ,que recebessem a promessa do Pai ,da qual ele havia falado(at  1:4;5;;8),a recomendação do Senhor tem haver com a sua ardente visão missionaria ,a qual padecera na cruz do calvário.E havia dito aos discipulos que pregassem o evangelho a toda criatura até os confins da terra.  
 Antes de iniciarmos o comentario sobra a descida do Espirito Santo ,lembre-me que os judeus celebravam sete importantes festas a saber:atos 2 registra a data da inauguração da igreja com sinais maravilhosos ,a manifestação de linguas,tem sido motivo de exteção debate para alguns que não aceitam o sinal de manifestação das linguas,a biblia refere-se lingua dos anjos(1 cor 13.10,lingua divina(1 cor 14.20,linguagem espiritual(1 cor 14.2),linguas de fogo (atos 2.30,novas linguas(mc 16.17).A experiencia vivida pelos apostolos nessa ocasião foi um fenomeno completamente novo atravez dos  seculos ,a igreja vem experimentanto essas experiencias´Pentecostal gloria Deus.

A maior controversia em torno do assunto do batismo no Espirito Santo ,esta relacionado com evidencia dessa experiência .O povo pentecostal crê e ensina que o batismo no Espirito Santo evidencia-se externamente pelo falar em outras linguas de modo sobrenatural ,pelo poder do Espirito Santo.Outros grupos evangélicos crêem também que è possível receber o batismo ,mas divergem quanto á evidencia inicial de falar em linguás atos 2.2 em diante.Certos grupos evanélicos alegam que a prova do batismo é a manifestação dos frutos do Espirito Santo na vida do cristão,citam passagem de galartas 5:22.É verdade que esses frutos resultam da presença  do Espirito Santo no crente ,mas o batismo que é uma experiencia acompanhada de um sinal peculiar e claro.(notas apostila betel).
A unica maneira de se chegar a uma conclusão exata sobre o assunto é por de lado as muitas idéias prevalecentes e buscar a resposta nas Escrituras ,observando de que maneira foram batizados no Espirito Santo os crentes do 1° seculo,e aqui nesse estudos iremos citar comentários esclarecedores.O livro de atos registraos eventos ocorridos na igreja nessa época e logicamente é nesse livro que encontramos o padrão dessa experiência e a base das nossa fé sobre o assunto.(ibid).
 Cristo enche a vida e a Palavra de Deus torna-se preciosa .Sente-seum um grande zelo pela salvação dos pecadores .Tais resultados não são provenientes de oposiãos do mal.Pessoas que se opões ao movimento pentecostal gostariam de provar que a experiencia de falar em linguas sobrenaturais ,foi manifestação original somente para os tempos dos apótolos e que desde então esse fenomeno ,na sua forma legitima ,nunca mais se repitiu.(ibid).
Tais suposiões carece de fundamento ,pois varios primitivos pastores da igreja ,como :Irineu,tertuliano,agostinho ,joão crisostomo,no segunso século ,nas suas cartas e em outras obras literarias ,referem-se ao fenomeno ,comumente chamado "glossaria",como sendo experiencia em seus dias.Existem evidencias de que nos avivamentos surgidos durante os seculos seguintes ,o falar em outras linguas repetiu-se.registra-se que lutero o reformador na alemanha falava em outras linguas ,bem como tambem nos avivamentos metodistas de João Carlos Wesley,manifestou-se o mesmo ,bem como no avivamento de D.L.Moody.(ibid).
 Há evangélicos tambem nos dias de hoje que tambem admitem a possibilidade do falar em linguas atualmente tambem,mas mantem certas reservas,alguns dizem que esta experiencias não é para todos.Regeitamos tal ensino erroneo ,tal ensino resulte em ninguem receber o batismo.De uns tempos para cá ,multidões de crentes das igrejas pentecostais e tradicionais vem recebendo o genuino batismo no Espirito Santo,conforma a promessa divina em atos 2.17(ibid).        
 No dia de pentecostes ocorreu um dos maires eventos da igreja cristã.Aos quase 120 pessoas que esperavam no cenaculo ,veio uma experiência que vidas .Não eram mais aqueles de antes.Experiencia que tem sido vivida por milhões de servos de DEUS durante os seculos do cristianismo ,chamamos  de BATISMO COM ESPIRITO SANTO.O EVENTO DO BATISMO NÃO SURPREENDEU NEM TROUXE CONFUSÃO AOS ESTUDANTES DO ANTIGO TESTAMENTO,AO CONTRARIO ;ERA UMA BENÇÃO JÁ PROMETIDA relacionada COM PLANO DIVINO da salvação em cristo e foi predita conforme mostrado nas referencias do antigo testamento(at2.16-18 ,is 44.3 ;;mt 3.11 jo 14.16-17 lc24.49 at 1.5-8.No batismo  o ESPIRTO SANTO outorga os seus varios ministérios de acordo com a sua vontade soberana ,dando ao crente poder para testemunhar de CRISTO,na proclamação do seu evangelho.Para isto ;é dotado pelo poder ungidos (at1.8 2.4 8.5-8 13.17).A evangelização mundial pelos pentecostais que aconteceu no seculo 20 é um testemunho da realidade da  experiência .infelizmente alguns historiadores e missiologistas da igreja moderna foram lentos ao conhecer a tremenda contribuição do movimento pentecostal com relação á pregação do evangelho por todo o mundo .
    Os pentecostais não podem  e não se atrevem a negar a obra maravilhosa e frequentemente sacrificial dos missionarios ao longo da história da igreja ,que não expirimentaram  o batismo no ESPIRITO SANTO como compreendido pelos pentecostais.Nós agradecemos á DEUS por todos os lideres  eclesiasticos e todas as agencias missionarias que contribuiram para a empreitada missionaria mundial  .E como outros assuntos previamente discutidos ,a diferença entre esse missionarios e os pentecostal se está no nivel da gradação..Seria irresponssavel os pentecostais dizerem que outros não sabem  nada sobre o poder do ESPIRITO SANTO.(notas o batismo no Espirito Santo com fogo cpad P.ANTHONI D. 2002).Podemos ver que os discipulos de JESUS antes do batismo eram timidos e bem temerosos ,mas após o revestimento de poder eles tornaram se ousados e corajosos.Eles saiam por toda parte anunciando a palavra .Precisamos do consolador permite que o ESPIRITO SANTO controle e guie a sua vida.Siga a orientação de PAULO"ser cheio do ESPIRITO SANTO"(EF 5.18),SEJA UM INSTRUMENTO NAS MÃOS DE DEUS.
 O dia de pentecostes inagurou uma nova fase ,esse acontecimento também demarcou o inicio da capacitação sobrenatural o 'REVESTIMENTO DE PODER"-para que a igreja cumpra eficazmente a grande comissão que nos confiou o Senhor Jesus (mt28.19-20). 
   Uma das principais necessidades de cada salvo é receber o batismo no Espirito Santo,Esta benção é para todos,porque a palavra não mudou.As promessas de DEUS não são para todos os tempos:salvação, perdão,resposta ás orações etc e também o batismo (ml 3.6).A necessidade de poder divino continua a mesma ,pois a força do maligno não mudou ,nem focou mais branda,pelo contrario a bíblia diz sobre isso em apoc 12.12b.Nós tempos do fim as doutrinas dos demonios teriam mais adeptos.(tm 4.1).Os discipulos na igreja primitiva resistiram e venceram as forças satanicas   com poder recebido atravez do batismo no espirito santo e dos dons espirituais que os acompanhavam (at 8.9-12 13.8-12 16.17-18 19.13-17).OS salvos hoje tem a mesma necessidade.A benção do batismo no espirito santo  precisa ser buscada ,jesus orientou os discipulos a permanecerem em jerusalem até que do alto fossem revertidos de poder(lc24.49).Busquemos com fé ,sabendo que esta oração que é segundo a vontade de DEUS,tem a garantia pela palavra (1°jo5:14-15).O batismo com o Espirito Santo é um tema atualissimo e imprecindivel á igreja de CRISTO.Muitos crentes ,até mesmo pentecostais ,não receberam ainda a gloriosa e necessaria promessa por não compreender o que ela representa na vida do cristão.Os que ainda não receberam a promessa pentecostal busque zelosamente sim busque com todo zelo.   
O livro de atos dos apóstolos ,que relata a história da igreja Primitiva ,contem um bom numero de exemplos  do recebimento do Espirito Santo.Examinando bem o que aconteceu nessas ocasiões ,chegaremos a uma conclusão satisfatória.Podemos tambem determinar se o falar em linguas ,como experiencia para o crente nos nossos dias ,segue ou não as normas biblicas. Primeiramente notemos que no dia de pentecostes ,na experiencia do batismo no Espirito Santo ,participavam individuos ,e não uma coletividade.Essa recepção individual foi a cumprimento da promessa de Jesus mencionada em João 7.37,38.Todos os crentes que se achavam no Cenaculo no dia de Pentecostes foram cheios do Espirito Santo e falaram em outras li.Perguntaram os oponentes por que os pentecostais   apontam o "falar em linguas" como evidencia inicial do batismo ,uma vez que se manifestaram outros sinais ,como as linguas de fogo e o vento veemente no dia de pentecostes?É que verdade que houve esses fenomenos fisicos,contudo  somente no livro de atos ,levando-os a crer que esses sinais ,como que de fogo e vento ,eram peculiares aquela ocasião inicial,ao passo que as linguas continuam(ibid).
O livro de atos do apostolos que alguem ousou dizer poder-se-a chamar "atos do Espirito Santo" ou"atos da igreja",narra os primeiros passos da igreja do Senhor.A igreja começou em Jerusalem e dali estendeu-se em seus primeiros anos praticamente a todo mundo.Permaneceram na cidade de Jerusalém no monte das oliveiras,Jesus determinou aos seus discipulos que ficassem em Jerusalem ,que recebessem a promessa do Pai ,da qual ele havia falado(at  1:4;5;;8),a recomendação do Senhor tem haver com a sua ardente visão missionaria ,a qual padecera na cruz do calvário.E havia dito aos discipulos que pregassem o evangelho a toda criatura até os confins da terra.  
 Antes de iniciarmos o comentario sobra a descida do Espirito Santo ,lembre-me que os judeus celebravam sete importantes festas a saber:atos 2 registra a data da inauguração da igreja com sinais maravilhosos ,a manifestação de linguas,tem sido motivo de exteção debate para alguns que não aceitam o sinal de manifestação das linguas,a biblia refere-se lingua dos anjos(1 cor 13.10,lingua divina(1 cor 14.20,linguagem espiritual(1 cor 14.2),linguas de fogo (atos 2.30,novas linguas(mc 16.17).A experiencia vivida pelos apostolos nessa ocasião foi um fenomeno completamente novo atravez dos  seculos ,a igreja vem experimentanto essas experiencias´Pentecostal gloria Deus.


Carateristicas da igreja primitiva

Os primórdios da Vida Comunal At 2:42-47. 


É bem provável que tenhamos duas fontes informativas separadas entre aquela que foi preservada para nós, por detrás da narrativa sobre o dia de Pentecoste, e este registro referente à vida comunal da igreja cristã primitiva, dos discípulos em Jerusalém. Alguns comentadores consideram que a fonte informativa que descreve esse tipo de vida é ainda mais antiga que a outra, que preservou para nós a experiência do dia de Pentecoste; porém, sobre isso não possuímos conhecimento exato, e nem a questão se reveste de grande importância. Foi com a finalidade de vincular essas duas fontes informativas distintas que Lucas registrou os versículos quarenta e dois e quarenta e três, que são editoriais. Já os versículos quarenta e quatro a quarenta e sete contam-nos sobre o caráter da vida na comunidade cristã primitiva. Quatro características podem ser distinguidas, como elementos principais:

1. A doutrina dos apóstolosSem dúvida a maior parte dessa doutrina se alicerçava nas palavras de Jesus, preservadas principalmente pelos próprios apóstolos, com base na memória, e talvez também com base em documentos escritos extremamente primitivos, além das tradições orais fixas que se formaram desde bem cedo, na história da igreja cristã. A formação dessas tradições, desde o princípio, em forma padronizada de doutrina expressa, é indicada em trechos como Rm 6:17 (menção de Paulo sobre a «forma de doutrina»), II Tm 1:3 («o padrão das sãs palavras») e II Pe 3:16 («as demais Escrituras»), com o acréscimo das contribuições paulinas, em suas epístolas, o que foi desenvolvimento posterior desse mesmo processo formativo. Esses ensinamentos padronizados dos apóstolos, baseados nas instruções do Senhor Jesus, tornaram-se o material informativo dos evangelhos primitivos,

2. Outra característica fundamental da igreja cristã primitiva era o seu companheirismo íntimo, o amor fraternal que caracterizava os primeiros crentes. Essa é a palavra favorita de Paulo, para descrever a unidade dos crentes, tanto uns como os outros com o Senhor Jesus Cristo. Ver I Co 1:9. O apóstolo João também transmite para nós essa ideia, em suas epístolas. (Ver I Jo 1:5-7). Tal companheirismo se alicerçava primariamente na correta relação de cada crente com Deus, o que, por si mesmo, garantia a correta relação entre os crente. Tal comunhão florescia na forma de uma partilha comunal de bens, em que todos se utilizavam de um fundo comum. É provável que isso se tivesse tornado necessário por causa das severas perseguições contra os cristãos judeus, o que os reduziu a grande estado de penúria, exigindo que os crentes distribuíssem seus bens uns com os outros, a fim de que pudessem sobreviver. Entretanto, a vida comunal mui provavelmente se alicerçava em mais do que no companheirismo; pois os cristãos, odiados por todos os outros, naturalmente foram aproximados uns dos outros como nunca, e começaram a viver em comunidades distintas e separadas, em resultado de que dividiam entre si as suas possessões materiais. Como arranjavam o problema de moradia, não sabemos dizê-lo. Não há qualquer indicação definida que nos mostre que vivessem juntos, amontoados em pequeno espaço, como usualmente se dá nos casos modernos de vida comunal. Jesus e os seus discípulos levavam um tipo de vida comunal; e o que sucedeu entre os crentes, após o dia de Pentecoste, foi apenas a continuação desse estilo de vida dos discípulos de Cristo.

3. O partir do pãoforma primitiva da Ceia do Senhor ou eucaristia, era um rito central que vinculava os seguidores de Cristo uns com os outros; através do qual, igualmente, jamais se embotava a sua memória quanto ao sacrifício cruento de Cristo, bem como quanto ao fato de que Cristo Jesus é o pão espiritual, do qual necessitavam agora mais do que nunca. Esse partir do pão era realizado em vários lares, no primeiro dia da semana, em comemoração ao dia da ressurreição do Senhor Jesus. Isso, naturalmente, estava vitalmente ligado à adoração dominical, tendo sido um dos grandes fatores que levou a igreja primitiva a descontinuar a frequência às sinagogas, formando não somente uma comunidade religiosa distinta, mas também uma adoração cristã típica e um dia distintivamente cristão, a saber, o «dia do Senhor», no qual Jesus saiu vivo do sepulcro, tendo-se mostrado Senhor da morte e Rei do universo, conforme foi igualmente comprovado pela sua ascensão aos lugares celestiais, ascensão essa que, tanto neste livro de Atos como nos escritos de Paulo, sempre subentende a ressurreição. (Ver At 20:7 quanto a esse costume de partir o pão no primeiro dia da semana).

4. As devoções e orações dos primitivos cristãos eram sinais distintivos, por semelhante modo. Sem dúvida alguma muitos deles, tendo sido criados como judeus devotos, não negligenciavam as formas ordinárias de adoração, tanto no templo de Jerusalém como nas sinagogas. O versículo quarenta e seis mostra-nos que o templo continuava sendo reputado local sagrado para aqueles crentes judeus, parte integrante de sua devoção religiosa. Na proporção em que as perseguições se intensificaram, entretanto, gradualmente os crentes judeus se foram separando dos métodos e costumes judaicos, e as suas congregações se tornaram o centro de suas atividades religiosas diárias. As congregações mais primitivas dos cristãos eram organizadas nos lares dos próprios crentes; depois, porém, foram construídos templos especialmente dedicados ao culto, em substituição ao templo judaico. Naturalmente, no caso das comunidades cristãs gentílicas, até mesmo aquelas que se encontravam em terras da Palestina, o rompimento com o judaísmo fora quase completo já desde o começo do cristianismo. Pela altura do fim do livro de Atos (isto é, dos acontecimentos ali narrados), em cerca do ano 60 d.C, tal rompimento já deveria estar quase completo, no tocante a todo o movimento cristão, e certamente isso se concretizou de vez, após a destruição da cidade de Jerusalém, no ano 70 d.C.

Desse modo, esta pequena seção mostra-nos que o cristianismo é mais do que mera adição ao judaísmo antigo, na forma de algumas doutrinas adicionais. Pelo contrário, é um meio de vida, em que os primitivos cristãos se mostravam extremamente —intensos e devotos, ocupando-se daquela devoção estrita que sempre caracterizou o judaísmo.

2:42    e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.

Os vss. 42 e 43 são editoriais, escritos pelo autor sagrado, que se utilizou dos mesmos para vincular duas narrativas separadas, isto é, aquela referente ao dia de Pentecoste e aquela atinente à vida comunal da igreja cristã primitiva, na qual alude às grandes características dessa comunidade. Após a conversão de um número substancial de judeus, que formou o começo da comunidade cristã primitiva, formou-se definitivamente a igreja, a despeito do fato de que muitos dos primeiros cristãos continuaram sendo judeus devotos (conforme também se depreende de sua adoração no templo de Jerusalém, mencionada no vs. 46). Esses cristãos, em adição à manutenção do antigo modo judaico de adoração, davam ouvidos à doutrina dos apóstolos, que foi o começo da formação de um dogma cristão distinto, com práticas fixadas segundo o exemplo apostólico, baseados sobretudo sobre os ensinamentos do próprio Senhor Jesus, conforme haviam sido preservados pelos apóstolos e outras testemunhas oculares primitivas. (Quanto a maiores detalhes sobre a natureza e o desenvolvi­mento desse corpo distinto de ensinamentos, que posteriormente se solidificaram e foram canonizados nos diversos livros do Novo Testamento, ver a nota anterior, no primeiro ponto, na introdução a esta seção). A introdução mostra que esta era uma das características distintivas da primitiva igreja cristã - distinguiam-se dos judeus incrédulos seguindo o credo cristão, conforme estava o mesmo contido na doutrina dos apóstolos.

«...e na comunhão...» Eis outra grande característica da primitiva comunidade cristã, a qual é comentada no segundo ponto da nota introdutória a esta seção, onde o comentário deve ser consultado. Pode-se examinar esta questão sob os pontos seguintes:

1. Essa sociedade se alicerçava sobre a fé comum em Cristo e no valor de sua morte expiatória (ideia essa igualmente expressa em Fp 2:1).

2. A palavra comunhão pode indicar cooperação na obra do evangelho (segundo se vê também no trecho de Fp 1:5), e é indubitável que isso também sucedia nessa comunidade primitiva.

3. «Comunhão», por semelhante modo, é termo usado para indicar as contribuições em prol dos necessitados, como se lê em Co 8:4 e9:13, sendo essa, igualmente, uma característica daquela primitiva comunidade cristã, o que se tornava extremamente necessário, em face das perseguições que privavam famílias de outro modo abastadas, causando penúria entre os membros da comunidade cristã (ver o vss. 44 deste mesmo capítulo).

4. Esse termo, por igual modo, está associado à unidade de espírito e de amor entre os primitivos cristãos, o que era expresso especialmente pelo fato de que partiam juntos o pão, o que envolve o rito comemorativo do sacrifício do Senhor Jesus, na cruz. (Quanto a esse uso da palavra «comunhão», ver também I Co 10:16 e I Jo 1:3-7).

O trecho de I Jo 1:3-7 demonstra que a verdadeira comunhão, no sentido eminentemente cristão, só é possível quando se mantém relações corretas com Deus, especialmente no tocante à santidade, à pureza e à conduta espiritual correta na vida. Qualquer coisa menos que isso interrompe o companheirismo e a comunhão com Deus, e isso, por sua vez, interrompe o verdadeiro companheirismo entre os crentes. Quando o pecado penetra no acampamento dos santos, como o orgulho, o desejo de poder, a desconsideração para com o próximo, etc, primeiramente se parte a comunhão com Deus, e então, não muito depois, a comunhão entre os irmãos, porquanto o pecado é um elemento deletério.

«...no partir do pão e nas orações...» Desde os tempos mais recuados que a Ceia do Senhor, embora praticada diferente do que veio a ser em tempos posteriores, ou do que era praticada entre as igrejas cristãs gentílicas, era um elemento importantíssimo, a ponto de podermos classificá-la, sem receio de equívoco, como uma ordenança, na igreja primitiva, paralelamente ao batismo em água. Não há base alguma para duvidar que esse foi o rito instituído pelo Senhor Jesus na véspera de sua crucificação, o que é elaboradamentedescrito na segunda metade do décimo primeiro capítulo da primeira epístola de Paulo aos Coríntios.

É perfeitamente possível que a observância da ordenança da Ceia do Senhor tivesse lugar todas as noites, juntamente com a refeição da tarde (ver o vs. 46 deste mesmo capítulo, que encerra tal indício), pois isso é um tipo de partir do pão, e provavelmente envolvia as memórias sobre como Jesus partira pão em companhia de seus discípulos, relembrando-lhes que Cristo é o Pão da Vida, que ele haverá de retornar a este mundo, trazendo a redenção completa da humanidade penitente. Então, na igreja, como ordenança, embora sob uma forma extremamente simples a princípio, introduziu o partir do pão, o que passou a ser feito uma vez por semana, no primeiro dia da semana ou domingo, nas congregações, que serviam de lar para qualquer dos discípulos do Senhor. (Ver At 20:7).

Essa ordenança era o rito central que mantinha os crentes externamente unificados, dando unidade à sua adoração, como algo distinto do judaísmo, porquanto muitos cristãos, nos primeiros dias do cristianismo, continuaram vivendo como judeus devotos. Gradualmente foi diminuindo de intensidade a lealdade ao judaísmo, ao mesmo tempo que aumentava de importância, aos olhos dos cristãos, a igreja e as suas diversas ordenanças. Assim é que a prática do partir do pão, no primeiro dia da semana, gradualmente transferiu o dia específico de adoração do sábado para o domingo. E é muito provável que, nas comunidades cristãs gentílicas, essa prática tenha sido imediatamente adotada, pois em tais distritos não havia o problema do rompimento gradual com o judaísmo. Gradualmente, essa festa de amor (no grego «agape» se tornou mais e mais complexa, até assumir aspectos da celebração da páscoa—em que a festa era seguida pela comunhão, que consistia na participação no pão e no vinho— ao passo que, noutras comunidades cristãs, isso era também seguido pelo lava-pés, como parte integrante de toda a celebração, conforme a ordem emanada por Cristo, conforme lemos em Jo 13:2-20, onde as notas expositivas sobre a questão devem ser consultadas. Em algumas comunidades, a Festa de Amor incluía a mesa do Senhor, e em alguns lugares o lava-pés, observado apenas uma vez por ano, conforme o padrão da observância da festa da páscoa. Originalmente, entretanto, conforme nos mostra este livro de Atos, a observância do lava-pés era muito mais frequente do que isso, provavelmente uma vez por semana.

A expressão partir do pão se deriva do costume judaico de começar uma refeição com a oração «Bendito sejas tu, ó Senhor, nosso Deus, que fizeste o pão existir sobre a terra». Em seguida havia o partir cerimonial do pão, o que, na realidade, era ação de graças a Deus, em face do suprimento abundante para todas as necessidades.

«...e nas orações...» Mui provavelmente os cristãos primitivos observavam períodos estritos para suas orações diárias, conforme estavam acostumados a fazer como judeus devotos. Três vezes por dia, às nove horas, ao meio-dia e às seis horas da tarde, ou algum tempo durante essas divisões, havia tipos especiais de oração e devoção de tipo litúrgico. Porém, também está em foco a oração habitual no templo e nos lares particulares dos membros da igreja, que não era de natureza nitidamente litúrgica. Suas vidas se caracterizavam pela oração e pela devoção, seguindo as exigências mais estritas e severas dos judeus, porquanto não há razão para supormos qualquer tipo de lapso em seus costumes religiosos. Deve-se observar, na passagem de At 3:1, onde Pedro e João subiram ao templo para a hora da oração, o que demonstra claramente o que é dito aqui com relação à oração ritualista, como parte integrante da primitiva devoção cristã.

Foi assim que aqueles que antes haviam clamado e exigido a morte de Jesus, por crucificação, tendo negado amargamente o seu caráter messiânico, agora, no dia de Pentecoste, se voltavam para ele, de coração compungido, encontrando a comunhão com a sua cruz. Em certo sentido, isso se dá com todos os homens, pois a necessidade de salvação revolve em torno do fato da rebeldia universal da raça humana contra Deus.

2:43    Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos.

A palavra «...temor...», neste caso, não indica que aqueles que foram batizados, e se tinham unido à comunidade cristã, não fossem realmente homens regenerados, ou que muitos deles fossem seguidores meramente temporários, como sucedeu em diversos casos, durante o ministério terreno do Senhor Jesus. O mais provável é que Lucas se tenha utilizado aqui desta palavra para mostrar-nos quão profunda era a reverência que cada crente demonstrava, porquanto nenhum deles considerava coisa de somenos as questões espirituais, tendo ficado profundamente impressionados com as capacidades miraculosas conferidas aos apóstolos, capacidades essas que eram exercidas entre eles quase diariamente.

«O temor respeitoso continuava imperando e acompanhando os sinais e as maravilhas que continuavam aparecendo através dos apóstolos. As duas coisas corriam juntas—quanto mais maravilhas, maior era o temor». (Robertson, in loc).

Não é mister supormos que o temor dos primeiros discípulos era equivalente a «terror». Pelo contrário, era respeito reverente, embora, mui provavelmente, fosse mais do que isso. Era um sentido genuíno de temor, na presença de ocorrências obviamente milagrosas, porquanto a exibição da presença do Espírito Santo era grande, e os homens mortais não estavam acostumados a ser visitados tão definida e frequentemente pelos poderes do outro mundo. (Ver At 5:5,11, quanto a outras indicações sobre esse «temor» dos crentes primitivos, sendo que também sabemos que está em foco mais do que um temor reverente, pois o mesmo termo é usado no original grego).

Deve-se observar que os «sinais» «prodígios» aqui referidos são os mesmos creditados ao próprio Senhor Jesus. (Ver o vs. 22 deste capítulo, acerca desses vocábulos). Tais palavras podem ser usadas como simples sinônimos, mas, neste caso, o termo «prodígios» provavelmente significa feitos estupendos, obras prodigiosas, coisas que ordinariamente não se pensaria serem possíveis entre os mortais, tais como curas admiráveis de enfermidades impossíveis e a ressurreição de mortos. «Sinais» indicam o mesmo tipo de feitos, mas encarados como algo revestido de propósito didático. Nesse caso, o seu propósito seria essencialmente o de autenticar o ministério dos apóstolos—mostrando que operavam segundo o poder do Espírito Santo, e que o Espírito de Deus fora enviado por dom de Jesus, o Cristo, de tal modo que em tudo há a autenticação do caráter messiânico e do senhorio de Jesus.

Tais maravilhas aumentaram grandemente o número dos discípulos, no seio da igreja cristã, pois tais prodígios indubitavelmente eram de origem divina, de tal modo que poder-se-ia dizer: «Deus está com esses cristãos!» ou: «É entre eles que está a verdade!» Os próprios sinais e feitos realizados por Jesus são mencionados, no vigésimo segundo versículo deste mesmo capítulo, como provas de sua missão messiânica, conforme o uso do termo «sinais», tanto no evangelho de João como nos evangelhos sinópticos.

As palavras «...cada alma...», neste versículo, sem dúvida se referem aos crentes, embora não devamos limitá-las a isso. Lucas evidentemente queria mostrar que até mesmo os incrédulos estavam atônitos, cheios de temor, em face da exibição do poder divino que se manifestava ao redor deles; porque, tal como sucedia nos dias de Jesus, entre os apóstolos agora também se multiplicavam as maravilhas, muitas delas bem autenticadas, de tal modo que era impossível negar a realidade do que acontecia. Quanto ao emprego da palavra «alma», para indicar uma «pessoa», ver sobre o vs. 41 deste capítulo, onde o termo é traduzido meramente por «pessoas».

«É sinal característico das obras de Deus, que elas nos enchem de admiração». (Starke, in loc). «Deus é um muro de fogo em volta de sua igreja pentecostal, de tal modo que as plantas, ainda tenras, não sofram dano». (G. V. Lechler, in loc).

«Maravilhas e sinais são uma descrição comum dos milagres, no A.T. São palavras que aparecem frequentemente na primeira metade do livro de Atos, com seu marcante pano de fundo aramaico; mas não ocorre na sua segunda metade. Paulo emprega tal expressão em passagens como Rm 15:19; II Co 12:12 e II Ts 2:9». (G.H.C. Macgregor, in loc).

2:44    Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.

No tocante à vida comunal da igreja cristã primitiva, acrescentamos aqui o seguinte comentário. O fato dos crentes estarem juntos, conforme aqui é declarado, parece indicar a existência de assembleias formais, provavel­mente para o ato sagrado da adoração; além disso, é bem provável que haviam começado a formar comunidades de natureza predominantemente cristã; e assim, em certo sentido, passavam os crentes boa parte de sua vida diária juntos uns aos outros. Não há qualquer evidência, entretanto, de que os crentes primitivos tenham chegado aos excessos seguidos pelos modernos grupos comunais, que tendem a avolumar-se em pequenas áreas, em que muitas famílias ocupam uma única casa. Assim sendo, é aqui ilustrada a unidade de espírito daqueles crentes primitivos, embora o próprio termo não tenha aqui tal significado. Pelo menos com base neste versículo, podemos inferir que passavam juntos, aqueles crentes, grande parte de seu tempo, na área do templo, em suas congregações, nas casas uns dos outros, e em todas as formas de contato social.

2:45    E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.

«...Vendiam as suas propriedades...» Encontramos aqui o cumprimento literal das palavras do Senhor (ver Lc 12:33), que contempla uma sociedade não fundamentada sobre a lei, os interesses próprios e a competição, mas sim, sobre a simpatia e a autonegação. Tinham todas as coisas em comum, não por abolição compulsória dos direitos de propriedade (ver At 5:4), mas pela energia espontânea dada pelo amor cristão. O dom do Espírito Santo mostrou o seu poder, não somente na forma de línguas e profecia, mas na forma do caminho mais excelente do amor cristão. Era próprio que o resplendor inimitável do amor se manifestasse por algum tempo, como farol luminoso para as gerações posteriores, a despeito do que a experiência ensinou à igreja, no decurso do tempo, que essa distribuição geral e generosa não era o método mais sábio de conseguir um bem permanente, e que até mesmo uma economia discriminada, tal como aquela que o apóstolo Paulo ensinou (ver II Ts 3:10 e I Tm 3:8), era necessária como salvaguarda contra os abusos. Talvez possamos crer que isso resultou, pelo menos parcialmente, em consequência da rápida exaustão dos seus recursos, no fato da igreja de Jerusalém ter ficado dependente, durante muitos anos, da generosidade abundante das igrejas cristãs dos gentios.». (Sábias palavras,in loc, de E.H. Plumptre).

Naturalmente, temos, nessa prática da igreja cristã primitiva, determinada forma de comunismo. Não aquela forma ditada pelo estado, mas sim, aquela forma em que cada qual participava voluntariamente, por causa da generosidade gerada nos seus corações, pela influência do Espírito Santo. Naturalmente não pode haver termo de comparação entre essa ação espontânea, controlada pela compaixão santa dos crentes primitivos, com o comunismo cruel, ímpio, tirânico, político e materialista que se espraia pelo mundo atual. Porquanto o alicerce do comunismo político é o materialismo, a negação tanto da porção espiritual do homem como da existência e realidade de Deus, em lugar de quem os comunistas exaltam o determinismo econômico. Em outras palavras, o deus do comunismo é a ideia de que por detrás de cada alteração social há uma certa modalidade de determinismo econômico. Conforme esse conceito, um sistema econômico, em oposição a outro sistema, causa uma determinada tensão entre os dois; e dessa tensão se cria um novo sistema político e econômico. Os comunistas políticos de nossos dias imaginam vãmente que, no princípio da existência humana, todos eram comunistas, fazendo do homem um «selvagem nobre». Ainda segundo a opinião dos modernos teóricos do comunismo, alguns indivíduos não estavam satisfeitos com essa ordem de coisas, mas deixaram-se arrastar pela cobiça, escravizando a outros homens. A revolta contra a escravidão é que teria feito surgir o feudalismo. E dos abusos do feudalismo é que apareceu o capitalismo. Ora, o capitalismo preservaria o domínio de alguns poucos privilegiados economicamente, pois uma pequena minoria dominante, nesse caso, é um abuso. Isso explica a tensão criada na sociedade humana, do que teria resultado o socialismo. O socialismo, em sua tensão com o capitalismo, é que criaria o comunismo, o que é um retorno à situação do selvagem nobre.

Naturalmente, essa interpretação representa uma filosofia sobre a natureza da história. Pode-se perceber facilmente que o fator dominante, nessas considerações, é o fator econômico. No sistema comunista não há qualquer lugar para a existência de Deus, do espírito e do mundo espiritual; mas antes, os comunistas negam que esses fatores, autênticos como são, tenham qualquer coisa a ver com a história da — humanidade ou com as presentes condições sociais. A ideia geral do comunismo se baseia no idealismo dialético deHegel; porém, ao invés da «ideia» (isto é, do «espírito absoluto», que ele postulava), o comunismo colocou a matéria. Por conseguinte, segundo a teoria do comunismo a história inteira opera com base na tríade: tese, antítese e síntese (esta última resultante eventual da tensão entre as duas primeiras). Por exemplo: tese (capitalismo), antítese (socialismo) e síntese (comunismo). Tudo isso seria produzido pelo todo-poderoso fator econômico, sem qualquer ligação com Deus ou com qualquer realidade espiritual.

Assim nos é mostrada a vasta diferença entre o que a igreja cristã era, em sua generosidade e espontaneidade, com o sistema político sobre o qual nos referimos, que jamais deixou de agir senão mediante a força bruta, tendo começado em uma revolução sanguinária. Pode-se, por exemplo, confrontar a benevolência espontânea da primitiva comunidade cristã com os assassínios, os sequestros e a tortura de pessoas inocentes, a perseguição e a ameaça contra diversas nações, mediante exércitos selvagens, o terrorismo e o propósito fixo de conquista mundial, que deixam óbvio a malevolência do comunismo. Esse contraste demonstra claramente que não há termo de comparação entre o comunismo político de nossos dias e a comunidade de bens que foi praticada pela igreja cristã primitiva.

Outrossim, não há base para a suposição de que a comunidade de bens, na igreja primitiva, constituiu um sucesso econômico. Pelo contrário, conforme E.H. Plumptre sugeriu na citação transcrita acima, realmente a tentativa terminou em fracasso, tendo produzido (pelo menos como causa parcial) a dependência econômica da comunidade cristã de Jerusalém às igrejas gentílicas, a despeito de todas as boas intenções e do espírito de amor que ditava essas ações. A igreja de Jerusalém dependeu economicamente das igrejas gentílicas principalmente por causa das perseguições que vitimaram os crentes judeus, em que os seus bens foram confiscados e foram desmanteladas as suas fontes de ganho. Todavia, não há motivos para pensarmos que a experiência de comunidade de bens, por parte da igreja cristã primitiva, tenha sido um sucesso econômico, por mais benévolos e bem intencionados que tivessem sido os seus desígnios. Mas pelo menos é indiscutível que a experiência não prosseguiu por muito tempo, entre os próprios crentes judeus, e que jamais foi transferida para o território gentílico; mas antes, a regra estrita em que cada qual provesse para as suas necessidades, mediante o seu trabalho, é princípio básico subentendido em trechos como II Pe 3:10-12; Ef 4:28 e I Tm 3:8. Naturalmente essa regra bíblica não é contrária à benevolência e à caridade, porquanto o apóstolo Paulo indicou que o trabalho é aconselhável, não meramente para que sejam supridas as necessidades básicas do indivíduo, mas também para que cada crente tivesse bens extras que pudessem ser dados voluntariamen­te aos que padecessem penúria. Outrossim, a prática das esmolas era muito importante no judaísmo e no cristianismo primitivo, mais do que na igreja cristã moderna.

A atitude que impulsionava aqueles crentes a essa generosidade é altamente recomendável, conforme observa Theodore P. Ferris (inloc): «Não há aqui qualquer afetação intelectual! Não há qualquer superioridade social, intolerância racial ou privilégios temperamentais aqui! Estavam todos juntos, ligados em comunhão pelas mesmas ideias (a doutrina dos apóstolos), pelas mesmas práticas (o partir do pão), pelos mesmos hábitos religiosos (as orações) e pelos mesmos direitos e responsabilidades de fundo econômico (o fato de que vendiam suas possessões e bens e distribuíam o produto entre todos, segundo a necessidade de cada um)».

O exemplo dessa vida comunitária mui provavelmente foi provocado por
alguma necessidade local, mas também se alicerçava tanto na atitude de generosidade como na ideia de que Jesus e seus doze discípulos especiais viveram daquele modo. Há evidências de que os essênios também viviam assim, pelo menos em suas características essenciais (ver Josefo, Guerras dos Judeus ii.8.3), e isso pode ter fornecido aos cristãos primitivos um outro exemplo de vida comunal. Todavia, não existem indicações de que qualquer outra comunidade religiosa cristã tenha jamais experimentado esse método durante o tempo dos apóstolos, embora, durante o período da história da igreja cristã, encontremos ocasionalmente outras tentativas, e sempre com o resultado final de fracasso.

2:46    E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração,

Os Antigos Hábitos Morrem Lentamente

1. Até à destruição de Jerusalém, no ano 70 D.C., os cristãos que viviam em regiões judaicas continuaram a observar os ritos do templo, sem dúvida honrando a Cristo, simbolizado que era por tais cerimônias. Para esses, o judaísmo tinha de desaparecer lentamente e com honras.

2. Os próprios principais líderes da igreja, incluindo o apóstolo Paulo, assim se comportaram. Ver At 3:1; 18:18 e 21:23,26.

3. O concilio de Jerusalém relaxou as regras cerimoniais no caso dos gentios, mas nenhuma restrição foi imposta aos judeus cristãos (ver Atos 15).

4. Qualquer transição de um antigo para um novo sistema requer tempo e críticas, e eram tidos por anacronismos os costumes de judeus cristãos que se aferravam a hábitos meio-judaicos.

«...partiam pão de casa em casa...» Vemos aqui a observância da Ceia do Senhor, posto que sob forma diferente daquela que veio a ser praticada mais tarde. É patente que originalmente essa ordenança estava vinculada à refeição vespertina e cada vez que se reclinavam para participar da mesma (como também de outras refeições, provavelmente, partiam o pão e observavam o rito simples da Ceia do Senhor. Mais tarde isso passou a ser feito nas suas congregações, talvez de maneira um tanto mais formal, no primeiro dia de cada semana, como memorial da ressurreição e da promessa do segundo advento de Jesus Cristo, bem como ato de ação de graças pela obra expiatória de Jesus, o Cristo, o Pão da Vida. (Ver At 20:7). Quanto a uma discussão mais completa sobre esse assunto, ver as notas expositivas referentes ao vs. 42 deste capítulo).

A ordenança da Ceia do Senhor servia de elemento unificador na vida da igreja cristã primitiva, porquanto todos os crentes uniam em torno da comemoração da morte, da ressurreição e da segunda vinda do mesmo Senhor, que lhes servia de fonte originária para todas as suas expectações espirituais. Essa é uma das notáveis características da comunidade cristã primitiva, que esta seção do livro de Atos salienta para nós. (Quanto a um sumário acerca das quatro características fundamentais dos primitivos discípulos de Cristo, ver as notas introdutórias ao vs. 42 deste mesmo capítulo).

Unidade dos Crentes Primitivos— Os crentes comiam juntos, em grande alegria, porquanto suas vidas haviam assumido um novo propósito e destino. Faziam isso com Jesus como Senhor, enriquecendo as suas vidas. Note-se como Cristo se tornou o centro de toda a vida dos crentes; e sem dúvida isso é o segredo de sua intensa devoção. Os crentes agiam em simplicidade de coração, e a simplicidade é uma das qualidades da pureza. A proporção em que vamos perdendo nossa pureza de vida, começamos a ficar mais complexos, pois então temos muitos dominadores. Aqueles que têm apenas um senhor, podem servir a ele exclusivamente, os seus corações são simples e não complexos, e isso reflete a pureza de vida que os caracteriza. Provavelmente é por causa dessa circunstância que a moderna palavra, sofisticação, tornou-se sinônimo virtual de «perversão», especial­mente no sentido de perversão à lassidão moral.

A significação literal dessa palavra, «singeleza» (que não ocorre em qualquer outra porção do N.T.) era a ideia da suavidade do solo, sem pedras. Daí passou a significar igualdade e unidade de caráter. Tal unidade de caráter podia ser demonstrada pelo amor mútuo, pela pureza, pela devoção intensa, sem mistura ao Senhor Jesus, porquanto se consagravam supremamente a ele, de tal modo que nenhuma «pedra» do ego e do pecado estava misturada com a igualdade deles, com o seu caráter singular.

«Tranquilidade de consciência e alegria são frutos da fé». (Starke, in loc).

O Senhor Jesus ensinou-nos que o nosso «olho» deve ser simples ou singelo, isto é, sem complicações, dedicado exclusivamente àquilo que é santo e puro, bem como recomendável. (Ver Mt 6:22). Isso foi dito em conexão com a questão do serviço a um único senhor, com a questão da busca pelo tesouro celestial. O olho singelo enche a alma de luz; mas o olho dúplice enche-a de trevas opressivas. O apóstolo Paulo escreveu: «...e quero que sejais sábios para o bem e simples para o mal...»(Rm 16:19), o que significa que não devemos racionalizar e nem buscar justificações intelectuais para a maldade, mas antes, manter padrões simples e claros; não devemos ser «sofisticados» no moderno sentido do vocábulo, e, sim simples, singelos, porquanto isso agrada a nosso Deus.

2:47    louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.

Os crentes não reconheciam apenas a mera sobrevivência; antes, sabiam que eventualmente haveriam de compartilhar da imagem perfeita e da natureza de Jesus Cristo, e diariamente presenciavam provas de que Cristo estava com eles, de que a sua redenção era um fato. Por conseguinte, não cessavam de louvar a Deus, conforme também sucederia a qualquer indivíduo convicto dessas realidades.

«Louvavam a Deus, como fonte de onde derivavam todas as suas bênçãos espirituais e temporais, viam o Senhor em todas as coisas e exaltavam as suas obras misericordiosas». (Adam Clarke, in loc). É notável que o evangelho de Lucas se encerra com esse tom de louvor e que as aleluias provocadas pela ressurreição de Jesus Cristo, bem como por sua ascensão, são aqui provocados pela devoção diária que manifestavam para Cristo, que se aprofundou ainda mais mediante a experiência pentecostal.

«...com a simpatia de todo o povo...» Esse fato faz-nos lembrar de como o menino Jesus contou com o favor dos homens, e de como, em seu ministério público, ele desfrutava das simpatias do público em geral, posto que muitos lhe fizessem oposição quase desde o princípio. Não obstante, tal como sucedeu ao Senhor Jesus, assim também aconteceu com a igreja cristã primitiva. Esse favor humano em breve se transmutou no tipo mais odioso e amargo de oposição e perseguição. Podemos imaginar que benefícios ali realizados, apenas serviram para reviver a memória de Jesus, despertando antigos sentimentos de boa vontade, mas que posteriormente foram destruídos pela campanha deliberada de difamação, liderada pelas autoridades religiosas do povo judeu.

As palavras que aparecem no original grego «epi to auto» (que são traduzidas por «lhes» nas traduções portuguesas AA e IB), têm provocado grande dificuldade para os expositores, além de terem sido motivo para algumas variantes textuais. Ordinariamente, essa frase significa «juntos», conforme a encontramos nos trechos de Lc 17:35; At 1:15; 2:1; 2:44 e 4:26. Porém, se assim traduzirmos tal expressão, o resultado é uma sentença esquisita: «...e o Senhor acrescentava junto, dia a dia, aqueles que iam sendo salvos...» Não obstante, tal tradução oferece o sentido da sentença, e Robertson (in loc), não encontra qualquer objeção para essa tradução. Mas outras traduções preferem traduzir por «...ao seu número...» (conforme diz a tradução inglesa RSV).

O texto de manuscritos ocidentais, ao procurar contornar essa dificuldade, acrescentou as palavras «à igreja» (conforme aparece no códex D, em algumas versões latinas e nos códices Pi e E). Naturalmente isso não representa o texto original, mas é antes uma expansão que procura solucionar a dificuldade. Não obstante, é modificação seguida pelas traduções KJ e AC. Alguns estudiosos têm sugerido que essas palavras são uma tradução errônea do composto adverbial aramaico que significa «excessivamente». Salientam esses estudiosos que esse composto aramaico só tinha essa significação do dialeto judaico e que Lucas, ao empregar uma fonte informativa aramaica para esta seção do livro de Atos, talvez não estivesse familiarizado com a sua significação, registrando uma frase estranha no idioma grego. Os autores Lake e Cadbury («Beginnings of Christianity», IV,30) salientam que, nos papiros, a expressão «epito auto» é usada para indicar declarações financeiras, equivalente a «no total», e perguntam se um número deveria seguir-se aqui, como acontece em At 1:15, onde aparece a mesma expressão grega e se pode traduzi-la corretamente por «junto».

Porém, mesmo sem chegarmos a qualquer conclusão definitiva a respeito de como se deve traduzir essa pequena expressão grega, o sentido do versículo é óbvio. Simplesmente significa que, diariamente ia aumentando o número dos membros da igreja cristã primitiva, na proporção em que o Senhor acrescentava-lhe mais e mais convertidos. Assim sendo, qualquer que seja o ponto de vista, dentre os enunciados acima, que aceitemos como tradução dessa frase grega, no fim, chegaremos à mesma ideia geral sobre o sentido deste versículo. (Quanto às traduções referidas neste comentário, para efeito de comparação — catorze ao todo, nove em inglês e cinco português).

A tradução inglesa KJ emprestou a este versículo a tonalidade calvinista, traduzindo-o por «...aqueles que deveriam ser salvos...», como se por detrás da questão do acréscimo de membros à igreja, por parte do Senhor, houvesse um decreto divino. Naturalmente outras passagens bíblicas subentendem exatamente isso (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios); porém, isso não é tradução correta, neste caso. A tradução correta é, realmente, como diz nossa versão portuguesa, usada como base do comentário, «...os que iam sendo salvos». O particípio presente passivo não tem aquele sentido, posto ser assim a gramática grega neste ponto particular. O fato de que oSenhor acrescentava aqueles novos membros, sem dúvida alguma serve de indicação de sua divindade, porquanto se faz aqui alusão a Jesus, o Cristo, como se costuma fazer alusão a Deus, como quem cuida diretamente de todas as coisas.

Bibliografia R. N. Champlin





Desde a Ascensão de Cristo em 30, até ao Martírio de Paulo em 68.
            A IGREJA DO PERÍODO PENTECOSTAL

A igreja cristã em todas as épocas, quer na passada, presente ou futura, é formada por todos aqueles que creem em Jesus de Nazaré, o Filho de Deus. No ato de crer está implícita a aceitação de Cristo por seu Salvador pessoal, para obedecer-lhe como a Cristo, o Prín­cipe do reino de Deus sobre a terra.

A igreja de Cristo iniciou sua história com um movi­mento de caráter mundial, no Dia de Pentecoste, no fim da primavera do ano 30, cinquenta dias após a ressur­reição do Senhor Jesus, e dez dias depois de sua ascen­são ao céu.

Durante o tempo em que Jesus exerceu seu ministé­rio, os discípulos criam que Jesus era o almejado Mes­sias de Israel, o Cristo. Ora, Messias e Cristo são pala­vras idênticas. Messias é palavra hebraica e Cristo é palavra grega. Ambas significam "O Ungido", o "Prín­cipe do Reino Celestial". Apesar de Jesus haver aceito esse título de seus seguidores mais chegados, proibiu-lhes, contudo, proclamarem essa verdade entre o povo, antes que ele ressuscitasse de entre os mortos, e nos quarenta dias que precederam sua ascensão, isto é, até quando lhes ordenou pregassem o Evangelho. Mas de­viam esperar o batismo do Espírito Santo, para então serem testemunhas em todo o mundo.

Na manhã do Dia de Pentecoste, enquanto os segui­dores de Jesus, cento e vinte ao todo, estavam reuni­dos, orando, o Espírito Santo veio sobre eles de forma maravilhosa. Tão real foi aquela manifestação, que foram vistas descer do alto, como que línguas de fogo, as quais pousaram sobre a cabeça de cada um. O efeito desse acontecimento foi tríplice:
a) Iluminou as mentes dos discípulos, dando-lhes um novo conceito do reino de Deus.
b) Compreenderam que esse reino não era um império político mas um reino espiritual, na pessoa de Jesus ressuscitado, que governava de modo invisível a todos aqueles que o aceitavam pela fé.
c) Aquela mani­festação revigorou a todos, repartindo com eles o fervor do Espírito, e o poder de expressão que fazia de cada testemunho um motivo de convicção naqueles que os ouviam.

O Espírito Santo, desde então, ficou morando  per­manentemente na igreja, não em sua organização ou mecanismo, mas como possessão individual e pessoal do verdadeiro cristão. Desde o derramamento do Espírito Santo, naquele dia, a comunidade daqueles primeiros anos foi chamada com muita propriedade, "Igreja Pentecostal".

A igreja teve seu início na cidade de Jerusalém.

Evidentemente, nos primeiros anos de sua história, as atividades da igreja limitaram-se àquela cidade e arre­dores. Em todo o país, especialmente na província se­tentrional da Galiléia, havia grupos de pessoas que criam em Jesus como o Rei-Messias, porém não chega­ram até nós dados ou informações de nenhuma natureza que indiquem a organização, nem o reconhecimento de tais grupos como igreja. As sedes gerais da igreja da­quela época eram o Cenáculo, no Monte de Sião, e o Pórtico de Salomão, no Templo.

Todos os membros da Igreja Pentecostal eram ju­deus. Tanto quanto podemos perceber, nenhum dos seus membros, bem como nenhum dos integrantes da companhia apostólica, a princípio, podia crer que os gentios fossem admitidos como membros da igreja. Quando muito admitiam que o mundo gentio se tornaria judeu, para depois aceitar a Cristo. Os judeus da época dividiam-se em três classes, e as três estavam repre­sentadas na igreja de Jerusalém. Os hebreus eram aqueles cujos antepassados haviam habitado a Palestina durante várias gerações; eram eles a verdadeira raça israelita. Seu idioma era chamado "língua hebraica", a qual, no decorrer dos séculos, havia mudado de hebraico clássico do Antigo Testamento para o dialeto que se chamava aramaico ou siro-caldaico. As Escrituras eram lidas nas sinagogas em hebreu antigo, porém eram traduzidas por um intérprete, frase por frase, em linguagem popular. Os judeus gregos ou helenistas eram descendentes dos judeus da dispersão, isto é, judeus cujo lar ou cujos antepassados estavam em terras estrangeiras. Muitos desses judeus haviam-se estabelecido em Jerusalém ou na Judéia e haviam formado sinagogas para atender a suas várias nacionalidades.

Depois da conquista do Oriente por Alexandre o Grande, o grego chegou a ser o idioma predominante em todos os países a este do Mar Adriático e até mesmo em Roma e por toda a Itália. Por essa razão os judeus de ascendência estrangeira eram chamados "gregos" ou "helenistas" apesar de a palavra "heleno" referir-se a grego. Os judeus-helenistas, como povo, fora da Pales­tina, eram o ramo da raça judaica mais numerosa, mais rica, mais inteligente e mais liberal.

Os prosélitos eram pessoas não descendentes de ju­deus, as quais renunciavam ao paganismo, aceitavam a lei judaica e passavam a pertencer à igreja judaica, recebendo o rito da circuncisão. Apesar de serem uma minoria entre os judeus, os prosélitos eram encontra­dos em muitas sinagogas em todas as cidades do Império Romano e gozavam de todos os privilégios do povo judeu. Os prosélitos não devem ser confundidos com "os devotos" ou "tementes a Deus"; estes eram gentios, que deixaram de adorar os ídolos e frequentavam as sinagogas, porém não participavam da circuncisão, nem se propunham observar as minuciosas exigências das leis judaicas. Por essa razão não eram considerados judeus, apesar de se mostrarem amigos deles.

A leitura dos primeiros seis capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos dá a entender que durante esse período o apóstolo Simão Pedro era o dirigente da igreja. Em todas as ocasiões era Pedro quem tomava a iniciativa de pregar, de operar milagres e de defender a igreja que então nascia. Isso não significa que Pedro fosse papa ou dirigente oficial nomeado por Deus. Tudo acontecia como resultado da prontidão de Pedro em decidir, de sua facilidade de expressão e de seu espírito diretivo. Ao lado de Pedro, o homem prático, encon­tramos João, o homem contemplativo e espiritual, que raramente falava, porém tido em grande estima pelos crentes.

Em uma igreja comparativamente pequena em nú­mero, todos da mesma raça, todos obedientes à vontade do Senhor, todos na comunhão do Espírito de Deus, pouco governo humano era necessário. Esse governo era administrado pelos doze, os quais atuavam como um só corpo, sendo Pedro apenas o porta-voz. Uma frase que se lê em Atos 5:13 indica o alto conceito em que eram tidos os apóstolos, tanto pelos crentes como pelo povo.

No início, a teologia ou crenças da igreja eram simples. A doutrina sistemática foi desenvolvida mais tarde por meio de Paulo. Entretanto, podemos encontrar nos sermões de Pedro três pontos doutrinários considerados essenciais. O primeiro ponto, o maior, era o caráter messiânico de Jesus, isto é, que Jesus de Nazaré era o Messias, o Cristo durante tanto tempo esperado por Israel, e que agora reinava no reino invi­sível do céu, e ao qual todos os membros da igreja deviam demonstrar lealdade pessoal, reverência e obe­diência. Outra doutrina essencial era a ressurreição de Jesus. Em outras palavras, que Jesus fora crucificado, ressuscitado dos mortos e agora estava vivo, como cabeça da igreja, para nunca mais morrer. A terceira das doutrinas cardiais, contidas nos discursos de Pedro, era a segunda vinda de Jesus. Isto é, o mesmo Jesus que foi elevado ao céu, no tempo determinado voltaria à terra, para reinar com sua igreja. Apesar de Jesus haver declarado aos discípulos que nenhum homem nem anjo algum sabia quando se daria a sua vinda, era geral a expectação de que a vinda de Cristo poderia ocorrer a qualquer momento, naquela geração.

A arma usada pela igreja, através da qual havia de levar o mundo aos pés de Cristo, era o testemunho de seus membros. Dado que temos registrados vários discursos ou pregações de Pedro, e nenhum dos outros discípulos, nesse período, pode-se pensar que Pedro era o único pregador. Contudo, a leitura cuidadosa da História demonstra que todos os apóstolos e toda a igreja davam testemunho do Evangelho. Quando a igreja pos­suía cento e vinte membros, o Espírito desceu sobre eles e todos se transformaram em pregadores da Palavra. Enquanto o número de membros aumentava, au­mentavam as testemunhas, pois cada membro era um mensageiro de Cristo, sem que houvesse distinção entre clérigos e leigos. No fim desse período, encontramos Estêvão elevando-se a tal eminência como pre­gador, que os próprios apóstolos ficam ofuscados. Esse testemunho universal foi uma influência poderosa no crescimento rápido da igreja.

Inicialmente, o grandioso esforço desse punhado de homens de visão necessitava de auxílio sobrenatural, uma vez que se propunha, sem armas materiais nem prestígio social, transformar uma nação, tendo de enfrentar também os poderes da igreja nacional e do Estado. Esse auxílio sobrenatural manifestou-se na forma de operação de maravilhas. Os milagres apostólicos foram considerados como "os sinos que chamam o povo à adoração". Lemos no livro dos Atos dos Apóstolos sobre a cura do coxo que estava à porta Formosa. Esse milagre atraiu a multidão para ouvir a Pedro e aceitar a Cristo. Logo depois está descrita a morte de Ananias e Safira, ao serem repreendidos por Pedro por causa do egoísmo e da falsidade. Esse julgamento da parte de Deus foi uma advertência a quantos tiveram conheci­mento dos fatos. A esses milagres seguiram-se outros que incluíam cura de enfermidades. Contudo, esse poder não estava limitado a Pedro nem aos apóstolos. Está escrito que "prodígios e milagres" eram realizados por Estêvão. Essas obras poderosas atraíam a atenção do povo, motivavam investigação e abriam os corações das multidões, para receberam a fé em Cristo.

O amor de Cristo ardia no coração daqueles homens e os constrangia a mostrarem esse amor para com seus condiscípulos, a viver em unidade de espírito, em gozo e comunhão, e, especialmente, a demonstrar interesse e abnegação pelos membros da igreja que necessitavam de socorros materiais. Lemos no livro dos Atos dos Apóstolos que os mais ricos davam suas propriedades, de forma tão liberal, que leva a sugerir (apenas leva a sugerir como vimos em outra ajuda ebdareiabranca) o socialismo radical na comunhão de bens.

No entanto, é bom notar, que quanto a esse aspecto da Igreja Pentecostal, tudo era feito voluntariamente, ninguém era compelido pela lei ou pela exigência dos pobres em tomar as propriedades dos ricos. Os ricos davam voluntariamente. Deve considerar-se ainda que: foi uma experiência em uma pequena comunidade onde todos estavam juntos; naquela comunidade selecionada todos estavam cheios do Espírito Santo, aspirando, todos eles, em seu caráter, a executar os princípios do Sermão do Monte; a experiência surgiu com a expectativa da iminente volta de Jesus, quando então os bens terrenos não mais seriam necessários; como experiência financeira foi um fracasso, e logo abandonada, pois a igreja em Jerusalém ficou tão pobre, que durante uma geração se recolhiam ofertas nas outras igrejas para ajudá-la; o sistema provocou seus próprios males morais, pois despertou o egoísmo de Ananias e Safira. Na verdade, enquanto estamos sobre a terra somos influenciados pelo interesse próprio e pela necessidade. O espírito dessa dádiva liberal é digno de elogios, porém o plano, ao que tudo indica, não foi muito acertado.
De modo geral, a Igreja Pentecostal não tinha faltas. Era poderosa na fé e no testemunho, pura em seu caráter, e abundante no amor. Entretanto, o seu sin­gular defeito era a falta de zelo missionário. Permane­ceu em seu território, quando devia ter saído para outras terras e outros povos. Foi necessário o surgimento da severa perseguição, para que se decidisse a ir a outras nações a desempenhar sua missão mundial. E assim aconteceu mais tarde.


Entramos agora em uma época da história da igreja cristã, que, apesar de curta — apenas quinze anos — é de alta significação. Nessa época decidiu-se a importan­tíssima questão: se o Cristianismo devia continuar como uma obscura seita judaica, ou se devia transformar-se em igreja cujas portas permanecessem para sempre abertas a todo o mundo. Quando se iniciou este período, a proclamação do evangelho estava limitada à cidade de Jerusalém e às aldeias próximas; os membros da igreja eram todos israelitas por nascimento ou por adoção. Quando terminou, a igreja já se havia estabelecido na Síria, na Ásia Menor e havia alcançado a Europa. Além disso, os membros da igreja agora não eram exclusivamente judeus; em alguns casos predominavam os gentios. O idioma usado nas assembleias na Palestina era o hebraico ou aramaico, porém, em outras regiões bem mais povoadas o idioma usado era o grego. Estudemos as épocas sucessivas desse movimento em expansão.

Na igreja de Jerusalém surgiu uma queixa contra o critério adotado na distribuição de auxílios aos pobres, pois as famílias dos judeus-gregos ou helenistas eram prejudicadas. Os apóstolos convocaram a igreja e pro­puseram a escolha de uma comissão de sete homens para cuidarem dos assuntos de ordem material. Esse plano foi adotado, e os sete foram escolhidos, figurando em primeiro lugar o nome de Estêvão, "homem cheio de fé e do Espírito Santo". Apesar de haver sido escolhido para um trabalho secular, bem depressa atraiu as aten­ções de todos para o seu trabalho de pregador. Da acusação levantada contra ele, quando foi preso pelas autoridades judaicas, e da sua mensagem de defesa, é evidente que Estêvão proclamou a Jesus Cristo como Salvador, não somente para os judeus, mas também para os gentios. Parece que Estêvão foi o primeiro membro da igreja a ter a visão do evangelho para o mundo inteiro, e esse ideal levou-o ao martírio.

Entre aqueles que ouviram a defesa de Estêvão, e que se encolerizaram com suas palavras sinceras, mas incompatíveis com a mentalidade judaica daqueles dias, estava um jovem de Tarso, cidade das costas da Ásia Menor, chamado Saulo. Esse jovem havia sido educado sob a orientação do famoso Gamaliel, conhecido e res­peitado intérprete da lei judaica. Saulo participou do apedrejamento de Estêvão, e logo a seguir fez-se chefe de terrível e obstinada perseguição contra os discípulos de Cristo, prendendo e açoitando homens e mulheres. A igreja em Jerusalém dissolveu-se nessa ocasião, e seus membros dispersaram-se por vários lugares. Entre­tanto, onde quer que chegassem, a Samaria ou a Damasco, ou mesmo a longínqua Antioquia da Síria, eles se constituíam em pregadores do evangelho e estabeleciam igrejas. Dessa forma o ódio feroz de Saulo era um fator favorável à propagação do evangelho e da igreja.

Na lista dos sete nomes escolhidos para administrarem os bens da igreja, além de Estêvão, encontramos também Filipe, um dos doze apóstolos (? Depois descobrimos que era outro Filipe e não o apostolo). Depois da morte de Estêvão, Filipe refugiou-se entre os samaritanos, um povo misto, que não era judeu nem gentio, e por isso mesmo desprezado pelos judeus. O fato significativo de Filipe começar a pregar o evangelho aos samaritanos demonstra que ele se havia libertado do preconceito dos judeus. Filipe estabeleceu uma igreja em Samaria, a qual foi reconhecida pelos apóstolos Pedro e João. Foi essa a primeira igreja estabelecida fora dos círculos judaicos; contudo não era exatamente uma igreja composta de membros genuinamente gentios. Mais tarde encontramos Filipe a pregar e a estabelecer igrejas nas cidades costeiras de Gaza, Jope e Cesaréia. Essas eram consideradas cidades gentias, porém todas possuíam densa população judaica. Nessas cidades, forçosa­mente, o evangelho teria de entrar em contato com o mundo pagão.

Em uma de suas viagens relacionadas com a inspeção da igreja, Pedro chegou a Jope, cidade situada no lito­ral. Ali, Tabita ou Dorcas foi ressuscitada. Nessa ci­dade Pedro permaneceu algum tempo em companhia do outro Simão, o curtidor. O fato de Pedro, sendo judeu, permanecer em companhia de um curtidor significa que Pedro se libertara das restritas regras dos costumes judeus, pois todos os que tinham o ofício de curtidor eram considerados "imundos" pela lei cerimonial. Foi em Jope que Pedro teve a visão do que parecia ser um grande lençol que descia, no qual havia de todos os animais, e foi-lhe dirigida uma voz que dizia: "Não faças tu imundo ao que Deus purificou." Nessa ocasião chega­ram a Jope mensageiros vindos de Cesaréia, que fica cerca de quarenta e oito quilômetros ao norte, e pediram a Pedro que fosse instruir a Cornélio, um oficial romano temente a Deus.

Pedro foi a Cesaréia sob a direção do Espírito, pre­gou o evangelho a Cornélio e aos que estavam em sua casa, e os recebeu na igreja mediante o batismo. O Espírito de Deus sendo derramado como no dia de Pentecoste, testificou sua aprovação divina. Dessa forma foi divinamente sancionada a pregação do evangelho aos gentios e sua aceitação na igreja.

Nessa época, possivelmente um pouco antes de Pedro haver visitado Cesaréia, Saulo, o perseguidor, foi surpreendido no caminho de Damasco por uma visão de Jesus ressuscitado. Saulo, que fora o mais temido perseguidor do evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso defensor. Sua oposição fora dirigida especialmente contra a doutrina que eliminava a barreira entre judeus e gentios. Entretanto, quando se converteu, Saulo adotou imediatamente os mesmos conceitos de Estêvão, e tornou-se ainda maior que Estêvão, na ação de fazer prosperar o movimento de uma igreja universal, cujas portas estivessem abertas a todos os homens, quer fossem judeus, quer fossem gentios. Em toda a história do Cristianismo, nenhuma conversão a Cristo trouxe resultados tão importantes e fecundos para o mundo inteiro como a conversão de Saulo, o persegui­dor, e mais tarde o apóstolo Paulo.

Na perseguição iniciada com a morte de Estêvão, a igreja em Jerusalém dispersou-se por toda parte. Al­guns de seus membros fugiram para Damasco; outros foram para Antioquia da Síria, distante cerca de 480 quilômetros. Em Antioquia os fugitivos frequentavam as sinagogas judaicas e davam seu testemunho de Jesus, como sendo o Messias. Em todas as sinagogas havia um local separado para os adoradores gentios; muitos destes ouviram o evangelho em Antioquia e aceitaram a fé em Cristo. Dessa forma floresceu uma igreja em Antioquia, na qual judeus e gentios adoravam juntamente e desfrutavam o mesmo privilégio. Quando as notícias desses fatos chegaram a Jerusalém, a igreja ficou alarmada e enviou um representante para exami­nar as relações dos judeus com os gentios.

Felizmente, e para o bem de todos, a escolha do representante recaiu sobre Barnabé, homem de ideias liberais, coração grande e generoso. Barnabé foi a An­tioquia, observou as condições, e, em lugar de condenar a igreja local por sua liberalidade, alegrou-se com essa circunstância, endossou a atitude dos crentes dali e permaneceu em Antioquia a fim de participar daquele movimento. Anteriormente Barnabé havia manifestado sua confiança em Saulo. Desta vez Barnabé viajou para Tarso, cerca de 160 quilómetros de distância, trouxe consigo para Antioquia a Paulo, e fê-lo seu companheiro na obra do evangelho. A igreja em Antioquia, com esses reforços, elevou-se a tal proeminência, que ali, pela primeira vez, os seguidores de Cristo foram chamados "cristãos", nome dado não pelos judeus mas pelos gregos, e somente três vezes mencionado no Novo Testamento. Os discípulos de Antioquia enviaram auxílio aos crentes pobres da Judéia, no tempo da fome, e seus dirigentes foram figuras eminentes da igreja primitiva.

Até então, os membros gentios da igreja eram somente aqueles que espontaneamente a procuravam. Daí em diante, sob a direção do Espírito Santo e de acordo com os anciãos, os dois dirigentes de maior destaque na igreja de Antioquia foram enviados em missão evangelizadora a outras terras, pregando tanto para judeus como para gentios. Na história da primeira viagem missionária notamos certas características que se tor­naram típicas em todas as viagens posteriores de Paulo. Essa viagem foi realizada por dois obreiros. Inicial­mente menciona-se "Barnabé e Saulo", depois "Paulo e Barnabé", e finalmente, Paulo e seus companheiros, apontando Paulo como líder espiritual.

Em relação à mudança do nome de Saulo pode-se explicar da seguinte forma: Era comum naqueles dias um judeu usar dois nomes; um entre os israelitas e outro entre os gentios. Os dois missionários levaram como auxiliar um homem mais jovem chamado João Marcos, o qual os abandonou em meio à viagem. Eles escolheram como principal campo de trabalho as grandes cidades, visitando Salamina ePafos, na Ilha de Chipre; Antio­quia e Icônio, na Pisídia; Listra e Derbe, na Licaônia.

Sempre que lhes era possível, iniciavam o trabalho de evangelização pregando nas sinagogas, pois nelas todos os judeus tinham o direito de falar; tratando-se de um mestre reputado como era Paulo, que havia cursado a famosa escola de Gamaliel, era sempre bem recebido. Além disso, por meio das sinagogas, não só anunciavam o evangelho aos judeus tementes a Deus mas também aos gentios, igualmente religiosos. Em Derbe, a última cidade visitada, estavam bem próximos de Antioquia, onde haviam iniciado a viagem. Em lugar de passarem pelas Portas da Cilicia e regressarem a Antioquia, to­maram a direção oeste e voltaram pelo caminho que haviam percorrido, visitando novamente as igrejas que haviam fundado em sua primeira viagem e nomeando anciãos, de acordo com o costume usado nas sinagogas. Em todas as viagens que o apóstolo Paulo fez mais tarde, o mesmo método de trabalho foi posto em prática.

Em todas as sociedades ou comunidades organizadas, há sempre duas classes de pessoas: os conservadores, olhando para o passado; e os progressistas, olhando para o futuro. Assim aconteceu naqueles dias. Os elementos ultra judeus da igreja sustentavam que não podia haver salvação fora de Israel. Por essa razão, diziam, todos os discípulos gentios deviam ser circuncidados e observar a lei judaica.

Entretanto os mestres progressistas, encabeçados por Paulo e Barnabé, declaravam que o evangelho era para os judeus e para os gentios, sobre a mesma base da fé em Cristo, sem levar em conta as leis judaicas. Entre esses dois grupos surgiu então uma controvérsia que ameaçou dividir a igreja. Finalmente, realizou-se um concílio em Jerusalém para resolver o problema das condições dos membros gentios e estabelecer regras para a igreja no futuro. Convém registrar que nesse concílio estiveram representados não somente os após­tolos, mas também os anciãos e "toda a igreja". Paulo e Barnabé, Pedro e Tiago, irmão do Senhor, participa­ram dos debates. Chegou-se, então, a esta conclusão: a lei alcançava somente os judeus e não os gentios crentes em Cristo. Com essa resolução completou-se o período de transição de uma igreja cristã judaica para uma igreja de todas as raças e nações. O evangelho podia, agora, avançar em sua constante expansão.


Por decisão do concílio realizado em Jerusalém, a igreja ficou com liberdade para iniciar uma obra de maior vulto, destinada a levar todas as pessoas, de todas as raças, e de todas as nações para o reino de Jesus Cristo. Supunha-se que os judeus, membros da igreja, continuassem observando a lei judaica, muito embora as regras fossem interpretadas de forma ampla por alguns dirigentes como Paulo. Contudo, os gentios podiam pertencer à igreja cristã, mediante a fé em Cristo e uma vida reta, sem submeterem-se às exigências da lei.

Para tomarmos conhecimento do que ocorreu du­rante os vinte anos seguintes ao concílio de Jerusalém, dependemos do livro dos Atos dos Apóstolos, das epís­tolas do apóstolo Paulo, e talvez do primeiro versículo da Primeira Epístola de Pedro, que possivelmente se refere a países talvez visitados por ele. A estas fontes de informações pode-se juntar algumas tradições do período imediato à era apostólica, que parecem ser autênticas. O campo de atividades da igreja alcançava todo o Império Romano, que incluía todas as províncias nas margens do Mar Mediterrâneo e alguns países além de suas fronteiras especialmente a leste. Nessa época o número de membros de origem gentia continuava a crescer dentro da comunidade, enquanto o de judeus diminuía. À medida que o evangelho ganhava adeptos no mundo pagão, os judeus se afastavam dele e crescia cada vez mais o seu ódio contra o Cristianismo. Em quase todos os lugares onde se manifestaram persegui­ções contra os cristãos, nesse período, elas eram insti­gadas pelos judeus.

Durante aqueles anos, três dirigentes se destacaram na igreja. O mais conhecido foi Paulo, o viajante in­cansável, o obreiro indômito, o fundador de igrejas e o eminente teólogo. Depois de Paulo, aparece Pedro cujo nome apenas consta dos registros, porém foi reconhecido por Paulo como uma das "colunas". A tradição diz que Pedro esteve algum tempo em Roma, dirigiu a igreja nessa cidade, e, por fim, morreu como mártir no ano 67. O terceiro dos grandes nomes dessa época foi Tiago, um irmão mais moço do Senhor, e dirigente da igreja de Jerusalém. Tiago era fiel conservador dos costumes judaicos. Era reconhecido como dirigente dos judeus cristãos; todavia não se opunha a que o evangelho fosse pregado aos gentios. A epístola de Tiago foi escrita por ele. Tiago foi morto no Templo, cerca do ano 62. Assim, todos os três líderes desse período, entre muitos outros menos proeminentes perderam suas vidas como mártires da fé que abraçaram. O registro desse período, conforme se encontra nos 13 últimos capítulos de Atos, refere-se somente às atividades do apóstolo Paulo. Entretanto, nesse período outros missionários devem ter estado em atividade, pois logo após o fim dessa época mencionam-se nomes de igrejas que Paulo jamais visitou. A primeira viagem de Paulo através de algumas províncias da Ásia Menor já foi mencionada em capítulo anterior. Depois do concílio de Jerusalém Paulo empreendeu a segunda viagem missionária. Tendo por companheiro Silas ou Silvano, deixou Antioquia da Síria e visitou, pela terceira vez, as igrejas do continente, estabelecidas na primeira via­gem. Foi até às costas do Mar Egeu, a Trôade, antiga cidade de Tróia, e embarcou para a Europa, levando, assim, o evangelho a esse continente. Paulo e Silas estabeleceram igrejas em Filipos, Tessalônica e Beréia, na província de Macedônia. Fundaram um pequeno núcleo na culta cidade de Atenas e estabeleceram forte congregação em Corinto, a metró­pole comercial da Grécia. Da cidade de Corinto, Paulo escreveu duas cartas à igreja de Tessalônica, sendo essas as suas primeiras epístolas.

Navegou depois pelo Mar Egeu, para uma breve visita a Éfeso, na Ásia Menor. A seguir atravessou o Mediterrâneo e foi a Cesaréia; subiu a Jerusalém, a fim de saudar a igreja dessa cidade, e voltou ao ponto de partida em Antioquia da Síria. Em suas viagens, du­rante três anos, por terra e por mar, Paulo percorreu mais de três mil quilômetros, fundou igrejas em pelo menos sete cidades e abriu, pode-se dizer, o continente da Europa à pregação do Evangelho. Após um breve período de descanso, Paulo iniciou a terceira viagem missionária, ainda de Antioquia, porém destinada a terminar em Jerusalém, como prisioneiro do governo romano. Inicialmente seu único companheiro fora Timóteo, o qual se havia juntado a ele na segunda viagem e permaneceu até ao fim, como auxiliar fiel e "filho no Evangelho". Contudo, alguns outros companheiros es­tiveram com o apóstolo, antes de findar esta viagem. A viagem iniciou-se com a visita às igrejas da Síria e Cilicia, incluindo, sem dúvida, a cidade de Tarso, onde nasceu. Continuou a viagem pela antiga rota e visitou, pela quarta vez, as igrejas que estabeleceu na primeira viagem.

Entretanto, após haver cruzado a província de Fri­gia, em lugar de seguir rumo norte, para Trôade, foi para o Sul, rumo a Éfeso, a metrópole da Ásia Menor. Na cidade de Éfeso permaneceu por mais de dois anos, o período mais longo que Paulo passou em um só lugar, durante todas as suas viagens. Seu ministério teve êxito não apenas na igreja em Éfeso mas também na propagação do evangelho em toda a província. As sete igrejas da Ásia, foram fundadas quer direta, quer indiretamente por Paulo. De acordo com seu método de voltar a visitar as igrejas que estabelecera, Paulo navegou de Éfeso para a Macedônia, visitou os discípulos em Filipos,Tessalônica, Beréia e bem assim aqueles que estavam na Grécia. Depois disso sentiu que devia voltar pelo mesmo trajeto, para fazer uma visita final àquelas igrejas. Navegou para Trôade e dessa cidade passou pela costa da Ásia Menor. De Mileto, o porto de Éfeso, mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso, e despediu-se deles com emocionante exortação. Recomeçou a viagem para Cesaréia, e subiu a montanha até Jerusalém. Nesta cidade Paulo terminou a terceira viagem missionária, quando foi atacado pela multidão de judeus no templo, aonde fora adorar. Os soldados romanos protegeram o apóstolo da ira do populacho, e o recolheram à fortaleza de Marco António.

A terceira viagem missionária de Paulo foi tão longa quanto a segunda, exceto os 480 quilômetros entre Jerusalém e Antioquia. Seus resultados mais evidentes foram a igreja de Éfeso e duas das suas mais importantes epístolas, uma à igreja em Roma, expondo os prin­cípios do evangelho de acordo com a sua própria ma­neira de pregar, e outra aos Gálatas dirigida às igrejas que estabelecera na primeira viagem, onde os mestres judaizantes haviam pervertido muitos discípulos.

Durante mais de cinco anos, após sua prisão, Paulo esteve prisioneiro; algum tempo em Jerusalém, três anos em Cesaréia e pelo menos dois anos em Roma. Podemos considerar a acidentada viagem de Cesaréia a Roma, como a quarta viagem de Paulo, pois, mesmo preso, era ele um intrépido missionário que aproveitava todas as oportunidades para anunciar o evangelho de Cristo. O motivo da viagem de Paulo foi a petição que ele fez. Na qualidade de cidadão romano apelou para ser julgado pelo imperador, em Roma. Seus companheiros nessa viagem foram Lucas e Aristarco, os quais talvez tenham viajado como seus auxiliares. Havia, a bordo do navio em que viajavam, criminosos confessos que eram levados para Roma a fim de serem mortos nas lutas de gladiadores. Havia, também, soldados que guardavam os presos que viajavam no navio. Podemos estar certos de que toda essa gente que participou da longa e perigosa viagem, ouviu o evangelho anunciado pelo apóstolo. Em Sidom, Mirra e Creta, onde o navio aportou, Paulo proclamou a Cristo. Em Melita (Malta) onde estiveram durante três meses após o naufrágio, também se converteram muitas pessoas.

Finalmente Paulo chegou a Roma, a cidade que du­rante muitos anos foi o alvo de seu trabalho e esperança. Apesar de se tratar de um preso à espera de julgamento, contudo a Paulo foi permitido viver em casa alugada, acorrentado a um soldado. O esforço principal de Paulo, ao chegar a Roma, foi evangelizar os judeus, tendo para esse fim convocado seus compatriotas para uma reunião que durou o dia inteiro. Verificando que apenas uns poucos dos judeus estavam dispostos a aceitar o Evangelho, voltou-se então para os gentios. Por espaço de dois anos, a casa em que Paulo morava em Roma funcionou como igreja, onde muitos encontraram a Cristo, especialmente os soldados da guarda do Pre­tório. Contudo seu maior trabalho realizado em Roma foi a composição de quatro epístolas, que se contam entre os melhores tesouros da igreja. As epístolas foram as seguintes: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Há motivos para crer que após dois anos de prisão, Paulo foi absolvido e posto em liberdade.

Podemos, sem dúvida, considerar os três ou quatro anos de liberdade de Paulo, como a continuação de sua quarta viagem missionária. Notamos alusões ou esperanças de Paulo, de visitar Colossos ou Mileto. Se es­tava tão próximo de Éfeso, como o estavam os dois mencionados lugares, parece certo que visitou esta úl­tima cidade. Visitou, também, a Ilha de Creta, onde deixou Tito responsável pelas igrejas, e esteve em Nicópolis no Mar Adriático, ao norte da Grécia. A tradição declara que neste lugar Paulo foi preso e enviado outra vez para Roma, onde foi martirizado no ano 68. A este último período podem pertencer estas três epístolas: Primeira a Timóteo, Tito e Segunda a Timóteo, sendo que a última foi escrita na prisão, em Roma.

No ano 64 uma grande parte da cidade foi destruída por um incêndio. Diz-se que foi Nero, o pior de todos os imperadores romanos, quem ateou fogo à cidade.

Contudo essa acusação ainda é discutível. Entretanto a opinião pública responsabilizou Nero por esse crime. A fim de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição. Milhares de cristãos foram torturados e mortos, entre os quais se conta o apóstolo Pedro, que foi crucificado no ano 67, e bem assim o apóstolo Paulo, que foi decapitado no ano 68. Essas datas são aproximadas, pois os apóstolos acima citados já podem ter sido martirizados um ou dois anos antes. É uma das "vinganças" da História , que naque­les jardins onde multidões de cristãos foram queimados como "tochas vivas" enquanto o imperador passeava em sua carruagem, esteja hoje o Vaticano, residência do sumo-pontífice católico-romano, e a basílica de São Pedro, o maior edifício da religião cristã.

Na época do concílio de Jerusalém, no ano 50, não havia sido escrito nenhum dos livros do Novo Testamento. A igreja, para conhecimento da vida e dos ensi­nos do Salvador, dispunha tão-somente das memórias dos primitivos discípulos. Entretanto, antes do final deste período, 68 a. D., grande parte dos livros do Novo Testamento já estavam circulando, inclusive os evan­gelhos de Mateus, Marcos e Lucas e as epístolas de Paulo, Tiago, 1 Pedro e talvez 2 Pedro, embora ques­tões tenham sido levantadas quanto a autoria dessa última. Deve-se lembrar que é provável que a epístola aos Hebreus tenha sido escrita depois da morte de Paulo, não sendo, portanto, de sua autoria.


Bibliografia J. L. Hurlbut

                                          O DIA DE PENTECOSTES VERSOS 1-4
V.1"... cumpriu-se o dia de Pentecostes...".
O termo pentecostes procede originalmente da festa judaica chanada de "festas das semanas ou hag shabuot,como descreve o antigo testamento (Lv 23.15-25 Dt 16.9-12).Essa festa era comemorada sete semanas depois da pascoa.Literalmente ,o termo significa "festa dos periodos de sete",em razão  de a festa ser comemorada a partir do dia seguinte ao setimo sabado,após o dia das primicias (Lv 23.15-16.)Outra experssão da qual se deriva o vocabulario'pentecostes' é "hamishim" yon,"que significa "festa do 50 dias"(Lv 23.16"),termo traduzido pela versão grega do antigo testamento por "pentekonta hemeras ,ou "quinquajésimo dia".A solene festa de pentecostes é chamada no antigo testamento de "festa das semans" "festa das primicias da sega do trigo""festa da colheita' e o dia das "primicias"-ocasião em que apresentam os primeiros frutos dos campos previamente plantados ex 23.16,34.22 nm 28.26,31 dt 16.9-12).
Quanto ao passado ,a festa de pentecostes era uma santa celebração em que o adorador oferecia ao Senhor uma oferta voluntaria proporcional as bençãos recebidas do Senhor (dt 16.100.Mas no contexto profético é uma referencia á efusão do Espirito Santo sobre toda carne(jl 2.28,at 2.1-3).O dia de pentecostes era celebrado por todos os judeus ,tanto os que habitavam a Palestina quanto aqueles que estavam dispersos por todas as partes do mundo de então.
 Alguns destes judeus e prosélitos não costumavam frequentar a festa da pascoa em Jerusalem ,pelo fato de o clima não ser favoravel para longas peregrinações .No entanto quando as condições climaticas estavam favoraveis ,ocasião ,que coincidia com a festa de pentecostes ,todos convergiam a Jerusalem capital religiosa do judaismo.Com base fundamentada em atos 2.7-13 menciona pessoas de varias nações no dia de Pentecostes,judeus vindo de varias nações pelo clima lhes ser favoravel.A distancia entre Jerusalem e as regiões das quais os devotos procediam ,de monstram a importancia da festividades sagrada para eles .A festa foi uma estratégia para manifestação o poder de DEUS a todas aquelas localizações .O dia de pentecostes simboliza ,para a igreja ,o inicio da colheita de almas para Deus neste mundo.
 No seculo 1° da era cristã ,as comunidades Judaicas localizavam-se principalmente na parte oriental do império romano ,onde o grego era um idioma comum ,mas havia comunidades de oeste e leste ,desde a italia até babilonia.Alem dos povoc aqui mencionados ,os presentes no dia de pentecostes9at 2.9-110,incluíam visitantes da mesospotania e de regiões mais distantes do oriente da Partia ,Médio e Leilão (atual Irã).(notas b. de estudo pentecostal cpad).Aqueles que se tornaram cristãos em pentecostes incluindo judeus de varias nações foram os primeiros frutos de uma vasta colheita de almas.

            V.1"...estavam reunidos todos no mesmo lugar...
"Aqui "reunidos" é ser unanimes ,ter consentimento mutuo ,estar de acordo ,ter unidade em grupo ,ter opinião e objetivo,harmonia,consentimento volitivo da igreja recém formada.Em cada uma de suas ocorrências mostra uma harmonia que leva a ação.(estrong).Os 120 at 1.15,a palavra "todos" aparecem diversas vezes em atos especialmente nos segundo capitulo (v 1,4,17,39,43,44).Como a palavra "todos" é inclusiva ,cada salvo é um candidato ao batismo no Espirito Santo ,observe ,contudo a salvação não é o batismo no Espirito Santo,este deve seguir se a salvação(at 1.14-14 ,2.38-39).Retrocedendo um pouco na leitura ,vemos "sobre meus servos e minhas servas..." at 2.18 ,leia tambem atos 19.2,jo 14.17 .(notas manual do obreiro cpad).
 Em atos 2.1 ,esta escrito "cumprindo-se o dia de pentecostes ,estavam reunidos no mesmo lugar',isso indica  não somente "união" mas "unidade no Espirito Santo"(v.4).Acabaram as discórdias ,as contendas as divergências pessoas em torno das coisas de Deus ,todos estavam ali juntos"reunidos'(ibid).
             
  V.2"...derrepente ,veio do céu um som...) (...som...)-
 um som vindo do ceu:-no dia do prometido derramamento de poder celestial ,a Palavra de Deus diz que veio do céu um som como de um vento o que esta ocorrendo atualmente em sua vida ,em sua igreja?O verdadeiro revestimento de poder do Espirito Santo vem do alto(lc 24.49 at 11.40.(notas manual do obreiro cpad).
Observemos que o Espirito Santo veio primeiramente com um "som".Um som para despertar ,os dormentes,para acordar do renovo espiritual.Um som para alertar de perigo .Para avisar ,um para convocar para o trabalho ;para reunir(1°cor 14.8).Um som para a igreja louvar a Deus ,com musicas sacra.(1°cronicas 16.42 e col 3.16).O som que veio do ceu era como de um vento ,isto é não houvem um vento natural de fato e sim algo semelhante as seus efeitos sonoros ,circundantes e propulsores.
                                      O que se representa o VENTO?
 1.FALA  de 'força impulsora"-como nas velas dos barcos,no moinhos et.2.FALA separar -a palha do trigo do grão 9sl 1.4 mt 3.12),separa o leve dp esado .3Move moinha e movimenta agua,arvores 4.o vento fertiliza -levando o polem ,a vida (col 4.16 e jo 3.5-8) .5o vewnto limpa -arvores ,campos etc.6.o vento não tem cor ,favoritismo ,individualismo ,discriminação.7.O vento pertence não  a um clima unico -é universal 9ec 1.6 gn 1.2).9.O vento não tem cheiro ,mas espalha perfume -aqui é importante refletir sobre o papel do altar do incenso ,no tabernaculo.10°O vento ,quando se move é infalivelmente sentido notado.11°O vento refresca e suavisa o calor 12°O vento -o ar-alimenta e vivifica (pulmões ,e vida organica).em ez 37.8-10 ,naquela visão que Deus o mostrou sobre um vale de ossos secos(notas ibid).
              V.2"...encheu toda a casa em que estavam assentados..."
.A casa focou cheia-,o som como de um vento veemente e impetuoso encheu toda casa.Aquele primeiro derramamento do poder do Espirio Santo ocorreu numa resiencia ,numa casa de familia.Isso nos leva a refletir sobre o importante papel da familia cristã cheia do Espirito Santo ,para a igreja .A familia ,como primeira instituição divina na terra ,foi o meio pelo qual Deus iniciou o ciclo da história humana. Foi por meio dela ,ainda ,que ele iniciou ou nação que traria o messias ao mundo e o trouxe.
             V.3"...foram vistas por eles linguas repartidas..."
.O texto de atos 2.3 mostra que linguas como que de fogo foram repartidas .O verdadeiro tem algo para se "ouvir"do "ceu"(veio do ceu um som),para se "ver"do ceu "foram vistas,por eles linguas 'e para "repartir"tambem vindo do ceu "linguas".As linguas repartidas e vistas por todos ,foi uma experiencia publica e notória ,sendo todos os olhos abertos pele evidencia da lingua(lc 24.31).O própio Espirito Santo repartiu essas linguas de acocrdo com a medida da fé e os diferentes dons da cada um (RM 12.6;1°cor 7.20).Essas linguas fazem parte do revestimento do alto do batismo do Espirito Santo.
  Desceram como fogo (AT2.3 MT 3.11) porque o fogo produz  luz purifica aquece o coração (MT4.7 5.28).Vemos neste texto diversidades de linguas repartidas como de fogo ,isso nos fala das diversidades de linguas o fogo é a garantia de que Deus estava nesse negócio visto que para os Judeus a manifestação divina estava ligada ao fogo.Linguas de fogo",isso tambem pode ser uma alusão a sarça ardente (EX 3.25),Que simboliza a presença divina.A manifestação externa da descida do Espito Santo foi outro sinal de poder.Moises foi chamado por Deus com fogo(EX6.1-8).(notas b.est.pentecostal cpad).
Essa linguas "como que de fogo",isto é ,fogo sobrenatural, celetial ,e não fogo estranho.

Veja a aplicação espiritual desse "fogo do céu":
                 1°.O fogo alastra-se,comunica-se.
                 2°O fogo purifica.Contra impureza espiritual,a principal força é o Espirito Santo.
                 3°.O fogo ilumina.E o saber ,o conhecimento das coisas de Deus. 
                 4°O fogo aquece.A igreja é o corpo de Cristo.Todo corpo vivo é quente.
               5°O fogo ,para queimar bem,de depende muito da maneira ,se é boa ou ruin.Que tipo de "madeira" somos nós e tu?Disso tambem depende o fogo divino em nós.
                 6°O fogo tanto estira o ferro ,como a roupa macia
            7°quando nasce sob fogo não esmorce sob o sol.Foi o fogo do céu que fez o templo de Salomão a casa de Deus(2 cr 7.1 e 1cor 3.16).
              
              V.4"...e todos foram cheios do Espirito Santo ..."
-Todos cheios-Esse é o cumprimento inicial da promessa de Jesus (1.5-8).As expressões intercambiais aos ouvintes v.6 .Uma pratica carateristico da plenitude do Espirito Santo.Receberam agora vida abundante que Jesus havia falado(jo 10.10).Cada um ficou cheio do Espirito Santo , o  seu templo cheio de Deus(1/cor 6.19;3.16).Assim antes o tabernaculo fora cheio (EX40.34),e tambem o templo (cronicas .1,2)todo.
 Todo o ser ficou ocupado da da gloria de Deus ,e aquilo que acompanha "...cheios de alegria ..."(AT13.52),cheios de amor (RM5.5).E estando cheios de coisas boas ,outras coisas malignas não tem mais envolvimento espiritualmente,graças a Deus.Os discipulos antes do batismo ,eram timidos e medrosos ,inclusive ,no dia da prisão de Jesus ,todos fugiram ,com excessão de Pedro ,que acompanhava até o local onde o filho de Deus foi crucificado julgado.Na casa do sumo sacerdote Caifas ,o amigo de Cristo ,que prometeu segui-lo até a morte ,com medo de morrer ,negou ters vezes Pedro a Jesus.
 No dia,de Pentecostes ,revestido do poder de Deus ,quando os Judeus ,atraídos pelo barulho das linguas que os discipulos falavam.Nos dias atuais ,viver cheio da graça de Deus é mais do uma necessidade .E a promessa do revestimento de poder está a disposição de todos os que crêem.Se voce ainda não é batizado com Espirito Santo ,não se preocupe ,pois Jesus está desejoso de atender a todos os que Nele esperam. 
 Frequente as reuniões de oração ,vigilias,jejuns ,e quando voce menos espera ,falará novas linguas como evidencia do batismo no Espirito Santo .Após receber esta benção ou promessa de Deus é para todos os que se converteram a Jesus como salvador,voce deve buscar diligentemente com zelo e perseverança ,os dons espirituais ,a fim de que seja um instrumento nas mãos de Deus para a edificação da igreja.Cultive tambem o fruto do Espirito Santo,para que seus atos provem a todos que voce é uma nova criatura.
 O batismo no Espirito Santo não pe a conversão ,porque para receber-lo é preciso antes se arrepender-se e crer ;não é justificação ou a santificação ,pois já há pessoas que antes de receber já possuem essas qualidades ,embora manifesta em grau bem fraco.(notas Emilio conde,pentecostes para todos cpcad 1985).
É de  mais familiar a muitos estudantes da biblia que a palavra grega usada por joão"baptizein",que significa que cada os crentes foram envolvidos ,no Espirito Santo(ibid cpad).Aqui em atos dos apóstolos temos um brilhantes exemplo de como os crentes se mantiveram cheios do do Espirito Santo.Foi por meio de renovação .Em atos 2.4"todos foram cheios..."e em atos 4.31 lemos de novo"...todos foram cheios do Espirito Santo...",a biblia diz que é possivel ser renovado"de dia em dia"(2°Cor 4.16). 
 O apostolo Paulo o tinha está necessidade bem viva no seu  ministério .Quando o jovem timótio começou a acompanhar lo nas suas viagens ainda jovem ,mais tarde ,já madurecido na idade,foi separado para o ministério .Quando timótio já estava mias de idade adulta mais  30 por exemplo ,Paulo escreveu em (1;tm 4.14 veja e 2°tm 1.6.Paulo queria que a segunda geração se mantivesse tambem cheios do Espirito Santo ,eisto só possivel somente atravez da renovação.
     QUAL É O BIBLIA DA PLENITUDE DO ESPIRITO SANTO RECEBIDA NO DIA DE PENTECOSTAL?
       1°.O inicio 
       
       Siginificou o inicio do cumprimento da promessa de Deus em (jl 2.28-29) de derramar seu Espirito Santo sobre todos o seu povo nos tempos do fim (at 1.4-5 ,mt 3.11 lc 24.49 ,jo 1.33).
      2°.ultimos dias 
     Posto que os ultimos dias desta era já começaram (v.17 ,hb 1.2 1/pd 1.20),todos agora se veem ante a decisão de se arrependerem e de creem em Cristo 9at 3.19 ,mt 3.2 lc 13.3 ,2.17).
     3°.testemunhar
     Os disciplulos foram "...do alto ...revestidos de poder (lc 24.49 at 1.8),que os capacitou a testemunhar de Cristo ,a produzir nos perdidos grande convicção no tocante ao pecado ,á justiça e ao julgamento divino ,e a desvia-lo do pecado para a salvação em Cristo ( at 1.8 ,4.13,33 ,6.8 rm 15.19 jo 16.8).
     4°.ministros pregadores
  Os discipulos se tornaram ministros de Espirito Santo.Não somente pregavam Jesus crucificado e ressucitou ,levando outras pessoas ao arrependimento e a fé em Cristo ,como tambem influenciavam essas pessoas a receber "o dom do Espirito Santo"(v.38-39),que eles mesmos tinham recebido no pentecostes v.4 .Levar outras ao batismo no Espirito Santo é a chave da Obra dos apostolos no (NT).(at 8.17 9.17 1.8 10.44-46 19.6).
    5°.salvação
  O Espirito Santo já revelou sua natureza,e aquele que receberam o batismo ficaram cheios do mesmo anseio pela salvação das pessoas (v.38-40 at 4.12 12.33 rm 9.1-3 10.1).O pentecostes é inicio das missões mundiais (at 1.8 2.6-11,39).
    6°.continuação
 Mediante este batismo no Espirito Santo ,os seguidores de Cristo tornaram-se continuadores do seu ministério terreno .Continuaram a fazer e ensinar no poder do Espirito Santo ,as mesmas coisas que Jessus "começou não só a fazer ,mas a ensinar"(at 1.1 jo 1.2).
            V.4"...e começaram a falar em outras linguas ...""glossalalia"do grego "glosso",lingua +lalia ,falar em linguas"dom sobranatural concedido pelo Espirito Santo ,que capacita o crente a fazer enunciados proféticos em linguas que lhe são desconhecidas.Objetivo da glossalalia é enunciar sobrenatural e extraordinariamente o evangelho de Cristo ,como acomteceu no dia de Pentecostes (at 2),levar o crente a consolar-se no Espirito Santo ,e a proclamar ,com o conhecimento e a vontade de Deus á igreja91°cor 14).notas andrade c.c. dic teológico cpad 1998).
      A glossalaria ,conhecida tambem como dom de linguas "desconecidas" é como dom e espiritual que ,á semelhança dos demais ,não ficou circunstrito aos dias dos apostolos :continua atualmente e atuante na vida da igreja.As linguas manifestação sobrenatural do Espirito Santo  uma  expressão vocal inspirada pelo Espirito Santo ,mediante a qual o crente fala numa lingua (grego glossa) que nun aprendeu 91/cor 14.14-15)(notas b.est.pent.)
  A evidencia de que os discipulos haviam recebido o Batismo ,foi o falar em linguas.Este é a evidencia indubitavel e clara do batismo no Espirito Santo.Cada um dos que se encontravam no cenaculo teve a sua própia experiencia ,todos falaram linguas que jamais tinham falado em tais linguas .Trata-se de um verdeiro milagre ,O profeta Isaias já havia profetizado que tal coisa aconteceria (is 28.11).Quando assim falaram em outras linguas ,não foi resultado de um esforço dos apostolos para estudar e aprender uma nova lingua mas algo que o Espirito Santo lhes concedia que falassem.

                                         A EVIDENCIA COMO PADRÃO
  Aqui trata de um milagre ,que lhes serviu do sinal do recebimento da promessa .Como j´dissemos no tópico anterios ,a evidencia inicial e fisica do batismo no dia de pentecostes ,foi o falar em linguas.Esta evidencia deixou bem claro que os discipulos haviam recebido a promessas do PAI(at 2.17,18,38,39).
 O falar em linguas ,pois ,serve como padrão para se aferir se alguem foi ou não batizado com Espirito Santo(at 11.15-17))O que se sucedeu no dia de pentecostes,repetiu-se na casa de cornélio(at 10.46),em ÉFESO(at 19.6),na vida de Paulo(at 9.17,18 1/cor 14.18),em Samaria (at 8.20-21),embora a biblia não o declare ,tambem deve havido linguas por ocasião do avivamento que la houve nos dias dos apostolos.  
 O interessante generalizado pelo batismo e dons do Espirito Santo convenceu alguns.Os evangelicos do seculo 19,que que Deus concederia o dom de linguas a fim que pudessem anunciar  o evangelho noutras paises ,agilizando a obra missionaria.Entre os que esperavam o recebimento do poder para evangelizae o mundo ,achava-se o pregador da santidade ,em Kansas Chales Fox Parham e seus própios estudos de atos dos apostolos ,e influenciado por Irwin e Sand Ford ,testemunnhou Parham um reavivamento notavel na escola biblica Betel ,em Toketa ,Kansas em janeiro de 1901 .A maioria dos alunos ,bem como o própio Parham regozijaram-se por terem sido batizados no Espirito Santo e de haverem falada noutras linguas.Assim como Deus concedia a plenitude do Espirito Santo aos 12o no dia de pentecostes ,eles tambem haviam recebido a promessa (at 2.39)(notas Stanlei.M.H .sist.p.19 cpad 2006).  
  Depois de 1906 ,os pentecostais passaram a reconhecer ,cada vez mais ,que na maioria das vezes ocorrencia do falar em linguas ,os cristãos realmente estavam orando em linguas não identificaveis e não idiomas compreenciveis .(glosslalia ao invez de xenolalia)(ibid p.20).
                              
  Os historiadores   que se ocupam do "avivamento pentecostal no seculo 20 são unanimes em mencionar a rua Azuza em los Angeles ,California ,em 1906 ,como sede irradiador de onde o avivamento se espalhou para outras cidades e nações .A rua Azuza transformou em poderosa fogueira divina ,onde centenas e milhares de´pessoas de todos os pontos da américa ,ao chegaram atraídos pelos acontecimentos e para ver o que estava acontecendo ali,eram batizados com Espirito Santo ,e ao retornarem para suas cidades ,levavam essa chama viva que alcançavam tambem outras pessoas .(nota Emillio Conde hist.da ad no brasil p.23.) 
 Porem quem havia trazido a menssagem pentecostal a Los Angeles fora uma senhora metodista que por sua vez ,a recebera na cidade de Houstom ,quando tinha ido  visitar seus parentes .Antes dessa data 1906),podemos citar tambem os avivamentos ocorridos na Suécia em ,1906 ,e na Inglaterra em 1740.Na América do norte ,podem-se mencionar ,os avivamentos nos Estados Unidos de nova Inlgaterra em 1854 ,e na cidade de Moorehed ,em 1892,seguidos da Galena,Kansas ,em 1903 e Orchard e houstom ,em 1904 e 1905 ,respectivamente)ibib p.23.

                A IGREJA ESTABELECIDA EM JERUSALÉM  Atos 1 a 6
A igreja nasceu em Jerusalém e seus membros se estruturaram para dar continuidade à obra de Jesus. Assim,   três aspectos foram observados por essa igreja:
a) Visão mundial, At 1 - O desafio de Jesus é global, v. 8, e não existe distinção entre missões mundiais, nacionais ou evangelismo local. Todos são vitais e um não pode excluir o outro. Tudo faz parte da grande comissão, Mt 28: 18-20. A partir de então, tornou-se claro para os discípulos que o movimento da igreja não deveria ser apenas em Jerusalém, mas também fora de seus limites.
b) Poder, At 2 - A incumbência que Jesus havia dado aos discípulos de levar o evangelho ao mundo inteiro parecia uma tarefa difícil. E, de fato, teria sido, se o derramar do Espírito Santo não tivesse acontecido, At 2: 1-3. Em poucos dias, aquele grupo de cento e vinte pessoas tornou-se uma multidão de salvos, At 2: 41; 4: 4 e 5: 14.
c) Envolvimento total, At 5 e 6 - A igreja de Jerusalém era uma família, de modo que as necessidades de cada irmão eram supridas e havia cooperação de todos os membros para ajudar os apóstolos, At 6: 1-3. Instituíram o diaconato, escolhendo para tal função homens que deveriam possuir três requisitos básicos: bom testemunho (aspecto social), serem cheios do Espírito Santo (aspecto espiritual) e de sabedoria (aspecto intelectual).
 Para os apóstolos ficaram reservadas a prática da oração e da pregação da Palavra, At 6: 4. Toda a igreja era, então, completamente envolvida com a obra de Deus.
                                    A IGREJA PRIMITIVA

A palavra igreja vem do grego ekklesiaque tem origem em kaleo ("chamo ou convosco"). Na literatura secular, ekklesia referia-se a uma assembléia de pessoas, mas no Novo Testamento (NT) a palavra tem sentido mais especializado. A literatura secular podia usar a apalavra ekklesia para denotar um levante, um comício, uma orgia ou uma reunião para qualquer outra finalidade. Mas o NT emprega ekklesia com referência à reunião de crentes cristãos para adorar a Cristo.
Que é a igreja? Que pessoas constituem esta "reunião"? Que é que Paulo pretende dizer quando chama a igreja de "corpo de Cristo"?
Para responder plenamente a essas perguntas, precisamos entender o contexto social e histórico da igreja do NT. A igreja  primitiva surgiu no cruzamento das culturas hebraicas e helenística.

Fundada a Igreja

Quarenta dias depois de sua ressurreição, Jesus deu instruções finais aos discípulos e ascendeu ao céu (At 1.1-11). Os discípulos voltaram a Jerusalém e se recolheram durante alguns dias para jejum e oração, aguardando o ES, o qual Jesus disse que viria. Cerca de 120 pessoas seguidores de Jesus aguardavam.
Cinqüenta dias após a Páscoa, no dia de Pentecoste, um som como um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia. Línguas de fogo pousaram sobre cada um deles e começaram a falar em línguas diferente da sua conforme o Espírito Santo os capacitava. Os visitantes estrangeiros ficaram surpresos ao ouvir os discípulo falando em suas próprias línguas. Alguns zombaram, dizendo que deviam estar embriagados (At 2.13).
Mas Pedro fez calar a multidão e explicou que estavam dando testemunho do derramamento do Espírito Santo predito pelos profetas do Antigo Testamento (AT) (At 2.16-21; Jl 2.28-32). Alguns dos observadores estrangeiros perguntaram o que deviam fazer para receber o Espírito Santo. Pedro disse: " Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo " (At 2.38). 
Cerca de 3 mil pessoas aceitaram a Cristo como seu Salvador naquele dia (Atos 2.41).
Durante alguns anos Jerusalém foi o centro da igreja. Muitos judeus acreditavam que os seguidores de Jesus eram apenas outra seita do judaísmo. Suspeitavam que os cristãos estavam tentando começar um nova "religião de mistério" em torno  de Jesus de Nazaré.
É verdade que muitos dos cristãos primitivos continuaram a cultuar no templo (At 3.1) e alguns insistiam em que os convertidos gentios deviam ser circuncidados (At 15). Mas os dirigentes judeus logo perceberam que os cristãos eram mais do que uma seita. Jesus havia dito aos judeus que Deus faria uma Nova Aliança com aqueles que lhe fossem fiéis (Mt 16.18);  ele havia selado esta aliança com seu próprio sangue (Lc 22.20). De modo que os cristãos primitivos proclamavam com ousadia haverem herdados os privilégios  que Israel conhecera outrora. Não eram simplesmente uma parte de Israel - eram o novo Israel (Ap 3.12; 21.2; Mt 26.28; Hb 8.8; 9.15). "Os líderes judeus tinham um medo de arrepiar, porque este novo e estranho ensino não era um judaísmo estreito, mas fundia o privilégio de Israel na alta revelação de um só Pai de todos os homens." (Henry Melvill Gwatkin, Early Church History,  pag 18).

a) A Comunidade de Jerusalém.

Os primeiros cristãos formavam uma comunidade estreitamente unida em Jerusalém após o dia de Pentecoste. Esperavam que Cristo voltasse muito em breve.
Os cristãos de Jerusalém repartiam todos os seus bens materiais (At 2.44-45). Muitos vendiam suas propriedades e davam à igreja o produto da venda, a qual distribuía esses recursos entre o grupo ( At  4.34-35).
Os cristãos de Jerusalém ainda iam ao templo para orar (At 2.46), mas começaram a partilhar  a Ceia do Senhor em seus próprios lares (At 2.42-46). Esta refeição simbólica trazia-lhes à mente sua nova aliança com Deus, a qual Jesus havia feito sacrificando seu próprio corpo e sangue.
Deus operava milagres de cura por intermédio desses primeiros cristãos. Pessoas enfermas reuniam-se no templo de sorte que os apóstolo pudessem tocá-las em seu caminho para a oração (At 5.12-16). Esses milagres convenceram muitos de que os cristãos estavam verdadeiramente servindo a Deus. As autoridades do templo, num esforço por suprimir o interesse das pessoas na nova religião, prenderam os apóstolos. Mas Deus enviou um anjo para libertá-los (At 5.17-20),  o que provocou mais excitação.
A igreja crescia com tanta rapidez que os apóstolos tiveram de nomear sete homens para distribuir víveres às viúvas necessitadas. O dirigente desses homens era Estevão, "homem cheio de fé e do  Espírito Santo" (At 6.5). Aqui vemos o começo do governo eclesiástico. Os apóstolos tiveram de delegar alguns de seus deveres a outros dirigentes. À medida que o tempo passava, os ofícios da igreja foram dispostos numa estrutura um tanto complexa.

b) O Assassínio de Estevão.

Certo dia um grupo de judeus apoderou-se de Estevão e, acusando-o de blasfêmia, o levou à presença do conselho do sumo sacerdote. Estevão fez uma eloqüente defesa da fé cristã, explicando como Jesus cumpriu as antigas profecias referentes ao Messias que libertaria seu povo da escravidão do pecado. Ele denunciou os judeus como "traidores e assassinos" do filho de Deus (At 7.52). Erguendo os olhos para o céu, ele exclamou que via a Jesus em pé à destra de Deus ( At 7.55). Isso enfureceu os judeus, que o levaram para fora da cidade e o apedrejaram (At 7.58-60).
Esse fato deu início a uma onde de perseguição que levou muitos cristãos a abandonarem Jerusalém (At 8.1). Alguns desses cristãos estabeleceram-se entre os gentios de Samaria, onde fizeram muitos convertidos (At 8.5-8). Estabeleceram congregações em diversas cidades gentias, como Antioquia da Síria. A princípio os cristãos hesitavam em receber os gentios na igreja, porque eles viam a igreja como um cumprimento da profecia judaica. Não obstante, Cristo havia instruído seus seguidores a fazer "discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Assim, a conversão dos gentios foi "tão-somente o cumprimento da comissão do Senhor, e o resultado natural de tudo o que havia acontecido..." (Gwatkin, Early Church History, p. 56). Por conseguinte, o assassínio de Estevão deu início a uma era de rápida expansão da igreja.
No mesmo dia em que Estêvão foi apedrejado, levantou-se grande perseguição à igreja. O povo havia sido agitado pelos membros da sinagoga no dia anterior, quando acusaram Estêvão injustamente de blasfêmia. Ao ser, em seguida, condenado pelo Sinédrio, começaram a perseguir todos os da igreja de Cristo, da qual ele era diácono.Os fariseus desta vez haviam se juntado aos saduceus na condenação, e entre eles figurava o jovem Saulo, que havia assistido e aprovado com prazer a execução de Estêvão. Ele agora liderava a perseguição da igreja, levado pelo seu zelo para com Deus (Filipenses 3:6), algemando e metendo em prisões tanto homens quanto mulheres (cap. 22:3,4).Paulo lamentou ter feito tal coisa, depois que percebeu o terrível engano que havia cometido (1 Coríntios 15:9), mas a morte de Estêvão, e a perseguição que se seguiu, desencadeou o movimento que espalhou a igreja pelas regiões da Judéia e de Samaria e "os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a Palavra".
Curiosamente, sem o saber, ao invés de dar término à crescente igreja de Cristo, Saulo foi instrumental para que a sua expansão através da Judéia, e da Samaria se desse naquela ocasião. Pouco depois ele se renderia a Cristo, seria nomeado apóstolo pelo Senhor Jesus e enviado ao mundo gentío com o nome de Paulo.Muito mais tarde, sofrendo ele próprio a prisão em Roma por causa do seu testemunho cristão, Paulo declarou que as coisas que lhe aconteceram contribuíram para o progresso do Evangelho, pois se tornou manifesto a toda a guarda pretoriana e a todos os demais que era por Cristo que ele estava em prisões (Filipenses 1:12, 13). Muitas vezes o que nos parece uma derrota em nosso testemunho, na realidade é a maneira que Deus usa para alcançar a vitória final.A Judéia e a Samaria eram os territórios que o Senhor havia comandado os discípulos a evangelizarem depois de Jerusalém. A Judéia circundava Jerusalém e Samaria ficava ao norte dessa cidade.Os apóstolos, segundo parece, não eram perseguidos ainda, talvez por causa da decisão do Sinédrio de seguir o conselho de Gamaliel e limitavam o seu testemunho a Jerusalém. Não nos é informado o motivo.O Evangelho, no entanto, era transmitido pelos demais membros da igreja no exílio por causa da perseguição, e novas igrejas iam se formando em outras localidades. O que, do ponto de vista humano, seria considerado como uma derrota para o Evangelho, na realidade foi um sucesso, pois a semente do fruto da pregação pelos apóstolos foi desta forma espalhada pelas regiões vizinhas para dar mais fruto em abundância.Não sabemos quem eram os homens piedosos que sepultaram Estêvão, mas é possível que tenham sido membros da igreja ou mesmo judeus piedosos que o conheciam, ou haviam se beneficiado das suas curas.Fizeram por ele grande lamentação, pois além de tê-lo em grande estima por causa do seu caráter, sabiam que iriam sentir muito a sua falta.Filipe, não o apóstolo mas outro dos sete diáconos originais (cap. 6:5), subiu para o norte e foi para Samaria.Samaria havia sido visitada pelo Senhor Jesus no início do Seu ministério, quando muitos creram que Ele era o Salvador do mundo, primeiro por causa do testemunho da mulher a Quem Ele havia se revelado primeiro, e em seguida por causa da Sua própria palavra (João 4:39-41). Ele havia proibido os Seus apóstolos provisoriamente de pregarem ali na sua terceira viagem pela Galiléia (Mateus 10:5), mas antes da Sua ascensão comandou que fossem (cap. 1:8).
Em Samaria, Filipe se destacou na evangelização, e Deus lhe deu os dons dos apóstolos para desenvolver esse ministério, assim como fizera com Estêvão. Somente os primeiros pioneiros que levavam a Palavra de Deus ao mundo, além dos apóstolos, receberam esses dons, mas esses "sinais" foram retirados e desde quando os livros que compõem as Escrituras Sagradas, a Bíblia, foram completados e estabelecidos, as credenciais de um homem de Deus têm sido a sã doutrina  ao invés de sinais miraculosos.Filipe pregava a Cristo numa cidade de Samaria, e realizava sinais miraculosos, saindo espíritos imundos de muitos, e curando muitos paralíticos e coxos. Ao ver os que eram curados, as multidões ficavam escutando, unânimes, ao que ele dizia, e isto resultava em grande alegria naquela cidade.Vemos até aqui como os membros da igreja em seus primórdios obedeceram ao que o Senhor Jesus havia comandado:Saíram como Ele havia feito (João 20:21 - Atos 8:1,4).Venderam seus bens, dando-os aos pobres (Lucas 12:33, 18:22 - Atos 2:45, 4:34).Deixaram pai, mãe, casas e terrenos para ir pregar a Palavra em outros lugares (Mateus 10:37 - Atos 8:1,4).Fizeram discípulos e os ensinaram a trabalhar e obedecer (Mateus 28:18-20 - Atos 8:4).Tomaram a sua cruz e seguiram Cristo (Mateus 10:38 - Atos 4:1-3).Exultaram na tribulação e perseguição (Mateus 5:11-12 - Atos 16:25 , 1 Tessalonicenses 1:6-8).Deixaram os mortos enterrar os mortos e foram pregar o Evangelho (Lucas 9:59-60 - Atos 8:2).(FONTE notas bible-facts.info) 

c) Atividades Missionárias.

Cristo havia estabelecido sua igreja na encruzilhada do mundo antigo. As rotas comerciais traziam mercadores e embaixadores através da Palestina, onde eles entravam em contato com o evangelho. Dessa maneira, no livro de Atos vemos a conversão de oficiais de Roma (At 10.1-48), da Etiópia ( At 8.26-40), e de outras terras.
Logo depois da morte de Estevão, a igreja deu início a uma atividade sistemática para levar o evangelho a outras nações. Pedro visitou as principais cidades da Palestina, pregando tanto a judeus como aos gentios. Outros foram para a Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria. Ouvindo que o evangelho era bem recebido nessas regiões, a igreja de Jerusalém enviou a Barnabé para incentivar os novos cristãos em Antioquia (At 11.22-23). Barnabé, a seguir, foi para Tarso em busca do jovem convertido Saulo (Paulo) e o levou para a Antioquia, onde ensinaram na igreja durante um ano (At 11.26).
Um profeta por nome Ágabo predisse que o Império Romano sofreria uma grande fome sob o governo do Imperador Cláudio. Herodes Agripa estava perseguindo a igreja em Jerusalém; Ele já havia executado a Tiago, irmão de João, e tinha lançado Pedro na prisão (At 12.1-4). Assim os cristãos de Antioquia coletaram dinheiro para enviar a seus amigos em Jerusalém, e despacharam Barnabé e Paulo com o socorro. Os dois voltaram de Jerusalém levando um jovem chamado João Marcos (At 12.25). Por esta ocasião, diversos evangelistas haviam surgido no seio da igreja de Antioquia, de modo que a congregação enviou Barnabé e Paulo numa viagem missionária à Ásia Menor (At 13-14). Esta foi a primeira de três grandes viagens missionárias que Paulo  fez para levar o evangelho aos recantos longínquos do Império Romano.
Os primeiros missionários cristãos concentraram seus ensinos na Pessoa e obra de Jesus Cristo. Declararam que ele era o servo impecável e Filho de Deus que havia dado sua vida para expiar os pecados de todas as pessoas que depositavam sua confiança nele (Rm 5.8-10). Ele era aquele a quem Deus ressuscitou dos mortos para derrotar o poder do pecado (Rm 4.24-25; 1Co 15.17).

               A IGREJA ESPALHADA, At 7 a 12
A perseguição foi o instrumento usado por Deus para desaglutinar a igreja de Jerusalém e alcançar outros povos.
a) Jerusalém e Judeia 
- A igreja inicialmente se concentrou em Jerusalém. Entretanto, Deus estava firme em seu propósito de levar a bênção do Evangelho às outras regiões e, por fim, a todas as nações. Ocorreu então que, com a perseguição vinda diretamente contra a igreja de Jerusalém, os que foram dispersos começaram a pregar em toda parte por onde passavam, At 8: 1, 4 e 5: 11, 19, 20 e 13: 46, 47. Com a morte de Estêvão, At 6 e 7, as testemunhas de Jesus foram espalhadas.
b) Samaria - Felipe prega em Samaria, At 8: 4-8
 E em missão transcultural prega ao etíope, um alto oficial da rainha de Candace, que crê e pede para ser batizado naquele mesmo dia, At 8: 26, 28-36 e 39. A história indica que aquele etíope pode ter preparado o caminho para o posterior estabelecimento de milhares de igrejas no longínquo vale do Nilo, na África.
c) Gentio romano 
- Pedro prega para Cornélio, um centurião romano. Foi difícil para Pedro, ainda que cheio do Espírito Santo, aceitar a conversão de um gentio. Mas, após uma visão, entendeu que Deus não faz acepção de pessoas, At 10: 9, 23, 34 e 35
d) “até os confins da terra” - Saulo, escolhido por Deus para levar a mensagem aos gentios, At 9: 15, 16, cumpre com êxito a sua tarefa. Em pouco mais de dez anos, e em três viagens missionárias, ele estabelece a igreja em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia, At 13: 2, 14: 28, 15: 40, 18: 23 e 21: 17.
 
 A IGREJA ENVIANDO, At 13 e 14
A expressão “...até os confins da terra” já não parecia uma utopia; tornou-se realidade. A Igreja de Antioquia foi a primeira no envio de missionários. Podemos aprender muito através de seu exemplo:
a) Colaboração, At 13: 1-3 
- Em Antioquia, temos o verdadeiro início de missões. Naquela igreja havia profetas e mestres: Lúcio de Cirene, Simão Níger, Manaém, Saulo e Barnabé, v. 1. Nenhum deles era natural de Antioquia; todos eram estrangeiros. Numa reunião de oração, em Antioquia, quando a igreja estava orando e jejuando, Deus separou dois deles para a obra missionária. Os três que ficaram podem ser chamados de colaboradores. Eles representam a igreja que ficou na retaguarda. Os dois que foram enviados representam os missionários. Notemos que eles foram enviados por Deus e pela igreja, vv. 2 e 3.
b) Comunicação, At 14: 27, 28 
- Paulo e Barnabé seguem em frente, sempre dando relatórios de seu trabalho à igreja que ficou na retaguarda, orando e sustentando-os com suas ofertas. Por onde passaram, deixaram a semente da Palavra e outros irmãos foram também chamados a colaborar. Assim, a obra cresceu ao ponto de Paulo poder dizer que o evangelho fora pregado a toda a criatura debaixo do céu, Cl 1: 23. 
Veja o valor da tarefa evangelizadora assumida pela igreja primitiva e a importância de manter bem informados daquilo que estão realizando tanto os irmãos que sustentam os missionários como as igrejas e entidades que os enviaram. É pregando o Evangelho que vamos alargando as fronteiras do Reino de Deus e arrancando vidas das mãos do diabo. 

d) Governo Eclesiástico.

A princípio, os seguidores de Jesus não viram a necessidade de desenvolver um sistema de governo da Igreja. Esperavam que Cristo voltasse em breve, por isso tratavam os problemas internos à medida  que surgiam - geralmente de um modo muito informal.
Mas o tempo em que Paulo escreveu suas cartas às igrejas, os cristãos reconheciam a necessidade de organizar o seu trabalho. O NT não nos dá um quadro pormenorizado deste governo da igreja primitiva. Evidentemente, um ou mais presbíteros presidiam os negócios de cada congregação (Rm 12.6-8; 1Ts 5.12; Hb 13.7,17,24), exatamente como os anciãos faziam nas sinagogas judaicas. Esses anciãos (ou presbíteros) eram escolhidos pelo Espírito Santo (At 20.28), mas os apóstolos os nomeavam (At 14.23). Por conseguinte, o Espírito Santo trabalhava por meio dos apóstolos ordenando líderes pra o ministério. Alguns  ministros chamados  evangelistas parecem ter viajado de uma congregação para outra, como faziam os apóstolos. Seu título significa "homens que manuseiam o evangelho". Alguns têm achado que eram todos representantes pessoais dos apóstolos, como Timóteo o foi de Paulo; outros supõem que obtiveram esse nome por manifestarem  um dom especial de evangelização. Os anciãos assumiam os deveres pastorais normais entre as visitas desses evangelistas.
Algumas cartas do NT referem-se a bispos na igreja primitiva. Isto é um bocado confuso, visto que esses "bispos" não formavam uma ordem superior da liderança eclesiástica como ocorre em algumas igrejas onde o título é usado hoje. Paulo lembrou aos presbíteros de Éfeso que eles eram bispos (At 20.28), e parece que ele usa os termos presbítero e bispointercambiavelmente (Tt 1.5-9). Tanto os bispos como os presbíteros estavam encarregados de supervisar uma congregação. Evidentemente, ambos os termos se referem aos mesmos ministros  da igreja primitiva, a saber, os presbíteros.
Paulo e os demais apóstolos reconheceram que o ES concedia habilidades especiais de liderança a certas pessoas (1Co 12.28). Assim, quando conferiam um título oficial a um irmão ou irmã em Cristo, estavam confirmando o que o Espírito Santo já havia feito.
A igreja primitiva não possuía um centro terrenal de poder. Os cristãos entendiam que Cristo era o centro de todos os seus poderes (At 20.28). O ministério significava servir em humildade, em vez de governar de uma posição elevada (Mt 20.26-28). Ao tempo em que Paulo escreveu suas epístolas pastorais, os cristãos reconheciam a importância de preservar  os ensinos de Cristo por intermédio de ministros que se devotavam a estudo especial, "que maneja bem a palavra da verdade"  (2Tm 2.15). A igreja primitiva não oferecia poderes mágicos, por meio de rituais ou de qualquer outro modo. Os cristãos convidavam os incrédulos para fazer parte de seu grupo, o corpo de Cristo  (Ef 1.23),  que seria salvo como um todo. Os apóstolos e os evangelistas proclamavam que Cristo voltaria para o seu povo, a "noiva" de Cristo (Ap 21.2; 22.17). Negavam que indivíduos pudessem obter poderes especiais de Cristo para seus próprios fins egoístas (At 8.9-24; 13.7-12).

e) Padrões de Adoração
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Visto que os cristãos primitivos adoravam juntos, estabeleceram padrões de adoração que diferiam muito dos cultos da sinagoga. Não temos um quadro claro da adoração Cristã primitiva até 150 dC, quando Justino Mártir descreveu os cultos típicos de adoração. Sabemos que a igreja primitiva realizava seus serviços no domingo, o primeiro dia sa semana. Chamavam-no de "o Dia do Senhor" porque foi o dia em que Cristo ressurgiu dos mortos. Os primeiros cristãos reuniam-se no templo em Jerusalém, nas sinagogas, ou nos lares ( At 2.46; 13.14-16; 20.7-8). Alguns estudiosos crêem que a referência aos ensino de Paulo na escola de Tirano (At 19.9) indica que os primitivos cristãos às vezes alugavam prédios de escola ou outras instalações. Não temos prova alguma de que os cristãos tenham construído instalações especial para seus cultos de adoração durante mais de um século após o tempo de Cristo. Onde os cristãos eram perseguidos, reuniam-se em lugares secretos como as catacumbas (túmulos subterrâneos) de Roma.
Crêem os eruditos que os primeiros cristãos adoravam nas noites de domingo, e que seu culto girava em torno da Ceia do Senhor. Mas nalgum  ponto os cristãos começavam a manter dois cultos de adoração no domingo, conforme descreve Justino Mártir - um bem cedo de manhã e outro ao entardecer. As horas eram escolhidas por questão de segredo e para atender às pessoas trabalhadoras que não podiam comparecer aos cultos de adoração durante o dia.

Ordem do Culto: 

Geralmente o culto matutino era uma ocasião de louvor, oração e pregação. O serviço improvisado de adoração dos cristãos no Dia de Pentecoste sugere um padrão de adoração que podia ter sido geralmente adotado. Primeiro, Pedro leu as Escrituras. Depois pregou um sermão que aplicou as Escrituras à situação presente dos adoradores (At 2.14-36). As pessoas que aceitavam a Cristo eram batizadas, seguindo o exemplo do próprio Senhor.  Os adoradores participavam dos cânticos, dos testemunhos ou de palavras de exortação        (1Co 14.26).

- A Ceia do Senhor: 

Os primitivos cristãos tomavam a refeição simbólica da Ceia do Senhor para  comemorar a Última Ceia, na qual Jesus e seus discípulos observaram a tradicional festa judaica da Páscoa. Os temas dos dois eventos eram os mesmo. Na Páscoa os judeus regozijavam-se porque Deus os havia libertado de seus inimigos e aguardavam com expectação o futuro como filhos de Deus. Na  Ceia do Senhor, os cristãos celebravam o modo como Jesus os havia libertado do pecado e expressavam sua esperança pelo dia quando Cristo voltaria   (1Co 11.26).  A princípio, a Ceia do Senhor era uma refeição completa que os cristãos partilhavam em suas casas. Cada convidado trazia um prato para a mesa comum. A refeição começava  com oração e com o comer de pedacinhos de um único pão que representava o corpo partido de Cristo. Encerrava-se a refeição com outra oração e a seguir participavam de uma taça de vinho, que representava o sangue vertido de Cristo.
Algumas pessoas conjeturavam que os cristãos estavam participando de um rito secreto quando observavam a Ceia do Senhor, e inventaram estranhas histórias a respeito desses cultos. O imperador Trajano proscreveu essas reuniões secretas por volta do ano 100 dC. Nesse tempo os cristãos começaram a observar a Ceia do Senhor durante o culto matutino de adoração, aberto ao público.

- Batismo:
 
O batismo era um acontecimento comum da adoração cristã no templo de Paulo  (Ef 4.5). Contudo, os cristãos não foram os primeiros a celebrar o batismo. Os judeus batizavam seus convertidos gentios; algumas seitas judaicas praticavam o batismo como símbolo de purificação, e João Batista fez dele uma importante parte de seu ministério. O NT não diz se Jesus batizava regularmente seus convertidos, mas numa ocasião, pelo menos, antes da prisão de João, ele foi encontrado batizando. Em todo o caso, os primitivos cristãos eram batizados em nome de Jesus, seguindo o seu próprio exemplo (Mc 1.10; Gl 3.27).
Parece que os primitivos cristãos interpretavam o significado do batismo de vários modos - como símbolo da morte de uma pessoa para o pecado (Rm 6.4; Gl 2.12), da purificação  de pecados (At 22.16; Ef 5.26), e da nova vida em Cristo (At 2.41; Rm 6.3). De quando em quando toda a família de um novo convertido era batizada (At 10.48; 16.33; 1Co 1.16), o que pode significar o desejo da pessoa de consagrar a Cristo tudo quanto tinha.

- Calendário Eclesiástico:
 
O NT não apresenta evidência alguma de que a igreja primitiva observava quaisquer dias santos, a não ser sua adoração no primeiro dia da semana (At 20.7; 1Co 16.2; Ap 1.10). Os cristãos não observam o domingo como dia de descanso até ao quarto século de nossa era, quando o imperador Constantino designou-o como um dia santo para todo o Império Romano. Os primitivos cristãos não confundiam o domingo com o sábado judaico, e não faziam tentativa alguma para aplicar a ele a legislação referente ao sábado.
O historiador Eusébio diz-nos que os cristãos celebravam a Páscoa desde os tempos apostólicos; 1Co 5.6-8 talvez se refira a uma Páscoa cristã na mesma ocasião da Páscoa judaica. Por volta do ano 120 dC, a igreja de Roma mudou a celebração para o domingo após a Páscoa judaica enquanto a igreja Ortodoxa Oriental continuou a celebrá-la na Páscoa Judaica.

f) Conceito do NT sobre a Igreja.

É interessante pesquisar vários conceitos de igreja no NT. A Bíblia refere-se aos primeiros cristãos como família e templo de Deus, como rebanho e noiva de Cristo, como sal, como fermento, como pescadores, como baluarte sustentador da verdade de Deus, de muitas outras maneiras. Pensava-se na igreja como uma comunidade mundial única de crentes, da qual cada congregação local era afloramento e amostra. Os primitivos escritores cristãos muitas vezes se referiam à igreja como o "corpo de Cristo" e o "novo Israel".  Esses dois conceitos revelam muito da compreensão que os primitivos cristãos tinha da sua missão no mundo.

O Corpo de Cristo:
 
Paulo descreve a igreja como "um só corpo em Cristo" (Rm 12.5) e "seu corpo" (Ef 1.23). Em outras palavras, a igreja encerra numa comunhão única de vida divina todos os que são unidos a Cristo pelo Espírito Santo mediante a fé. Esses participam da ressurreição  (Rm 6.8), e são a um tempo chamados e capacitados  para continuar seu ministério de servir e sofrer para abençoar a outros (1Co 12.14-26). Estão ligados numa comunidade que personifica o reino de Deus no mundo.
Pelo fato de estarem ligados a outros cristãos, essas pessoas entendiam que o que faziam com seus próprios corpos e capacidades era muito importante (Rm 12.1; 1Co 6.13-19; 2Co 5.10). Entendiam que as várias raças e classes tornam-se uma em Cristo (1Co 12.3; Ef  2.14-22), e deviam aceitar-se e amar-se uns aos outros de um modo que revelasse tal realidade.
Descrevendo a igreja com o corpo de Cristo, os primeiros cristãos acentuaram que Cristo era o cabeça da igreja (Ef 5.23). Ele orientava as ações da igreja e merecia todo o louvor que ela recebia. Todo o poder da igreja para adorar e servir era dom de Cristo.

O Novo Israel: Os primitivos cristãos identificavam-se com Israel, povo escolhido de Deus. Acreditavam que a vinda e o ministério  de Jesus cumpriram a promessa de Deus aos patriarcas (Mt 2.6; Lc 1.68; At 5.31), e sustentavam que Deus havia estabelecido uma Nova Aliança com os seguidores de Jesus (2Co 3.6; Hb 7.22, 9.15).
Deus, sustentavam eles, havia estabelecido seu novo Israel na base da salvação pessoal, e não  em linhagem de família. Sua igreja era uma nação espiritual que transcendia a todas as heranças culturais e nacionais. Quem quer que depositasse fé na Nova Aliança de Deus, rendesse a vida a Cristo, tornava-se descendente espiritual de Abraão e, como tal, passava a fazer parte do "novo Israel" (Mt 8.11; Lc 13.28-30; Rm 4.9-25; Gl 3-4; Hb 11-12).

-Características Comuns: Algumas qualidades comuns emergem das muitas imagens da igreja que encontramos no NT. Todas elas mostram que a igreja existe porque Deus trouxe à existência. Cristo comissionou seus seguidores a levar avante a sua obra, e essa é a razão da existência da igreja.
As várias imagens que o NT apresenta da igreja acentuam que o Espírito Santo a dota de poder e determina a sua direção. Os membros da igreja participam de uma tarefa comum e de um destino comum sob a orientação do Espírito.
A igreja é uma entidade viva e ativa. Ela participa dos negócios deste mundo; demonstra o modo de vida que Deus tenciona para todas as pessoas, e proclamam a Palavra de Deus para a era presente. A unidade e a pureza espirituais da igreja estão em nítido contraste com a inimizade e a corrupção do mundo. É responsabilidade da igreja em todas as congregações particulares mediante as quais ela se torna visível, praticar a unidade, o amor e  cuidado de um modo que mostre que Cristo vive verdadeiramente naqueles que são membros do seu corpo, de sorte que a vida deles é a vida de Cristo neles. 

(Notas fonte a vida no novo testamento Ed.vida nova,2007)

  MUSICA NA IGREJA PRIMITIVA

                 A MÚSICA NAS IGREJAS DOS PRIMEIROS SÉCULOS. CITAÇÕES

(Nenhum relato mostra instrumentos sendo usado em nenhuma igreja, pelo menos as não heréticas, pelo menos até 300 DC!). (Melhor dizendo, até 1300, certamente; talvez mesmo até 1400, falta-nos repesquisar melhor).

Não chegamos ainda ao ponto de crer que de modo algum, em hipótese alguma, instrumentos alguns podem ser usados no culto a Deus nas nossas igrejas. (Cremos que as palavras "salmos" e "salmodiar", usadas em relação a igrejas, implicam no acompanhamento por harpa onde são dedilhados arpejos ou a melodia). Mas, para que ponderemos gravemente no assunto instrumentos e seus usos, e os saibamos melhor adequar à vontade de Deus, citaremos aqui o que grandes santos de Deus relatam sobre o assunto:

4.1. PAIS DA IGREJA:

Primeiramente, vejamos 7 entre as muitas citações de alguns dos chamados "Pais da Igreja", os maiores líderes das igrejas nos primeiros séculos, historiadores fielmente escrevendo testemunhos oculares.
- MÁRTIR: "O simplesmente cantar não agrada crianças (os judeus), mas o cantar acompanhados de instrumentos sem vida [artificiais], de danças e de bater de palmas, lhes agrada [muito]. Por isto, o uso deste tipo de instrumentos [artificiais] e de outras coisas agradáveis a crianças foi removido das músicas das igrejas, e ficamos com o puro e singelo cantar [acapela]". (Justino Mártir, no ano 139 depois de Cristo. Mártir nasceu em 100 DC, ao tempo que João escrevia o Apocalipse ).
- MÁRTIR: "O uso de música não foi recebido nas igrejas cristãs da maneira que ela era entre os judeus, no estado infantil deles, mas somente [foi aceito pelas igrejas] o uso do puro e desadornado cantar [com os puros lábios, acapela]." (Justino Mártir, 139 AD. Voltamos a ter crianças entre nós, Nadabes teimosamente amantes de modismos, outros de decibéis, outros de palmas, danças, ritmos).
- CLEMENTE: "Ademais, Rei Davi, o Harpista de quem falamos acima, nos incitou à verdade e para longe dos ídolos. Tão distante estava [Davi] de cantar os louvores de demônios, que estes foram postos em fuga por ele, com a verdadeira música; e quando Saul estava possesso, Davi o curou meramente por tocar a harpa [não é dito que Davi cantou]!. [Em contraste] O Senhor [como supremo artífice] formou no homem um [o mais] lindo instrumento, que respira [com vida], [criado] à Sua própria imagem. Seguramente Ele mesmo [o Cristo] é um instrumento de Deus, totalmente harmônico, melodioso e santo, a sabedoria acima deste mundo, a Palavra celestial" ... "Aquele que brotou de Davi e todavia era antes dele, o Verbo de Deus, zombou e desprezou a lira e a cítara, aqueles instrumentos sem vida. Pelo poder do Espírito Santo, Ele dispôs em harmoniosa ordem este grande mundo e, sim, o pequeno mundo do homem também, corpo e alma juntos; e nestes instrumentos de muitas vozes do universo, Ele [o Cristo] faz música para Deus, e canta com o acompanhamento do instrumento humano, 'Porque vós sois minha harpa e meu órgão de flautas e meu templo.' [isto é uma aplicação de 2Co 6.16?]. Clemente de Alexandria, 185 DC, "Readings" p. 62).
- CLEMENTE: "Deixai o órgão de flautas [ou gaita] para o pastor [de cabras], a flauta para os homens que temem os deuses-demônios e se enfeitiçam [usando-a] na adoração dos seus ídolos. Tais instrumentos musicais têm que ser expulsos de nossas festas sem a suas asas, pois são mais adequados para os animais brutos e para aquela classe de homens que é menos capaz de raciocinar [espiritualmente]. O Espírito, para purificar a liturgia divina de qualquer tal celebração sem controles, canta [no Salmo 150]:
[a] 'Louvai-O com o som da trombeta' --> porque, de fato, ao som da trombeta os mortos ressuscitarão;
[b] 'Louvai-O com a harpa' --> porque, de fato, a língua é a harpa do Senhor;
[c] 'e com o alaúde-saltério. Louvai-O' --> entendendo a boca como um alaúde-saltério movido pelo Espírito, tal como o alaúde-saltério é movido pelo plectro [a palheta, de marfim ou de ouro];
[d] 'louvai-O com o tamborim e coral [que responde em eco]' --> isto é, a Igreja esperando pela ressurreição do corpo na carne [a pele], [Igreja] que é o coral, [o corpo e] eco [de Cristo];
[e] 'louvai-O com instrumentos de cordas e com órgão,' --> chamando nossos corpos um órgão e seus tendões cordas, porque deles o corpo deriva seu movimento coordenado e, quando tocado pelo Espírito, produz [os maravilhosos, inigualáveis, inimitáveis e insuplantáveis] tons humanos;
[f] 'louvai-O com címbalos sonoros; louvai-O com címbalos altissonantes' --> [címbalos sonoros] significam a língua da boca a qual, com os movimentos dos lábios [címbalos altisonantes], canta as palavras.
[g] Então Ele convoca a toda a humanidade 'Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor', porque Ele reina sobre todo espírito que Ele tem feito. Na realidade, o homem é um instrumento de arco [uma inigualável harpa] para a paz, mas estes outros instrumentos, se alguém se focaliza demasiado neles, tornam-se instrumentos de conflito, para inflamar as paixões. Os Etruscos, por exemplo, usam a trombeta para guerra; os Arcadianos, a corneta; os Siquels, a flauta; os Cretenses, a lira; os Lacedonianos, o tubo de órgão [ou gaita]; os Trácios, o clarim; os Egípcios, o tambor; e os Árabes, o címbalo. Mas, quanto a nós, fazemos uso de somente um instrumento: somente a Palavra [cantada] de paz pela qual adoramos Deus, não mais com as anteriores harpa ou trombeta ou tambor ou flauta, as quais aqueles [pagãos] treinados para a guerra usam." (Clemente de Alexandria, 190AD, "The instructor, Fathers of the church", p. 130).
- EUSÉBIO: (admirável historiador, chamado "O Pai da História da Igreja"): "Antigamente, no tempo em que aqueles da circuncisão estavam adorando com símbolos e tipos, não era inapropriado elevar hinos a Deus [acompanhados] com o saltério e a cítara, e fazê-lo nos dias de sábado... [Hoje, porém] nós [os cristãos] oferecemos nossos hinos com um saltério vivo e uma cítara viva, e com cânticos espirituais. As vozes dos cristãos, em uníssono, são mais aceitáveis a Deus do que qualquer instrumento musical. É de acordo com isto que, em TODAS as igrejas de Deus, unidas em alma e atitude, com um só pensar e em concordância de fé e piedade, nós enviamos ao céu uma melodia em uníssono, com as PALAVRAS dos Salmos [sem instrumentos]." (Eusébio, 260-340 DC).
- AGOSTINHO: "... instrumentos musicais não eram usados. A gaita, o tamborim, e a harpa são aqui [neste mundo] tão intimamente associados com os sensuais cultos pagãos, como também com as orgias desenfreadas e com as performances imorais dos circos e teatros, que é fácil entender os [justificados] preconceitos contra o uso deles [os instrumentos] na adoração." (Agostinho 354 D.C., descrevendo o cantar [na igreja] de Alexandria, sob Atanásio). POR QUE SERÁ QUE, HOJE, ALGUNS DOS NOSSOS IRMÃOS MAIS AMADOS DE MODO ALGUM ADMITEM IMITAR O APÓSTOLO PAULO EM 1CO 8:13: "PELO QUE, SE O MANJAR ESCANDALIZAR A MEU IRMÃO, NUNCA MAIS COMEREI CARNE, PARA QUE MEU IRMÃO NÃO SE ESCANDALIZE" ? POR QUE? QUEM PODE JUSTIFICAR?
- CRISÓSTOMO: "Davi antigamente cantava canções, hoje nós também cantamos hinos. Ele tinha uma lira com cordas sem vida, a igreja tem uma lira com cordas vivas. Nossas línguas são as cordas da lira, tendo um som realmente diferente mas muito mais de acordo com a devoção. Aqui não há necessidade de cítara, ou de cordas esticadas, ou de plectro [palhetinha de ouro ou marfim, para tanger cordas], ou de arte, ou de nenhum instrumento; mas, se você quiser, você mesmo pode se tornar uma cítara, mortificando os membros da carne e fazendo uma completa harmonia entre a mente e o corpo. Porque, quando a carne não mais cobiça contra o Espírito, mas tem se submetido às suas ordens e tem sido profundamente levada no caminho melhor e mais admirável, então você criará uma melodia espiritual." (Crisóstomo, "Exposition of Psalms 41", escrito em 381-398 DC, Source Readings in Music History, ed. O. Strunk, W. W. Norton and Co.: New York, 1950, pg. 70. Crisóstomo viveu em 347-407 DC).

4.2. GRANDES ERUDITOS:

Vejamos, agora, em ordem cronológica, uma amostra de 9 citações entre as muitas dúzias, talvez centenas, que temos disponíveis, dos mais respeitados eruditos e historiadores cristãos, sobre a música no culto a Deus.
- AQUINAS: "Nossa igreja [isto é, o cristianismo, da origem até este nosso século XIII] de modo algum usa instrumentos musicais (tais como harpas e saltérios) para louvar a Deus, para que não pareça [ou ocorra] que ela judaízou-se." (Thomas Aquinas, [1225-1274 DC], Bingham's Antiquities, Vol. 3, pág. 137).
- ERASMO: "Temos [recentemente] trazido para dentro das nossas igrejas certa música teatral e de ópera; um tal confuso e desordenado conflito de algumas palavras [palavras lutando contra sons de instrumentos e contra palavras diferentes] como eu dificilmente penso que existiu mesmo em qualquer dos teatros [dos pagãos] Gregos ou Romanos. As igrejas [catedrais católicas] estrondam com o barulho das trombetas, dos órgãos [gaitas de fole] [NOTA 4] e dulcímeros; e as vozes humanas [da congregação] lutam para se fazer ouvir por debaixo deles. Os homens correm para as igrejas como se fossem para os teatros, para terem seus ouvidos excitados. E, com esta finalidade, fabricantes de órgãos são contratados com grandes salários, e muitos rapazes desperdiçam todo o seu tempo aprendendo estes tons zoantes." (Erasmo, 1466-1536 DC, Commentary on 1Co 14:19).
- LUTERO: "O órgão (!) na adoração é a insígnia [o emblema simbólico] de Baal. ... Os Católicos Romanos o tomaram emprestado dos judeus." (Martinho Lutero, Mcclintock & Strong's Encyclopedia Volume VI, pajé 762).
- CALVINO: "Instrumentos musicais celebrando os louvores a Deus seriam não mais adequados do que o queimar de incenso, o acender de candeeiros, e a restauração de outras sombras da Lei. Os Papistas, portanto, têm imbecilmente tomado isto emprestado, como também muitas outras coisas, dos judeus. Homens que são afeiçoados à pompa externa podem se deleitar naquela barulheira; mas a simplicidade que Deus nos recomenda pelos apóstolos é muito mais agradável a Ele. Paulo nos permite abençoar Deus na reunião pública dos santos, somente em uma língua conhecida (1Co 14:16). Que iremos então dizer do canto de coros que enche os ouvidos com nada mais que um som vazio [vazio porque é atrapalhado pela zoeira dos instrumentos]?" (João Calvino, Commentary on Psalms 33)
- WESLEY: "Não tenho nenhuma objeção ao uso de instrumentos de música em nossa adoração, uma vez que eles não sejam vistos nem ouvidos." (João Wesley, fundador do Metodismo, citado em Adam Clarke's Commentary, Vol. 4, p. 685)
- FULLER: "A história da igreja durante os três primeiros séculos fornece muitos exemplos de cristãos primitivos se enlevando em cantar, mas (que eu possa me lembrar) nenhuma menção é feita de instrumentos. (Se minha memória não me engana), este [uso de instrumentos] originou-se na Idade das Trevas, [o apogeu] do Papado, quando quase que toda outra superstição foi introduzida. Hoje, [instrumentos] são mais usados onde o menor dos respeitos é dado à simplicidade primitiva." (André Fuller, batista, "Complete works of Andre Fuller", Vol 3, P. 520, 1843).
- SPURGEON: "Louvai ao Senhor com a harpa. Israel estava na escola [primária] e usava coisas infantis para ajudá-la a aprender; mas nestes dias quando Jesus nos dá [sólido e maduro] alimento espiritual, pode-se fazer melodia sem instrumentos [mesmo os] de corda e de sopro. Não temos necessidade deles. Eles impediriam ao invés de ajudar nosso louvor. Cantai a Ele. Esta é a mais doce e melhor música. Nenhum instrumento é como a voz humana." (Comentário sobre Salmo 42:4). "Davi parece ter tido uma recordação particularmente terna do cantar [simples] dos peregrinos, e seguramente esta é a mais deliciosa parte da adoração e que chega mais próximo da adoração no céu. Que degradação suplantar o cantar inteligível de toda a congregação pela beleza teatral de um quarteto [não estamos certos se Spurgeon se refere a cantores ou rabecas], foles, e gaita de fole! Tanto podemos [inutilmente] orar mecanicamente como [inutilmente] louvar por maquinários [instrumentos e equipamentos]." (Charles H. Spurgeon, Commentary on Psalm 42. Spurgeon pregou para 20.000 pessoas cada domingo, por 20 anos, no Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, antes do uso da eletricidade e microfones, e jamais foram instrumentos de música mecânicos usados nos cultos. Quando lhe perguntaram a razão, citou 1Co 14:15 ["Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento"] e então declarou: "Eu tão cedo oraria a Deus com maquinário quanto cantaria a Deus com maquinário."] 
- FINNEY: "Os cristãos iniciais recusaram a ter nada a ver com instrumentos musicais, os quais [sabiam que] eles poderiam ter herdado do antigo mundo [pagão]." (Teodoro Finney, A History of Music, 1947, p. 43)
- LANG: "Todas as nossas fontes [livros] lidam amplamente com a música vocal na igreja, mas se resguardam de mencionar quaisquer outras manifestações da arte musical [na igreja]. ... O desenvolvimento da música Ocidental foi decisivamente influenciado pela exclusão de instrumentos musicais da igreja cristã inicial." - Paul Henry Lang, Music In Western Civilization, pp. 53,54.
- LEICHTENTRITT: "No entanto, na Igreja Cristã inicial, só o cantar era permitido, não o tocar de instrumentos." - Hugo, Music, History And Ideas, p. 34
- NAUMAN: "Não pode haver nenhuma dúvida de que, originalmente, em todos os locais, a música do culto a Deus foi inteiramente de natureza vocal." - Emil Nauman, The History Of Music, Vol. 1, p. 177
- RITTER: "Não temos conhecimento real do caráter exato da música que formava uma parte da devoção religiosa das primeiras congregações cristãs. No entanto, [sabemos que] ela foi puramente vocal." - Dr. Frederick Louis Ritter, History Of Music From The Christian Era To The Present Time, p. 28
- COLEMAN: "Tanto os judeus nos seus cultos no templo, como os gregos em sua adoração aos ídolos, tinham o costume de cantar com o acompanhamento de instrumentos musicais. Os convertidos ao cristianismo têm que ter sido familiares com este modo de cantar ... Mas é geralmente admitido que os primeiros cristãos não empregavam nenhum instrumento musical nos seus cultos." -- Lyman Coleman (Presbiteriano), The Apostolic And Primitive Church, pp. 368-369.
[Talvez lhe pareça estranho que a música fosse inteiramente vocal na igreja inicial, quando instrumentos musicais eram tão comuns na adoração dos judeus e dos gentios. Mas não quando você relembrar que a adoração no Novo Testamento devia ser espiritual em sua ênfase.]
- ROMA: "... os primeiros crentes eram de uma fibra demasiadamente espiritual para substituírem a voz humana por instrumentos sem vida, ou [mesmo] para usar [aqueles instrumentos] como acompanhantes [da voz humana]." -- Catholic Encyclopedia
- CAVARNOS: "Na igreja bizantina, a execução de música por instrumentos, ou mesmo o acompanhamento de cânticos sacros por instrumentos, era proibida pelos Pais [os líderes religiosos] do Oriente [as regiões ao redor e incluíndo a Grécia], como sendo incompatíveis com o caráter espiritual, solene e puro da religião de Cristo." -- Constantine Cavarnos [Grego Ortodoxo], Bysantine Sacred Music
- CLARKE: "A música, como uma ciência, eu estimo e admiro: mas os instrumentos de música na casa de Deus, eu abomino e aborreço. Eles são o abusar da música [o transgredir da música de louvor a Deus]; e eu aqui registro meu protesto contra todas tais corruções na adoração do Autor do Cristianismo." - ADAM CLARKE (comentarista Metodista).

[Por que estes homens objetam tão fortemente contra instrumentos musicais na adoração da igreja? Porque têm compreendido, apropriadamente, que: 
1. [Tais instrumentos] eram uma extrapolação [indevida, pelos judaizantes] da adoração judaica;
2. Como tal, [os usos de tais instrumentos, nos cultos] estavam em desarmonia com a natureza ESPIRITUAL da adoração do NT; e
3. [Os usos de tais instrumentos, nos cultos] se encaixavam bem na Lei Antiga com suas "sombras", não com a VERDADEIRA adoração do NT.
 FONTE SOLASCRPTURA-TT.ORG


             A IGREJA PRIMITIVA NO IMPERIO ROMANO


Os cristãos ensinam e sabem que sem a memória não há esperança e sem esperança a memória se vai.  Graças as memórias hoje celebramos nossos cultos, Pentecostes, Natal, Páscoa, Descida do Espírito Santo e muitas outras datas, situadas em nosso calendário cristão. A memória é algo precioso e por muita vezes ficamos só na história oficial, histórias com registros escritos, fotografados, pintados e perdemos parte do brilho escondido na memória. Dreher cita exemplos de congregações luteranas onde na verificação dos livros impressos, identificamos apenas pastores e presidentes de comunidades e em contra partida se observamos a memória de um idoso, entraremos em um mundo onde há mulheres, crianças, pessoas simples, gente esmagada debaixo de árvores, picadas de cobras e muita outras características do tempo.
É esta a história que Dreher nos convida a estudar. Não apenas episódios mas, causas e motivos. Saber das raízes, raízes estas que nos ajudaram a formar nossa memória espiritual e intelectual.
O império romano na época do nascimento de Cristo apresenta uma unidade visível na figura do Imperador. O império se apresentava dividido em províncias, onde tínhamos as províncias imperiais, senatoriais e especiais cada uma delas dirigidas por pessoas com títulos apropriados. Assim como observamos as decisões tomadas em concílios em nossa atualidade, as províncias tinham suas decisões em assembléias denominadas concilium. A menor unidade administrativa era a cidade. O império romano conseguiu estabelecer uma uniformização da cultura em seu sistema administrativo e assim uma grande comunicação entre as partes do império. Paz e tranqüilidade foram propiciadas ao império pelo imperador Augusto. A forte miscigenação étnica propiciada pelas facilidades de locomoção propiciaram grande mistura das tradições. O helenismo (idéias e culturas da Grécia antiga) influenciava o mundo romano. O heleninsmo atingiu muitas regiões, mas, jamais conseguiu atingir totalmente a Judéia, Samaria e o Egito.
A situação religiosa no Império Romano durante o nascimento de Jesus, se apresenta de formas diferenciadas. O império era tolerante em relação aos cultos e, somente algumas regiões tiveram seus cultos proibidos. Celebrações que tinham sacrifícios humanos e permitiam orgias eram proibidas pelo império. Dreher não trata pormenorizadamente todos as religiões, mas, destaca algumas, como podemos identificar as invasões de cultos egípcios e orientais da Grécia levou as crenças nas estrelas e os ministérios da astrologia e assim se desenvolveu os sistemas de magias. Entre os muitos cultos que eram estabelecidos, uns atraindo mais homens e outros, mais as mulheres, destacamos o culto a Mithras que veio a ser o grande concorrente da fé cristã. Na época do nascimento de Cristo a história mostra a propagação do culto ao imperador. Apesar de toda a pluralidade de cultos o sincretismo (sistema que combinava os princípios de diversos sistemas) preparou o caminho para uma crença monoteísta. Nos primórdios do cristianismo nos deparamos com um tempo onde religião deixava se ser uma convicção para se tornar uma obrigação, onde não havia mais lugar para a fé, os deuses estavam intimamente ligados a política e nem a construção de novos templos por Augusto conseguiu reavivar os cultos. O caminho estava preparado para uma forma de religião que viesse a substituir as antigas.
Ao estudarmos  a Palestina e o judaísmo palestino identificamos a Síria como sendo uma das províncias mais exploradas. Lá encontramos a Judéia e os judeus do antigo povo de Israel. Judéia e Jerusalém tinham sido conquistadas  e boa parte da população foi deportada para a babilônia, onde identificamos esta dispersão judaica de diáspora. A Judéia, sendo dirigida por uma má política tornou-se dependente dos romanos. Herodes, um político competente e inescrupuloso subiu ao poder e caiu na graça dos romanos. Jerusalém já não era mais a Sião de Javé, estava dividida em partidos. Surgiu ali os grupos dos sadoquidas, os saduceus, os zelotes , os fariseus que tinham grande influência na população, os essênios extremamente piedosos e que se tornaram conhecidos após a Segunda Guerra Mundial co a descoberta do convento de Qumran.
A diáspora levou os judeus a todas as partes do Império Romano e um escritor chamado Strabo relatou nos dias do imperador Augusto dificilmente haveria algum lugar no mundo onde os judeus não houvessem chegado. O Egito e a Síria tinham 1 milhão de judeus cada um, na palestina 500 mil, no Império Romano cerca de 1,5 milhão. Um fato para o grande crescimento e expansão é um mistério e povo judeu interpreta através da promessa feita ao patriarca Abraão. O povo judeu mantinha sua unidade e esta é vista durante a páscoa onde o povo se reunia em Jerusalém que tornara-se um centro político-religioso. Esta união tornou-se um movimento missionário. A pregação judaica era uma crença monoteísta e em Alexandria, no Egito o antigo testamento foi traduzido para o grego. Em torno das sinagogas criaram-se os círculos tementes a Deus. No nascimento de Jesus o Império Romano se apresentava contra o semitismo (Modos e idéias judaicas). O fato de o os judeus não terem a imagem de um Deus os levou a ridicularizarão.
Nestes quatro primeiros capítulos Dreher nos apresenta fatos históricos que nos proporcionam um melhor entendimento das questões sociais, econômicas e religiosas no tempo de Jesus. Dreher inicia esta caminhada pelos tempos de Jesus nas palavra de Paulo: Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu filho... e relata os escritos sobre Jesus, os chamados evangelhos e seus escritores. Nos mostra que não podemos ter a visão mais clara de um Jesus histórico, mas temos as palavras e os atos de um Jesus terreno. Jesus foi a mensagem do reino de Deus. A fé em Jesus fez brotar uma esperança, um novo céu e uma nova terra. A mensagem de Jesus era tida como válida para todos os seres humanos, rico e pobre, forte e fraco, homem e mulher.
Dreher ressalta o relato de Gálatas 4:4 , onde o apostolo Paulo discursa sobre a “Plenitude do Tempo” um relato fruto da fé e que assim sendo torna-se complexo a explicação de como Paulo chegou a esta afirmação. Ressalta ainda a dificuldade de ter uma imagem clara e precisa de um Jesus histórico. Podemos entender com esta afirmativa de Dreher que, sabendo que temos relatos apenas de pessoas que partilhavam das idéias de Jesus, não temos como ver o que outros tenderiam a dizer. Assim caminhamos por fé em Jesus. Um presente que recebemos ao brotar uma esperança em nosso coração. A fé de vermos um novo céu e uma nova terra, onde não haverá mais choro, nem dor, e viveremos todos juntos. Jesus tinha suas mensagens voltadas basicamente para os humildes e oprimidos. Uma palavra que trazia esperança e sempre era tida como verdadeira e válidas para todos os seres humanos.
Falamos muito sobre os patriarcas da fé e por que não lembrar da matriarca do cristianismo. Certamente ao falarmos do cristianismo lembramos de Jerusalém, afinal foi lá que a maior parte das coisas aconteceu.  Foi nesta cidade que a fé se desenvolveu de uma forma cristã diferente da que conhecemos hoje. Foi lá que Jesus apareceu e foi lá que Jesus ordenou que os discípulos ficassem até que fossem revestidos de poder pelo Espírito Santo. Foi lá que aconteceu o pentecostes. Em Jerusalém podemos observar algumas características como: Era um lugar onde havia muito movimento; Foi onde houveram as aparições pascais; Foi lá onde começamos a identificar a palavra envio. Temos o caso de Estevão, Felipe e mulheres incumbidas neste comissionamento. 
Dreher, fala sobre os ensinamentos dados pelos comissionados como a ressurreição, o cumprimento das escrituras, os testemunhos pessoais e o arrependimento.  O objetivo de cada pregação era o batismo. Com o batismo pretendia-se ver o perdão e o arrependimento. Estes grupos para os judeus eram mais um semelhante aos fariseus. O judaísmo tolerava muitos grupos  e heresias dede que aceitassem o Tora. A comunidade se declarava o Israel dos finais dos tempos e aceitavam a cruz, iam ao templo, eram unânimes, partiam o pão de casa-em-casa e estas refeições tinham caráter de culto. Oravam o Pai Nosso, jejuavam e tinham seus bens em comum. Tinham como líder Tiago, irmão de Jesus. Tinham o domingo como o dia do Senhor onde as pessoas se reuniam em suas casas para celebrar a ceia.
A mensagem se expandiu e de Jerusalém a Roma era conhecida a fama de Jesus. Paulo foi o homem que levou a mensagem ao mundo helenista-romano. Paulo era judeu e natural de Tarso, era rico e chegou a querer ser rabino. Tinha como profissão o fazer tendas. Era um homem determinado a seguir a lei. Paulo foi encarregado se não deixar que a nova seita crescesse e um dia em indo à Damasco teve seu encontro com Cristo. Após sua conversão Paulo teve um crescente interesse missionário, o qual levou muito a sério.
A comunidade de Jerusalém não permitia dois tipos de comunidades cristã e Paulo apresentava uma nova compreensão escatológica. Em Antioquia, lembra Dreher que havia um número grande de convertidos e então Barnabé é enviado até lá para acalmar os ânimos. Barnabé levou Paulo consigo. Lá o pessoal de Antioquia exigia a eliminação de muitas prescrições  para os que não eram judeus. Assim ocorreu em Jerusalém uma grande reunião para dar definições aos ocorridos o que conhecemos como: Concílio dos Apóstolos. Ao final tiveram algumas definições como a liberação dos cristãos da circuncisão e o dever  de evitar o sexo antes do casamento e o consumo de carne sacrificada. Os conflitos com Pedro nunca cessaram e Barnabé o abandonou. Paulo buscou muitas informações no antigo testamento que apontavam para Jesus. Paulo anunciou também aos gregos a salvação.
Em relação às comunidades gentílicas-cristãs, logo após Paulo, temos algumas fontes que nos ajudam a entender estas comunidades como: os escritos neotestamentários, os pais apostólicos, os evangelhos e os atos dos apóstolos. Como pais apostólicos temos Clemente, Inácio de Antioquia, Policarpo, Barnabé, Papias, o pastor de Hermas e ainda a Didaquê.
Quando nos voltamos para a situação das comunidades e surgimento do episcopado monárquico, Dreher nos mostra que por volta de 130-140 o entusiasmo do cristianismo estava desaparecendo. Estávamos a caminho da institucionalização. Nesta época já surgiam formas mais rígidas de organização e nos deparamos com o episcopado monárquico que ficou conhecido como bispo. O clero era composto por um bispo, um presbítero e um diácono. Todos deveriam obedecer e submeter-se aos ministros. Daí temos uma Igreja Clerical.
O culto já não tinha todo aquele entusiasmo. Havia uma ordem a ser seguida e costumes fixos. Haviam comemorações semanais e cultos ao nascer do sol e cultos pela noite. Cada um com um costume onde podemos identificar o uso de cânticos, orações formuladas (Pai Nosso) e leitura das escrituras. Os cultos eram no dia do Senhor e em outros durante a semana. O domingo surgiu na França em oposição ao sábado. Nas quartas e nas sextas-feiras haviam jejuns e vigílias. No domingo não havia jejum e nem joelho no chão. As orações eram feitas em pé conforme o Didaquê. O batismo era realizado de várias formas não sendo necessário a imersão, bastava a aspersão. Nos batismos feitos as pressas direcionavam as pessoas as classes de catecúmenos para que aprendessem da didaquê e fossem catequizados. A fé começava com a confirmação batismal era seguida com o aprendizado das fontes posteriores dos apóstolos onde muitas destas tornaram-se bíblia. A ética era seguida com jejuns e abstinências de carnes, vinho e sexo e uma obra assistencial aos necessitados era muito visível. Nas comunidades, Dreher nos mostra as mudanças surgidas mediante a fé e o tratamento dado a pessoas que desejavam participar das comunidades mas tinham profissões que não condiziam. Também não era permitido um cristão seguir a carreira militar por ter que clamar por outros deuses. Não havia muita preocupação com a escravidão, pois se esperava uma breve volta do messias. Como o passar do tempo muitos militares tornaram-se cristãos e não deixaram a profissão. Dreher relata ainda sobre uma cristã que tornou-se concubina do imperador  e intercedia pelos cristão em perigo.
No 9º (nono) capítulo Dreher trata das Heresias e calolicidades nos apresentando que os sinas, visões e milagres eram algo normal e que doutrinas de salvação (gnoses) apareciam. A gnose era como um bálsamo para a alma e influenciava muito na igreja a ponto de pontos poderem distinguir. A igreja precisou travar uma grande batalha contra as gnoses. Dreher nos apresenta ainda uma série de relatos como os de Saturnino que descreveu que Jesus não nasceu e sim apareceu, Basilides que diz que Cirineu após ter carregado a cruz foi crucificado no lugar de Cristo e Cerinto que afirmou que o mundo foi criado por Virtude, um ser afastado de Deus e que Jesus é fliho de José e Maria e que Cristo teria encarnado nele de depois o deixado sozinho para morrer.
No item 9.2 encontramos Marcião, homem filho de bispo e que foi expulso da comunidade que se junta a Valentino que também tinha sido expulso e começa a proclamar que Javé era um deus imperfeito e que tudo que ele tinha criado era besteira. Afirma que o Deus verdadeiro era Jesus e que este era totalmente diferente do anterior. Marcião busca eliminar tudo o que é judeu da Igreja e isto conduz o povo a confessar que o Deus do Antigo Testamento é o mesmo Deus do Novo Testamento.  A Igreja consegue ajustar os dogmas e afirma que Jesus Cristo é o filho de Deus e normatiza que tudo o que for surgir e ser escrito tem que partir deste princípio. Temos então a primeira grande confissão de fé.
Dreher fala sobre o Montanismo, um outro movimento que teve seu iníco quando Montanus foi batizado e após o batismo começou a falar em línguas e também duas mulheres. Eles seguiram pregando heresias a afirmando que a vida de Cristo estava próxima. Tertuliano, que tinha grande influência na Igreja, tendo defendido a igreja na luta contra os marcisistas e gnósticos apoiava o movimento e assim a igrej o abandonou.
Por fim temos Cipriano, um dos mais influenciado por Tertuliano. Este pai da Igreja fugiu do martírio e depois defendeu-se dizendo que onde se escondeu pode motivar a comunidade a ser perseverante. Mas tarde foi preso e morte. Ele afirmava que o episcopado monárquico tinha sido definido por Jesus ao declar: “Tu és Pedro sobre esta pedra edificarei a minha igreja” e também “assim como o pai me enviou eu vos envio”.
No capítulo 10, Dreher fala sobre a formação do cânone neotestamentário e a mulher na igreja antiga. O que logo se destaca é que a mulher não podia ter acesso as escrituras e muito menos assumir alguma responsabilidade a não ser a do lar segundo a interpretação do cristianismo primitivo. Quando lemos as epístolas nos deparamos com Febe, Júnia e vemos diaconisas, mulheres na liderança e ajudantes de Paulo.  O machismo era evidente no novo testamento, as passagens onde constavam mulheres fora m alteradas e raramente quando deixadas foram inseridas outras palavras para desqualificar as mulheres. Lucas era muito machista e não permitia de forma algum relato de mulheres. Havia grande ciúme em relação a Maria Madalena.  Após Constantino a mulher foi eliminada de vez dos ciclos importante da igreja. Ortodoxia e Heresia era o binômio que caminhava junto a igreja. Muitos foram os debates a cerca das mulheres e a mesmas passagens bíblicas eram usadas tanto para  minimizar como para maximizar a presença da mulher na Igreja.  A verdade era que a mulher tinha uma influência muito grande mas o machismo não podia aceitar, pois diziam: “o pecado começou na mulher”.
O Patriarcado Eclesiástico tem como ponto de partida: a mulher é herege. Criada para funções auxiliares e quem fosse contra a tradição da igreja era um herege. O resultado foi a marginalização inevitável da mulher na igreja. Por fim, fica explicito que Jesus nunca deixou as mulheres a margem e os evangelistas tiveram que entender isto. Elas ficaram juntas a cruz, foram as primeiras testemunhas do sepulcro vazio e da ressurreição. Jesus é renovador e elimina todas as diferenças. Paul também afirma isto em sua cartas aos Gálatas 3:28 – “Somos um em Cristo Jesus”.
Fé Cristã e Filosofia é tema abordado por Dreher no 11º capítulo. Dreher fala de quando o jovem cristianismo se depara com o estocismo profundamente religioso. Aponta Justino como filósofo que se converteu aos 25 anos e que buscou mostrar que toda a filosofia estava inspirada do Logos divino. Epileto que foi escravo também seguiu nesta linha e o estocismo foi se transformando em estocismo cristão. Clemente de Alexandria, considerado o primeiro teólogo defendia a mesma tese de Justino. A pessoa mais influenciada pelo pensamento de Clemente foi Orígenes, este foi o sucessor de clemente e transformou a escola de catequese em escola de teologia. Tornou-se o mais famoso dos sábios, explicava e palestrava em vários lugares sobre a essência da fé cristã. Manteve-se simples. Foi preso, torturado e alguns anos mais tarde morto devidos as seqüelas das torturas. Nunca negou a fé e depois de Clemente e Origines a igreja não pode mais deixar de lado a filosofia.
     Imperador e os Cristãos – A fé cristã não foi adversa à autoridade, inclusive oravam pelas autoridades conforme 1 Tm 2.2 e as autoridades permaneciam por muito tempo indiferentes quanto ao cristianismo até surgir Nero. Após o falecimento de Augusto sem deixar herdeiro e também Tibério sem deixar herdeiro, subiu ao trono Cláudio um maníaco sexual que morreu envenenado e então subiu ao trono um jovem de 17 anos: Nero que mandou eliminar a mãe convenceu sua esposa a suicidar e matou a segunda esposa. Após a cidade de Roma ter sido incendiada e a culpa ter caído sobre Nero ele não exitou em colocar a culpa sobre os cristãos. Muitos foram mortos, queimados, crucificados, mas esta não foi considerada uma perseguição por motivos religiosos. Dreher começa a nos apresentar Tolerância e Perseguição no governo de Domiciano que começava a se proclamar “Senhor e Deus” exigindo grandes saudações e sacrifícios. Trajano, um governador que queria Paz e Ordem foi mais tolerante e dizia que os cristãos não deveriam responder por acusações anônimas. Muitas eram as acusações e mesmo sabendo da inocência, para não parecer favorável aos cristãos muitos morreram no governo de Trajano. Aqueles que morreram confessando a fé foram considerados como Mártires pela igreja. A Crise do Império e da Igreja começou com a morte de Marco Aurélio. Depois de uma grande expansão da fé cristã a igreja começou a ser perseguida e assim muitos sacrifícios, subornos começaram surgir. O clero foi atacado e os bens da igreja confiscados. Diocleciano tolerou o cristianismo a princípio, mas depois iniciou uma eliminação radical do cristianismo destruindo salas, trazendo desemprego, obrigando a entregar os livros e encerrando em cadeias os clérigos. Quando já não havia mais lugares nas cadeias as mortes iniciaram. Entretanto Diocleciano e todos os demais entenderam que o movimento não podia ser destruído e cinco dias antes de sua morte seguindo o testamento de Galério, Diocleciano assinou o edito que revogava todas as más atitudes em relação aos cristãos.
     No capítulo 13 Dreher fala sobre a Igreja Imperial, sobre a ascensão de Constantino e sua meta em ser o único governante do império. O sonho e um império, um imperador e uma igreja estavam prestes a ser uma realidade. Constantino, após a guerra com Maxêncio torna-se o imperador do Ocidente. O imperador Constantino junto com seu cunhado o Imperador Licínio, fazem do culto divino suas principais preocupações. A igreja livre iniciava uma nova era. A igreja pensava ter um imperador cristão. Constantino concordava que um Estado sem religião era algo inconcebível. Um monograma de Cristo foi estampado nos escudos dos soldados e, a igreja a cada dia acreditava mais na conversão de Constantino. Era o segundo Moisés o escolhido de Deus e mesmo com todas as mortes realizas pelas mãos de Constantino a igreja não podia enxergar os fatos apenas um grande imperador.
Quem é Jesus? Os cristãos tinham as definições dadas por Pedro e por Paulo como suficientes, mas para o imperador não era. Assim eles foram obrigados a formular que era o Cristo e tiveram que fazer teologia. Ário era conhecido do mundo teológico e tornou-se presbítero em Alexandria, cidade onde as decisões político-eclesiásticas eram tomadas. O jovem diácono Anastácio lanço-se contra Ário e a discussão, pois o Egito em chamas. Assim o imperador convocou todos os bispos para uma reunião em sua residência de verão (Nicéia) e as viagens foram costeadas pelo império. Em 20 de maio de 325 realizou-se a abertura do Sínodo, Concílio de Nicéia.
Os resultados da revolução de Constantino causou na história, trouxe muitas conseqüências negativas para a igreja, pois a igreja estava atrelada ao estado. A igreja passou a ter regalias no império. O domingo foi consagrado e a dada de nascimento de Jesus (06/01) foi alterada. Com a morte de Constantino e seus sucessores a igreja foi crescendo e deixando sua autonomia. Agora a igreja era imperial e um credo religioso estava estabelecido.
No capítulo XIV Dreher começa a falar sobre o surgimento do papado. Fala sobre as diversas lendas em que a igreja estava envolvida, do episcopado de Pedro e dos prodígios e brigas dentro da igreja. Aponta Granciano como o Imperador que deu ao bispo da igreja o título de autoridade eclesiástica máxima no Ocidente. Temos o surgimento do governador Ambrósio que foi consagrado a bispo e foi um dos criadores do hino latino-cristão. Não há muitos documentos de como viviam as igrejas nesta época. Falar de religião era coisa só para a alta sociedade visto ter a fé se tornado imperial, estatal. Isto a cada dia fazia a igreja se parecer mais com o mundo. Era uma igreja morna, ser crente era só ter uma alegoria. Foi aí que algumas peças de roupas, a cruz que Jesus foi crucificado, espinhos começaram a fazer parte da igreja. O número de relíquias começava a aumentar e olhar para estas relíquias era aumentar a fé. Assim a crença de que estes objetos podiam fazer milagres começou aparecer. Todo o poder dos santos agora estava nas imagens e Maria já não era simplesmente a mãe de Jesus era a imaculada, a virgem aquela que era a mãe de Deus e quem podíamos clamar. Encontramos ainda neste capítulo Agostinho, pessoa inteligente que se alegrava com a ciência. Certa vez foi levado a ler a bíblia por Ambrósio e as palavras o marcaram profundamente levando a uma conversão sincera.  Transformou sua casa paterna em convento e ali batiza muitas crianças. Deparou-se com Pelágio durante a história e isto gerou conflitos sobre o pecado e a graça. Agostinho ainda escreveu muitos escritos que tiveram grande significado para a igreja latina.
Qual o rico que se salva? Esta foi uma das temáticas que, na preocupou a fé na Igreja antiga. As palavras de Jesus ao jovem rico influenciaram fortemente os pais da igreja que, de modo errado pregava que os ricos não poderiam se salvar. Herma teve diversas visões e na terceira o que lhe foi mostrado, uma torre que se levantava sobre as águas, o fez ter alguns entendimentos sobre a riqueza e a pobreza. Tiago também falava contra os ricos e pregava que eles podiam ser salvos na condição de deixarem suas riquezas totalmente de lado. Tertuliano dizia que Deus justificava os pobres e condenava os ricos. Clemente em seu escrito: Qual o rico que pode ser salvo?  Tentava despertar nova esperança no coração dos ricos, a esperança de salvação e repartição dos bens, e a cada discurso Clemente se distanciava mais dos ensinamentos de Jesus. Jesus oferecia um convite a auxiliar os pobres e como poderia alguém auxiliar alguém não tendo nada?  Muitos pais da igreja no século IV se pronunciaram quantos as propriedades privadas e o acúmulo dos ricos, pois aquilo que era de todos virou algo privado e negociável. Basílio seguia a linha de que a igreja podia exigir dos ricos a ajuda nos trabalhos sociais e deixou de pedir esmolas. Suas exigências eram consideradas utópicas. Gregório de Nazianzo dizia aos ricos para serem como no início (tenham tudo em comum) e João Crisóstomo o grande economista seguia a mesma linha lembrando como vivia a igreja primitiva. Afirmava que, a riqueza de Abraão e a de Jó eram uma dádiva de Deus e não tinha sido adquirida injustamente.  Mesmo não tendo suas idéias aceitas vemos nele um exemplo de filho da Igreja antiga. Enfim a maioria dos teólogos entendia tudo como uma dádiva de Deus e intocável. Assim a igreja caminhou com as esmolas.
No final da História da Igreja antiga identificamos algumas características. O ocidente diluía as lutas e permitia um surgimento do papado e no Oriente as rivalidades cresciam nos ditos dos patriarcas. Temos o uso da eucaristia e a prática de tornar herege qualquer doutrina que negasse a perfeita união de Deus e do Homem. Nos deparamos também com Cirilo, um homem que nasceu para ser imperador que após tomar posse do trono, matou muitos judeus e influenciou o Imperador Teodósio II a convocar um Sínodo.  Nos deparamos também o 2º, 3º e 4º Concílio Imperial, neste, foi escrito um novo credo apostólico. O fim do império foi marcado pelo Imperador Justino que ordenou que todos fossem batizados e tornou a certidão de batismo importante, convocou o 5º Concílio ecumênico e tentou reconciliar as igrejas monofisitas e não teve sucesso. 

NOTAS A IGREJA PRIMITIVA NO IMPERIO ROMANO.CHURCH HISTORY,MARTIN N. DREHER,2000 

     SECULO PRIMEIRO FONTE EUSEBIO DE CESAREIA

   HISTORIADOR DA IGREJA ANTIGA DOS PRIMEIROS      SECULOS.
Da morte de João e de Felipe

Sobre João, quanto ao tempo, também já foi dito; mas quanto ao lugar de seu corpo, indica-se na carta de Polícrates, bispo da igreja de Éfeso, que foi escrita para o bispo de Roma, Victor. Junto com João menciona o apóstolo Felipe e as filhas deste nos seguintes termos:
"Porque também na Ásia repousam grandes luminares que ressuscitarão no último dia da vinda do Senhor, quando virá dos céus com glória em busca de todos os santos: Felipe, um dos doze apóstolos, que repou­sa em Hierápolis com duas filhas suas que chegaram virgens à velhice, e a outra filha, que depois de viver no Espírito Santo, descansa em Éfeso; e também há João, o que se recostou sobre o peito do Senhore que foi sacerdote portador do pétalon, mártir e mestre; este repousa em Éfeso."
Isto há sobre a morte destes luminares. Mas também no Diálogo de Caio -de quem já falamos pouco acima -, Proclo - contra quem é dirigida a disputa -, coincidindo com o exposto, diz sobre a morte de Felipe e de suas filhas o seguinte:
"Depois deste houve em Hierápolis, a da Ásia, quatro profetisas, as filhas de Felipe. Ali estão seus sepulcros e o de seu pai."
5.      Assim diz Proclo. E Lucas, nos Atos dos Apóstolos, menciona as filhas de Felipe, que então viviam em Cesaréia da Judéia junto com seu pai, e que haviam sido agraciadas com o dom da profecia; diz textualmente o que segue: Viemos a Cesaréia e entramos na casa de Felipe o evangelista - pois era um dos sete - e permanecemos em sua casa. Tinha ele quatro filhas virgens, que eram profetisas.
6.      Depois de haver descrito sobre o que chegou ao nosso conhecimento acerca dos apóstolos e dos tempos apostólicos, assim como dos escritos sagra­dos que nos deixaram, e inclusive dos que são controversos, mas que na maioria das igrejas muitos lêem em público, e dos que são inteiramen­te espúrios e alheios à ortodoxia apostólica, continuemos avançando em nossa narrativa.

De como sofreu o martírio Simeão, bispo de Jerusalém

Depois de Nero e Domiciano, conta uma tradição que, sob o imperador cuja época estamos agora investigando, voltaram a ocorrer perseguições contra nós, parcialmente e por cidades, devido a levantes populares. Nesta época, sobre Simeão, o filho de Clopas, do qual já dissemos que foi o segundo bispo da igreja de Jerusalém, sabemos que terminou sua vida no martírio.
Testemunha disto é aquele mesmo Hegesipo, de quem já utilizamos diferentes passagens. Ao falar de alguns hereges, acrescenta claramente que por esse tempo, efetivamente, o mencionado Simeão teve que sofrer uma acusação e que durante muitos dias foi maltratado de muitas maneiras por ser cristão, e que depois de deixar admiradíssimos o juiz e os que o acompanhavam, alcançou um final semelhante à paixão do Senhor.
Mas nada melhor do que ouvir o próprio escritor, que relata isto mesmo textualmente como segue:
"A partir disto, evidentemente alguns hereges acusam Simão, o filho de Clopas, por ser descendente de Davi e cristão, e assim sofre martírio na idade de cento e vinte anos, sob o imperador Trajano e o governador Ático."
O mesmo autor diz que inclusive os próprios carrascos foram presos quando se procuraram os descendentes da tribo real dos judeus, já que também eles o eram. Com um pouco de cálculo pode-se dizer que tam­bém Simeão viu e ouviu pessoalmente o Senhor, baseando-se na longa duração de sua vida e na menção que o texto dos evangelhos faz de Maria de Clopas, de quem já se demonstrou que Simeão era filho.
O mesmo escritor diz que também outros descendentes de um dos chamados irmãos do Salvador, de nome Judas, sobreviveram até este mesmo reinado, depois de ter dado testemunho de sua fé em Cristo sob Domiciano, como já referimos anteriormente. Escreve o seguinte:
6.      "Vêm pois, e põe-se à frente de toda a Igreja como mártires e como mem­bros da família do Salvador. Quando em toda a Igreja se fez paz profunda, vivem ainda até o tempo do imperador Trajano, até que o filho do tio do Salvador, o anteriormente chamado Simão, filho de Clopas, foi denun­ciado e acusado igualmente pelas seitas, também pela mesma razão, sob o governador consular Ático. Durante muitos dias torturaram-no e deu testemunho, de maneira que todos, inclusive o governador, ficaram muito admirados de como continuava resistindo apesar de seus cento e vinte anosE mandaram crucificá-lo."
Depois disto o mesmo autor, explicando o referente aos tempos indicados, acrescenta que efetivamente, até aquelas datas a Igreja permanecia virgem, pura e incorrupta, como se até esse momento os que se propunham corromper a sã regra da pregação do Salvador, se é que existiam, ocultavam-se em escuras trevas.
Mas quando o coro sagrado dos apóstolos alcançou de diferentes maneiras o final da vida e desapareceu aquela geração dos que foram dignos de escutar com seus próprios ouvidos a divina Sabedoria, então teve início a confabulação do erro ímpio por meio do engano de mestres de falsa doutrina, os quais, não restando nenhum apóstolo, daí em diante já a descoberto, tentaram opor à pregação da verdade a pregação da falsamente chamada gnosis.

De como Trajano impediu que se perseguisse os cristãos

Tão grande foi realmente a perseguição que naquele tempo estendeu-se em muitos lugares contra nós, que Plínio Segundo, notável entre os governa­dores, inquieto pela multidão de mártires, relata ao imperador sobre o exces­sivo número dos que eram executados por sua fé, e no mesmo documento adverte que nunca foram surpreendidos cometendo nada ímpio ou contrário às leis, se não for pelo fato de levantarem-se à aurora para entoar hinos a Cristo como a um Deus, mas que adulterar e cometer homicídios e crimes do mesmo tipo também era proibido para eles, e que em tudo agem conforme as leis.
A resposta de Trajano foi promulgar um decreto do seguinte teor: que não se perseguisse a tribo dos cristãos, mas que se castigasse quem caísse. Graças a isto extinguiu-se parcialmente a perseguição, que ameaçava apertar terrivelmente, mas nem por isso faltaram pretextos aos que queriam fazer-nos mal. Algumas vezes eram as populações, outras as próprias autoridades locais que preparavam os assédios contra nós, de forma que, ainda que sem perseguições manifestas, acenderam-se focos parciais, segundo as provín­cias, e grande número de crentes combateram em diversos gêneros de martírio.
O relato foi tomado da Apologia latina de Tertuliano, mencionada mais acima, traduzido, é como segue:
"Mesmo assim, encontramos que foi proibido até que nos persigam. Efetivamente, Plínio Segundo, governador de uma província, depois de condenar alguns cristãos e depô-los de suas dignidades, assustado por seu número e já não sabendo o que lhe restava fazer, consultou o imperador Trajano, alegando que, exceto por não quererem adorar os ídolos, nada de ímpio havia encontrado neles. Informava-lhe também o seguinte: que os cristãos se levantavam à aurora e cantavam hinos a Cristo como a Deus e que, para manter seu conhecimento, era-lhes proibido matar, cometer adultério, cobiçar, roubar e coisas parecidas. A isto Trajano respondeu que não se perseguisse a tribo dos cristãos, mas que se castigasse quem caísse." Também isto ocorreu neste tempo.

De como o quarto a dirigir a Igreja de Roma é Evaristo

1. Dos bispos de Roma, no terceiro ano do imperador anteriormente cita­do, Clemente terminou sua vida depois de transmitir seu cargo a Evaristo e de haver estado no total nove anos à frente do ensinamento da palavra divina.

De como o terceiro a dirigir a de Jerusalém é Justo

1. Mas, quando Simeão morreu do modo como relatamos, o trono do episcopado de Jerusalém foi recebido em sucessão por um judeu chamado Justo, que era um dos inúmeros que, procedendo da circuncisão, havia 

Sobre Inácio e suas cartas

Brilhava por este tempo na Ásia Policarpo, discípulo dos apóstolos, a quem as testemunhas oculares e os ministros do Senhor tinham confiado o episcopado da igreja de Esmirna.
Ao mesmo tempo adquiriram notoriedade Papias, bispo da igreja de Hierápolis, e Inácio, o homem mais célebre para muitos ainda hoje, segundo a obter a sucessão de Pedro no episcopado de Antioquia.
Uma tradição refere que este foi trasladado da Síria à cidade de Roma para ser alimento das feras, em testemunho de Cristo.
Ao ser conduzido através da Ásia, sob a vigilância cuidadosa dos guardiães, dava ânimo com suas falas e exortações às igrejas de cada cidade onde faziam parada. Primeiramente exortava-os a que sobretudo se guardassem das heresias, que precisamente então começavam a pulular, e estimulava-os a segurar-se solidamente à tradição dos apóstolos, que, por estar ele já a ponto de sofrer o martírio, achava necessário pôr por escrito para fins de segurança.
E foi assim que, achando-se em Esmirna, onde estava Policarpo, escreveu uma carta à igreja de Éfeso, mencionando Onésimo, seu pastor; outra à de Magnesia, a que está sobre Meandro, mencionando igualmente o bispo Damas, e outra à de Trales, cujo chefe era então Políbio, segundo diz.
Além destas, escreveu também à igreja de Roma uma carta em que expõe sua súplica para que não intercedam por ele, para não privá-lo do martírio, sua sonhada esperança. Em apoio ao que dissemos, será bom citar algumas passagens das citadas cartas, ainda que brevíssimas:
Escreve pois, textualmente:
"Desde a Síria até Roma venho lutando com feras por terra e por mar, de noite e de dia, atado a dez leopardos, isto é, um grupo de soldados que ficam piores com o bem que se lhes faz. Mas com seus maus-tratos torno-me mais e mais discípulo. Mesmo assim, nem por isso estou justificado.
"Oxalá pudesse eu usufruir das feras que me estão preparadas! Espero encontrá-las bem ligeiras para comigo. Chegarei até a adulá-las para que me devorem rapidamente e não me façam o que fizeram a alguns, que por temor não tocaram, e se fazem de preguiçosas e não querem, eu mesmo as forçarei.
Perdoai-me. Eu sei o que me convém. Agora estou começando a ser discí­pulo. Que nenhuma coisa visível ou invisível tenha ciúme de que eu alcance a Jesus Cristo. Fogo, cruz e manadas de feras, dispersão de ossos, destroçamento de membros, trituração do corpo todo e tormentos do diabo venham sobre mim, contanto somente que eu alcance a Jesus Cristo."
Isto escrevia da cidade mencionada às igrejas que enumeramos. Mas achando-se já longe de Esmirna, desde Troasse põe-se a conversar, por escrito mesmo, com os de Filadélfia e com a igreja de Esmirna, e em par­ticular com Policarpo, que a presidia. Reconhecendo este como homem verdadeiramente apostólico e porque ele mesmo era pastor legítimo e bom, confia-lhe seu próprio rebanho de Antioquia e pede-lhe que se ocupe dele com solicitude.
Ele mesmo, escrevendo aos de Esmirna e citando passagens não sei de onde, discorre sobre Cristo com estas palavras:
"Quanto a mim, sei e creio que mesmo depois da ressurreição permanece em sua carne, e quando se aproximou dos que rodeavam Pedro disse-lhes: 'Tomai e apalpai-me, e vede que não sou um espírito incorpóreo.' Na mesma hora eles o tocaram e creram."
12.    Também Irineu conhece seu martírio e faz menção de suas cartas quando diz assim:
"Como disse um dos nossos, condenado às feras por seu testemunho em favor de Deus, 'sou trigo de Deus e pelos dentes das feras sou moído para ser encontrado como pão puro.'
13.    E Policarpo também faz menção disto na carta que se diz ser dele, dirigida
aos Filipenses, quando diz textualmente:
"Exorto-vos pois todos a obedecer e exercitar toda a paciência, a que vistes com vossos olhos não somente nos bem-aventurados Inácio, Rufo e Zózimo, mas também em outros dos vossos, e no próprio Paulo e nos demais após­tolos, persuadidos de que não correram em vão, mas na fé e na justiça, e de que já estão no lugar que lhes é devido, junto ao Senhor, com o qual padeceram. Porque não amaram este século, mas aquele que morreu por nós e por nós também ressuscitou, por obra de Deus." E acrescenta logo:
"Vós e Inácio escrevestes-me para que, se alguém fosse à Síria, levasse também vossas cartas. Isto farei quando encontrar ocasião favorável, eu mes­mo ou alguém que eu envie e que será também embaixador de vossa parte.
As cartas de Inácio que ele enviou e todas as outras que tínhamos conosco, vo-las envio, como haveis pedido; seguem anexas à presente carta. Delas podereis tirar grande proveito, já que estão cheias de fé, de paciência e de toda edificação concernente a nosso Senhor."
Isto é o que se refere a Inácio. Depois dele Heros recebeu a sucessão do episcopado de Antioquia.

Dos evangelistas que ainda então se distinguiam

1. Entre os que eram famosos neste tempo, achava-se também Codratos, sobre o qual uma tradição refere que sobressaía em carisma profético, junta­mente com as filhas de Felipe. Também eram célebres então, além des­tes, muitos outros que tiveram o primeiro lugar na sucessão dos apóstolos. Estes magníficos discípulos de tão grandes homens edificavam sobre os fundamentos das igrejas deixados anteriormente em cada lugar pelos apóstolos. Aumentavam mais e mais a pregação e semeavam por toda a extensão da terra habitada a semente salvadora do reino dos céus.
Efetivamente, muitos dos discípulos de então, tocados na alma pela palavra divina com um amor muito forte à filosofia, primeiramente cumpriam o mandamento salvador repartindo seus bens entre os indigentes, e depois empreendiam viagem e realizavam trabalho de evangelistas, empenhando sua honra em pregar aos que ainda não haviam ouvido a palavra da fé e em transmitir por escrito os divinos evangelhos.
Estes homens nada mais faziam que deitar os fundamentos da fé em alguns lugares estrangeiros e estabelecer outros como pastores, encarregando-os do cultivo dos recém-admitidos, e em seguida mudavam-se para outras regiões e outros povos com a graça e a cooperação de Deus, já que por meio deles continuavam realizando-se ainda então muitos e maravilhosos poderes do Espírito divino, de forma que, desde a primeira vez que os ouviam, multidões inteiras de pessoas recebiam em massa com ardor em suas almas a religião do Criador do universo.
Sendo-nos impossível enumerar pelo nome todos os que na primeira geração de apóstolos foram pastores e inclusive evangelistas nas igrejas de todo o mundo, é natural que mencionemos por seus nomes e por escrito apenas aqueles dos quais se conserva a tradição até hoje graças a suas memórias da doutrina apostólica.

Da carta de Clemente e os escritos que falsamente lhe atribuem

Não cabe dúvida, portanto, de que tais são Inácio, em suas cartas cuja lista fornecemos, e Clemente na carta por todos admitida, que escreveu em nome da igreja de Roma à de Corinto. Nela Clemente expõe muitos pensamentos da Carta aos Hebreus, e inclusive utiliza textualmente algumas passagens da mesma, mostrando assim com toda claridade que este escrito não é recente.
Por isso pareceu natural catalogá-lo entre os demais escritos do apóstolo. Porque Paulo praticou por escrito com os hebreus valendo-se de sua língua pátria, e alguns dizem que a carta foi traduzida pelo evangelista Lucas, mas outros afirmam que foi o próprio Clemente,
o que talvez seja mais verdadeiro pelo fato de ambas, a Carta de Clemente e a Carta aos Hebreus, conservarem um caráter estilístico semelhante, além de não se diferenciar muito o pensamento de um e outro escrito.
Deve-se saber ainda que há uma segunda carta que se diz de Clemente, mas não sabemos que seja conhecida como a primeira, já que nem os antigos a utilizaram, tanto quanto sabemos.
E muito recentemente alguns trouxeram à luz, dizendo que são dele, outros escritos, verbosos e longos, que contêm os diálogos de Pedro e Apion. Destes escritos não se encontra a menor menção entre os antigos, nem mesmo conservam puro o caráter da ortodoxia apostólica. Conseqüentemente fica claro qual é o escrito aceito de Clemente. Também se falou dos de Inácio e de Policarpo.

Dos escritos de Papias

1.   Diz-se que são cinco os escritos de Papias, sob o título de Explicações das palavras do Senhor. Irineu os menciona como os únicos escritos de Papias; assim diz:
"Isto também atesta por escrito Papias, que foi ouvinte de João, companheiro de Policarpo e varão dos antigos, no quarto livro dos que escreveu, porque efetivamente tem cinco livros escritos."
Isto é o que diz Irineu. O próprio Papias no entanto, segundo o prólogo de seus tratados, não se apresenta de modo algum como ouvinte e testemunha ocular dos sagrados apóstolos, mas ensina-nos que recebeu o referente à fé da boca de outros que os conheceram, estas são suas palavras:
"Não vacilarei em apresentar-te ordenadamente com as interpretações tudo o que um dia aprendi muito bem dos presbíteros e que recordo bem, seguro que estou de sua verdade. Porque eu não me comprazia como outros com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade; nem tampouco com os que recordam mandamentos alheios, mas com os que trazem na memória os (mandamentos) que receberam pela fé da parte do Senhor e nascem da própria verdade.
E se por acaso chegava alguém que também havia seguido os presbíte­ros, eu procurava discernir as palavras dos presbíteros: o que disse André, ou Pedro, ou Felipe, ou Tomás, ou Tiago, ou João, ou Mateus ou qual­quer outro dos discípulos do Senhor, porque eu pensava que não aprovei­taria tanto o que tirasse dos livros como o que provêm de uma voz viva e durável."
5.      Aqui seria bom fazer notar também que ele enumera duas vezes o nome de João. O primeiro coloca na lista com Pedro, Tiago, Mateus e os demais apóstolos, sendo evidente que se refere ao evangelista; já ao outro João, depois de cortar o discurso, coloca-o com outros, fora do número dos apóstolos, antepondo Aristion e chamando-o claramente de presbítero.
De forma que também isto demonstra que é verdade a história dos que dizem que na Ásia houve dois com este mesmo nome, e em Éfeso dois sepulcros, dos quais ainda hoje se afirma que são, um e outro, de João. É necessário prestar atenção a estes fatos, porque é provável que fosse o segundo - se não se prefere o primeiro - o que viu a Revelação (= Apocalipse) que corre sob o nome de João.
Agora bem, Papias, de quem estamos falando, confessa que recebeu as palavras dos apóstolos de discípulos destes, enquanto que de Aristion e de João o Presbítero ele diz ter sido ouvinte direto. Efetivamente menciona-os pelo nome várias vezes em seus escritos e compila suas tradições.
E não se diga que por nossa parte é inútil o dito. Mas é justo adicionar às palavras de Papias já citadas outros ditos seus com os quais se refere a algumas coisas estranhas e outros detalhes que, segundo ele, chegaram-lhe pela tradição.
Pois bem, já foi explicado mais acima que o apóstolo Felipe morou em Hierápolis com suas filhas, mas agora há que se assinalar como Papias, que viveu nesse mesmo tempo, faz menção de haver recebido um relato mara­vilhoso da boca das filhas de Felipe. Narra efetivamente a ressurreição de um morto ocorrida em seu tempo e, como se fosse pouco, outro fato porten­toso referente a Justo, apelidado Barsabás, pois aconteceu que este bebeu uma poção mortal sem que, pela graça do Senhor, sofresse qualquer dano.
Depois da ascensão do Salvador, os sagrados apóstolos puseram este Justo junto com Matias e oraram sobre eles para que a sorte completasse seu número em lugar do traidor Judas; conta-o o livro dos Atos da seguinte maneira: E puseram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome Justo, e Matias. E orando sobre eles disseram.
O próprio Papias conta também outras coisas como tendo chegado a ele por tradição não escrita, algumas estranhas parábolas do Salvador e de sua doutrina, e algumas outras coisas ainda mais fabulosas.
Entre elas diz que, depois da ressurreição dentre os mortos, haverá um milênio, e que o reino de Cristo se estabelecerá fisicamente sobre esta terra. Eu creio que Papias supõe tudo isto por haver derivado das explicações dos apóstolos, não percebendo que estes haviam-no dito figuradamente e de modo simbólico.
E aparece como homem de muito escassa inteligência, segundo se pode supor por seus livros. Mesmo assim, ele foi o culpado de que tantos escrito­res eclesiásticos depois dele tenham abraçado a mesma opinião que ele, apoiando-se na antigüidade de tal varão, como realmente faz Irineu e qual­quer outro que manifeste professar idéias parecidas.
Em sua própria obra Papias transmite ainda outras interpretações das pala­vras do Senhor recebidas de Aristion, mencionado acima, assim como também outras tradições de João o Presbítero. A elas remetemos a quan­tos queiram instruir-se. Agora nos vemos obrigados a acrescentar às suas palavras anteriormente citadas uma tradição acerca de Marcos, o que escreveu o Evangelho, que vem exposta nos termos seguintes:
"E o presbítero dizia isto: Marcos, que foi intérprete de Pedro, pôs por escrito, ainda que não com ordem, o quanto recordava do que o Senhor havia dito e feito. Porque ele não tinha ouvido o Senhor nem o havia seguido, mas, como disse, a Pedro mais tarde, o qual transmitia seus ensinamentos segundo as necessidades e não como quem faz uma composição das palavras do Senhor, mas de tal forma que Marcos em nada se enganou ao escrever algumas coisas tal como as recordava. E pôs toda sua preocupação em uma só coisa: não descuidar nada de quanto havia ouvido nem enganar-se nisto o mínimo."
Isto é o que conta Papias sobre Marcos. Referente a Mateus, diz o seguinte: "Mateus ordenou as sentenças em língua hebraica, mas cada um as traduzia como melhor podia."
O mesmo escritor utiliza testemunhos tomados da primeira carta de João, e igualmente da de Pedro, e expõe também outro relato de uma mulher acusada de muitos pecados ante o Senhor, que está contido no Evangelho dos hebreus. Que conste também isto, além do que já havia exposto.


                                70 – TITO DESTRÓI JERUSALÉM


Segundo Curtis:“Em um de seus primeiros atos impe¬riais, Vespasiano nomeou seu filho, Tito, para conduzir a guerra contra os judeus.
A situação se voltou contra Jeru¬salém, agora cercada e isolada do res¬tante do país. Facções internas da cidade se desentendiam com relação às estratégias de defesa. Conforme o cerco se prolongava, as pessoas mor¬riam de fome e de doen<;as. A esposa do sumo sacerdote, outrora cercada de luxo, revirava as lixeiras da cidade em busca de alimento. Enquanto isso, os romanos empre¬gavam novas maquinas de guerra para arremessar pedras contra os muros da cidade. Arietes forçavam as muralhas das fortificações.
 Os defensores judeus lutavam durante todo o dia e tenta¬yam reconstruir as muralhas durante a noite. Por fim, os romanos irrom¬peram pelo muro exterior, depois pelo segundo muro, chegando final mente ao terceiro muro. Os judeus, no entanto, continuaram lutando, pois cor¬reram para o Templo - sua ultima linha de defesa. Esse foi o fim para os bravos guer¬reiros judeus - e tambem para o Templo. Josefo, historiador judeu, dis¬se que Tito queria preservar Tem¬plo, mas os soldados estavam tão ira¬dos com a resistencia dos oponentes que terminaram por queima-Io. A queda de Jerusalem, essenciaI¬mente, pôs fim a revolta.
 Os judeus foram dizimados ou capturados e vendidos como escravos. O grupo dos zelotes que havia tomado Massada permaneceu na fortaleza por três anos. Quando os romanos finalmente construíram a rampa para cercar e invadir local, encontraram todos os rebeldes mortos. Eles cometeram suicídio para que não fossem captu¬rados pelos invasores. A revolta dos judeus marcou o fim do Estado judeu, pelo menos ate os tempos modernos. - A destruição do Templo de Herodes significou mudança no culto judaico. Quando os babilônios des¬truíram o Templo de Salomão, em 586 a.c., os judeus estabeleceram as sinagogas, onde podiam estudar a Lei de Deus. A destruição do Templo de Herodes pôs fim ao sistema sacrifical judeu e os forçou a contar apenas com as sinagogas, que cresceram muito em importância.” 

MARTÍRIO DE TIAGO

Segundo Anglin: “Hegésipo, um escritor do II século, faz algumas referências interessantes sobre o apóstolo Tiago, que acabou a sua carreira durante esse período, e fornece um detalhado relatório do seu martírio, que podemos inserir aqui. ‘Consta que o apóstolo tinha o nome de Oblias, que significava justiça e proteção, devido a sua grande piedade e dedicação pelo povo. Também se refere aos seus costu¬mes austeros, que sem duvida contribuíram para aumen¬tar a sua fama entre o povo. Ele não bebia bebidas alcoóli¬cas de qualidade alguma, nem tampouco comia carne.’”


 97 – MARTÍRIO DE TIMÓTEO

Pregação à Idólatras; Atacado à pedras e paus; Morte alguns dias depois; A Igreja do Século I: Segundo de Durant: “REUNIAM-SE em recintos privados ou pequenas capelas e organizavam-se segundo o modelo da sinagoga. A congregação recebia o nome de ekklesia - ¬palavra grega para significar as reuniões do governo municipal. Os escravos eram bem-vindos, como nos cultos de Isis e de Mitras; nenhuma tentativa se fazia para libertá-los, mas reconfortavam-nos com a promessa de um Reino em que seriam li¬vres. Entre os primeiros convertidos predominavam os proletários, com alguns ele¬mentos das classes medias e um ou outro da classe alta. Não obstante, longe esta¬vam de ser a "escória da sociedade" como disse Celso; em sua maioria viviam indus¬triosamente, financiavam as missões, levantavam fundos para as comunidades mais pobres. 
Pouco esforço se fazia para conquistar a gente dos campos; a população rural veio por ultimo, e dai o nome de pagani (aldeões, camponeses) que começou a ser aplicado aos habitantes dos Estados mediterrâneos anteriores aos cristãos. As congregações admitiam as mulheres, que eram encarregadas de pequenos pa¬peis; mas a Igreja exigia que elas envergonhassem os pagãos com 0 exemplo de suas vidas de modesta submissão e recolhimento.”  NOTAS hist-igreja.blogspot.com

Cronologia. GERAL
6 ou 4 a.C. - Nascimento de Jesus Cristo
2 a.C. - Nascimento de Paulo, conhecido como o Apóstolo dos Gentios
26 - Início do Ministério de João Batista (primo de Jesus)
26 a 30 - Ministério de Jesus Cristo30 - Herodes Antipas manda decapitar João Batista
30 - Morte e Ressurreição de Jesus Cristo
30 - Dia de Pentecostes (ler Atos 2)
36 - Martírio de Estevão37 - Conversão de Paulo
41 - Em Antioquia pela 1ª vez utiliza-se o termo "cristãos"
44 - Martírio em Jerusalém do apóstolo Tiago, o maior
45 a 48 - 1ª Viagem Missionária de Paulo
45 a 50 - Tiago, irmão de Jesus, escreve a Epístola de Tiago49 - Concílio de Jerusalém: a salvação é pela fé e não pela Lei49 a 52 - 2ª Viagem Missionária de Paulo
49 ou 52 - Paulo escreve a Epístola aos Gálatas
50 - Mateus escreve o primeiro dos 4 Evangelhos (Evangelho de Mateus)
51 - Paulo escreve a Epístola aos Tessalonicenses 
51 - Paulo escreve a 2ª Epístola aos Tessalonicenses
53 a 58 - 3ª Viagem Missionária de Paulo
56 - Paulo escreve a Epístola aos Romanos
56 - Paulo escreve a Epístola aos Coríntios
57 - Paulo escreve a 2ª Epístola aos Coríntios
58 - Prisão de Paulo: de Jerusalém é transferido para Roma
60 - Lucas escreve o Evangelho (Evangelho de Lucas)
60 - Lucas escreve o livro Atos dos Apóstolos
60 - Na prisão, Paulo escreve: Epístola aos Efésios, Epístolas aos Filipenses, Epístola aos Colossenses e Epístola a Filemom
63 - Tiago, irmão de Jesus, morre apedrejado em Jerusalém
64 - Paulo escreve a 1ª Epístola a Timóteo
64 - 1ª perseguição geral aos cristãos: Nero ateia fogo em Roma e culpa cristãos
65 - Pedro escreve a 1ª Epístola de Pedro
65 - Paulo escreve a Epístola a Tito
66 - Pedro escreve a 2ª Epístola de Pedro
67 - Paulo escreve a 2ª Epístola a Timóteo
68 - João Marcos escreve o Evangelho de Marcos
68 - Judas, irmão de Jesus, escreve a Epístola de Judas
68 - É escrita a Epístola aos Hebreus
85 a 90 - O Apóstolo João escreve a 1ª Epístola de João
85 a 90 - O Apóstolo João escreve a 2ª Epístola de João
85 a 90 - O Apóstolo João escreve a 3ª Epístola de João
85 a 90 - O Apóstolo João escreve o Evangelho de João
95 - Em Patmos João tem uma visão e escreve o Livro do Apocalipse (ou o Livro da Revelação) 


                             OS PAIS DA IGREJA                

 

 

O título “Pai”, aplicado historicamente a alguns líderes cristãos, surgiu devido à reverência que muitos nutriam pelos bispos dos primeiros séculos. A estes chamavam carinhosamente de “Pais” devido ao amor e zelo que tinham pela Igreja, mais tarde, porém, este termo foi sacralizado pelos escritores eclesiásticos, por volta de 1073 Gregório VII reivindica com exclusividade o termo “PAPA”, ou seja, “Pai dos pais”.
Ele tem sua originalidade na Igreja do Ocidente, do século II. Os “Pais Apostólicos” foram homens que tiveram contato direto com os apóstolos, ou que foi citado por alguns deles. Para três indivíduos – Clemente de Roma, Inácio e Policarpo – esta titulação é regularmente aplicada. Principalmente Policarpo, para o qual existem evidências de contato direto com os apóstolos.
No final do século I morre em Éfeso o último dos apóstolos, João, após ter servido ao seu mestre fielmente durante toda sua vida é agora recolhido ao seu lado no lar celestial. Terminava assim a era apostólica. Mas Deus já havia preparado homens capazes para cuidar do seu rebanho. Começa um período novo para a igreja, a obra que os apóstolos receberam de seu Salvador e a desenvolveram tão arduamente acha-se agora nas mãos de novos líderes que tinham a incumbência de desenvolver a vida litúrgica da igreja como fizeram aqueles. O período que comumente é chamado de pós-apostólico é de intenso desenvolvimento do pensamento cristão. Por isso é de suma importância analisar a doutrina dos chamados “Pais da igreja”, pois eles foram os responsáveis pelo povo de Deus daquela época e pela teologia que construíram, sendo que até hoje serve de base para a Igreja. Do século II até o século IV, nomes como o de Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Inácio de Antioquia, Policarpo, Justino o mártir, Irineu de Lião, Origines, Tertuliano e outros, que foram os responsáveis por transmitir os ensinamentos bíblicos, merecem não pouco reconhecimento por sua fé, virtude e zelo que nutriam pelo corpo de Cristo na terra – a Igreja. Entretanto, devemos lembrar que mesmo homens como esses não ficaram isentos de erros e até mesmo foram considerados como heréticos por seus resvalos teológicos. Esse foi o caso de Orígenes, por exemplo, que teve muitos de seus ensinos condenados pelo II concílio de Constantinopla em 553.
A maior parte dessas obras foram escritas em grego e latim, embora haja também muitos escritos doutrinários em aramaico e outras línguas orientais.
Patrística é o corpo doutrinário que se constituiu com a colaboração dos primeiros pais da igreja, veiculado em toda a literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII, exceto o Novo Testamento.

Histórico

O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. Na luta contra o paganismo greco-romano e contra as heresias surgidas entre os próprios cristãos, no entanto, os pais da igreja se viram compelidos a recorrer ao instrumento de seus adversários, ou seja, o pensamento racional, nos moldes da filosofia grega clássica, e por meio dele procuraram dar consistência lógica à doutrina cristã.
O cristianismo romano atribuía importância maior à fé; mas entre os pais da igreja oriental, cujo centro era a Grécia, o papel desempenhado pela razão filosófica era muito mais amplo e profundo. Os primeiros escritos patrísticos falavam de martírios.
Em meados do século II, os cristãos passaram a escrever para justificar sua obediência ao Império Romano e combater as idéias gnósticas, que consideravam heréticas. Os principais autores desse período foram Justino – o mártir, professor cristão condenado à morte em Roma por volta do ano 165; Taciano, inimigo da filosofia; Atenágoras; e Teófilo de Antioquia. Entre os gnósticos, destacaram-se Marcião, que rejeitava o judaísmo e considerava antitéticos o Antigo e o Novo Testamento.
No século III floresceram Orígenes, que elaborou o primeiro tratado coerente sobre as principais doutrinas da teologia cristã e escreveu Contra Celsum e Sobre os princípios; Clemente de Alexandria, que em sua Stromata expôs a tese segundo a qual a filosofia era boa porque consentida por Deus; e Tertuliano de Cartago. A partir do Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, o cristianismo deixou de ser a crença de uma minoria perseguida para se transformar em religião oficial do Império Romano. Nesse período, o principal autor foi Eusébio de Cesaréia. Dentre os últimos gregos destacaram-se, no século IV, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa e João Damasceno.
Os maiores nomes da patrística latina foram Ambrósio, Jerônimo (tradutor da Bíblia para o latim) e Agostinho, este considerado o mais importante filósofo em toda a patrística. Além de sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo, desenvolveu as teses que constituíram a base da filosofia cristã durante muitos séculos. Os principais temas que abordou foram: as relações entre a fé e a razão, a natureza do conhecimento, o conceito de Deus e da criação do mundo, a questão do mal e a filosofia da história.
DIVISÃO

Podemos dividir os Pais da Igreja em três grandes grupos, a saber: Pais apostólicos, Apologistas e Polemistas.
Todavia devemos levar em conta que muitos deles pode se enquadrar em mais de um desses grupos devido à vasta literatura que produziram para a edificação e defesa do Cristianismo, e também de acordo com o que as circunstancias exigiam, como é o caso de Tertuliano, considerado o pai da teologia latina. Sendo assim então temos:

Pais apostólicos: Foram aqueles que tiveram relação mais ou menos direta com os apóstolos e escreveram para a edificação da Igreja, geralmente entre o primeiro e segundo séculos. Os mais importantes destes foram: Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Papias e Policarpo.

Apologistas: Foram aqueles que empregaram todas suas habilidades literárias em defesa do Cristianismo perante a perseguição do Estado. Geralmente este grupo se situa no segundo século e os mais proeminentes entre eles foram: Tertuliano, Justino – o mártir, Teófilo e Aristides.

Polemistas: Os pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã das falsas doutrinas surgidas fora e dentro da Igreja. Geralmente estão situados no terceiro século. Os mais destacados entre eles foram: Irineu, Tertuliano, Cipriano e Orígenes.


150 – JUSTINO MÁRTIR ESCREVE ‘APOLOGIA’

Era filósofo (Pitágoras, Aristóteles);Ao encontrar-se com um velho cristão em uma praia, converte-se;“Toda a verdade é verdade de Deus”, dizia em um de seus discursos no qual apresentava relações entre a filosofia e a fé.Teve sua vida como que um paralelo coma vida de Paulo: Conversão, Grego, gentios, martírio em Roma;Segundo Curtis:“A vida de Justino apresenta mui¬tos paralelos com a vida de Paulo. O apóstolo era um judeu nascido em área gentia (Tarso); Justino era um gentio nascido em aráa judaica (a an¬tiga Siquém). Eles tinham boa for¬mação e usavam o dom da argumen¬tação para convencer judeus e gentios da verdade de Cristo. Os dois foram martirizados em Roma em razão de sua fé.
A maior obra de Justino, a Apologia foi endereçada ao imperador Antonino Pio (a palavra grega apologia refere-se à lógica na qual as crenças de uma pessoa são baseadas). En¬quanto Justino explicava e defendia sua fé, ele discutia com as autorida¬des romanas por que considerava er¬rado perseguir os cristaos. De acordo com seu pensamento, as autoridades deveriam unir forças com os cristãos na exposição da falsidade dos siste¬mas pagãos”Foi decapitado em Roma em 165. “Vocês podem nos matar, mas não podem nos causar dano verdadeiro.”

156 – POLICARPO É MARTIRIZADO

Foi discípulo de João, o último elo com o primeiro apostolado;Negava-se a PRESTAR CULTO AO GÊNIO DE CESAR;Segundo Curtis:“Então, Policarpo entrou em uma arena cheia de pessoas enfurecidas, o proconsul romano parecia respei¬tar a idade do bispo. Como Pilatos, queria evitar uma cena horrível, se fosse possível. Se Policarpo apenas oferecesse um sacrifício, todos pode¬riam ir para casa ..- Respeito sua idade, velho ho¬mem - implorou o proconsul. ¬Jure pela felicidade de César. Mude de idéia. Diga "Fora com os ateus!".O proconsul obviarnente queria que Policarpo salvasse a vida ao se¬parar-se daqueles "ateus", os cristãos. Ele, porém, simplesmente olhou para a multidão zombadora, levantou a mão na direção deles e disse:- Fora com os ateus!
O proconsul tentou outra vez:- Faça o juramento e eu o liber¬tarei. Amaldiçõe Cristo!O bispo se manteve firme.- Por 86 anos servi a Cristo, e ele nunca me fez qualquer mal. Como poderia blasfemar contra meu Rei, que me salvou?”Antes de ser levado para ser queimado disse: “Seu fogo poderá queimar por uma hora, mas depois se extinguirá, mas o fogo do julgamento por vir é eterno.”
Algumas testemunhas afirmaram que o fogo não o queima, que estava como um pão no forno ou como ouro sendo refinado.
A LUTA CONTRA O GNOSTICISMO NA IGREJA

Segundo Anglin:“O gnosticismo era um desses males, e foi talvez a primeira heresia que depois dos tempos dos apóstolos se de¬senvolveu mais. Era um amontoado de erros que tinham a sua origem na cabala dos judeus, uma ciência misteriosa dos rabinos, baseada na filosofia de Platão, e no misticis¬mo dos orientais. Um judeu chamado Cerinto, mestre de filosofia em Alexandria, introduziu parte do Evangelho nesta nessa heterogênea da ciência (falsamente assim chamada) e sob esta nova forma foram enganados muitos crentes verdadeiros, e se originou muita amargura e dis¬sensão,”Gnosticismo é a crença de que existem uma série de conhecimentos secretos, que podem permitir que o homem salve a si mesmo;Os Gnósticos daqueles dias usavam roupagem (aparência, terminologias) cristã;Apóstolo João já combatia estas idéias na sua primeira epístola;“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus.” I João 4.1-2

177 – IRINEU TORNA-SE BISPO DE LIÃO E COMBATE O GNOSTICISMO

Estudou por anos todas as formas de gnosticismos existentes;Segundo Curtis:“Quando o bispo de Lião final¬mente tomou conhecimento dessa heresia, escreveu a obra denominada Contra as heresias, um enorme tra¬balho no qual buscava revelar a tolice do "falso conhecimento". Va¬lendo-se tanto do Antigo Testamen¬to quanto do Novo, Ireneu mostrou que o Deus amoroso criou o mun¬do, que se corrompeu por causa do pecado humano. (...) Ireneu compreendia que o gnosticismo se valia do desejo humano de conhecer algo que os outros nao co¬nheciam. Com relação aos gnosticos, escreveu: "Tao logo um homem é convencido a aceitar a forma da sal¬vação deles [dos gnósticos], se torna tao orgulhoso com o conceito e a im¬portância de si mesmo, que passa a andar como se Fosse um pavao". Po¬rem, os cristãos deveriam humilde¬mente aceitar a graça de Deus, e não se envolver em exercícios intelectuais que levavam a vaidade.”Foi degolado no alto de um monte por recusar-se a oferecer sacrifícios aos deuses romanos (202 d.C.);
Notas,Historia do cristianismo,A.Knight e W.Anglin,2009,cpad) , hist-igreja.blogspot.com 



                                    ORIGENS 185-254
“O grande mestre da Igreja depois dos apóstolos.” Foi assim que Jerônimo, tradutor da Bíblia Vulgata latina, se referiu a Orígenes, um teólogo do terceiro século. Mas nem todos estimavam tanto a Orígenes. Alguns o consideravam uma raiz do mal de onde se originavam as heresias. Conforme disse um escritor do século 17, os críticos de Orígenes afirmavam: “Sua doutrina é de modo geral absurda e perniciosa, um veneno serpentino mortífero que ele vomitou no mundo.” Cerca de três séculos depois de sua morte, Orígenes foi oficialmente declarado herege.

Por que Orígenes despertou tanto admiração quanto rivalidade? Que influência ele teve no desenvolvimento das doutrinas da Igreja?

Zelo pela Igreja: Orígenes nasceu por volta de 185 EC, em Alexandria, no Egito. Obteve amplo conhecimento da literatura grega, mas seu pai, Leonides, o obrigou a dedicar-se igualmente ao estudo das Escrituras. Quando Orígenes tinha 17 anos, o imperador romano baixou um decreto transformando a mudança de religião em crime. O pai de Orígenes foi preso porque havia se tornado cristão. Jovem e cheio de zelo, Orígenes estava determinado a juntar-se ao pai na prisão e no martírio. Ao perceber isso, a mãe dele escondeu suas roupas para impedir que fosse embora de casa. Por carta, ele implorou a seu pai: “Cuidado! Não mude de idéias por nossa causa.” Leonides continuou firme e foi executado, deixando a família na pobreza. Mas Orígenes já estava bem adiantado nos estudos, o suficiente para poder sustentar a mãe e seis irmãos mais novos dando aulas de literatura grega.

O objetivo do imperador era impedir o avanço do cristianismo. Visto que o decreto não afetava apenas alunos, mas também instrutores, todos os instrutores religiosos cristãos fugiram de Alexandria. Quando alguns não-cristãos apelaram para o jovem Orígenes em busca de orientação bíblica, ele assumiu essa obra como comissão divina. Muitos de seus alunos foram martirizados, alguns mesmo antes de completar os estudos. Correndo grande risco, Orígenes incentivava abertamente seus alunos, quer estivessem diante de um juiz quer na prisão, ou prestes a ser executados. Eusébio, historiador do quarto século, relata que quando eles estavam sendo conduzidos à execução, Orígenes “os cumprimentava corajosamente com um beijo”.

Muitos que não eram cristãos ficaram irados com Orígenes por considerá-lo responsável pela conversão e morte de seus amigos. Por diversas vezes ele escapou por um triz de turbas e de uma morte violenta. Embora fosse obrigado a mudar-se constantemente para escapar dos seus perseguidores, ele não diminuiu suas atividades de ensino. Sua coragem e dedicação impressionaram Demétrio, bispo de Alexandria. Por isso, Demétrio nomeou Orígenes, de apenas 18 anos de idade, diretor da escola de instrução religiosa em Alexandria.

Com o tempo, Orígenes tornou-se erudito notável e escritor prolífero. Alguns disseram que ele escreveu 6.000 livros, embora é provável que isso seja um exagero. Sua obra mais conhecida é a Hexapla, uma gigantesca versão de 50 volumes do Antigo Testamento. Ele dispôs a Hexapla em seis colunas paralelas, contendo: (1) o texto hebraico e aramaico, (2) uma transliteração desse texto para o grego, (3) a versão grega de Áquila, (4) a versão grega de Símaco, (5) a Septuaginta grega, que ele revisou para corresponder mais exatamente ao texto hebraico, e (6) a versão grega de Teodocião. “Com essa combinação de textos”, escreveu o erudito bíblico John Hort, “Orígenes esperava elucidar o significado de muitas passagens nas quais o leitor grego ficaria confuso ou seria enganado caso tivesse diante de si apenas a Septuaginta”.

Ir além das coisas escritas: Contudo, a confusão religiosa no terceiro século afetou profundamente os ensinos de Orígenes sobre as Escrituras. Embora a cristandade estivesse apenas engatinhando, já havia se poluído com crenças antibíblicas, e suas igrejas espalhadas ensinavam diversas doutrinas.

Orígenes aceitou algumas dessas doutrinas antibíblicas, chamando-as de ensinos dos apóstolos. Mas ele se sentiu à vontade para especular sobre outros assuntos. Muitos de seus alunos se debatiam com questões filosóficas da época. Com o objetivo de ajudá-los, Orígenes fez um estudo profundo sobre as diversas escolas filosóficas que estavam formando a opinião de seus jovens alunos. Ele se empenhou em dar a eles respostas satisfatórias às suas questões filosóficas.

Na tentativa de conciliar a Bíblia com a filosofia, Orígenes se valeu do método alegórico de interpretar as Escrituras. Ele presumiu que as Escrituras sempre tinham um significado espiritual, mas não necessariamente literal. Como disse um erudito, isso deu a Orígenes “os meios de extrair da Bíblia quaisquer conceitos antibíblicos que se harmonizassem com seu próprio sistema teológico, apesar de ele professar ser (e sem dúvida acreditava sinceramente nisso) um intérprete especialmente entusiasta e fiel do pensamento bíblico”.

Uma carta de Orígenes a um de seus alunos nos ajuda a entender sua maneira de pensar. Ele disse que os israelitas usaram ouro egípcio para fazer utensílios para o templo de Yehowah, e entendia que isso fornecia apoio alegórico ao uso da filosofia grega para ensinar o cristianismo. Ele escreveu: “Quão úteis para os filhos de Israel foram as coisas levadas do Egito, as quais os egípcios não haviam usado de maneira correta, mas que os hebreus, orientados pela sabedoria divina, empregaram no serviço a Deus!” Dessa maneira, Orígenes incentivou seu aluno a “extrair da filosofia dos gregos o que pudesse servir como assunto de estudo ou preparação para o cristianismo”.

Essa abordagem irrestrita à interpretação bíblica anuviou os limites entre a doutrina cristã e a filosofia grega. Por exemplo, em seu livro intitulado De Principiis (Primeiros Princípios), Orígenes descreveu Jesus como ‘Filho unigênito, que nasceu, mas que não teve princípio’. E acrescentou: ‘Sua geração é eterna e infinita. Ele se torna Filho não pelo recebimento do fôlego de vida, por algum ato externo, mas pela própria natureza de Deus.’

Orígenes não encontrou essa idéia na Bíblia, porque as Escrituras ensinam que o Filho unigênito de Deus é “o primogênito de toda a criação” e “o princípio da criação de Deus”. (Colossenses 1:15; Apocalipse 3:14) De acordo com o historiador religioso Augustus Neander, Orígenes chegou ao conceito de “geração eterna” por meio de sua “educação filosófica na escola platônica”. Dessa maneira, Orígenes violou o princípio bíblico básico: “Não vades além das coisas que estão escritas.” — 1 Coríntios 4:6.

Condenado por heresia: Havia passado pouco tempo desde que Orígenes tinha se tornado instrutor quando um sínodo alexandrino o destituiu do sacerdócio. Isso provavelmente ocorreu porque o bispo Demétrio ficou com ciúme de sua crescente fama. Orígenes mudou-se para a Palestina, onde ainda tinha a fama de defensor da doutrina cristã e continuou a servir como sacerdote ali. De fato, quando surgiram “heresias” no Oriente, ele foi procurado para convencer os bispos errantes a retornar à ortodoxia. Depois de sua morte em 254 EC, a reputação de Orígenes sofreu um abalo. Por quê?

Depois de o cristianismo nominal tornar-se uma religião importante, a Igreja passou a definir de maneira mais restritiva o que era aceito como ensino ortodoxo. Assim, gerações posteriores de teólogos não aceitaram muitos conceitos filosóficos especulativos e, às vezes, imprecisos de Orígenes. Por isso, os ensinamentos dele provocaram amargas controvérsias dentro da Igreja. Na tentativa de resolver essas controvérsias e preservar sua unidade, a Igreja condenou Orígenes formalmente por heresia.

Ele não foi o único a cometer erros. Na verdade, a Bíblia havia predito um desvio geral dos ensinos genuínos de Cristo. Essa apostasia começou a se desenvolver no fim do primeiro século, depois da morte dos apóstolos de Jesus. (2 Tessalonicenses 2:6, 7) Com o tempo, certos professos cristãos assumiram a posição de “ortodoxos”, afirmando que todos os outros eram “hereges”. Mas na realidade a cristandade desviou-se muito do verdadeiro cristianismo.

O falsamente chamado "conhecimento". Apesar das muitas especulações de Orígenes, suas obras contêm elementos benéficos. Por exemplo, a Hexapla conservou a forma original do nome de Deus em quatro letras hebraicas, chamadas de Tetragrama. Isso é uma prova importante de que os primitivos cristãos conheciam e usavam o nome pessoal de Deus, Yehowah. Contudo, Teófilo, patriarca da Igreja que viveu no quinto século, advertiu: “As obras de Orígenes são como uma campina com flores de todo tipo. Se encontro uma flor bonita, eu a apanho; mas se alguma coisa me parece espinhosa eu a evito como faria com um espinho.”

Por misturar ensinos bíblicos com filosofia grega, a teologia de Orígenes ficou repleta de erros, e as consequências foram desastrosas para a cristandade. O livro The Church of the First Three Centuries (A Igreja dos Primeiros Três Séculos) observa: “O gosto pela filosofia [introduzido por Orígenes] estava destinado a não ser logo extinto.” Com que resultado? “A simplicidade da fé cristã foi corrompida, e uma infinidade de erros foi introduzida na Igreja.”

Orígenes podia ter seguido o conselho do apóstolo Paulo e evitado contribuir para essa apostasia ‘desviando-se dos falatórios vãos, que violam o que é santo, e das contradições do falsamente chamado “conhecimento”’. Por basear tantos de seus ensinos em tal “conhecimento”, Orígenes ‘se desviou da fé’. — 1 Timóteo 6:20, 21; Colossenses 2:8. 

NOTAS FONTE BIBLIOTECA BIBLICA 


A DIVINA TRÍADE: IRINEU DE LIÃO E A DOUTRINA DE DEUS


    Irineu, o bispo de Lião, ocupa um lugar de destaque tanto na história da Igreja em geral quanto na história do pensamento cristão em particular.  A sua vida e obra são especialmente significativas porque ele viveu em um período importante da Igreja Primitiva sobre o qual temos relativamente poucas informações.  O segundo século foi uma época em que os apóstolos, os sucessores imediatos de Jesus, já não viviam, e a Igreja Cristã ainda não havia alcançado a força e estabilidade que iria obter nos séculos seguintes.  Foi uma época de incertezas para o movimento cristão ainda recente, constantemente ameaçado por perseguições e heresias; uma época em que a Igreja, pressionada pelos desafios lançados tanto por seus críticos pagãos como por seus dissidentes cristãos e pseudocristãos, sentiu-se mais e mais compelida a explicitar a sua fé em termos claros e convincentes.
      Irineu de Lião tem sido chamado merecidamente “O Pai da Ortodoxia Cristã”, “O Pai da Dogmática Católica” e “O Primeiro Grande Teólogo sistemático da Igreja”.  Ele também foi caracterizado como o mais importante teólogo do segundo século, o teólogo que sintetizou o pensamento daquele século e dominou a ortodoxia cristã antes de Orígenes.  Curiosamente, Irineu não foi primariamente um teólogo no modelo escolástico, mas um pastor e mestre da igreja, um homem preocupado com a integridade da mensagem cristã e com a unidade, paz e prosperidade do corpo de Cristo.  Os seus escritos são uma resposta direta, motivada por considerações pastorais e práticas, ao sério desafio e ameaça representado pelo gnosticismo.  Portanto, ele se dirige a outros líderes cristãos para ajudá-los a protegerem os seus rebanhos de ensinamentos que pervertiam seriamente o evangelho.
      A sua luta decisiva e eficaz contra o gnosticismo coloca Irineu entre os chamados Pais Anti-Gnósticos.  Como tal, Irineu se insere numa longa tradição de defesa corajosa da fé cristã, contra as heresias, que foi iniciada pelos autores do Novo Testamento e teve prosseguimento com os Pais Apostólicos e os Apologistas.  Nos seus esforços intelectuais, ele foi imediatamente seguido pelos grandes pensadores do terceiro século, mui especialmente Tertuliano (c.155-222) e Orígenes (c.185-254).
       Ainda que não tenha sido fundamentalmente um teólogo, muito menos um teólogo sistemático, Irineu certamente produziu uma teologia profunda, sólida e influente.  No entanto, ao contrário dos Apologistas, particularmente Justino Mártir (c.100-165), ele nutria grandes suspeitas em relação às especulações filosóficas, e isto por duas razões—elas não levavam a conclusões certas e confiáveis e eram, a seu ver, uma das fontes do gnosticismo.  O traço peculiar dos escritos de Irineu é a sua natureza explicitamente bíblica.  Ele é acima de tudo um teólogo bíblico, no sentido de que para ele a tradição bíblica era a única fonte da fé e o verdadeiro fundamento da teologia.  Tendo rejeitado a noção de que o conteúdo da revelação era simplesmente uma nova e melhor filosofia, Irineu, mais do que qualquer dos seus predecessores, esforçou-se para fornecer uma síntese de toda a Escritura, cobrindo todas as principais áreas da teologia cristã.

      Ao mesmo tempo, é evidente que Irineu recebeu muitas influências e fez uso de diferentes fontes, tanto bíblicas como extrabíblicas, que faziam parte do seu contexto intelectual secular e religioso.  Ele não reivindica ser um autor original, mas vê a si mesmo como um expositor da doutrina que havia recebido da Igreja.  Embora os seus escritos sejam circunstanciais, condicionados pelas necessidades imediatas da Igreja, eles nos dão uma boa perspectiva de como era o pensamento e o ensino bíblico e doutrinário ao final do segundo século.
      Devido à sua contribuição, “não é de surpreender”, diz Hardy, “que os teólogos modernos convidem Irineu a dar-lhes apoio em nossas atuais discussões”.  González vai além, afirmando que “a sua teologia, fundamentada na Bíblia e na doutrina da Igreja antes que em suas opiniões pessoais, tem sido continuamente uma fonte de renovação teológica”. Provavelmente, a principal área em que Irineu deu uma contribuição permanente à Igreja de todos os tempos foi a teologia propriamente dita, ou seja, a doutrina de Deus.  Era precisamente nesta área que o ensino gnóstico se mostrava mais prejudicial à doutrina cristã, através de sua incisiva negação da unidade de Deus e a sua conseqüente tendência divisionista na cristologia, na antropologia e na eclesiologia.
      O propósito deste estudo é rever e avaliar esta contribuição de Irineu ao pensamento cristão a partir de uma perspectiva histórica e teológica.  As próximas seções irão tratar resumidamente da vida e obra desse pensador, de alguns aspectos do sistema gnóstico por ele combatido e dos argumentos utilizados nesta confrontação, e de uma exposição e análise da sua doutrina de Deus, que antecipou vários temas das célebres discussões trinitárias dos séculos seguintes.

1. A vida de Irineu

      Muito pouco se conhece sobre a vida de Irineu.  Ele aparece pela primeira vez nos documentos antigos como o portador de uma carta dos confessores de Lião para a Igreja de Roma (bispo Eleutério, c.174-189), na época da perseguição do ano 177.  Esta carta pedia tolerância para os montanistas da Ásia Menor.  Em uma carta pessoal preservada por Eusébio de Cesaréia (Hist. eccl. 5,20,4-8), Irineu conta que tinha vívidas lembranças de Policarpo, o bispo de Esmirna, que fora discípulo do apóstolo João.  Isto era altamente significativo para Irineu, uma vez que Policarpo o colocava em contato com a era apostólica.  Irineu nasceu entre os anos 120 e 140 na Ásia Menor, provavelmente em Esmirna, onde ainda menino conheceu Policarpo, que foi martirizado aos 86 anos de idade no ano 155.

       Possivelmente por volta do ano 170, motivos familiares, pessoais ou missionários o levaram a Roma e depois para Lião (Lugdunum), no sul da Gália, atual França, onde ele se tornou um presbítero.  Hardy comenta que a Lião do segundo século era uma pequena Roma.  Uma cidade comercial às margens do Ródano e o centro do sistema romano de estradas da Gália, Lião era a sede de uma guarnição romana e a capital das três províncias gaulesas, sendo também o centro do culto imperial naquelas províncias.  Como Roma, Lião tinha uma grande população de língua grega entre a qual o cristianismo estava firmemente estabelecido.  A igreja de Lião tinha outros imigrantes de língua grega procedentes da Ásia Menor como Irineu.
      Após a sua missão em Roma no ano 177, Irineu retornou para Lião e descobriu que o bispo Potino havia sido martirizado, sendo então escolhido para ser o seu sucessor.  Como bispo de Lião, Irineu liderou a igreja daquela cidade, defendeu o seu rebanho contra as heresias e lutou pela paz e unidade da Igreja Cristã como um todo.  Esta última preocupação o levou a intervir na controvérsia pascal (c.190), quando Vítor, o bispo de Roma (189-198), ameaçou excomungar as igrejas da Ásia Menor por causa de um desentendimento referente à data da celebração da Páscoa.  Por esta razão, Eusébio declara que Irineu portou-se à altura do seu nome, porque provou ser um verdadeiro pacificador ou eurenopoios (Hist. eccl. 5,24,18).  Após este incidente, Irineu desapareceu completamente dos registros históricos e até mesmo o ano da sua morte é desconhecido.

2. Escritos

      Irineu escreveu uma longa série de obras, das quais somente duas sobrevivem: seu grande tratado A Detecção e Refutação da Falsamente Chamada Gnose (c. 185), geralmente conhecido como Contra as Heresias (Adversus Haereses), e uma obra de menor tamanho, Epideixis ou Demonstração da Pregação Apostólica, um tratado apologético descoberto em uma versão armênia em 1904 e publicado pela primeira vez em 1907.  Dos outros escritos de Irineu—vários tratados e cartas—temos apenas uns poucos fragmentos ou somente os títulos, os quais foram preservados por Eusébio de Cesaréia.
      A gigantesca Contras as Heresias consiste de cinco livros que no seu conjunto são maiores do que todo o corpo de literatura cristã existente naquela época.  O original grego perdeu-se quase inteiramente, mas existe uma tradução latina muito literal que foi publicada pela primeira vez por Erasmo de Roterdã em 1526, e também uma versão armênia dos dois últimos livros publicada em 1913.

      Como indica o título original, a obra é composta de duas partes.  A primeira parte (Livro I) trata da detecção ou descrição das doutrinas dos gnósticos, especialmente dos discípulos de Ptolomeu, que era discípulo de Valentino.  O autor conclui triunfantemente: “Meramente descrever tais doutrinas é o mesmo que refutá-las” (Adv. haer. 1,31,3-4).  A segunda parte, a “refutação”, compreende os quatro livros restantes.  No Livro II, Irineu refuta a gnose dos valentinianos e dos marcionitas com base na razão.  Ele ataca as doutrinas do pleroma e dos eons com uma lógica implacável, mas não procura elaborar uma alternativa especulativa.  Na realidade, o Livro II desenvolve o que havia ficado incompleto no primeiro livro.
      Os últimos três livros são devotados à refutação do gnosticismo com base nas Escrituras.  Aqui Irineu trata de muito temas mais amplos e elabora os princípios basilares da teologia cristã.  O Livro III coloca o fundamento da doutrina cristã nas Escrituras e na tradição e elabora com detalhes os seus pontos essenciais—a unidade de Deus e a redenção por meio de Cristo.  O Livro IV defende contra Márcion a unidade das duas alianças e o Livro V continua a discussão acerca da redenção e daí passa para as últimas coisas e a esperança do mundo por vir.  Neste livro, Irineu discorre longamente sobre a ressurreição do corpo, que era negada por todos os gnósticos.
      Contra as Heresias é a primeira grande obra cristã no segundo nível da teologia, a primeira tentativa abrangente de declarar o que é realmente o cristianismo.  Embora muito menor, a Epideixis ou Demonstração também é significativa, uma vez que parece representar o ensino de Irineu aos catecúmenos.  Ela segue a ordem da fórmula batismal, aduzindo provas escriturísticas para a crença no Pai, Filho e Espírito Santo.

3. Os gnósticos

      Bengt Hägglund observa com propriedade que “foi o idealismo gnóstico, com a sua negação da criação, que compeliu os pais da Igreja a abordarem com tantos detalhes as doutrinas de Deus e da criação, juntamente com o problema do homem, a encarnação e a ressurreição do corpo”.  É bem sabido que aquilo que chamado de gnosticismo era um fenômeno muito complexo que assumiu uma grande variedade de configurações.  De um lado do espectro havia manifestações de uma gnose cristã, das quais a mais destacada foi o marcionismo.  Por outro lado, os gnósticos do tipo valentiniano dificilmente poderiam ser considerados como cristãos.  Eles eram perigosamente enganosos uma vez que utilizavam as mesmas Escrituras e a mesma linguagem que os cristãos, mas com um sentido radicalmente diferente.  Irineu chama atenção para este fato através da interessante analogia da imagem de um rei e de sua transformação na imagem de um animal (Adv. haer. 1,8,1).
      Todos os sistemas gnósticos tinham em comum a opinião de que o cristianismo ortodoxo, com o seu “credo” claro e objetivo, era demasiado simples.  Eles professavam no mínimo ter uma resposta mais complexa para o enigma do universo.  Filosoficamente, as diferentes correntes do gnosticismo também tinham em comum a negação da unidade de Deus conforme apresentada nas Escrituras e ensinada pela Igreja Primitiva.  Na sua forma mais simples, eles negavam a identificação do Deus do Velho Testamento, Iavé, com o Deus de Jesus Cristo.
      Norris pondera que o contexto da “gnose” ou “verdade mais profunda” do gnosticismo “tinha a ver com a questão religiosa fundamental da origem, natureza e destino da alma”.  Esta preocupação levava a um entendimento do Ser Divino e da sua relação com o mundo que distorcia por completo o ensino cristão tradicional acerca de Deus.  Deste erro fundamental, decorriam todas as outras idéias gnósticas errôneas nas diferentes áreas da teologia cristã.
      Na concepção de Irineu, a gnose era pura e simplesmente uma contradição do cristianismo, uma negação das suas doutrinas capitais.  Como sabemos, Irineu não estava interessado no gnosticismo como um fenômeno geral, mas em um tipo particular de ensino que ele havia encontrado em Lião — a doutrina de Ptolomeu, “um rebento da doutrina de Valentino” (Adv. haer. 1, prefácio, 2).  Como tal, a gnose ptolomaica era “um sistema de complexidade fantasmagórica, cujo propósito era expor a verdade acerca da identidade do gnóstico em sua natureza mais íntima”.
      Conforme a descrição de Irineu, o traço essencial da gnose ptolomaica era um dualismo consistente.  Os gnósticos não reconheciam um, e sim dois mundos.  Havia o Pleroma ou Plenitude, uma sociedade de seres divinos ou Eons, em cujo ápice ficava a realidade última desconhecida e incognoscível, o Abismo.  Fora e abaixo do Pleroma estava o corrupto mundo material, o produto indesejado de uma desordem temporária na vida do Pleroma.  O mundo foi produzido através de um processo complexo que gerou os seus três elementos constitutivos: matéria corpórea, alma e espírito.  Os espíritos dos gnósticos estavam destinados a retornarem finalmente para o seu lar no Pleroma.
      O artífice do mundo visível é uma entidade angélica, o Demiurgo, uma simples alma que ignora qualquer vida superior à sua própria.  Este é o Deus dos judeus e o Jesus humano e terreno é o seu Messias.  No entanto, existe uma dimensão oculta da verdade nos ensinos de Jesus que revela o próprio Pleroma.  Isto acontece porque um eon divino, o Salvador, veio sobre Jesus no seu batismo e permaneceu com ele até o momento do seu sofrimento e morte.  Todo aquele que lê as palavras de Cristo em sintonia com o seu significado interior, e não com o seu sentido literal, encontra nas mesmas não as palavras do Messias judeu, mas o ensino do próprio Salvador, que traz o conhecimento da vida divina do Pleroma.
      Obviamente, a conseqüência deste sistema era o abandono completo do entendimento cristão tradicional acerca do Ser Divino e do seu relacionamento com o mundo.  Conforme Norris observa: “Na sua ansiedade de segregar a matéria do espírito, o mal do bem, os gnósticos dissolveram ao mesmo tempo a unidade do mundo e a unidade de Deus”. Por sua vez, este dualismo gnóstico destruía a integridade da teologia da história que estava no âmago da pregação cristã.  A oposição entre o Velho e o Novo Testamento, entre Iavé e o Salvador manifestado em Jesus, levava a uma dissolução da unidade da história da salvação, a história da relação de Deus com a humanidade apresentada nos escritos sagrados da Igreja.

4. O argumento de Irineu

      A argumentação de Irineu contra a heresia gnóstica foi tríplice: filosófica, histórica e exegética.  Primeiramente, ele chamou a atenção para o absurdo lógico do sistema gnóstico, especialmente na sua idéia de Deus.  Particularmente, no segundo livro deAdversus Haereses, ele procura expor “as inconsistências de uma concepção que proclama a infinidade e a supremacia do Deus absoluto e ao mesmo tempo nega a sua responsabilidade pelo mundo material.  A forma racional e abstrata deste argumento parece contradizer a afirmação anterior de que Irineu nutria suspeitas com relação às especulações filosóficas.  Sabemos que em vários pontos de suas obras a sua hostilidade para com a filosofia é bastante explícita (Adv. haer. 2,26,1).  Todavia, o fato é que Irineu não poderia deixar de fazer especulações e de utilizar idéias religiosas e filosóficas que estavam profundamente incrustadas no seu contexto cultural (judaísmo helenístico, platonismo, etc.).
      Em segundo lugar, Irineu refutou a alegação dos gnósticos de que eles ensinavam a verdadeira doutrina de Cristo e dos apóstolos.  Nesta tarefa, Irineu teve de estabelecer as credenciais históricas da sua própria posição, ou seja, a harmonia existente entre aquela doutrina e o seu cristianismo anti-gnóstico.  Ele apelou para os escritos sagrados que constituíam o fundamento dos ensinos da Igreja (o Velho Testamento na versão da Septuaginta e os livros que mais tarde seriam conhecidos como o Novo Testamento) e insistiu em que estas fontes escritas eram o único padrão final do autêntico ensinamento cristão.  Além disso, ele apelou ao princípio da tradição: o critério para o entendimento das Escrituras é encontrado na doutrina abertamente proclamada (“a regra da verdade”) por aquelas igrejas cujos líderes sucederam numa ordem publicamente reconhecida o ofício docente dos apóstolos.  A “verdade” que, de acordo com Irineu, era a “regra” (kanon), consistia da ordem da salvação revelada na Bíblia, proclamada pela Igreja e sintetizada na confissão batismal.
      O terceiro nível do argumento de Irineu foi exegético.  Ele tomou os ensinos dos profetas, de Cristo e dos apóstolos e mostrou que eles se opunham frontalmente à doutrina dos adversários gnósticos.  No decurso da sua análise exegética Irineu desenvolveu o que considerava a alternativa ortodoxa ao gnosticismo.  Este empreendimento o levou a utilizar idéias exegéticas e teológicas que havia herdado de escritores cristãos anteriores, especialmente dos apologistas.  Desse modo, a elaboração feita por Irineu de uma alternativa ao gnosticismo o levou a dialogar com a cosmologia teológica grega, cujo início consciente pode ser visto nas apologias de Justino.  Além disso, à medida que procurava mostrar a continuidade entre os eventos do Velho Testamento e os do Novo Testamento, Irineu utilizou e desenvolveu a chamada exegese tipológica (Adv. haer. 4,20,7 - 25,3).

5. A doutrina de Deus

      Por volta de meados do segundo século começou a surgir nos círculos cristãos uma crescente elaboração de formulações confessionais, catequéticas e batismais, bem como o esforço de falar sobre as implicações mais amplas das mesmas, em nível intelectual.  Estas elaborações marcam a transição de uma teologia primária para uma teologia secundária ou de segundo nível, em resposta à necessidade de explicar o que acontecia quando alguém era batizado, ou seja, qual o significado do novo relacionamento estabelecido com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.  Mais especificamente, a necessidade de interpretar as fórmulas catequéticas, confessionais e batismais em face dos escritos heréticos foi o contexto no qual começou a surgir a busca intelectual da doutrina da trindade.  Em Irineu, encontramos a primeira elaboração extensa das fórmulas batismais triádicas, juntamente com as suas implicações, como uma resposta direta ao desafio lançado pelo gnosticismo à concepção cristã de Deus.
      Irineu inicia com a regra da verdade, a “tradição” ou ensino transmitido pelos apóstolos e fielmente preservado pela igreja.  A partir daí ele desenvolve o seu entendimento acerca da unidade de Deus e da realidade da tríade divina: Pai, Filho e Espírito Santo.  Não havia um credo em Lião, mas uma linguagem triádica sobre o que significava ser um cristão.  Evidentemente, ainda não havia uma doutrina da trindade.  Apesar das suas afirmações ao contrário, Irineu demonstrou ter uma mente altamente criativa ao deduzir as implicações das fórmulas tradicionais para muitas áreas do pensamento cristão, particularmente para a idéia de Deus.

5.1 A Regra da Verdade

      Como foi visto acima, para Irineu a “regra da verdade” era o sistema de fé derivado dos apóstolos e dos seus discípulos e compartilhado pela Igreja universal.  Com isto, ele não estava se referindo a um único credo universalmente aceito ou a qualquer tipo de fórmula como tal, mas ao conteúdo doutrinário da fé cristã transmitida na Igreja “católica”.  Em várias passagens, Irineu faz alusões a esta regra da verdade e até mesmo reproduz sínteses da mesma, quase invariavelmente em termos triádicos e em conexão com o batismo.
      Existem vários exemplos na Epideixis, como este encontrado no capítulo 3: “Antes de tudo, precisamos ter em mente que recebemos o batismo para a remissão dos pecados em nome de Deus o Pai, e em nome de Jesus Cristo o Filho de Deus, que se encarnou, morreu e ressuscitou, e no Espírito Santo de Deus”.  Existem outras referências nos capítulos 7 e 100.  A partir desta linguagem, Kelly conclui que Irineu conhecia uma série de perguntas batismais que seriam mais ou menos assim: “Você crê em Deus Pai?  Você crê em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se encarnou, morreu e ressurgiu?  Você crê no Espírito Santo de Deus?”.  A Epideixis tem, no seu capítulo 6, uma exposição detalhada dos três pontos, novamente em um contexto relacionado com o batismo, o que dá uma boa idéia da instrução catequética pré-batismal fornecida naquela época.
      Os sumários “credais” mais importantes encontrados em Contra as Heresias são também confissões com três cláusulas.  A passagem mais notável é aquela encontrada em 1,10,1:      A Igreja, embora dispersa por todo o mundo, até aos confins da terra, recebeu dos apóstolos e dos seus discípulos esta fé: [Ela crê] em um Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador dos céus, da terra, do mar e de todas as coisas que neles estão; e em um Cristo Jesus, o Filho de Deus, que se encarnou para a nossa salvação; e no Espírito Santo, que proclamou através dos profetas as dispensações de Deus. . .
      Outra referência importante é aquela encontrada em 4,33,7, que parece ter sido deliberadamente baseada em 1 Cor 8:6:
Ele [o verdadeiro discípulo espiritual] tem plena fé em um Deus Todo-poderoso, de quem são todas as coisas; e no Filho de Deus, Jesus Cristo nosso Senhor, por quem são todas as coisas, e nas dispensações referentes a Ele, por meio das quais o Filho de Deus se fez homem; e uma fé firme no Espírito de Deus, que nos proporciona o conhecimento da verdade, e tem apresentado as dispensações do Pai e do Filho, em virtude das quais Ele habita com cada geração dos homens, de acordo com a vontade do Pai.      Também existem vários exemplos de fórmulas com dois artigos (Adv. haer. 3,1,2; 3,42; 3,16,6; etc.).

      Kelly pondera que, surpreendentemente, é tênue a influência de motivos anti-heréticos nestas várias declarações.  Talvez isto seja verdade quanto às declarações em si mesmas, mas certamente os seus contextos não deixam dúvida quanto à sua intenção polêmica.  É precisamente a partir dessas afirmações da regra da verdade que Irineu deriva os seus principais argumentos contra as noções gnósticas acerca de Deus e do seu relacionamento com a ordem criada.

5.2 Deus, Uno e Criador

      Com Irineu, a afirmação de Deus como uno e criador assumiu importância especial, uma vez que a sua tarefa era refutar a teoria gnóstica de uma hierarquia de eons que desciam de um Deus Supremo incognoscível e o seu corolário de uma grande distância entre ele e o criador ou Demiurgo.  Um texto torna clara esta posição: “O primeiro artigo de nossa fé”, explica Irineu, “é Deus o Pai, incriado, não-gerado, invisível, Divindade una e única, criador do universo” (Dem. 6; ver também Adv. haer. 2,1,1; 2,9,1; 2,16,3).  Deus exerce a Sua atividade criadora através da Sua Palavra e da Sua Sabedoria ou Espírito (2,30,9).  Ele criou ex nihilo (2,10,4), sendo esta provavelmente a primeira declaração cristã explícita da criação de todas as coisas a partir do nada.  Para fundamentar estes princípios Irineu apela, além das Escrituras, à razão natural (Dem. 4).
      Deus relaciona-se com o mundo não somente através da criação, mas também através da redenção.  O Deus da salvação é o mesmo Deus da criação (Adv. haer. 4,6,2; 4,20,2), ou seja, não há senão um só Deus, que tanto cria como redime.  O ensino gnóstico acerca de dois deuses era uma blasfêmia contra o Criador.  Ele também implicava na impossibilidade da salvação, porque se Deus não criou, a criação também não poderia ser redimida.  Se Deus não foi o criador, ele não iria salvar a criação.  Todavia, este é o alvo de toda a ordem da criação.  Para os gnósticos, a salvação consistia em serem libertos da criação, do mundo material; para Irineu, no entanto, a salvação significava que a própria criação seria restaurada ao seu estado original e alcançaria o seu destino conferido por Deus.
      A visão gnóstica de Deus não somente punha em dúvida o princípio bíblico essencial do monoteísmo, mas impunha uma limitação seja ao poder ou à bondade de Deus.  Contra estas concepções, Irineu afirma que Deus é um e único em sua majestade e bondade, e supremo no seu poder.  Os termos que ele emprega são tomados, curiosamente, do judaísmo helenístico e da teologia do médio platonismo.  Ele escreve que Deus é incriado, incompreensível, sem figura ou forma, impassível e incapaz de erro (Adv. haer. 4,38,2-3).  Ele é estático, imutável (2,34,2), auto-contido e auto-suficiente (2,1,5; 4,16,4).  Deus é, como Platão observou corretamente, incapaz de ser declarado e, portanto, como Irineu conclui de maneira não platônica, ele é conhecido somente na medida em que se dá a conhecer a si mesmo.  Ele é simples, não-composto e totalmente diferente das coisas criadas (2,13,3).
      Irineu também repete constantemente que Deus é sem limites.  O verdadeiro Deus é ele mesmo o Pleroma, a “Plenitude” de todas as coisas.  Como tal, ele não é contido por nada e todavia contém tudo o que existe (2,30,9; 2,1,1).  Ele é ilimitado tanto no seu poder como na sua presença: não existe nada à parte dele e nada que não esteja sujeito a ele.  Na sua simplicidade e eternidade não-originadas, Deus é o contexto imensurável de todo o ser, bem como a sua fonte—diferente de todas as criaturas, porém não separado de nenhuma delas.
      Norris vê aqui uma diferença significativa entre Irineu e Justino. Enquanto que Justino tende a acentuar a transcendência radical do Criador sobre a sua criação, a agenda de Irineu requer uma maneira de afirmar a majestade transcendente de Deus que não pareça excluí-lo do mundo.  A noção do caráter ilimitado de Deus não significa meramente que Deus não pode ser medido, mas também que nada impõe um limite ao seu poder e à sua presença.  Assim, o que torna Deus diferente de toda criatura—a sua simplicidade eterna e não-gerada—é precisamente o que lhe assegura um relacionamento direto e íntimo com toda criatura.

5.3 A Divina Tríade

      Da mesma maneira que os ensinos gnósticos levam Irineu a enfatizar a unidade de Deus, a regra da verdade ligada ao batismo o faz refletir sobre as distinções do Ser Divino: Pai, Filho e Espírito Santo.  Irineu mostra a dificuldade de se reconciliar uma só realidade divina com tais distinções, isto é, como afirmar a unidade de Deus e ao mesmo tempo preservar a Tríade.  No seu pensamento, as próprias relações das “pessoas” da Tríade permanecem obscuras.  Ele trata das implicações da fórmula, mas se recusa a ir além disso; esta tarefa seria deixada para teólogos posteriores.
      Como foi visto anteriormente, Irineu começa a sua exposição do Ser Divino a partir dos três artigos fundamentais do símbolo batismal.  Uma passagem essencial éDemonstração .  Lebreton observa apropriadamente que “a fim de julgar as heresias [Irineu] leva-as a esta regra fundamental e demonstra a oposição das mesmas aos três artigos do símbolo”.  Por sua vez, Kelly argumenta que Irineu vai além dos apologistas em dois aspectos, a saber, na sua compreensão mais firme e afirmação mais explícita da noção de “economia” e no seu reconhecimento muito mais pleno do lugar do Espírito no esquema triádico.
      A divina Tríade é invocada para mostrar com mais detalhes como Deus se relaciona com o mundo não somente na criação, mas na redenção.  Irineu se acerca de Deus a partir de duas direções, vendo-o tanto como ele existe no seu ser intrínseco e também como ele se manifesta na economia, o processo ordenado da sua automanifestação.  Do primeiro ponto de vista, Deus é o Pai de todas as coisas, inefavelmente um, e todavia contendo em si mesmo desde toda a eternidade a sua Palavra e a sua Sabedoria.  Porém, ao dar-se a conhecer ou pôr-se em atividade na criação e na redenção, Deus manifesta esta Palavra e esta Sabedoria; como o Filho e o Espírito, elas são as suas “mãos”, os veículos ou formas da sua auto-revelação.
      Norris pondera que a nota característica do ensino de Irineu acerca de Deus pode ser vista na sua luta com a doutrina do Logos herdada dos apologistas.  Ele a utiliza, mas um tanto a contra-gosto e com cuidadosas qualificações.  A Palavra ou o Verbo é visto como o Mediador.  O Pai está “acima de tudo”, enquanto que a Palavra é “através de todas as coisas”.  O Pai está de algum modo “fora” do mundo e a Palavra parece um poder intermediário através de quem Deus se relaciona com o mundo e atua nele.  A Palavra é o Mediador da revelação: o Deus invisível e incompreensível não é dado a conhecer diretamente, mas através da sua Palavra.
      Irineu não fica inteiramente satisfeito com esta linguagem.  A sua oposição ao gnosticismo o torna avesso a qualquer sugestão de que existe mais de uma substância divina ou de que Deus está de algum modo separado do seu mundo.  Assim, ele repudia todas as tentativas de se explorar o processo pelo qual o Logos/Verbo foi gerado (2,28,4-6; 2,13,8).  Tal linguagem parece sugerir que o Logos é um estado intermediário entre Deus e a criação e parece implicar em distinções de grau dentro da Divindade.  Ao mesmo tempo, o Verbo ou Filho é corretamente chamado “Deus” (Dem. 47); ele é distinto de tudo o que é gerado e coexiste com o Pai desde toda a eternidade (2,30,9; 3,18,1; 4,20,1).
      Com o Filho Irineu associou intimamente o Espírito, argumentando que, se Deus era racional e portanto tinha o seu Logos, ele também era espiritual e assim tinha o seu Espírito (Dem. 5).  Nisto, Irineu demonstrou ser um seguidor de Teófilo de Antioquia e não de Justino, identificando o Espírito, não o Verbo, com a Sabedoria divina, e assim fortalecendo a sua doutrina do Espírito Santo com uma base bíblica segura (Sl 33.6; Pv 3.19; 8.22-36; etc.).  O Espírito é plenamente divino, ainda que em nenhum lugar Irineu o designe expressamente como Deus, pois ele é o Espírito de Deus, continuamente brotando do seu ser (5,12,2).
      Irineu também é bastante peculiar e criativo no seu ensino acerca do Verbo e da Sabedoria, o Filho e o Espírito, como “as duas mãos de Deus” (4,20,1), uma imagem que faz lembrar Jó 10:8a e Salmo 119:73.  Esta é outra maneira pela qual ele acentua a doutrina de um Deus imediatamente presente e ativo.  É o próprio Deus Supremo que está empenhado numa atividade criadora neste mundo.  Lawson observa que este ensino denota uma “ação direta”, em contraste com os anjos intermediários dos sistemas gnósticos (Adv. haer. 4,7,4).  Irineu também fala do “Pai que planeja tudo bem e dá as suas ordens, o Filho que as executa e realiza a obra de criação, e o Espírito que nutre e faz crescer. . .” (4,38,3).  Vê-se aqui um esforço de preservar a igualdade do status divino entre o Filho e o Espírito exigida pela fórmula triádica.  Assim, “as duas mãos de Deus” é uma expressão do caráter imediato da criação, não do seu caráter mediato.
      O Verbo e o Espírito colaboram na obra de criação e direção (4,20,2; Dem. 5) e também nas atividades de inspiração e revelação.  O Verbo revela o Pai (4,6,3; 4,6,6).  Na encarnação o Verbo, até então invisível aos olhos humanos, tornou-se visível e manifestou pela primeira vez aquela imagem de Deus a cuja semelhança o ser humano foi originalmente criado (5,16,2).  O Espírito atuou nos profetas e nos crentes da antigüidade; somente ele capacita as pessoas a conhecerem o Filho (Dem. 6,7).  A santificação é inteiramente obra do Espírito.
      Lawson acredita que o tratamento mais profundo e consistente da natureza de Deus feito por Irineu está em Adv. haer. 4,20,1-12, um capítulo que inicia com a celebração do amor de Deus.  No centro da religião de Irineu, está o conceito do amor auto-comunicativo de Deus.  Porque ele ama, Deus livremente dá de si mesmo na criação, nos profetas e no Filho do seu amor.
      A visão de Irineu acerca da Divindade é a mais completa e também a mais explicitamente “trinitária” que se pode encontrar antes de Tertuliano. Seus característicos do segundo século destacam-se claramente, particularmente em sua apresentação da Tríade através da imagem, não de três pessoas co-iguais (conceito pós-niceno), mas de um único personagem, o Pai, que é a própria Deidade, com a sua mente ou racionalidade e a sua sabedoria.
      Confrontado com as extravagâncias gnósticas, Irineu permaneceu extremamente avesso à investigação das profundezas ontológicas da Tríade e das relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.  O fato importante destacado pela fórmula batismal e acentuado por Irineu é que existem distinções reais no ser imanente do Pai único e indivisível e que, embora somente tenham sido plenamente manifestas na “economia”, elas realmente estavam presentes desde toda a eternidade.
      A  teologia de Irineu é um tributo à sua fé no Deus triúno, à sua capacidade intelectual e ao seu compromisso com a Igreja.  É também uma evidência eloqüente da força interior e da crescente influência do cristianismo primitivo, que teve no bispo de Lião um dos seus mais notáveis e dignos representantes.  Nos dias atuais, em que diversos sistemas neo-gnósticos e pseudocristãos continuam a questionar a fé cristã histórica, o exemplo de Irineu nos incentiva a aprofundar a nossa reflexão teológica à luz das Escrituras e da experiência da Igreja.

 Fontes Portal Makenze 


               QUEM ERAM OS PRIMEIROS CRISTÃOS


Ainda recordação que o professor de inglês na universidade tratava de impressionar-me com a importância de definir os termos que usava em minhas composições. Prestei-lhe pouco atendimento naquele tempo, mas me dei conta da importância de seu conselho quando comecei a falar dos primeiros cristãos. Sempre alguém me fazia a pergunta: “Que quer dizer você quando se refere a ‘os primeiros cristãos’?”Permita-me, pois, definir este termo. Quando falo de “os primeiros cristãos”, estou-me referindo aos cristãos que viviam entre os anos 90 e 199 d.C.

     O apóstolo João estava vivo ao princípio desta época.

 Nesta primeira geração de primeiros cristãos, tinha gente que tinha conhecido pessoalmente a algum dos apóstolos. Tinham recebido instrução deles. Policarpo serve como exemplo de tais pessoas. O foi instruído pelo apóstolo João. Esta época terminou com um homem que foi ensinado por Policarpo: Irineu. Assim tinha um só elo humano entre ele e os apóstolos. Ao dizer “cristianismo primitivo”, estou-me referindo às crença se práticas da comunidade de primeiros cristãos, em todo mundo, que mantinham os vínculos de companheirismo entre si. Não falo das crenças e práticas dos que eram chamados hereges. Usando a figura da parábola em Mateus 13.24-30, falo só do trigo. Não falo do campo que continha tanto o trigo como a discórdia.
Então este livro se dedica a descrever aos primeiros cristãos que viveram entre os anos 90 e 199 d.C. Mas os cristãos do seguinte século geralmente mantiveram as mesmas crenças e práticas. As grandes mudanças na doutrina cristã se fizeram depois de 313, ano em que o imperador romano Constantino legalizou o cristianismo. Por esta razão, neste livro utilizo algumas citações de escritores que viveram entre os anos 200 e 313, com a condição que concordem com as crenças dos que viveram no século depois dos apóstolos. Eram estes “os santos pais”?
Quando eu começo a falar dos escritores entre os primeiros cristãos, muitas pessoas depois respondem: “Ah, bem. Você se refere a ‘os santos pais’ da igreja.”Mas estes escritores não eram “santos pais da igreja”. A maioria deles eram cristãos ordinários que trabalhavam com suas mãos, ainda que sim tivesse mais educação que muitos outros em seu tempo. Tivessem-se indignado com qualquer pessoa que se tivesse atrevido a chamá-los “santos pais”. Não tinham tal nome. Os únicos “pais” da igreja que eles conheciam éramos apóstolos—e não os chamaram pais.
Em verdade, o fato de que estes escritores não eram pais da igreja adiciona grande valor a seus escritos. Se eles fossem “pais” de algum grande sistema teológico, seus escritos seriam de pouco valor para nós. Em tal caso, aprenderíamos só as doutrinas que devastes teólogos tivessem proposto. Mas os cristãos no segundo século não escreveram obras de teologia. Nenhum cristão do segundo século pode ser chamado teólogo. Não existia nesse tempo uma teologia sistemática no sentido atual, nem em todo mundo antes do imperador Constantino.
Os escritos da igreja primitiva podem ser divididos em três classes: (1) obras de apologia que defendiam as crenças cristãs frente aos ataques dos judeus e dos romanos; (2) obras que defendiam ao cristianismo contra os hereges; e (3) correspondência entre igrejas. Estes escritos dão depoimento das crenças e práticas universais na época depois da morte dos apóstolos E é isto o que lhes dá grande valor.
Se tivesse um cristão entre os anos 90 e 313 a quem pudéssemos chamar “teólogo” seria Orígenes s. Mas Orígenes s não impunha suas crenças sobre outros cristãos. Ao invés, o era o menos dogmático de todos os escritores dos primeiros séculos da época cristã. E nesta época nenhum escritor mantinha um dogma estrito, senão só nos pontos mais básicos da fé cristã.
Um dos distintivos do cristianismo primitivo é a carência de muitos dogmas inflexíveis. Em realidade, quanto mais atrás um vai à história do cristianismo, menos de teologia acha. No entanto, ainda que tivesse muita diversidade entre os primeiros cristãos, ainda achei que tinha muitos dos mesmos temas e crenças expressados em todos os escritos deles. Este livro examina estas crenças e práticas universais dos primeiros cristãos.
Com este propósito, não falo neste livro de nenhuma crença nem prática da igreja primitiva a não ser que cumpra os seguintes requisitos:
1. Todos os primeiros cristãos que escrevem do tema concordam no que dizem; e
2. Pelo menos cinco escritores, distantes os uns dos outros quanto à geografia e tempo, escrevem do mesmo tema.
Realmente, a maioria dos pontos que apresento neste livro são apoiados pelo depoimento a mais de cinco escritores.

Uma introdução breve a oito dos escritores principais


Antes de apresentar as crenças dos primeiros cristãos, quero introduzir alguns dos escritores principais os quais vou citar:
                            Clemente de Roma (30 – 100)

Várias hipóteses sobre ele já foram levantadas para identificá-lo. Para alguns ele pertencia à família real, para outros ele era colaborador do apóstolo Paulo, outros ainda sugeriram que ele escreveu a carta aos hebreus. Assim sendo, as informações que temos sobre Clemente de Roma vão desde lendárias até testemunhas fidedignas. Alguns pais aceitaram esta identificação de colaborador do apóstolo Paulo, como Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo, Irineu de Lião entre outros.

A principal obra de Clemente é uma carta redigida em grego, endereçada aos crentes da cidade de Corinto, mais ou menos no final do reinado de Domiciano (81-96) ou o começo do reino de Nerva (96-98). Trata principalmente da ordem e da paz da Igreja, usando como lembrança que formamos um corpo em Cristo e como neste corpo deve reinar a unidade e não a desordem, pois Deus deseja a ordem em suas alianças. Utiliza-se ainda da analogia da adoração ordeira do Antigo Israel, e do princípio apostólico de apontar uma continuação de homens de reputação.

                          Inácio de Antioquia (xxx – 117)

Mesmo sendo de Antioquia, seu nome Ignacius, deriva-se do latim: igne: fogo, e natus: nascido. Era um homem nascido do fogo, ardente, apaixonado por Cristo. Segundo Eusébio, após a morte de Evódio, que teria sido o primeiro bispo de Antioquia, Inácio fora nomeado o segundo bispo desta influente cidade.
Escreveu algumas epístolas às Igrejas asiáticas: uma à igreja de Éfeso, outra à igrejas de Magnésia, situada no Meander, outra a igreja de Trales, e ainda para Filadélfia e Esmirna, e por fim à igreja de Roma. O objetivo da carta a Roma, era solicitar que os irmãos não impedissem seu martírio, pois estava a caminho de Roma, durante o reinado de Trajano (98 – 117).
Antioquia – Fundada por volta do ano 300 a.C., por Seleuco Nicátor, com nome de Antiokkeia, (cidade de Antíoco), tornou-se capital do império selêucida e grande centro do Oriente helenístico. Conquistada pelos Romanos por volta do ano 64 a.C., conservou seu estatuto de cidade livre e foi a terceira cidade do Império depois de Roma e Alexandria (no Egito), chegando a abrigar 500 mil habitantes. Foi evangelizada pelos apóstolos Pedro, Paulo e Barnabé. Tornou-se metrópole religiosa, sede de um patriarcado e centro de numerosas controvérsias, entre elas o arianismo, o monofisismo, o nestorianismo. Era considerada Igreja-mãe do Oriente.

Policarpo Discípulo do apóstolo João

Policarpo, de cuja morte falamos no primeiro capítulo, servia de modelo de fé e de devoção às congregações de Ásia Em sua juventude ele acompanhou ao apóstolo João e aprendeu a seus pés. Evidentemente, João mesmo o ordenou como bispo da congregação em Esmirna. 2 Se é correto que “os anjos” das sete igrejas de Apocalipses se referem aos bispos das igrejas então “o anjo” da igreja em Esmirna possa ter sido o mesmo Policarpo. (Veja-se Apocalipse 1.20 e 2.8.) Se é assim, que grato é notar que o Senhor Jesus Cristo não repreendeu em nada à igreja de Esmirna.
Policarpo viveu até uma idade de pelo menos 87 anos. Foi martirizado ao redor do ano 155 d.C. I
Irineu—Elo importante com os apóstolos Uno dos discípulos pessoais de Policarpo foi Irineu, quem depois se mudou a França como missionário. Quando o bispo da congregação em Lyon foi morto numa onda de perseguição, Irineu foi chamado para tomar seu lugar. A igreja em todo mundo elogiava a Irineu como homem justo e piedoso. Como discípulo de Policarpo, quem a sua vez era discípulo do apóstolo João, Irineu serve como elo importante com a época dos apóstolos Foi martirizado cerca do ano 200.

O MARTÍRIO DE POLICARPO 

                                     Policarpo (69 – 159)

Sobre sua infância, família e formação, não temos informações precisas, contudo há documentos históricos sobre ele. Graças a alguns testemunhos fidedignos, podemos reconstruir sua personalidade. Foi discípulo do apóstolo João, amigo e mestre de Ireneu, tendo ainda conhecido Inácio, sendo consagrado bispo da igreja de Esmirna. Quanto aos seus escritos, a única epístola que restou desse antigo pai da igreja é sua Carta aos Filipenses, exortando-a a uma vida virtuosa de boas obras e à firmeza na fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Seu estilo é informal, com muitas citações do Velho e Novo Testamento, faz 34 citações do apóstolo Paulo, evidenciando que conhecia a carta de Paulo aos Filipenses, bem como outras epístolas. Todavia temos também o testemunho de Eusébio e Ireneu 5, relatando a intimidade de Policarpo com testemunhas oculares do evangelho. Segundo Tertuliano, Policarpo teria sido ordenado bispo pelas mãos do próprio apóstolo João.

O martírio de Policarpo

O martírio de Policarpo é descrito um ano depois de sua morte, em uma carta enviada pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio. Este registro é o mais antigo martirológio cristão existente. Diz a história que o procônsul romano, Antonino Pius, e as autoridades civis tentaram persuadi-lo a abandonar sua fé em sua avançada idade, a fim de alcançar sua liberdade. Ele, entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou? Eu sou um crente!”
A carroça atirada por cavalos rodava pelas ruas empedradas da antiga cidade de Esmirna. O prisioneiro podia ouvir os gritos do gentio enlouquecido dentro da areia romana. Os cachorros da rua seguiam à carroça, ladrando loucamente. Meninos curiosos, com olhos cheios de emoção, corriam-se a um lado para dar-lhe passo. E caras sem número se assomavam curiosas às janelas. Detendo-se afora dos altos muros da areia, o guarda sacou ao prisioneiro da carroça como se fosse um vulto de lixo. Não lhe importou que as pernas do prisioneiro ficassem lesadas. Já faz semanas que o povo fazia questão de que este homem fora preso e executado. Mas não tinha aparência de malfeitor este ancião delicado, com cara enrugada. Seu cabelo e barba eram brancos, como as nuvens no céu mediterrâneo aquela tarde. O prisioneiro entrou na areia, coxeando. E as novas correram de uma pessoa a outra que este era Policarpo, o criminoso vil cuja morte tinham vindo ver.
Seu delito, qual era?
Era o líder naquela cidade de uma seita supersticiosa, a seita conhecida pelo nome cristão. O ancião, guiado por soldados, acercou-se ao procônsul romano, enquanto o gentio gritava sua aprovação. Queriam ver sangue esta tarde. Mas a cara do procônsul se ruborizo. Era este o criminoso perigoso a quem queriam dar morte?
O procônsul se inclinou para adiante e falou baixinho ao ancião prisioneiro. —O governo romano não quer perseguir aos anciãos. Só jura pela divindade de César e te porei em liberdade. —Isto não posso fazer.—Então só grita: “Abaixo com os ateus”, e bastará. (Já que os cristãos não tinham nem deuses nem templos, muitos criam que eram ateus.) Com grande acalma o prisioneiro deu a volta e assinalou para o gentio que gritava por sua morte. Então, olhando para o céu, gritou a toda voz: —¡Abaixo com os ateus!
O procônsul ficou desconcertado ao ver a resposta do prisioneiro. Este tinha feito o que se lhe mandou, mas não da maneira esperada. Não satisfaria ao gentio louco que seguia gritando por sua morte. O procônsul queria pôr em liberdade a este ancião, mas tinha que aplacar a gente. —¡Amaldiçoa a Jesus cristo! —ordenou.
Por uns momentos Policarpo olhou fixamente ao rosto severo do procônsul. Depois falou com acalma: - Por oitenta e seis anos servi a Jesus, e ele nunca me fez mal algum. Como, pois, poderei amaldiçoar o meu Rei e Salvador?
Entretanto, a multidão se impacientava mais. Queriam sangue, e o procônsul o sabia. Tinha que fazer algo. —Jura pela divindade de César —lhe instou outra vez.Mas o prisioneiro contestou sem demorar:—Já que você aparenta não saber quem sou, permita-me ajudar-lhe. Digo sem vergonha que sou um cristão. Se você deseja saber que crêem os cristãos, assinale uma hora, e eu com gosto se o direi.
O procônsul se agitou. —Não me tens que persuadir a mim. Persuade a eles-disse, assinalando para a multidão impaciente. Policarpo deu uma olhada ao tumulto que enchia a areia.
Tinham vindo para ver a diversão de sangue. Isso queriam nada menos. —Não baratearei os ensinos de Jesus ante tais pessoas.Agora o procônsul se enojou.—Não sabes que tenho a meu poder os animais ferozes? ¡Os soltarei de imediato se tu não te arrependas destas necedades!—Muito bem. Solte-os replicou Policarpo, sem medo—. Quem ouviu jamais de do que uma pessoa se arrependesse do bom para andar em atrás do mau?O procônsul costumava vencer ainda aos criminosos mais fortes com suas ameaças, mas este ancião mais bem o vencia a ele. Sua cólera montava. —Bem, se os leões não te dão medo, ouve-me. ¡Te queimarei vivo se não amaldiçoas a Jesus Cristo agora mesmo!Cheio do Espírito Santo, Policarpo contestou com gozo e valor: - Me ameaça você com um fogo que se apaga depois de uma hora. Não sabe que virá um fogo eterno, o fogo de juízo reservado para os ímpios? Por que esperar mais? Faça comigo o que vai fazer.
O procônsul não tinha querido que saísse desta maneira. O tinha querido conquistar a esta velha. Tinha esperado ver-lhe de joelhos rogando por misericórdia. Mas o prisioneiro… o ancião… tinha conquistado ao procônsul. E este se recostou em sua cadeira elegante, humilhado e enfurecido.
Mandou heraldos a diferentes lugares na vasta areia para anunciar o que Policarpo tinha dito. Quando se anunciou o último desafio de Policarpo, uma onda de fúria correu pela multidão ¡Isto fariam! O que eles tinham querido desde o princípio. Com gritos agudos, saltaram de suas cadeiras e correram pelos corredores Lançaram-se para as portas que davam às ruas Correndo loucamente, procuraram lenha onde quer. Saquearam as lojas. Entraram até nos banhos públicos e roubaram a lenha de ali. E se apressaram para voltar à areia, carregados com lenha para prender o fogo. Amontoaram a lenha ao redor da pira preparada, à qual os soldados já fincavam as mãos e as pernas de Policarpo.
Mas ele falou com confiança aos soldados: - Deixem-me bem como estou. O que me fortalece contra o fogo me ajudará a permanecer nele sem que me assegurem. Depois de permitir que Policarpo orasse, os soldados prenderam o fogo.1.
Ao queimar a Policarpo, o povo de Esmirna cria que oporiam no esquecimento e que a desprezada seita dos cristãos se acabaria. Como o procônsul que tinha esperado intimidar a Policarpo, assim cria o povo que os cristãos se intimidariam e esqueceriam sua fé. ¡Que engano! Resultou tudo o contrário. Em vez de intimidar-se pela morte de Policarpo, seu líder, os cristãos cobraram mais ânimo. E seu número aumentou. Paradoxalmente, o que os romanos não podiam fazer, a igreja mesma depois fez. Hoje em dia, o nome de Policarpo descansa no esquecimento, e o cristianismo daquele então não existe.


Policarpo morreu mártir naquele tempo, (a data do martírio, que Eusébio, na Crónica, coloca em 177, é fixada na época de Antonino Pio) enquanto a Ásia era assolada por grandíssimas perseguições. Julgo absolutamente necessário contar o relato da sua morte, conservado ainda hoje por escrito.
 Existe, com efeito, a carta dirigida às dioceses da região em nome da Igreja de que ele  estava à frente, que assim diz a seu respeito:
"A Igreja de Deus que reside em Esmirna à Igreja de Deus que reside em Filomélio e a todas as dioceses da santa Igreja católica espalhadas em todo o lugar. Multipliquem-se a misericórdia, a paz e o amor de Deus Pai e do nosso Senhor Jesus Cristo. Escrevemo-vos, irmãos, a propósito daqueles que sofreram o martírio e do bem-aventurado Policarpo, que com o seu martírio como que selou e concluiu a perseguição".
Portanto, antes da história de Policarpo, nela se narram as dos demais mártires, descrevendo a firmeza por eles mostrada perante os tormentos. Diz-se, com efeito, que os espectadores presentes no circo  ficaram pasmados a vê-los: lacerados pelos flagelos até às veias e artérias mais profundas, ao ponto que se chegou a ver até as partes mais escondidas deles; estendidos sobre abrolhos e pontas aguçadas; e por fim, após ter sofrido toda a espécie de suplício e tortura, eram dados de comer às feras. Contam que se destacou em particular o corajoso Germânico, que superou com a graça divina o medo inato da morte física. 
E enquanto o procônsul queria dissuadi-lo, alegando a sua idade e suplicando-lhe, já que era ainda tão jovem e estava na flor dos anos, que tivesse piedade de si mesmo, ele não hesitou e com coragem atraiu a fera sobre si, quase obrigando-a e excitando-a, para que o libertasse quanto antes desta vida injusta e iníqua. Perante a nobre morte deste, a multidão inteira ficou estupefacta pela coragem do pio mártir e pelo valor de toda a estirpe cristã, e começou a gritar em uníssono: "Fora com os ateus! Busque-se Policarpo!". A tais gritos seguiu-se um grande tumulto, e um tal, frígio de estirpe, de nome Quinto, que tinha chegado recentemente da  Frígia, vendo as feras e todos os outros suplícios que o ameaçavam, desanimou e cedeu, renunciando por fim à salvação. O texto da supracitada carta refere que ele se apresentou em tribunal juntamente com outros, mais por presunção, que por devoção: a sua queda ofereceu portanto a todos um claro exemplo de como não se deviam enfrentar semelhantes riscos sem convicção. Assim morreram estes homens.
Quanto ao mui admirável Policarpo, ao ouvir estas coisas primeiramente permaneceu calmo, mantendo-se firme e íntegro como sempre, e quis ficar na cidade, mas depois obedeceu aos companheiros que lhe rogavam e suplicavam que se afastasse, e retirou-se para uma herdade não longe da cidade, onde viveu com poucos companheiros, não fazendo mais, noite e dia, que perseverar nas orações ao Senhor. Orando, invocava e implorava a paz para as Igrejas de toda a terra, como tinha sempre sido seu hábito. Três dias antes da sua detenção, teve de noite uma visão, e viu o travesseiro que estava por debaixo da sua cabeça incendiar-se subitamente e consumir-se. Ao que acordou e explicou imediatamente a visão aos presentes, embora sem predizer o futuro e anunciar claramente aos companheiros que devia morrer por Cristo na fogueira. Visto que aqueles que tinham sido encarregados dele, o procuravam  com grande zelo, constrangido pelo afecto e pelo apego dos irmãos, diz-se que se transferiu para uma outra herdade; e aqui, pouco depois, sobrevieram os seus perseguidores e prenderam dois servos que encontraram ali. Por um deles vieram a saber, torturando-o, o esconderijo de Policarpo. 
Chegados lá a horas tardias, encontraram-no a repousar num sotão, de onde lhe teria sido possível passar para uma outra casa, mas ele não quis e disse: "Seja feita a vontade de Deus". Tendo sabido da sua presença, como refere o relato, desceu e falou com eles com um rosto dulcíssimo e tão alegre, que a esses, que nunca o tinham conhecido antes, pareceu ver um milagre, quando observaram esse homem de idade avançada pelo porte venerando e calmo, e se admiraram de tanta preocupação para prender um semelhante velho. Sem demoras ele mandou preparar imediatamente uma mesa para eles e os convidou para um abundante almoço, depois pediu-lhes uma hora somente, para orar em paz. Concederam-lha e ele, levantando-se, orou cheio da graça do Senhor, ao ponto que os presentes, ouvindo-o orar, ficaram estupefactos e muitos deles lamentaram que um velho tão venerando e pio estivesse para ser morto. O escrito que lhe diz respeito continua textualmente assim:
"Quando terminou a oração, após ter recordado todos aqueles que tinha encontrado, pequenos e grandes, ilustres e desconhecidos, e a inteira Igreja católica espalhada no mundo, chegando a hora de ir, puseram-no sobre um jumento e levaram-no para a cidade, um sábado de festa. Encontraram-no o irenarca Herodes e seu pai Niceta, os quais, fazendo-o subir para a sua carroça, sentaram-se perto dele e procuraram convencê-lo, dizendo: "Que mal há em dizer: César senhor, e em sacrificar para salvar-se?". Ele primeiro não respondeu, depois, dado que eles insistiam, disse: "Não pretendo fazer o que me aconselhais". Então, não conseguindo persuadi-lo, dirigiram-lhe palavras torpes e o fizeram descer tão apressadamente, que saindo da carroça feriu-se na canela, mas ele, sem se voltar, como se não tivesse sentido nada, prosseguiu a pé apressadamente e de bom grado, e foi conduzido ao estádio.
 Aqui o clamor era tão grande, que ninguém poderia fazer-se ouvir. Mas à entrada de Policarpo no estádio uma voz desceu do céu: "Sê forte, Policarpo, e comporta-te como um homem!". Ninguém viu quem falava, mas muitos dos nossos que estavam presentes ouviram essa voz . Enquanto era conduzido, houve um  grande tumulto por parte de quantos tinham ouvido que Policarpo tinha sido preso. Chegando à frente, o procônsul perguntou-lhe se era Policarpo, e visto que ele o confirmou, tentou persuadi-lo a abjurar dizendo: "Respeita a tua idade", e outras coisas semelhantes que costumam dizer, como: Jura pelo génio de César, arrepende-te, diz: 'Fora com os ateus! Então Policarpo, olhando com o rosto sério a multidão que estava no estádio, agitou para ela a mão e gemendo levantou os olhos ao céu, e disse: "Fora com os ateus!". Mas o procônsul insistia: "Jura, e te deixarei ir. Insulta Cristo". Policarpo respondeu: "Sirvo-o há oitenta e seis anos e não me fez algum mal: como posso blasfemar o meu rei, aquele que me salvou?". E o outro insistia: "Jura pelo génio de César". Então Policarpo disse: "Se te iludes que eu jure pelo génio de César, como dizes fingindo não saber quem sou eu, ouve bem: eu sou cristão. E se quiseres conhecer a doutrina do Cristianismo, concede-me um dia e fica-me a ouvir". 
Respondeu o procônsul: "Convence o povo!". E Policarpo: "A ti estimei digno de um discurso, porque nos ensinaram a tributar aos magistrados e às autoridades instituídas por Deus a honra que lhes compete, se isto não nos trouxer dano, mas estes não merecem ouvir a minha defesa". Retomou o procônsul: "Tenho feras. Entregar-te-ei a elas, se não mudares de ideias". Respondeu Policarpo: "Chama-as. Não mudaremos de opinião para ir do melhor para o pior, enquanto é belo passar do mal para a justiça". E o outro: "Far-te-ei domar pela fogueira, se não te importam as feras, a menos que tu mudes de ideias". E Policarpo: "Tu ameaças um fogo que queima um momento e pouco depois se apaga, porque não conheces o fogo do juízo que virá e da punição eterna reservada aos ímpios. Mas por que demoras? Faz vir o que quiseres". Dizendo estas e muitas outras coisas ainda, se encheu de coragem e de alegria, e o seu rosto se encheu de graça, assim que não só não se assustou com as palavras lhe dirigidas, mas foi antes o procônsul a ficar comovido, e mandou um arauto ao meio do estádio anunciar três vezes: Policarpo confessou ser cristão. Assim que o arauto o anunciou, toda a multidão de pagãos e de Judeus habitantes em Esmirna gritou com grande voz  e com ira incontível: "Este é o mestre da Ásia, o pai dos Cristãos, o destruidor dos nossos deuses, aquele que ensina a muitos a não sacrificar e a não adorar". Assim dizendo, gritaram e pediram ao asiarca Filipe para que soltasse um leão contra Policarpo, mas ele respondeu  que não lhe era permitido visto que o espectáculo das feras tinha acabado. Então puseram-se todos a reclamar com grande voz que  Policarpo fosse queimado vivo. Devia assim cumprir-se a visão do travesseiro que lhe apareceu enquanto orava, quando o viu arder, e virado para os fiéis que estavam com ele, profetizou: "Devo ser queimado vivo". O que aconteceu quase antes que fosse dito, já que a multidão recolheu  imediatamente das oficinas e das termas madeira e faxinas, e se entregaram a esta tarefa com brio sobretudo os Judeus, como era seu hábito. Assim que a fogueira ficou pronta, após ter tirado sozinho todas as roupas, solto o cinto, começou a tirar também as sandálias, coisa que antes nunca fazia por si, porque todo o fiel procurava fazê-lo para ser o primeiro a tocar a sua pele: por causa da sua santidade, foi de facto honrado em tudo ainda antes da velhice. Portanto se lhe puseram logo à volta os materiais preparados para a fogueira. Quando foram para pregá-lo, disse: "Deixai-me assim. Porque aquele que me concede suportar o fogo, me concederá também resistir firme na fogueira sem necessidade dos vossos pregos". Então não o pregaram, mas o amarraram. Postas as mãos atrás das costas, foi amarrado, como um carneiro escolhido de um grande rebanho em holocausto aceito a Deus todo-poderoso, e disse: "Pai do teu amado e bendito Filho Jesus Cristo, por meio do qual te conhecemos, Deus dos anjos e das potestades, te bendigo por me teres julgado digno deste dia e deste  momento, fazendo-me participante, no número dos mártires, do cálice do teu Cristo para a ressurreição da alma e do corpo na vida eterna e na incorruptibilidade do Espírito Santo. Possa eu hoje ser acolhido entre eles diante de ti num sacrifício cevado e agradável, como tu mesmo me preparaste e manifestaste e levas agora a cumprimento, Deus veraz e leal. Por isso eu te louvo também por todas as coisas, te bendigo, te dou glória por meio do pontífice eterno Jesus Cristo teu Filho dilecto, e por seu meio seja a glória a ti em união com Ele no Espírito Santo agora e sempre nos séculos vindouros, amen".
"Pronunciado o amen e terminada a oração, os encarregados acenderam o fogo, e enquanto lavrava uma grande chama assistimos a um milagre, nós a quem foi dado ver e que fomos conservados para contar aos outros o que aconteceu. O fogo, com efeito, tomou a forma de abóbada, como uma vela de barco inchada pelo vento, e circundou o corpo do mártir, que estava no meio dele não como carne que queimava, mas como ouro e prata sendo refinados numa fornalha. E nós sentimos um odor intenso como o perfume de incenso ou de outros aromas preciosos. Aqueles malvados, por fim, vendo que o fogo não conseguia consumir o seu corpo, ordenaram a um confector (o executor, aquele que na arena 'acabava' com o lutador ou a fera já ferida) ir cravar uma espada nele. Feito isto, saiu uma tal quantidade de sangue dele, que o fogo se apagou e toda a multidão pasmou com uma tão grande diferença entre os não crentes e os eleitos, um dos quais foi certamente o maravilhoso Policarpo, mestre apostólico e profético nosso contemporâneo, bispo da Igreja católica de Esmirna: toda a palavra que saiu da sua boca se cumpriu e se cumprirá. Mas o Maligno, rival astuto, adversário da estirpe dos justos, vendo a grandeza do seu martírio, a sua conduta desde sempre irrepreensível, a coroa da incorruptibilidade de que estava cingido, o prémio incontestável obtido, agiu para que pelo menos o seu cadáver não fosse recolhido por nós, malgrado muitos desejassem fazê-lo para ter consigo o seu santo corpo. Alguns sugeriram, por conseguinte, a Niceta, pai de Herodes e irmão de Alce, que suplicasse ao governador para que não entregasse o seu corpo, 'por temor' disse 'que se ponham a venerar este, esquecendo o Crucificado'. Disseram isto aconselhados e instigados pelos Judeus, que nos espiavam quando estávamos para tirá-lo da fogueira, porque não sabem que nós nunca poderemos abandonar nem Cristo, que sofreu a paixão para a salvação daqueles que no mundo inteiro são salvos, nem venerar algum outro. Porque a Ele, nós o adoramos enquanto Filho de Deus, ao passo que os mártires, os amamos justamente enquanto discípulos e imitadores do Senhor por causa do seu  insuperável  amor pelo seu rei e mestre. Queira o céu que também nós possamos ser companheiros e condiscípulos deles! O centurião, então, vendo a contenda provocada pelos Judeus, fez colocar o cadáver no meio, segundo o seu  hábito ordenou queimá-lo.
notas fonte (Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Livro IV 15,1-43)
Justino—Filósofo convertido em evangelista
                                        (100-170 D.C)

Durante a vida de Policarpo, um filósofo jovem chamado Justino empreendeu uma viagem espiritual em busca da verdade. O costumava andar num campo solitário que olhava para o Mar Mediterrâneo para meditar. Um dia enquanto andava ali viu que um ancião caminhava depois dele. Desejando a solidão, Justino se deu volta e olhou bruscamente ao ancião intruso. Mas o ancião não se molestou. Mais bem começou a conversar com Justino.Ao aprender que Justino era filósofo, o ancião lhe fez perguntas indagados , perguntas que punham à luz o esvazio da filosofia humana. Anos depois, Justino contou as recordações daquele encontro, escrevendo: “Quando o ancião tinha terminado de falar estas coisas e muitas mais, foi-se, exortando-me a que meditasse no que tinha falado. Desde então não o vi, mas de imediato uma chama se acendeu em minha alma. Inundou-me um grande amor pelos profetas e os amigos de Cristo. Depois de reflexionar mais no que o ancião metinha dito, dei-me conta de do que o cristianismo era a única filosofia verdadeira e valiosa.”3Ainda depois de converter-se ao cristianismo, Justino sempre se punha sua túnica de filósofo para dar a conhecer que ele tinha achado a única filosofia verdadeira. Em verdade, ele se converteu em evangelista para os filósofos pagãos. Dedicou sua vida a aclarar o significado do cristianismo aos romanos cultos. Suas defesas escritas aos romanos são as apologias cristãs mais antigas que existem.
Justino se demonstrou evangelista capacitado. Converteu a muitos romanos à fé cristã, tanto cultos como incultos. Ao fim, um grupo de filósofos, tramando sua morte, mandaram-lhe prender. Justino escolheu morrer antes de negar a Cristo. Foi martirizado para o ano 165. Depois de sua morte, foi conhecido por muitos como Justino o mártir.Flávio Justino Mártir, nasceu em Siquém na Palestina em princípios do segundo século, e morreu mártir no ano 170. Depois de ter peregrinado pelas mais diversas escolas filosóficas – peripatética, estóica, pitagórica – em busca da verdade para a solução do problema da vida, abandonando o platonismo, último estágio da sua peregrinação filosófica. O amor à verdade levou-o, pouco a pouco, a rejeitar os sistemas filosóficos pagãos e a converter-se ao Cristianismo. Em sua época foi o mais ilustre defensor das verdades cristã contra os preconceitos pagãos.
 Embora leigo, é considerado o primeiro dos Pais Apologista da Igreja, logo depois dos primitivos Pais Apostólicos, tendo dedicado sua vida à difusão e ao ensino do cristianismo. Em Roma, abriu uma escola para o ensino da doutrina cristã, e ainda nesta cidade dedicou-se ao apostolado, especialmente nos meios cultos, nos quais se movimentava com desembaraço. Escreveu muitas obras, mas somente três chegaram até nós: duas Apologias – contra os pagãos – e um Diálogo com o judeu Trifão. Sofreu o martírio por decapitação, depois de ter si.
                                     Ireneu (130-200)

Nascido em Esmirna, na Ásia Menor (Turquia), no ano 130, em uma família cristã, Ireneu era grego e foi influenciado pela pregação de Policarpo, bispo de Esmirna. Anos depois, mudou-se para Gália (atual sul da França), para a cidade de Lyon, onde foi um presbítero em substituição do bispo que havia sido martirizado em 177.Ireneu também recebeu influência de Justino. Ele foi uma ponte entre a teologia grega e a latina, a qual iniciou com um de seus contemporâneos, Tertuliano. Enquanto Justino era primariamente um apologista, Irineu contribuiu na refutação contra heresias e exposição do Cristianismo Apostólico. Sua obra maior se desenvolveu no campo da literatura polêmica contra o gnosticismo

Clemente de Alexandria—Instrutor de novos conversos

Outro filósofo que achou o cristianismo em sua busca da verdade foi Clemente. Vendo a vaidade da filosofia humana, voltou-se a Cristo. Depois de converter-se em cristão, viajou por todo o império romano, aprendendo os preceitos da fé cristã pessoalmente dos maestros cristãos mais anciões e estimados. Os escritos de Clemente, datados para o ano 190, refletem a soma da sabedoria de seus maestros. Inspiraram a muitos cristãos através dos séculos, inclusive a João Wesley. Com o tempo, Clemente se mudou a Alexandria, Egito. Foi ordenado ancião naquela congregação e encarregado de instruirá os novos conversos. Pelo geral se lhe chama “Clemente de Alexandria para distingui-lo de outro Clemente, quem era bispo da igreja em Roma a fins do primeiro século. Neste livro, se não o explico de outra maneira, quando falo de “Clemente” me refiro a Clemente de Alexandria.

 Orígenes— dedicado a Deus


                              Orígenes (185 ou 186-254)

Nasceu de pais cristãos em 185 ou 186 da nossa era, provavelmente em Alexandria. Escritor cristão de vasta erudição, de expressão grega. Estudou letras e aprendeu de cor textos bíblicos, com seu pai, que foi morto por ocasião da repressão do imperador Setímio Severo às novas religiões. O bispo de Alexandria passou a Orígenes a direção da Escola Catequética, sendo então sucessor de Clemente. Estudou na escola neoplatônica de “Ammonios”. Viajou a Roma, em 212, onde ouviu ao sábio cristão Hipólito. Em 215 organizou em Alexandria uma escola superior de Exegese Bíblica. Devido ao seu vasto conhecimento viajava muito e ministrava ao público nas igrejas.

O fato de se haver castrado por devoção, lhe criou dificuldades com alguns bispos, que contrariavam o sacerdócio dos eunucos. Em 232 se transferiu para Cesaréia, na Palestina, onde se dedicou exaustivamente aos seus estudos. Sobreviveu aos tormentos de que foi vítima sob o Imperador Décio (250-252). Posteriormente a esta data morreu em Tiro, não se sabendo exatamente quando.Foi considerado o membro mais eminente da escola de Alexandria e estudioso dos filósofos gregos.
Entre os alunos de Clemente em Alexandria tinha um jovem hábil chamado Orígenes s. Quando Orígenes s tinha só 17 anos, estourou uma perseguição severa em Alexandria. Os pais de Orígenes foram cristãs fiéis, e quando seu pai foi apresado, Orígenes s lhe escreveu uma carta, animando-o a que permanecesse fiel e não renunciasse a Cristo por causa de sua preocupação por sua família. Quando se anunciou a data para seu juízo, Orígenes s decidiu acompanhar a seu pai ao juízo para morrer com o. Mas durante a noite anterior, enquanto dormia, sua mãe escondeu toda sua roupa para que não pudesse sair da casa. Assim é que se lhe salvou a vida.
Ainda que tivesse só 17 anos, Orígenes s se distinguiu na igreja e Alexandria pelo cuidado amoroso que prestava a seus irmãos na fé durante a perseguição. Mas as multidões enfurecidas também notaram o cuidado de Orígenes s pelos cristãos perseguidos, e em variadas ocasiones Orígenes s mal escapou com a vida.
Orígenes s tinha aprendido à gramática e a literatura grega de seu pai, e começou a dar classes privadas para sustentar a seus irmãos menores. Era mestre tão sobressalente que muitos pais pagãos mandaram a seus filhos a receber instrução de Orígenes s Mas muitos destes jovens se converteram em cristãos como resultado do depoimento de Orígenes s.
Enquanto, Clemente, o mestre encarregado do doutrinamento dos novos conversos, estava em perigo. Os oficiais da cidade tramaram sua morte, e ele se viu obrigado a escapara outra cidade para continuar seu serviço cristão. Numa decisão extraordinária, os anciãos cristãos de Alexandria lhe nomearam a Orígenes s, de só 18 anos, para tomar o lugar de Clemente como maestro principal na escola para os novos conversos. Foi decisão sábia, e Orígenes s se dedicou de coração à obra Deixou sua profissão de poucos meses como instrutor de gramática e literatura. Vendeu a prazo todos seus livros de obras gregas, vivendo na pobreza do pouquinho que recebeu mensalmente da venda deles. Recusou aceitar salário algum por seu trabalho como maestro cristão. E depois de suas classes de cada dia, estudava as Escrituras até horas avançadas da noite
Cedo Orígenes s chegou a ser um dos maestros mais estimados de seu dia. AOS poucos anos, alguns de seus alunos lhe pediram que desse uma série de discursos de exposição bíblica, comentando sobre cada livro da Bíblia, passagem por passagem. Os alunos pagaram escrevas os quais escreveram o que Orígenes s dizia, e estes escritos chegaram a ser os primeiros comentários bíblicos que se produziram. Não foi intenção de Orígenes s que estes comentários se tomassem muito em sério. Com freqüência ele se saía do texto e dava suposições pessoais. Em todo o comentário, manteve um espírito aprazível, pouco contencioso. Muitas vezes terminou seu discurso, dizendo: “Bem que assim me parece a mim, mas pode ser que outro tenha mais entendimento do que eu”.
Orígenes s tinha uma das mais brilhantes mentes de seu dia. Estava em correspondência pessoal com um dos imperadores romanos. Mas sua fama também atraiu o atendimento dos inimigos dos primeiros cristãos. Várias vezes teve que se transladar para outro lugar para escapar da perseguição. No entanto, chegou aos 70 anos. Nesse então seus perseguidores o prenderam e o torturaram. Mas por mais do que o torturaram, ele não negou a Jesus. E ao fim deixaram de torturá-lo, exasperados. Com tudo, Orígenes s nunca se recuperou da tortura e ao fim morreu.

Tertuliano—Apologista aos romanos

Tertuliano de Cartago (150-230)

Nasceu por volta de 150 d.C. em Cartago (cidade ao nordeste da África), onde provavelmente passou toda sua vida, embora alguns estudiosos afirmem que ele morasse em Roma. Por profissão sabe-se que era advogado. Fazia visitas com freqüência a Roma, sendo que aos 40 anos se converteu ao cristianismo, dedicando seus conhecimentos e habilidades jurídicas ao esclarecimento da fé cristã ortodoxa contra os pagãos e hereges. Tertuliano foi o pai das doutrinas ortodoxas da Trindade e pessoa de Jesus Cristo. As doutrinas de Tertuliano a respeito da Trindade e da pessoa de Cristo foram forjadas no calor da controvérsia com Práxeas, que segundo Tertuliano, “sustenta que existe um só Senhor, o Todo-Poderoso criador do mundo, apenas para poder elaborar uma heresia com a doutrina da unidade. Ele afirma que o próprio Pai desceu para dentro da Virgem, que ele mesmo nasceu dela, que ele mesmo sofreu e que, realmente, era o próprio Jesus Cristo”. Foi o primeiro teólogo cristão a confrontar e rejeitar com grande vigor e clareza intelectual essa visão aparentemente singela da Trindade e unidade de Deus. Ele declarou que se esse conceito fosse verdade, então o Pai tinha morrido na cruz e isso, além de ser impróprio para o Pai, é absurdo.
AOS primeiros cristãos do ocidente, Tertuliano é quiçá o mais conhecido de todos os escritores cristãos dos primeiros séculos. Chegou a ser ancião na igreja de Cartago no África do norte.4Tertuliano era um dos apologistas mais hábeis da igreja primitiva. O escreveu em latim, não em grego como a maioria dos primeiros cristãos. A Tertuliano se lhe recorda por vários ditos famosos, por exemplo: “O sangue dos mártires é a semente da igreja.
Tertuliano escreveu entre os anos 190 e 210 d.C. Além de suas obras apologéticas, Tertuliano escreveu várias obras curtas, tanto cartas como tratados, para animar aos cristãos apresados ou para exortar aos crentes que mantivessem sua separação como mundo.
Ao final de sua vida, Tertuliano se uniu à seita montanista, a qual pelo geral se aferrou à doutrina cristã ortodoxa, mas adicionou normas estritas sobre a disciplina na igreja e o trato duro do corpo. Pelo menos a metade das obras de Tertuliano se escreveram antes que ele se fizesse montanista. E ademais, já que este grupo não se apartou dos fundamentos da fé cristã, ainda seus escritos de depois têm grande valor em alumiar o pensamento dos primeiros cristãos. Com tudo, citei de suas obras montanistas só com muito cuidado.

Cipriano—Um rico que tudo o entregou a Cristo

Cipriano (200 – 258)

Tharsius Caecilius Cyprianus. Converteu-se em 246 d.C. e já em 249 d.C. foi nomeado bispo de Cartago, no Norte da África.

Durante dez anos ele conduziu seu rebanho através da perseguição do Imperador Décio, uma das mais cruéis. Foi também o grande sustentáculo moral e espiritual da cidade, quando esta foi atacada por uma epidemia. Além disso, escreveu e batalhou pela unidade da Igreja.Seu nome está ligado a uma grande controvérsia a respeito do batismo e da ordenação efetuada por hereges. No entender de Cipriano, estas cerimônias eram inválidas, pelo fato dos oficiantes estarem em desacordo com a ortodoxia e, portanto, deveriam ser rebatizados e reordenados todos que entrassem pela verdadeira Igreja. Estevão, Bispo de Roma, discordou e isto gerou um cisma, uma vez que Cipriano além de rejeitar a autoridade do bispo romano, convocou um concílio no Norte da África para resolver a questão.

Seus escritos consistem em tratados de caráter pastoral e de cartas, 82 ao todo, das quais 14 eram dirigidas para ele mesmo e as restantes tratavam de questões de sua época.Morreu como mártir, decapitado em 14 de setembro de 258 d.C, durante a perseguição do imperador Valeriano.
Um dos alunos espirituais de Tertuliano se chamava Cipriano. Tinha sido romano rico, mas se converteu em cristão à idade de 40 anos. Ainda que aluno de Tertuliano, não se uniu aos montanistas. Sempre se opôs aos hereges e às tendências sectárias.
Como cristão recém convertido Cipriano estava tão agradecido por sua vida nova em Cristo que vendeu tudo o que tinha e o repartiu aos pobres. Gozou-se de estar livre do peso das responsabilidades de suas posses materiais. Seus escritos contêm umas das palavras mais comovedoras que jamais se escreveram a respeito do novo nascimento do cristão. Sua entrega total a Cristo cedo ganhou o respeito da igreja em Cartago. Depois de uns poucos anos, numa decisão sem precedente, chamaram-lhe a ser bispo da igreja ali.
Os escritos de Cipriano têm um valor especial já que constam maiormente de cartas pessoais a outros anciãos cristãos e igrejas. Em suas cartas vemos os interesses e os problemas diários das congregações cristãs daquele então Cipriano se viu obrigado a trabalhar como pastor clandestinamente, já que durante a maior parte de seu ministério rugia a perseguição contra a igreja primitiva. Como pastor, trabalhava incansavelmente, dando seu tempo e sua vida pelo rebanho de Cristo que lhe tinha sido encomendado. Ao fim, foi preso pelos romano se decapitado no ano 258.


Lactâncio Mestre do filho do imperador
Lactâncio é pouco conhecido aos cristãos de hoje em dia. Em isto nós perdemos, porque Lactâncio escreveu com clareza e eloqüência extraordinária. Antes de converter-se ao cristianismo, foi instrutor célebre da retórica. Ainda o imperador Diocleciano lhe louvou Depois de sua conversão, dedicou suas habilidades literárias causa de Cristo. Sobreviveu a última grande perseguição dos romanos contra a igreja primitiva ao princípio do quarto século. Com o tempo, fez seu lar em França. Ainda que Lactâncio fosse muito ancião quando Constantino se fez imperador, este lhe pediu que voltasse A Roma para ser o professor particular de seu filho maior. Os escritos de Lactâncio têm grande importância para nós porque se escreveram ao final da época pré-Constantina da igreja primitiva. Demonstram amplamente que a grande maioria das crenças cristãs tinham mudado muito pouco durante os 220 anos entre a morte do apóstolo João e o princípio do reinado de Constantino
Se talvez a você se lhe esquecem estes nomes...
Bem posso crer que estes nomes não são conhecidos para muitos de vocês. Possa que lhes seja difícil recordá-los. Por este motivo, incluí um dicionário biográfico ao final deste livro. Este dicionário apresenta um quadro biográfico muito breve de todos os escritores que vou citar no livro. É possível que queira pôr um marcador de livro nesta página para que possa refrescar sua memória sobre qualquer dos nomes que menciono.
Em meus primeiros rascunhos deste livro eu descrevi as crenças e práticas dos primeiros cristãos, incorporando só uma citação ou duas deles em cada capítulo. Mas quando dei estes primeiros capítulos a meus amigos para ler, todos eles comentaram o mesmo: “Queremos ouvir aos primeiros cristãos, não a você.”Assim é que isso fiz. Tenho aqui a história deles, contado em grande parte por eles mesmo. Espero que lhe mude a você tanto como me mudou a mim. 

                             Eusébio de Cesáreia (265-339)

Foi Constantino que incumbiu Eusébio de fazer a narração desta primeira história do Cristianismo, coroando-a com a sua imperial adesão a Cristo. “A ortodoxia era apenas uma das várias formas de cristianismo, durante o século III, e pode só ter se tornado dominante no tempo de Eusébio” (JOHNSON, 2001: 69). Ele é o autor de importantes obras tais como: “História Eclesiástica”, “Vida de Constantino” entre outras. 

111 - Perseguição aos cristãos em Bitínia: Carta de Plínio a Trajano
112 - Sete Cartas de Inácio de Antioquia
115 - Ignatius introduziu o conceito de um líder acima dos outros (o bispo, distinguindo assim este título dos outros). Esse conceito tornou-se prevalente no século III
138 - Possível martírio de Telésforo, bispo de Roma, pelo Imperador Adriano
140-50 - Justino mantém uma escola de filosofia cristã em Roma. Justino Martir promove a primeira mudança com relação ao batismo com água e a divindade. Já que Justino não acreditava que Cristo era Deus, o Pai manifesto como homem, conforme os apóstolos ensinavam, batizava seus convertidos e seguidores da seguinte forma: "Eu te batizo em nome de Deus o Pai de todos e nosso salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo". Justino acreditava e ensinava da mesma forma que os judeus que crêen que o nome de Deus é tão sagrado que o homem não deve pronunciá-lo, daí a sua afirmação de que Deus, o Pai e seu filho Jesus Cristo eram duas pessoas diferentes, pois ele não cria no nome de Jesus Cristo, sendo também, o nome do Deus Pai e do Espírito Santo. Esse resultado foi o pilar para o desenvolvimento de diferentes trindades no mundo religioso cristão.
142-55 - Pio I torna-se o 1º e único bispo a governar a cidade de Roma
144 - Marcião propõe um cânone com apenas o Evangelho de Lucas e 10 cartas de Paulo
144 - Marcião é expulso da comunidade cristã de Roma devido à inúmeras heresias
155 - Surge a 1ª reforma na igreja primitiva: o Montanismo
156 - Surge o termo "Igreja Católica" = "Igreja Universal"
160 - Marcião tenta introduzir o gnosticismo no cristianismo, considerado, posteriormente, um movimento herético
161 - Martírio de Policarpo em Esmirna
163 - Martírio de Justino em Roma
170-80 - Taciano propoe o "Diassentêrom", uma versão condensada dos Evangelhos tradicionais. A proposta foi rejeitada pelos cristãos
180 - Nascimento de Sabélio, um dos expoentes da heresia modalista que negava a doutrina da Trindade
193 - Clemente ensina a doutrina cristã em Alexandria
195 - Tertuliano passa a defender a supremacia do bispo de Roma sobre os demais bispos
197 - Tertuliano de Cartago defende os cristãos na obra "Apologética", a mais importante literatura da igreja primitiva
197 - 1ª Doutrina anti-bíblica: movimento herético de Zeferino, bispo de Roma, contra divindade de Cristo
200 - É escrito "a Diogneto", uma vibrante apologia de um autor cristão ao seu destinatário pagão

                              SECULO N.3

202 - Leis de Séptimo Severo contra os cristãos
203 - Hipólito escreve a obra "Comentário a Daniel"
207 - Tertuliano converte-se ao Montanismo
210 - Tertuliano de Cartago enfatiza que os cristãos não devem participar do serviço militar
215 - Sabélio passa a pregar a heresia unissista
217 - Calixto torna-se bispo em Roma: cresce o sincretismo entre o cristianismo e outras religiões
217 - Nova divisão na igreja primitiva: Hipólito também proclama-se bispo de Roma e acusa Calixto de apoiar o herege Sabélio
218-23 - Surge a lenda de que Pedro foi o 1° papa
220 - Origenes introduz a doutrina da trindade para bebês, na sua escola de preparação para o batismo em Alexandria, Egito.
235 - Maximiano condena à morte Hipólito e Ponciano. Ambos consideravam-se bispos de Roma
250 - O imperador Décio persegue cristãos por todo o Império
250 - Martírio de Fabiano, bispo de Roma
251 - Nova divisão na igreja primitiva: Cornélio é eleito bispo de Roma, alguns cristãos querem Novaciano, então surge o Novacionismo
251 - Sínodo de Roma contra o cisma de Novaciano
257 - O Sabelianismo propaga-se entre os cristãos da Lídia
257-58 - Leis de Valeriano contra os cristãos
258 - Martírios de Cipriano (bispo de Cartago) e Sisto (bispo de Roma)
261 - Édito de tolerância para os cristãos
265 - Sínodo de Antioquia: condenação de Paulo de Samósata
270 - Santo Antônio dá origem a vida monástica no Egito
280 - Conversão ao cristianismo de Tiridates, rei da Armênia
297 - Diocleciano inicia nova perseguição aos cristãos
300 - Surge a primeira lei de celibato para os sacerdotes

                                     Jerônimo (325-378)

Erudito das Escrituras e Tradutor da Bíblia para o Latim. Sua tradução, conhecida como a Vulgata, ou Bíblia do Povo, foi amplamente utilizada nos séculos posteriores como compêndio para o estudo da língua latina, assim como para o estudo das Escrituras. Nascido por volta do ano 345 em Aquiléia (Veneza), extremo norte do Mar Adriático, na Itália, Jerônimo passou a maior parte da sua juventude em Roma estudando línguas e filosofia. Apesar da história não relatar pormenores de sua conversão, sabe que se batizou quando tinha entre dezenove para vinte anos. Logo após, Jerônimo embarcou em uma peregrinação pelo Império que levou vinte anos.

                          Crisóstomo (aprox. 344-407)

Criado em Antioquia, seus grandes dotes de graça e eloqüência como pregador levaram-no a ser chamado a Constantinopla, onde se tornou patriarca, ou arcebispo. Como os outros Apologistas, ele harmonizou o ensinamento cristão com a erudição grega, dando novos significados cristãos a antigos termos filosóficos, como a caridade. Em seus sermões, defendia uma moralidade que não fizesse qualquer transigência com a conveniência e a paixão, e uma caridade que conduzisse todos os cristãos a uma vida apostólica de devoção e de pobreza comunal. Essa piedosa mensagem, entretanto, tornou-o impopular na corte imperial e mesmo entre alguns membros do clero de Constantinopla, de modo que acabou sendo banido e morreu no exílio.


                            A VIDA DA IGREJA PRIMITIVA

A PALAVRA acompanhada da oração:A Palavra de Deus era o centro do culto, o assunto dos crentes e a paixão que viviam dia e noite orando e meditando com prazer nas Escrituras (Salmos 1.2). 
    Perseverança na Palavra. Atos 5.42:  E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.
Estavam em torno das escrituras e todos os dias se reuniam para orar e aprender a Palavra de Deus. Além disso, o texto diz que elesperseveravam, ou venciam os obstáculos através da Palavra de Deus (2.42,43) crendo verdadeiramente nas verdades bíblicas. 
   Objetivo comum de anunciar a Palavra.Atos 4.20: pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.
Além de conhecer a Palavra, tinham um objetivo em comum que era pregar o Evangelho. Todos eram missionários, pregadores e todos testemunhavam a Obra de Deus em suas vidas. 
    A simplicidade na Pregação.Atos 3.6: “não possuo ouro nem prata, mas o que tenho isso te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta e anda”
Atos 10.34: “Deus não faz acepção de pessoas”
Atos 16.31: “crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e tua casa”
Podemos perceber nas orações e pregações dos apóstolos palavras simples e poderosas devido à fé que tinham. 
d)   Discutiam seus problemas à luz da Palavra.Atos 6.1-4: Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.Atos 16.6,7: E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.Atos 16.12,13: e dali, a Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia. Nesta cidade, permanecemos alguns dias. No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido.
Antes de pensarmos nossas opiniões e as defendermos, precisamos saber qual é a opinião do Dono ou Cabeça da Igreja. Precisamos aprender a discutir nossos problemas à Luz da Palavra de Deus como os apóstolos fizeram ao escolher os diáconos para se manter dedicados ao estudo, oração  ensino da Palavra e também o Concílio de Jerusalém foi momento de decidir o futuro da Igreja à luz da Palavra de Deus. 
A Palavra de Deus é o fundamento da Igreja.                     
2- A FÉ seguida de prática.A fé era uma conseqüência da Palavra por que “a fé vem pelo ouvir e ouvir a pregação da Palavra de Deus” (Romanos 10.17).
Os cristãos eram chamados ‘discípulos’ devido ao estilo de vida que tinham (Atos 11.26; 13.52). 
a)     Fé baseada numa experiência pessoal.
Atos 1.3,4: A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus. E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes.
Todos afirmaram que tiveram um encontro como salvador. Não falavam do que ouviram, mas do que experimentaram pessoalmente. 
c)     Fé transformadora.     
Atos 19.18-20: Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinqüenta mil denários.Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente.Como fruto da fé, vidas eram transformadas e se convertiam publicamente sem nenhuma vergonha. 
c)    Fé comprometida com o próximo:Atos 4.32-35: Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.
Essa fé gerava uma ajuda mútua, companheirismo e compromisso com o próximo. 
e)     Fé incondicional:  
Atos 14.22,23: fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.
Criam na vontade soberana de Deus mesmo diante de problemas com o martírio de Estevão (7.54-60) e naufrágios como os de Paulo (21.9-11e 22.26). Também oravam por seus líderes e acreditavam que Deus os abençoava. A liderança pregava a Palavra e vivia a fé.
A fé é o sustento da Igreja! 
3- O PODER como fruto da fé na Palavra:A Palavra alimenta a Fé e a Fé gera o Poder. O Poder é conseqüência a Fé na Palavra de Deus. Quem tem fé conhece o poder de Deus.

a)     Buscaram até receber poder     
Atos 2.1-4: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Os que creram permaneciam na fé buscando a Palavra até receberem o poder.  O início da Igreja foi marcado pelo recebimento do poder de Deus para pregar a Palavra (Atos 1.8). Todos receberam o poder, não havia distinção de uns mais espirituais do que outros. 
b)   O poder do nome de Jesus.Atos 4.9-12: visto que hoje somos interrogados a propósito do benefício feito a um homem enfermo e do modo por que foi curado, tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós. Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.Os crentes tinham ciência de que não agiam por si mesmos, mas em nome de Jesus, fazendo sua vontade. 
c)    O poder gera coragem.Atos 4.27-31: porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus.
Os cristãos não tinham medo nem vergonha de enfrentar qualquer perigo. Com intrepidez pregavam a Palavra e Deus operava maravilhas. Muitas vezes Deus não age por que não temos coragem de falar em nome de Jesus. 
d)   O poder da ressurreição.Atos 4.33: Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.
A fé na ressurreição dos mortos era algo real e testemunhado pelos cristãos ao ponto de não terem medo de morrer por crerem que se preciso Deus os ressuscitaria. A maior manifestação do poder de Deus para eles era o de dar a vida e retorná-la. Pela fé no impossível ressuscitaram a Êutico (Atos 20.7-12) e a Dorcas (Atos 9.36-46). O poder que age sobre nós é o mesmo que ressuscitou a Jesus dentre os mortos. O homem poder dizer que cura através de remédios, mas não pode devolver a vida. Por isso pregavam tanta a ressurreição dos mortos na volta de Cristo. 
e)    Poder de cura e milagres. Atos 5.12-16: Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão. Mas, dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles; porém o povo lhes tributava grande admiração. E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém, levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados.
Deus quer salvar o homem por inteiro, corpo, alma e espírito, o libertando de tudo o que o prende e o oprime. O Jesus que cremos é o mesmo que curava muitas pessoas e se Ele está entre nós então Ele ainda cura. 
f)     O poder do louvor.Atos 16.25,26: Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos.
Diante das perseguições e lutas eles oravam e louvavam a Deus crendo que os libertaria das prisões (Atos 12.5 e 7)Sem poder, a Palavra e a fé são infrutíferas. 
 A Igreja precisa de Poder para pregar a Palavra com Fé.Uma Igreja poderosa não é uma Igreja que se exalta por ter muitos bens ou influência e sim uma Igreja que pela Fé na palavra de Deus vê o impossível acontecer.
Existe uma Igreja sem problemas: A Igreja Missionária. A Igreja que se ocupa de pregar o evangelho e exercer a fé para curar e libertar vidas só tem um verdadeiro inimigo que é o diabo e só tem um verdadeiro problema que é resgatar vidas perdidas no mundo.
Nada do que foi falado é novidade e às vezes até nos questionamos: por que tantas vezes nossa realidade é tão diferente? É por que está faltando estas três coisas: a Palavra, a Fé e o Poder. Quando a Igreja deixa de ter compromisso com a Palavra para buscar outras prioridades, ela enfraquece na Fé e perde o Poder.
O que tem faltado em sua vida ou em sua Igreja? Tem faltado poder? Será que está faltando a Fé? Ou você não tem buscado a Palavra?Aquela Igreja vivia em paz, não por não ter problemas, por que tinham muitos, mas por que criam na Palavra, vivendo a Fé e através do Poder de Deus os milagres aconteciam.Não tinham uma estratégia de crescimento e nem recursos quaisquer, apenas tinham paz uns com os outros e com Deus, então a Igreja crescia naturalmente.

NOTAS FONTE esboçosermao.com
            
                             Século N.4
                               PERIODO DE AGOSTINHO

Não falo às presas quando digo que Agustinho, bispo de Hipona do quarto século, foi o maestro cristão mais influente de toda a história... pelo menos, da história do cristianismo no Ocidente A final de contas, creio que ele foi mais influente do que os mesmos apóstolos, já que a igreja do Ocidente leu até as obras dos apóstolos através dos olhos dele. Em verdade quase todo mundo reconhece que Agustinho é o pai da teologia ocidental.
Agustinho tinha inteligência e capacidade muito sobressalentes.Antes de converter-se, foi professor da retórica persuasiva e da arte de escrever. Como bispo na igreja, utilizava estas mesmas habilidades. Não tinha ninguém em toda a igreja ocidental que pudesse resistir suas argumentações. Enquanto ele ainda vivia, ele se fez quase a única autoridade do Ocidente em todos os temas de doutrina e moralidade.
É notável que Agustinho raciocinasse como habitante do Ocidente.Os escritores cristãos anteriores raciocinavam como habitantes do Oriente. Nós podemos entender a lógica de Agustinho muito melhor do que podemos entender a dos escritores anteriores.Desafortunadamente para nós, o Novo Testamento não foi escrito por homens do Ocidente, senão por homens com uma mentalidade oriental, influídos grandemente pela cultura grega. O mesmo Agustinho sabia muito pouco grego. Istoé de suma importância. Não só o Novo Testamento foi escrito em grego, senão também quase todos os escritos cristãos anteriores. Isto talvez nos ajude a entender por que Agustinho se apartou do cristianismo primitivo em tantas áreas, mais do que qualquer outro maestro cristão daquele tempo. E este grande maestro, com sua mente aguda, levou-se consigo à igreja do Ocidente. Lamentavelmente, apartou-a de seus fundamentos anteriores.

Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja - Nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e S. Mônica. Grande teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Foi batizado por esse bispo em 387. Voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com grande capacidade as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”. São Leão Magno (400-461) - Papa e Doutor da Igreja - nasceu em Toscana, foi educado em Roma. Foi conselheiro sucessivamente dos papas Celestino I (422-432) e Xisto III (432-440) e foi muito respeitado como teólogo e diplomata. Participou de grandes problemas da Igreja do seu tempo e pôde travar contato pessoal e por cartas com Santo Agostinho, São Cirilo de Alexandria e São João Cassiano, que o descrevia como “ornamento da Igreja e do divino ministério”. Deixou 96 Sermões e 173 Cartas que chegaram até nós. Participou ativamente na elaboração dogmática sobre o grave problema tratado no Concílio de Calcedônia, a condenação da heresia chamada monofisismo. Leão foi o primeiro Papa que recebeu o título de Magno (grande). Em sua atuação no plano político, a História registrou e imortalizou duas intervenções de São Leão.
Há uma grande lista de doutrinas e práticas iniciadas por Agustinho ou se não iniciadas por ele, autorizadas por ele. A seguir dou uma lista parcial do que ele ensinou:
•1.que Maria nasceu e viveu sua vida inteira sem pecadoalgum.
•2.que os meninos não batizados se condenameternamente.
•3.que o coito ainda dentro do casal é sempre um ato depravado.
•4.que a guerra pode ser santa.
•5.que não terá um milênio literal.
•6.que não há perdão de pecados senão só dentro da igrejacatólica.
•7.que algumas das práticas e ensinos dos apóstolos já não se aplicam aos cristãos porque os apóstolos viveram numa época diferente.
•8.que há um fogo purgante para as almas dos justos a quem lhes falta a purificação completa.
•9.que os mortos podem sacar proveito do sacrifício da eucaristia.
•10.que é justo que um estado cristão persiga aos hereges.
Deste último ponto, Agustinho escreveu:
“Que sejam todos chamados à salvação. Que sejam todos chamados de voltar da senda que conduz à destruição.Alguns, são chamados pelos sermões dos pregadores católicos. Outros, pelos editais dos príncipes católicos. Uns,porque obedecem as advertências de Deus. Outros, porque obedece mas leis do imperador… O rei Nabucodonosor… convertido por um milagre de Deus, promulgou uma lei justa e louvável para apoiar a verdade: que quem quer que falasse contra o Deus verdadeiro, o Deus de Sadrac, Mesac e Abed-nego, perecesse sem remédio, em união com sua família...
“Se a igreja verdadeira é a igreja que suporta a perseguição,não a igreja que a inflige [como dizem alguns], que façam a pergunta ao apóstolo qual igreja representava Sara quando perseguiu a sua serva. Porque [o apóstolo] declara que a mãe livre de todos nós, a Jerusalém celestial—a qual é a igreja verdadeira de Deus foi representada por aquela mulher [Sara], quem perseguiu cruelmente a sua serva. Com tudo, se pesquisamos a fundo a história, vemos que em realidade foi a serva por sua altivez que perseguiu a Sara… [Sara] singelamente lhe impôs a disciplina que merecia sua altivez.
“Outra vez digo, se os homens bons e justos nunca perseguem a ninguém, senão só são perseguidos, de quem são as palavras a seguir escritas pelo salmista? ‘Persegui a meus inimigos, e os atingi, e não voltei até acabá-los’ [Salmo 18.27]. Desta maneira se desejamos declarar e reconhecer a verdade, há uma perseguição de parte dos injustos, a qual os ímpios infligem à igreja de Cristo; e há uma perseguição justa, a qual a igreja inflige aos ímpios. Mas [a igreja os] persegue no espírito de a mortos outros, no espírito de ira.”11.
Depois de ler isso, você provavelmente pode entender muito bem porque se diz que Agustinho é o pai da igreja católica romana. Mas talvez você se surpreenderá ao dar-se conta de que ele é também o pai da Reforma protestante. 

A primeira lei de Newton na teologia
Um exemplo notável disso o vemos no desacordo que surgiu entre Agustinho e Pelágio, um monge de Bretanha. Para o ano 400 d.C. a igreja se tinha convertido num grupo de pessoas que se reuniam cada domingo e podiam citar de com certos credos e fórmulas doutrinais. Mas na grande maioria das pessoas não tinha nada de contato pessoal com Deus. A igreja tinha a anemia espiritual. Opondo-se a esta negligência espiritual, Pelágio viajou de um extremo da igreja ao outro,pregando com vigor a mensagem do arrependimento e a santidade.Mas para destacar a responsabilidade de cada pessoa ante o Deus santo, começou a pregar que os homens podemos teoricamente viver toda a vida sem pecado. Desta maneira poderíamos salvar-nos a nós mesmos, sem a necessidade de depender da graça de Deus e o sangue de Jesus Cristo. O tinha argumentos como os que seguem:
Todos somos capazes de obedecer quase qualquer mandamento de Deus pelo menos por um dia. Por exemplo, todos podemos evitar a mentira, a cobiça, o furto, ou o tomar o nome de Deus em vão pelo menos por um dia. Se somos capazes de obedecer estes mandamentos por um dia, podemos obedecê-los por dois dias. Se podemos obedecê-los por dois dias, podemos obedecê-los por uma semana, e sucessivamente. Raciocinando assim, Pelágio concluiu que bem podemos obedecer todos os mandamentos de Deus todos os dias por toda a vida. Por tanto, nós só somos responsáveis por nossos pecados. Não podemos jogara culpa por nossas desobediências sobre Adão, nem sobre a debilidade que herdamos dele.12.
Ainda que tal argumento parece lógico, é errôneo. O que pode fazer-se por um tempo breve a pequena escala não sempre pode fazer-se através de muito tempo a grande escala. Por exemplo, um homem pode correr cinco quilômetros. Mas isto não quer dizer que pudesse correr quinhentos quilômetros. Eu posso escrever a máquina a setenta e cinco palavras por minuto por três minutos sem fazer nenhum erro. De acordo aos argumentos de Pelágio,deveria poder escrever a máquina a esse ritmo por três dias—o qual não posso fazer.
Mas ao pensá-lo bem, seu ensino não estava tão afastado do que ensinavam os primeiros cristãos. Como vimos já,eles também creram que cada pessoa é responsável por seus próprios pecados e que somos capazes de obedecer a Deus. No entanto, ao mesmo tempo reconheceram que todos temos que depender da graça de Deus, tanto sua graça salvadora como também sua graça fortalecedora. Sem a graça de Deus, não podemos ser salvos do pecado.

O que Agustinho ensinou a respeito da salvação
Respondendo aos ensinos de Pelágio, Agustinho se foi ao outro extremo e desenvolveu as seguintes doutrinas:
1. Como resultado do pecado de Adão, os homens somos depravados totalmente. Somos totalmente incapazes de fazer o bem ou de salvar-nos. Ademais, somos até incapazes de acreditar em Deus ou de exercer fé nele.
2. Por tanto, os humanos podemos acreditar em Deus ou exercer fé em Deus só se Deus por graça nos dá essa fé. Não temos o livre arbítrio de escolher ou acreditar em Deus ou não crer.
3. A decisão de Deus de salvar a uma pessoa e de condenar a outra de dar fé a uma pessoa e de não a dar a outra, é totalmente arbitrária. Isto é, depende só de si mesmo, não de nós. Não podemos influir essa decisão de Deus.
4. Antes da criação do mundo, Deus arbitrariamente predestinou quem seria salvo e quem seria condenado. (Digo:“predestinou”, não somente teve esta presciência.) Não podemos fazer nada para mudar o que Deus tem predestinado, nem nesta vida nem na vindoura.
5. Os eleitos, aqueles que são predestinados para a salvação, não podem perder sua salvação de jeito nenhum. E aqueles que são predestinados para a condenação não podem ser salvos jamais.
6. Ninguém pode saber se ele é eleito por Deus. Deus dá a muitos o dom da fé. Desta maneira crêem, são batizados, e andam conforme aos mandamentos de Jesus. Não obstante, não todos os que recebem o dom da fé são predestinados para a salvação. Não perseverarão. O dom de perseverar é dom independente do dom da fé. Não podemos saber quem dos que estão na igreja recebeu o dom de perseverar.
7. A salvação depende exclusivamente da graça de Deus.A fé é dom de Deus. A obediência é dom de Deus. O perseverara dom de Deus.13.
Pelágio não podia combater os argumentos poderosos de Agustinho Seus ensinos errôneos não duraram. Com tudo, Agustinho,reagindo contra os ensinos de Pelágio, completamente desfez os ensinos dos primeiros cristãos quanto ao livre arbítrio do homem e sua responsabilidade de responder à graça de Deus para receber a salvação. Em seu lugar, surgiu uma doutrina fria e inflexível da predestinação arbitrária.

                     PERIODO DE CONSTANTINO INTRODUÇÃO AO PERIODO

       O cristianismo era como um tesouro precioso que os apóstolos encomendaram a outros homens de alta confiança, cheios do Espírito Santo. A igreja primitiva salvaguardou este tesouro precioso dentro de uma fortaleza inexpugnável, fortificado depois de quatro muros altos. Estes muros eram:

1. Nenhuma revelação nova.
Era difícil que uma doutrina nova conseguisse estabelecer-se porque a igreja primitiva tinha afirme crença de que não receberia nenhuma nova revelação depois do tempo dos apóstolos. Ademais, mantinham um espírito muito conservador. Criam que qualquer mudança de doutrina os envolveria imediatamente no erro.
2. A separação do mundo.
A separação da igreja do mundo protegia à igreja da influência das correntes de atitude se práticas mundanas.
3. O recorrer às igrejas apostólicas.
A prática voluntária de recorrer com qualquer pergunta aos anciãos das igrejas onde tinham ensinado os apóstolos assegurava a igreja à tradição apostólica.

4. A independência de cada congregação.
Se surgia uma doutrina falsa, era difícil que se disseminasse por toda a igreja primitiva porque cada congregação se administrava independente das demais
Enquanto estes quatro muros ficavam intactos, o cristianismo puro dos apóstolos ficava seguro de grandes contaminações.Quiçá com o percorrer dos anos estes muros se tivessem destruído eles mesmos. Nunca o saberemos, porque se derrubaram com grandes golpes primeiro.
Não digo que os muros se derrubaram sob os golpes da perseguição Ao invés, através de quase trezentos anos,Satanás dava à igreja primitiva um golpe de perseguição depois de outro. Mas os muros altos que protegiam à igreja primitiva não renderam quase nada.O verdadeiro é que o fogo da perseguição refinava à igreja primitiva,separando a escória do ouro espiritual.
Parece que depois de três séculos, Satanás se deu conta de que não podia destruir à igreja primitiva com a perseguição. Quando mudou de táticas, dentro de poucos decênios fez o que não tinha podido fazer durante todos aqueles trezentos anos. Agora em vez de usar os golpes brutais, usava a persuasão lisonjear para destruirá o cristianismo desde adentro dos muros. Faz-me pensar de uma das fábulas de Esopo que li quando era moço:Um dia o sol e o vento discutiam quem deles era o mais forte. Quando nenhum dos dois se rendeu depois de muita discussão, o sol propôs uma prova. O que ganhava a prova seria tido como o mais forte. Vendo a um homem com um casaco de lã que caminhava por um caminho no campo, o sol propôs que cada um deles trataria de fazer que o caminhante se tirasse o casaco. O vento esteve de acordo. O sol lhe convidou a ser primeiro,enquanto ele se retirou por trás de uma nuvem.
O vento desencadeou toda sua força, dando contra o caminhante com tanto impulso que quase lhe derrubou. Mas o caminhante,inclinando-se contra a força do vento, lutava por seguir seu caminho. E ainda que o vento dava com mais e mais força, o caminhante conseguiu manter-se de pé, e só estreitou seu casaco contra seu peito. Ao fim, ofegando e fatigado, o vento se rendeu.Depois o sol saiu de por trás da nuvem e ternamente esquentou ao caminhante com seus raios delicados. Dentro de poucos minutos, o caminhante se tirou o casaco.
Assim mesmo, quando Satanás tratou de vencer ao cristianismo a pura força, fracassou do tudo. Mas quando mudou de táticas e o adorno de honras, obséquios e palavras lisonjearas, a igreja primitiva rendeu se cedo.

Uma mudança de ênfase: da vida piedosa à doutrina
Como disse anteriormente, do segundo século ao terceiro tinha muito pouca mudança nas crenças fundamentais da igreja. No entanto, algo ia mudando. Para a metade do terceiro século, a igreja tinha perdido a pureza de sua vitalidade espiritual. Muitos cristãos começavam a adotar as modas imodestas dos mundano se enredavam cada vez mais na busca das riquezas E mais cristãos negavam ao Senhor quando defrontavam perseguição.1.
Enquanto a igreja primitiva ia perdendo sua vitalidade espiritual,reforçava mais e mais sua estrutura eclesiástica. Por exemplo, mais e mais ênfase se dava à autoridade dos bispos. E não só isso, o bispo de Roma começava a afirmar que ele tinha autoridade sobre as demais igrejas.2.
Disse-se que “o patriotismo é o último refúgio dosem vergonha”.3 Quando falamos do cristianismo, a teologia é o último refúgio da igreja débil. A teologia não exige nada de fé nada de amor, nada de sacrifício. O “cristão” que carece de uma fé verdadeira e uma relação vital com Deus pode afirmar que crê uma lista de doutrinas, o mesmo que pode o cristão forte e espiritual.
Enquanto a igreja primitiva ia perdendo vigor, dava mais e mais ênfase à doutrina. Para os fins do terceiro século, depois de bastante tempo sem perseguição, começaram a surgir cada ano mais rinhas sobre pontos de doutrina entre as diferentes igrejas. O historiador da igreja, Eusebio, contemporâneo desta época, escreveu da situação triste em que se encontrava a igreja: “Por causa da grande liberdade [outorgada pelo governo], caímos na preguiça. Tivemos inveja e falamos mal os uns dos outros. É quase como se tomássemos armas os uns contra os outros, porque os anciãos atacavam a outros anciãos com suas palavras como se fossem lanças, e o povo se dividia em diferentes bandos.”4 Como resultado, a igreja não estava preparada espiritualmente para a grande onda de perseguição que se estourou contra ela no princípio do quarto século. Esta perseguição, ainda que severa, não durou muito.Os primeiros decênios do século quatro trouxeram grandes mudanças à igreja Estas mudanças ameaçavam a vida da igreja mais do que a perseguição jamais a tinha ameaçado.

Como Constantino tratou de cristianizar o império
Desde o tempo do imperador Nero do primeiro século, não tinha nenhuma dinastia permanente de imperadores romanos. Ao invés, um imperador reinava um tempo e depois era derrotado por outro. No ano 306 d.C., quatro rivais compartilhavam a autoridade imperial de Roma. Severo reinava sobre Itália e África do Norte. Constantino reinava em Bretanha e Gália. Dois outros compartilhavam o império oriental. Quando Severo foi destronado por outro rival chamado Majencio, Constantino se declarou o único imperador legítimo do império ocidental.
Constantino era líder bastante hábil, um homem de decisão e de ação, capaz tanto de inspirar ao povo como também de organizá-lo Pouco depois de declarar-se o único imperador legítimo do ocidente, começou a cruzar os Alpes para assaltar a Roma e destronar a Majencio. Depois de ganhar uma série de vitórias Constantino começou a última fase da marcha a Romano ano 312. Enquanto se acercava a Roma, teve uma experiência que ia ter um impacto profundo na história do cristianismo e do mundo inteiro.
Eusébio, o historiador eclesiástico, uns anos depois escreveu do que Constantino relatou de sua experiência aquele dia. “O disseque passado meio dia, quando o dia começava a declinar, viram seus próprios olhos o sinal de uma cruz de luz no céu, acima do sol, na que estava esta inscrição: ‘Por este sinal, vencerás’.”5Constantino disse que depois teve um sonho em que Cristo lhe disseque fizesse um estandarte militar na forma de uma cruz. Este estandarte lhe brindaria proteção em todas as batalhas contra seus inimigos. Guiado por estas experiências, Constantino ordenou que lhe fizessem um estandarte especial. Tinha uma lança dourada vertical,cruzada por uma barra horizontal—para formar uma cruz. Uma coroa de ouro, enfeitada com jóias, estava colocada em cima da barra transversal, e embaixo estavam escritas as iniciais de Jesus Cristo
Levando este estandarte à batalha, os exércitos de Constantino venceram completamente aos exércitos de Majencio,cerca da ponte Milvio, como três quilômetros fora da cidade de Roma. Assim é que quando Constantino se fez o único imperador do império ocidental, atribuiu sua vitória ao Deus dos cristãos
A relação de Constantino desde este momento com a igreja se pode entender só se entende a relação que os imperadores romanos sempre tinham tido com a religião de seus súbditos. Os romanos sempre eram muito religiosos, e sempre atribuíam seu sucesso e prosperidade aos deuses que os abençoavam. A religião no império romano era assunto público, e sempre se entrelaçava com o estado. Orações e sacrifícios se faziam aos deuses nas festas do povo, e a adoração aos deuses nestas ocasiões se considerava a obrigação de todo patriota. Ofender aos deuses era delito contra o estado.6.
Constantino creu que em verdade o Deus dos cristãos lhe tinha dado a vitória, e que esse mesmo Deus protegeria sempre ao império... com a condição que os imperadores lhe adorassem e a igreja lhe fosse fiel. Por esta razão, Constantino começou a dar bênçãos à igreja e a seus líderes. Unindo-se com o imperador do oriente, promulgou o edital de Milão em 313. Este edital afirmou: “[Resolvemos] outorgar tanto aos cristãos e a todos os homens a liberdade de seguir a religião de sua consciência, para que todas aquelas deidades celestiais que existissem possam inclinar-se a nosso favor e ao favor de todos aqueles que vivem sob nosso governo.”7.
Notemos que Constantino não fez do cristianismo a única religião oficial do império romano. Singelamente reconheceu que a religião cristã era uma religião legítima igual às demais religiões do império. Com tudo, o cristianismo agora era a religião do mesmo imperador, e por isso gozava a mais prestígio do que as religiões pagãs. Muitos templos da igreja primitiva se tinham destruído na perseguição que teve antes que ascendesse Constantino ao trono. Por isso Constantino ordenou que os voltassem a construir, pagando os gastos do cofre público.Também começou a pagar aos anciãos da igreja um salário com dinheiro estatal, e fez leis que eximiram aos líderes da igreja de qualquer serviço obrigatório do estado. Isto fez Constantino porque queria que os bispos e diáconos dedicassem seu tempo e energias a suas congregações. Cria que uma igreja próspera assegurava a bênção de Deus sobre o império.8 Constantino também levantou aos cristãos a posições proeminentes em seu governo e escolheu a muitos de seus ministros de estado de entre os cristãos. Até pediu que os bispos cristãos acompanhas sema seus exércitos às batalhas para que tivessem a bênção de Deus9.

Os muros de proteção começam a derrubar-se
Por dois séculos e meio, o cristianismo tinha mudado muito pouco. Quatro muros altos o tinham protegido de grandes mudanças.Mas o muro a mais afora, o muro de um espírito muito conservador que não permitia nenhuma mudança, agora era ameaçado.Antes disto, qualquer doutrina ou prática nova se tinha recusado de imediato pelos líderes da igreja. Mas depois da “conversão” de Constantino, a igreja começou a examinar de novo sua atitude que condenava qualquer mudança como a introdução do erro.
Por exemplo, a igreja primitiva sempre tinha dito que era prática herege pagar um salário a seus bispos e anciões. Mas quando Constantino ofereceu pagar os salários, a igreja reconsiderou sua posição e decidiu aceitar a oferta. A igreja começou a dizer que uma nova era tinha amanhecido para o cristianismo, e que as normas antigas já não tinham que se seguir. Muitos cristãos agora diziam que Deus mesmo tinha mudado as normas. Eusébio escreveu: “Tem que tomar em conta tudo aquele que considera a fundo estes Atos que apareceu uma era nova e diferente na história da igreja primitiva. Uma luz antes disto desconhecida começou a alumiar nas trevas da raça humana. E todos temos que confessar que estas coisas são só a obra de Deus, quem levantou a este imperador piedoso para combater a multidão dos incrédulos.”10.
Quando descreve como Constantino convidou aos líderes da igreja a suas câmaras privadas para que se socializassem com ele, Eusébio se parece mais a um menino ingênuo do que a um líder formal da igreja “Os homens de Deus entraram sem temor nas câmaras reais mais privadas. Ali comiam alguns à mesma mesa do imperador, e outros se reclinavam nos divãs a ambos os lados.Um tivesse podido pensar que se formava um quadro do reino de Cristo dado em figuras—um sonho mais bem do que a realidade.”11O muro exterior que tinha protegido à igreja já estava rompido.Já não criam mais os cristãos do que qualquer mudança os envolveria no erro. Ao invés, a igreja começou a crer que a mudança podia trazer um melhoramento. Diziam que talvez o cristianismo dos apóstolos não era a cume do cristianismo,senão só o princípio. Até começaram a crer que Deus agora podia dar novas revelações. Os cristãos agora criam que a profecia de Ageu a respeito do templo que edificava Zorobabel podia aplicar-se à igreja: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos exércitos; e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos exércitos.”12 (Ageu 2.9). Segundo eles, a igreja estava por atingir novas cumes.

Como a amizade com o mundo arruinou à igreja primitiva
A o próximo muro que começou a derrubar-se era ele da separação com o mundo, e este cedo se destruiu por completo.A igreja era como uma jovem ingênua apaixonada com um noivo novo. O mundo quis a amizade da igreja, e a igreja não viu nenhum inconveniente em tal amizade. Pela primeira vez na história ser cristão dava prestígio social. E até preferência sedava aos cristãos quando se escolhiam aos oficiais do estado.No entanto, esta amizade com o mundo corrompeu o coração da igreja. Quando Constantino começou a fazer leis para cristianizar à sociedade, cedo desapareceu a distinção entre os cristãos e os mundanos. Antes disso, tinha muito pouco que atraía a um incrédulo à igreja senão só a fé em Deus. Os que se convertiam na prosperidade se provavam nos tempos de perseguição e se não eram sinceros, saíam-se da igreja. Poucas pessoas não regeneradas em realidade se atreviam a ficar na igreja Mas agora que o cristianismo dava prestígio social,muitos entravam na igreja. Muito cedo, o nome “cristão”não significava nada. Só indicava que uma pessoa afirmava mentalmente que aceitava o credo cristão e que tinha recebido s sacramentos da igreja.
Tão cedo como a igreja se fez amiga do mundo, começou a atuar como o mundo. Isto não se podia evitar, já que o mundo não pode atuar como Deus o quer. Atuar como Deus o quer,requer o poder de Deus. E a multidão não regenerada,ainda que chamados cristãos, não tiveram o poder de Deus. Ademais,nem desejaram atuar segundo a vontade de Deus, já que a vontade de Deus exige muita paciência, a vontade de sofrer, e uma plena confiança nele.
“¡Os desafiamos a que nos persigam!”Ao princípio, os novos métodos do mundo pareciam mais eficazes do que os métodos antigos. Por exemplo, a igreja mudou de método em responder à perseguição ou oposição que vinha do governo. Antes que isto, os cristãos se tinham escondido de seus perseguidores, ou tinham fugido. Mas agora, a multidão de gente não regenerada não estava disposta a aceitar a opressão, ou a tortura, ou até a morte—sem defender-se.
Por exemplo, quando o filho de Constantino mandou a um de seus generais a Constantinopla para depor ao bispo da igreja ali, a congregação fez um tumulto. Durante a noite, enquanto dormia o general, atacaram a casa onde se hospedava,prendendo-lhe fogo. Quando ao fim correu o general da casa,meio aturdido pela fumaça, jogaram-lhe mão. Arrastaram-no pelas ruas da cidade e de modo selvagem o golpeavam até dar-lhe morte.13 E isto não era caso único; era o normal quando o governo se opunha à igreja. O caráter da igreja tinha mudado.

Como impunham silêncio aos hereges
O mundo também tinha outro modo de tratar aos hereges.Constantino raciocinou que a igreja seria mais saudável se não tivesse hereges para enganar à gente. Por isto dispôs usar seu poder para eliminar aos hereges por meio do edital que dou a seguir:
“Compreendam agora, por meio do presente estatuto, vocês que são novacianos, valentines, marcionitas, paulicianos, emontanistas e todos os demais que criam e apóiam as heresias por meio de suas assembléias privadas… que suas ofensas são tão abomináveis e completamente infames que um dia não bastaria para numerá-las todas… Já que não é possível dar mais lugar a seus erros mortais, com o presente lhes advertimos que desde o dia de hoje se lhes proíbe reunir-se. Demos a ordem que seus templos lhes sejam tirados. Proibimos-lhes terminantemente que se façam mais suas reuniões supersticiosas e insensatas, não só em lugares públicos, senão também em casas particulares, ou em qualquer lugar.”14.
Poucos decênios antes disso, tinha sido um delito ser cristão.Agora era um delito ser herege. E a igreja aceitou esta mudança sem sequer um murmúrio de protesto. Era bastante difícil disputar com os hereges. Era bem mais fácil usar da autoridade do estado para impor-lhes silêncio.
Mas cedo vários grupos dentro da igreja qualificaram a outros grupos como hereges, e usaram a espada os uns contra os outros. Com o tempo, muitos mais cristãos se mataram entre si que os que tinham morrido pela espada dos romanos na época da perseguição. Sim, mais cem vezes.Ainda que é triste dizê-lo, quando os exércitos muçulmanos invadiram a Egito no ano 639, muitos cristãos lhes de ramas boas vindas como a libertadores. Sua vida era muita mais fácil sob o governo dos muçulmanos que tinha sido sob a mão de seus colegas cristãos.

O evangelismo por meio de arquitetura deslumbrante
Ao princípio, os cristãos celebravam seus cultos em casas privadas (Romanos 16.5). Quando as congregações cresciam,convertiam casas em salões de reunião e os chamavam “casas de oração”. Ninguém se atraía à igreja primitiva pela arquitetura de seus templos, senão pelos ensinos e as vidas piedosas do povo que constituía a igreja. No entanto, Constantino raciocinou que mais pessoas seriam atraídas ao cristianismo se os templos fossem mais impressionantes. Por isto, com dinheiro do estado, ele edificou templos deslumbrantes que competiam em magnificência com os templos pagãos. Os novos templos tinham colunatas impressionantes e tetos abovedados. Muitos deles tinham até fontes de água e andares elegantes de mármore. Constantino queria que nenhum pagão passasse por um templo cristão sem que se acordas se nele o desejo de olhar por dentro.15Sua idéia resultou muito bem. Os pagãos se atraíam aos novos templos magnificentes e como resultado, milhares deles “se converteram”.

Em vez de levar a cruz, os cristãos agora vendiam a cruz
Cedo a mãe de Constantino, Elena, aproveitou-se das circunstâncias Fez uma viagem a Jerusalém e disse ter descoberto o sepulcro de Jesus. Disse ademais do que achou três cruzes dentro do sepulcro, mas que não sabia qual era de Jesus. Assim é que levou as três cruzes a uma mulher mortalmente enferma, quem ao tocar a cruz de Jesus se curou.16 Assim começou uma onda de mania pelas relíquias
Daqui a pouco, as relíquias apareciam por todos os lados: os ossos dos profetas, os bocados da cruz, alguma prenda do vestido dos apóstolos, e outras coisas mais. Milhares de pessoas testemunharam ter-se curado de suas doenças por tocar a tais relíquias, ou ainda por só vê-los. E em pouco tempo, os negociantes estavam fazendo bons ganhos, vendendo tais relíquias supersticiosas.
Para os fins do sexto século, uma dama nobre pediu a Gregório então o bispo de Roma, que lhe mandasse a caveira do apóstolo Paulo para que ela a colocasse na igreja que estava edificando para honrar ao apóstolo. Gregório respondeu numa carta,dizendo: “Lamento que não posso fazer o que você me pede. Não me atrevo a fazê-lo. O corpo de São Pedro e de São Paulo produzem tão grandes milagres e terrores em suas igrejas que uno não pode sequer acercar-se a orar ali sem encher-se de grande temor.”17 Gregório seguiu dizendo que um sacerdote tinha caído morto quando por acaso tinha tratado de mover um dos ossos de Paulo.
Gregório seguiu em sua carta: “Deve saber que não é costume dos romanos, quando dava alguma relíquia dos santos,atrever-se a tocar qualquer parte do corpo [do santo]. Em vez disso,uma tela se põe dentro de uma caixa e se coloca cerca do corpo sagrado do santo. Quando se levanta [a tela], deposita-se com a reverência devida na igreja que vai dedicar. Os efeitos produzidos por este depósito são tão poderosos como se tivessem levado o mesmo corpo a esse lugar especial.”18 Gregório seguiu dizendo que um bispo romano tinha cortado com uma faca uma destas telas benditas e da tela tinha saído sangue.

A via para atingir o coração do pagão é através de seu estômago
O povo de Roma não se deleitava em nenhuma outra coisa tanto como nos banquetes. A igreja primitiva tinha tido o costume de recordar aos mártires da igreja cada ano no aniversário de sua morte com uma “comida fraternal” e um culto comemorativo. Agora alguns cristãos inovadores se deram conta de que poderiam atrair aos incrédulos à igreja se estas comidas fraternais fossem convertidas em festas para todo o povo. A idéia resultou muito bem, e muitos povos inteiros “se converteram” ao cristianismo desta maneira.

Não indica o crescimento a bênção de Deus?
Tendo aceitado o fazer mudanças, como podia a igreja primitiva saber se Deus aprovava as mudanças? A resposta era fácil: para eles o crescimento indicava a bênção de Deus. O cristianismo tinha crescido rapidamente pelos primeiros três séculos, mas depois da conversão de Constantino a igreja cresceu bastante da noite para o dia. Para o tempo do edital de Milão (313 d.C.), provavelmente uma décima parte do império romano setinha convertido ao cristianismo. Mas isso tinha levado quase trezentos anos. Agora, dentro de menos de cem anos depois do edital de Milão, quase todas as demais pessoas “se converteram”.A igreja cria que este crescimento rápido indicava que Deus aprovava as mudanças que se estavam fazendo. Quando aceitaram essa idéia, a igreja cedo adotou qualquer prática que trouxesse mais crescimento. Por exemplo, introduziram o uso das imagens na igreja, uma prática abominável para os primeiros cristãos.

Dois dos muros que tinham protegido ao cristianismo primitivo ficaram completamente destruídos. Só dois ficaram:(1) o referir os problemas às igrejas apostólicas, e (2) a independência de cada congregação. Sem sabê-lo, Constantino derrubou estes dois muros restantes com um só evento: o concílio de Nicea.

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