O PROTESTANTISMO AMERICANO
SÉCULOS (17 A 19)
(FONTE.Portal Makenzie-teologia-S.P)
Ementa: como principal matriz do protestantismo
brasileiro, o seu congênere norte-americano é merecedor de análise cuidadosa. O
período estudado vai desde o início da colonização inglesa das Treze Colônias,
através de anglicanos e puritanos, até as grandes transformações que se
seguiram à Guerra Civil.
1. Primórdios (1607-1700)
1.1 Antecedentes
Os primeiros cristãos a se fixarem no atual
território dos Estados Unidos foram católicos romanos originários da Espanha e
da França.
(a) Nova Espanha
A colonização espanhola da América do Norte teve
início com a conquista do México por Hernando Cortés, em 1519-21. A
administração colonial espanhola com freqüência oprimiu a população nativa, mas
os missionários muitas vezes realizaram um trabalho notável entre os indígenas.
Os principais missionários foram os franciscanos, que atuaram na Flórida,
Texas, Novo México e Califórnia. No Novo México, em 1630, cerca de 35 mil
índios cristãos concentravam-se ao redor de vinte e cinco estações
missionárias. Em 1680, os índios pueblo destruíram Santa Fé e mataram dois
terços dos missionários. Em 1691-1711, Eusébio Kino trabalhou no Novo México e
no Arizona. O grande pioneiro da Califórnia foi Junípero Serra, que em 1769
fundou uma missão em San Diego. Nos próximos 75 anos, foram fundadas 21
estações missionárias, sendo a última San Francisco Solano (1823). Nesse
período, cerca de 100 mil índios foram batizados.
(b) Nova França
A França teve o controle do Canadá e do meio-oeste
dos futuros Estados Unidos desde a fundação de Québec por Samuel de Champlain
em 1608 até a derrota diante dos ingleses em 1759. Além de trabalhar entre os
colonos franceses, os sacerdotes também evangelizaram os índios. Embora os
franciscanos tenham dado uma contribuição significativa, os principais
missionários foram os jesuítas, destacando-se entre eles o padre Jean de
Brebeuf. Chegado em 1626, ele obteve considerável êxito na conversão dos índios
hurons, demonstrando grande sensibilidade cultural e genuíno interesse pelo
bem-estar dos mesmos. Brebeuf foi morto pelos índios iroqueses em 1649. Uma
admirável missionária foi Marie Guyart (1599-1672), ligada à ordem das
ursulinas. Os jesuítas fundaram diversas missões no vale do Rio Mississipi até
a Luisiana, as quais, todavia, produziram poucos resultados permanentes.
1.2 Os primeiros grupos
A Inglaterra foi a principal responsável pela
colonização do território norte-americano e dela vieram os primeiros grupos
protestantes a se fixarem nos Estados Unidos. A ruptura de Henrique VIII com
Roma (1534) foi o primeiro passo para a criação da Igreja Anglicana, que se
tornou protestante nos reinados de seus filhos Eduardo VI (1547-53) e Elizabete
I (1558-1603). No reinado de Maria Tudor (1553-58), que tentou tornar a igreja
inglesa novamente católica, muitos líderes protestantes refugiaram-se em Genebra
e em outras cidades reformadas suíças e alemãs. Ao retornarem à pátria, já no
reinado de Elizabete, alguns desses líderes e muitos que haviam permanecido na
Inglaterra, mobilizaram-se em prol de uma reforma mais sistemática da igreja.
Foi isso o que deu origem ao puritanismo na década de 1560.
(a) Virgínia
A primeira colônia inglesa do Novo Mundo foi a
Virgínia, que teve início com a fundação de Jamestown em 1607. Como parte da
incorporação da colônia, a Igreja da Inglaterra tornou-se a sua igreja oficial.
Embora em um grau menor que na Nova Inglaterra, a religião teve bastante
destaque na Virgínia. Seu primeiro código de leis tornou compulsória a
freqüência aos cultos dominiciais e continha normas rigorosas contra o
adultério, a violação do dia do Senhor e os excessos no vestuário. A
preocupação missionária em relação aos índios também estava presente. John
Rolfe casou-se com a lendária Pocahontas em parte para comunicar-lhe a fé
cristã. Alexander Whitaker, o principal ministro dos primeiros tempos sempre se
preocupou em converter os indígenas. A chegada de escravos africanos a partir
de 1619 traria grandes conseqüências para a sociedade e para a igreja.
(b) Plymouth
Os primeiros puritanos a migrarem para a América
estabeleceram-se em Plymouth, Massachusetts, em 1620. Quando o escocês Tiago I
sucedeu Elizabete no trono inglês (1603-1625), sua recusa em apoiar a causa dos
puritanos desapontou os protestantes mais radicais, entre os quais estavam
algumas igrejas locais separadas da igreja nacional. Uma delas, localizada em
Scrooby, Nottinghamshire, resolveu mudar-se para um ambiente mais amistoso.
Inicialmente, foram para a Holanda, mas não se adaptaram à nova cultura. Além
disso, temiam que seus filhos abandonassem os seus princípios religiosos sob a
pressão de interesses econômicos e de outras igrejas. Doze anos depois,
resolveram transferir-se para o Novo Mundo, sob o patrocínio de comerciantes
ingleses. Embarcados no Mayflower em setembro de 1620, pretendiam ir para a
Virgínia, mas os ventos tempestuosos os desviaram para Cape Cod, onde chegaram
em novembro. Antes de desembarcarem, os homens assinaram um acordo pelo qual se
comprometeram a manter a solidariedade do grupo e a renunciar à busca
individual do lucro. William Bradford (†1657), o primeiro governador e
historiador da colônia, escreveu um comovente relato dos rigores do primeiro
inverno, no qual morreu a metade dos “peregrinos”. Eventualmente, os colonos
superaram as dificuldades iniciais e após a primeira colheita realizaram uma
celebração especial de ação de graças, com vários dias de duração, juntamente
com seus amigos indígenas. Em 1630, a colônia tinha somente 300 residentes, mas
continuou a prosperar e em 1691 uniu-se à colônia de Massachusetts.
1.3 Os puritanos da Nova Inglaterra
Muito mais importante para a história política e
religiosa dos Estados Unidos foi outra colônia puritana que se estabeleceu um
pouco ao norte de Plymouth. A experiência dos puritanos da Nova Inglaterra veio
a dominar as percepções posteriores da história inicial do protestantismo
norte-americano por diversas razões: líderes destacados (John Winthrop, John
Cotton, Cotton Mather, etc.), influência social e política, contribuição
democrática, ênfase à educação e energia moral.
Os primeiros puritanos ingleses queriam eliminar os
vestígios do culto e das práticas católicas romanas que sobreviviam na Igreja
da Inglaterra moldada por Elizabete I, Tiago I e seus conselheiros. Eles
queriam completar a Reforma e completá-la sem demora. As suas principais
convicções podem ser sintetizadas em quatro pontos: (1) Os puritanos criam que
a humanidade depende inteiramente de Deus para a sua salvação. Os seres humanos
são pecadores que não irão buscar reconciliação com Deus a menos que este tome
a iniciativa de salvá-los (afirmação plena da soberania divina). (2) Os
puritanos acentuavam a autoridade das Escrituras. Eles criam que a Bíblia tem
uma autoridade “reguladora”: isto significa que, até onde possível, os cristãos
devem fazer somente o que as Escrituras prescrevem diretamente. (3) Os
puritanos criam, como o maior parte dos europeus daquela época, que Deus havia
criado a sociedade como um todo unificado. A igreja e o estado, as esferas
individual e pública, eram áreas complementares. Essa convicção estava por trás
dos seus esforços em criar colônias nas quais todos os aspectos da vida
refletissem a glória de Deus. (4) Os puritanos criam que Deus relaciona-se com
as pessoas através de pactos ou acordos solenes. De modo especial, os puritanos
congregacionais da Nova Inglaterra enfatizavam que as igrejas locais surgiam
quando crentes individuais pactuavam-se para servir a Deus como um grupo e
fazer a sua vontade. Quase todos os tipos de puritanos também sustentavam que
Deus estabelecia alianças com nações, em particular aquelas que haviam recebido
um conhecimento especial das verdades bíblicas. O puritanismo extraiu boa parte
de sua força do sutil entrelaçamento dessas alianças (família, igreja e
comunidade).
A grande migração puritana para o Novo Mundo ocorreu
quando diminuíram os prospectos de reforma na Inglaterra. Carlos I, que sucedeu
o seu pai Tiago I (1625-1649), não apenas tinha tendências católicas romanas,
mas parecia decidido a governar a Inglaterra por direito divino. Ele entrou em
conflito com o parlamento e, a partir de 1629, tentou governar sem convocar o
mesmo. Ele encarregou o arcebispo de Cantuária, William Laud, de eliminar o
puritanismo da Igreja Anglicana. Em 1628, um grupo de puritanos simpatizantes
da estrutura eclesiástica congregacional adquiriu o controle da Companhia da
Nova Inglaterra. Depois que a companhia foi reorganizada visando dar ênfase à
colonização e não ao comércio, e depois de ter obtido um novo estatuto do rei
concedendo maior autonomia administrativa, ocorreu a primeira migração para a
Baía de Massachusetts, em 1630 (mais de 1000 colonos). Nos dez anos seguintes,
pelo menos 20 mil colonos cruzaram o Atlântico, nem todos eles puritanos
convictos.
1.3.1 Fé e vida
O puritanismo foi a religião dominante em quatro
colônias americanas: Plymouth; Massachusetts (que absorveu Plymouth em 1691);
Connecticut, que surgiu em 1636 quando vários pastores sob a direção do Rev.
Thomas Hooker levaram colonos de Massachusetts para o vale do Rio Connecticut;
e New Haven, fundada em 1638 sob a liderança do Rev. John Davenport e do
governador Theophilus Eaton. Em 1662 estas duas últimas colônias tornaram-se
uma só.
A primeira geração de colonos puritanos acreditou
que seria possível realizar o seu grande projeto de reforma que se mostrara
inviável na Inglaterra. O padrão foi estabelecido por Massachusetts e ficou
conhecido como “New England Way” (O Caminho da Nova Inglaterra). Logo que
chegaram, os ministros e os magistrados concordaram na necessidade de
evidências mais visíveis de conversão. Deu-se uma nova ênfase à experiência de
conversão como critério para a plena admissão na igreja. Os candidatos a
membros deviam não só aceitar as doutrinas puritanas e viver com integridade,
mas também testemunhar diante dos irmãos que haviam experimentado a graça
redentora de Deus. Aqueles que pudessem testificar de modo aceitável acerca de
sua salvação constituíam igrejas pela aliança de uns com os outros.
Somente tinham direitos políticos os homens que eram
membros plenos das igrejas pactuadas. Ou seja, o pacto da graça qualificava o
indivíduo tanto para ingressar na igreja quanto para exercer o direito de voto
na vida pública da colônia. Essa vida pública por sua vez cumpria o pacto
social com Deus, uma vez que os líderes eleitos pelos membros da igreja
formulavam leis que honravam as Escrituras. Todavia, a Nova Inglaterra não era
uma teocracia, pois os ministros não exerciam um controle direto da vida
pública. Era, no entanto, um lugar em que os magistrados freqüentemente
buscavam os conselhos dos pastores, inclusive quanto à melhor maneira de
promover a vida religiosa das colônias.
Por algum tempo, o sistema funcionou. Sob a
liderança de John Winthrop, o primeiro governador, metade dos homens da colônia
filiou-se às igrejas e participou do governo. As agitações ocorridas na
Inglaterra na década de 1640, quando os puritanos coligados com os
parlamentaristas guerrearam contra o rei Carlos I, fizeram com que os puritanos
de Massachusetts aprovassem a Plataforma de Cambridge (1648), que reafirmou a
sua teologia reformada e a sua ordem eclesiástica de congregacionalismo
não-separatista. Esse congregacionalismo insistia vigorosamente na uniformidade
religiosa e buscava restringir ou excluir todos os dissidentes.
Os puritanos também se esforçaram por criar um
sistema educacional que preservasse o seu experimento. Em 1636 a legislatura de
Massachusetts autorizou a criação de um colégio, instalado dois anos depois
quando o jovem pastor John Harvard legou à nova instituição uma biblioteca de
400 volumes. Desde o início, o propósito primário do Harvard College foi a
preparação de pastores, mas seus objetivos não se limitavam a isso. A educação
primária e secundária também preocupou os líderes puritanos. A “Cartilha da
Nova Inglaterra” (The New England Primer), um livro que ensinava noções básicas
de leitura e redação através da Oração do Pai Nosso, dos Dez Mandamentos e do
Credo dos Apóstolos, tornou-se o livro-texto mais popular de todas as colônias
no século 18. Essa ênfase ao ensino fez da Nova Inglaterra um dos lugares mais
alfabetizados do mundo.
1.3.2 Crises
À medida que o tempo passou, um número cada vez
maior de filhos dos pioneiros deixou de ter a mesma experiência religiosa que
os seus pais, não podendo assim se tornar membros plenos da igreja. O problema
agravou-se quando esses filhos começaram a casar-se e ter os seus próprios
filhos. Segundo a teologia reformada dos puritanos, os convertidos tinham o
privilégio de trazer seus filhos para o batismo como selo da graça pactual de
Deus. Agora, muitos daqueles que haviam sido batizados como crianças não
estavam apresentando-se voluntariamente para confessar a Cristo; todavia,
queriam que seus filhos fossem batizados. O dilema era delicado: os líderes
puritanos desejavam preservar a igreja para os crentes verdadeiros, mas também
queriam manter tantas pessoas quanto possível sob a influência da igreja. Um
sínodo de ministros reunido em 1662 encontrou a solução através do “half-way
covenant” (pacto do meio-termo), pelo qual a segunda geração podia apresentar
os filhos para o batismo e filiação parcial à igreja. Todavia, a Santa Ceia e
outros privilégios ficavam reservados para aqueles que pudessem testificar
sobre uma atuação específica da graça de Deus em suas vidas.
Outras crises surgiram no final do século 17. A
guerra contra os índios em 1675-76 trouxe devastação para as vilas mais
afastadas e causou a morte de centenas de colonos. Em 1685, as colônias da Nova
Inglaterra perderam as suas assembléias representativas e foram colocadas com
Nova York e Nova Jersey sob o controle da coroa inglesa. Esse expediente foi um
esforço do rei Tiago II (1685-88), um católico romano, no sentido de refrear os
protestantes radicais do Novo Mundo. Em 1687, a Igreja da Inglaterra passou a
oficiar o seu culto em Boston. As colônias recuperaram em parte a sua autonomia
depois que o parlamento substituiu o rei por novos monarcas, William e Mary, em
1688. O novo estatuto de Massachusetts (1691) era muito mais secular que o
original. Ele estipulava que o governador seria nomeado pelo rei. Ainda mais
importante, agora o direito de eleger a legislatura colonial seria determinado
pela propriedade e não pela filiação à igreja.
Uma das crises mais perturbadoras ocorreu em Salem
Village, ao norte de Boston, em 1692. Embora os processos e execuções por
feitiçaria não fossem desconhecidos na Nova Inglaterra, os eventos de Salem
foram muito além de incidentes anteriores. Em conseqüência de diversos fatores
religiosos, psicológicos e políticos e de vários meses de excitação
descontrolada, vinte pessoas foram executadas (quase todas mulheres e a maioria
por enforcamento). Finalmente, quando começaram a ser feitas acusações contra
indivíduos de caráter ilibado e quando líderes como Increase Mather, o pastor
de Boston, protestaram contra os procedimentos, o movimento rapidamente se
esvaziou. Eventualmente, chegou-se à conclusão que o diabo estivera mais
atuante nos acusadores e naqueles que lhes deram ouvidos do que nas pessoas
acusadas. Até hoje esses episódios constituem-se em uma mancha na reputação dos
puritanos.
Apesar desses problemas e do declínio religioso
associado com a crescente prosperidade material dos habitantes da Nova
Inglaterra, as igrejas puritanas continuaram a exercer um papel central na sua
sociedade por longo tempo.
1.3.3 Dissidências
Em meados do século 17, vários indivíduos e grupos
desafiaram o “caminho da Nova Inglaterra” e alguns deles foram banidos para a
pequena colônia de Rhode Island.
(a) Os batistas, que partilhavam de várias das
convicções dos puritanos, surgiram em Massachusetts logo após as primeiras
migrações. A mais antiga igreja batista da Inglaterra, fundada por John Smyth
nas proximidades de Londres em 1612, associou o calvinismo básico dos puritanos
com as práticas batismais dos menonitas holandeses, que batizavam crentes
adultos ao professarem a sua fé. Os puritanos sentiam-se ameaçados pelos
batistas, especialmente por sua insistência em que o estado não tinha qualquer
papel a desempenhar nas igrejas, bem como pela maneira como as suas práticas
batismais rompiam o vínculo existente entre a fé pessoal, a orientação da
igreja e a participação na sociedade mais ampla. John Clarke, o principal
pioneiro batista da Nova Inglaterra, chegou em 1639 em Rhode Island, onde fundou
a cidade de Newport. No mesmo ano, foi fundada a primeira igreja batista da
América.
Outro personagem ligado aos batistas foi o
controvertido Roger Williams (1603?-1683), que chegou a Massachusetts em 1631
depois de tornar-se conhecido como um zeloso pregador puritano. Irrequieto e
contestador, Williams inicialmente fixou-se em Plymouth e em 1633 assumiu o
pastorado da igreja de Salem. Dentro de pouco tempo, as suas opiniões atraíram
a ira das autoridades da colônia. Ele afirmava que os puritanos no tinham
direito às terras indígenas do Novo Mundo porque tais terras tinham sido
espoliadas e, portanto, os estatutos coloniais eram ilegítimos. Além disso,
indivíduos que não haviam confessado a Cristo não podiam ter responsabilidades
em um pacto social. Os magistrados erravam ao impor a freqüência à igreja e
outros deveres espirituais, uma vez que as verdadeiras ações cristãs procedem
do coração.
Essas idéias ameaçavam quase todos os aspectos da
vida da colônia e por isso Williams foi expulso. John Winthrop propôs que o seu
banimento ocorresse na primavera, mas William resolveu partir em outubro de
1635. Após um inverno rigoroso, ele finalmente chegou à Baía de Narragansett em
abril de 1636, onde fundou a cidade de Providence. Roger Williams é conhecido
como o primeiro grande “democrata” dos Estados Unidos, uma reputação
parcialmente justificada. Sob sua liderança, Rhode Island tornou-se a primeira
região das colônias norte-americanas em que a liberdade de culto foi estendida
a quase todos os grupos. Foi também a primeira colônia que tentou uma separação
entre as instituições da igreja e do estado. Todavia, antes de tudo Williams
foi um completo puritano. As suas razões para defender a liberdade de culto e a
separação entre igreja e estado foram sobretudo religiosas.
(b) Anne Hutchinson (1591-1643) foi outra fiel
puritana que incomodou as autoridades de Massachusetts. Ela emigrou para a Nova
Inglaterra a fim de ficar perto do seu pastor, John Cotton, que se transferiu
para Boston em 1633. Anne apreciava particularmente a sua mensagem sobre a
livre graça de Deus. Logo após a sua chegada, ela iniciou uma reunião de meio
de semana para comentar o sermão de Cotton no domingo anterior e tratar de
outras questões espirituais. Eventualmente, surgiu a suspeita de que as suas
idéias estavam se aproximando do antinomismo (para os puritanos, o erro segundo
o qual os cristãos não precisam dos Dez Mandamentos para mostrar-lhes como
viver). Em suas reuniões, ela argumentava que o crente possuía o Espírito Santo
e, portanto, não estava preso às exigências da lei. Além disso, o simples fato
de uma pessoa obedecer as leis da sociedade não queria dizer que ela era
realmente cristã. Como John Cotton ensinava claramente, a salvação era pela
graça e não pelas obras da lei.
As idéias de Hutchinson eram um corolário legítimo
da teologia puritana básica. A dificuldade estava no choque dessas noções com o
projeto dos puritanos na Nova Inglaterra. Se os indivíduos ficassem entregues a
si mesmos, o que seria da sociedade piedosa que os puritanos desejavam tão
ardentemente? As autoridades iniciaram um processo judicial em que a senhora
Hutchinson fez a sua própria defesa, citando as Escrituras e argumentando
cuidadosamente contra os líderes da colônia. Porém, quando parecia que Anne
Hutchinson havia silenciado os seus opositores, ela cometeu o erro fatal de
afirmar que o Espírito Santo comunicava-se diretamente com ela à parte das
Escrituras. Assim sendo, ela e seus seguidores foram banidos em 1638. Após uma
breve estadia em Rhode Island e em Long Island, Anne fixou residência na
colônia de Nova York, onde pouco depois ela e a maior parte da sua família
foram mortos pelos índios.
(c) Cotton Mather (1662-1728) foi o mais notável
líder dos puritanos no período anterior ao Primeiro Grande Despertamento. Ele
pastoreou a igreja Old North Church, em Boston, ao lado do seu pai, Increase
Mather, e foi um grande defensor do Caminho da Nova Inglaterra. Todavia, Cotton
também se mostrou muito tolerante para com outras expressões do cristianismo
(no final da sua vida ele participou da ordenação de um pastor batista quando
isso ainda era considerado um passo bastante radical). Ele foi também um
escritor prolífico, tendo publicado mais de 400 livros e panfletos, manteve uma
vasta correspondência e foi um ardoroso promotor da ciência (entre outras
coisas, ele introduziu a vacinação contra varíola em Boston).
1.4 Outros grupos
1.4.1 Anglicanos
Fora da Nova Inglaterra, a Igreja Anglicana foi o
principal grupo religioso existente nas antigas colônias inglesas. Ela
tornou-se a igreja oficial da Virgínia, partes da cidade de Nova York (1693),
Maryland (1702), Carolina do Sul (1706) e do Norte (1715) e Geórgia (1758).
Todavia, os problemas eram muitos, a começar do enorme tamanho das paróquias e
da carência de recursos. A falta de um bispo residente também criou sérias
dificuldades. No entanto, a igreja contou com os serviços de alguns líderes
dedicados como James Blair (1656-1743), que foi comissário ou administrador da
igreja da Virgínia por mais de meio século. Entre outras coisas, ele fundou o
“William and Mary College” em 1693. Outro líder destacado foi Thomas Bray
(1656-1730), o comissário da Igreja da Inglaterra em Maryland entre 1696 e
1700. Durante sua breve estadia, ele fundou duas agências que se tornariam muito
influentes: a Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão (SPCK, 1699),
que fornecia livros para ministros e leigos, e a Sociedade para a Propagação do
Evangelho em Regiões Estrangeiras (SPG, 1701), voltada para missões entre os
indígenas. John Wesley, o fundador do metodismo, passou dezoito meses
frustrantes na Georgia com um jovem missionário (meados da década de 1730).
Ironicamente, a Igreja da Inglaterra eventualmente
teve o seu maior êxito em regiões nas quais não era a igreja oficial. Durante
os grandes reavivamentos de meados do século 18, os moradores da Nova
Inglaterra que buscavam uma igreja mais moderada e menos entusiástica
voltaram-se em grande número para o anglicanismo. Eventualmente os missionários
anglicanos fundaram um certo número de igrejas fortes na Pensilvânia, Nova
Jersey e Long Island.
1.4.2 Católicos romanos
George Calvert (1580?-1632) e seu filho Cecil
(1605-1675), primeiro e segundo Lordes Baltimore, foram os fundadores de
Maryland, a única das colônias norte-americanas originais a ter uma
significativa influência católica romana. George Calvert, que se converteu ao
catolicismo em 1625, foi secretário de estado do rei Tiago I da Inglaterra.
Calvert teve de renunciar por não poder jurar fidelidade à Igreja Anglicana
quando Carlos I sucedeu o seu pai como rei naquele mesmo ano. Todavia, Carlos I
estava ansioso em recompensar os Calvert pelos leais serviços prestados ao seu
pai e a si próprio, desejo que cumpriu ao dar à família um grande título de
propriedade no Novo Mundo (1632). A colônia resultante recebeu o nome da esposa
católica de Carlos I, Maria Henrietta da França. Além de interesses econômicos,
os Calvert queriam criar um refúgio para os católicos ingleses. Ao mesmo tempo,
eles também estavam interessados em atrair colonos protestantes. Em 1649, Cecil
promulgou para Maryland o famoso “Ato Concernente à Religião”, que ofereceu
liberdade de culto a todos os que se considerassem cristãos, fossem eles
católicos, anglicanos ou puritanos. Em 1691, a concessão original de Maryland
foi retirada da família Calvert, sendo restituída em 1715, quando o quarto Lorde
Baltimore ingressou na Igreja da Inglaterra. Maryland permaneceu na posse dos
Calvert até a revolução americana e mesmo depois disso continuou a ser um
centro do catolicismo americano.
1.4.3 Quakers
Outro grupo cristão inglês que veio para o Novo
Mundo foram os quakers (quacres) ou “friends” (amigos), como preferiam
chamar-se sob a inspiração de George Fox (1624-1691). Em 1656, duas mulheres
quacres, Ann Austin e Mary Fisher, chegaram a Boston com sua mensagem sobre a
“luz interior de Cristo” e sua crítica da religião formal e externa, sendo
imediatamente expulsas pelas autoridades. A despeito das multas e açoites que
sofreram, os quacres continuaram indo para Massachusetts, até que, em 1659-61,
quatro deles foram enforcados por sedição, blasfêmia e contínua perturbação da
paz. Logo, muitos quacres estabeleceram-se em Rhode Island, apesar da pequena
simpatia de Roger William pelas suas doutrinas.
Os quacres acabaram fundando a sua própria colônia,
a Pensilvânia, através de William Penn (1644-1718), filho mais velho do
almirante de mesmo nome que capturou a Jamaica dos holandeses em 1655. William,
o filho, uniu-se aos “amigos” em 1666, foi preso por escrever um folheto
criticando as doutrinas da Igreja da Inglaterra e, enquanto na prisão, escreveu
o clássico devocional No Cross, No Crown (1669). Desejoso de encontrar um
refúgio para os seus correligionários, ele apoiou uma expedição quacre a Nova
Jersey em 1677-78. Em 1681, ele recebeu do rei Carlos II uma enorme área de
terra para saldar uma grande dívida de que seu pai era credor. A Pensilvânia
(“selva de Penn”) tornou-se o lugar com maior tolerância religiosa em todo o
mundo. Em 1682 fundou-se a cidade de Filadélfia e foi publicada a “Estrutura de
Governo” da colônia. A Pensilvânia prosperou desde o início, recebendo colonos
de muitas partes da Europa. Já em 1683, a cidade de Germantown (“cidade alemã”)
foi fundada por menonitas alemães e quacres holandeses. Penn também se destacou
pela maneira justa como tratou os indígenas. Ele residiu em sua colônia somente
em dois breves períodos (1682-84 e 1699-1701). Um dos quacres mais destacados
na história americana foi o pacifista e abolicionista John Woolman (1720-1772).
1.4.4 Presbiterianos
Desde o século 17, muitos calvinistas que aceitavam
a forma de governo presbiteriana foram do continente europeu para os Estados
Unidos. Dentre os primeiros estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã
(depois Nova York) em 1623. Os huguenotes franceses também foram em grande
número para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria.
Um numeroso contingente de reformados alemães igualmente emigrou para os
Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias
denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos.
Muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da
Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia,
foram os escoceses-irlandeses os principais responsáveis pela introdução do
presbiterianismo naquele país. Durante o século 18, pelo menos 300 mil cruzaram
o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey, Pensilvânia,
Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles fundaram
Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos.
O primeiro líder do presbiterianismo norte-americano
foi Francis Makemie (1658-1708), que nasceu na Irlanda, estudou na Escócia e
foi enviado como missionário ao Novo Mundo. Makemie evangelizou em muitas
regiões (Nova Inglaterra, Nova York, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte e
Barbados) e fundou uma igreja presbiteriana em Snow Hill, Maryland, em 1684. Em
1706, ele reuniu presbiterianos de diferentes origens (ingleses, galeses,
escoceses, escoceses-irlandeses e da Nova Inglaterra) no Presbitério de
Filadélfia, que adotou como padrão doutrinário a Confissão de Fé de
Westminster. Em 1707, Makemie foi preso pelo governador de Nova York, Lord
Cornbury, por pregar numa residência de Long Island sem uma licença. Makemie
defendeu-se apelando ao Ato de Tolerância (Inglaterra, 1689), que concedeu
liberdade religiosa aos quacres. Ele foi absolvido, mas teve de pagar as
elevadas despesas do seu julgamento. Esse episódio firmou a imagem dos
presbiterianos como defensores da liberdade e granjeou novo respeito pela
denominação.
Em 1717 foi organizado o Sínodo de Filadélfia,
constituído pelos Presbitérios de Filadélfia, New Castle (Delaware) e Long
Island (depois Nova York). Ao todo, a denominação tinha apenas dezenove
pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729, foi aprovado o
“Ato de Adoção”, que aprovou a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster
como padrões doutrinários do Sínodo.
1.4.5 Reformados holandeses e alemães
A Igreja Reformada de Nova Amsterdã foi uma igreja
oficial de 1628 até 1664, quando a cidade foi transferida para o controle dos
ingleses e passou a denominar-se Nova York. Mais tarde, graças a novas ondas de
imigrantes e pastores mais atuantes, surgiram fortes igrejas holandesas em Nova
York e Nova Jersey. Quase ao mesmo tempo chegaram os imigrantes reformados
vindos do sul da Alemanha, que em 1740 possuíam cerca de cinqüenta igrejas,
quase todas na Pensilvânia.
Com isso, ampliou-se um fenômeno que viria a
caracterizar a nova nação – sua grande diversidade religiosa –, fato até então
desconhecido na Europa. Até meados do século 18, muitos outros grupos cristãos
foram para a América, motivados principalmente pelo desejo de liberdade
religiosa, como os menonitas, batistas alemães, schwenkfelders (Kaspar
Schwenkfeld, 1489-1561), huguenotes e irmãos morávios, vários deles inspirados
pelo movimento pietista.
1.4.6 Índios e escravos
Com algumas exceções, o contato dos ingleses com os
índios foi mais um obstáculo do que um auxílio para a difusão da fé. Dois
antigos pastores de Massachusetts, John Eliot (1604-1690) e Thomas Mayhew Jr.
(1621-1657), fizeram um esforço significativo de evangelização dos indígenas
americanos. Eliot, pastor congregacional em Roxbury, perto de Boston, reuniu um
bom número de conversos em “praying towns” (cidades de oração) e traduziu a
Bíblia para a língua algonquim. Seus esforços resultaram na criação da primeira
sociedade missionária da Inglaterra, a Sociedade para a Propagação do Evangelho
na Nova Inglaterra (1649). Em Martha’s Vineyard e outras ilhas próximas,
Mayhew, seu pai (após a morte do filho) e outros membros da família alcançaram
ainda maior êxito que Eliot, talvez porque aceitaram um pouco mais da cultura
indígena na civilização cristã que estabeleceram. A chamada Guerra do Rei
Filipe (1675-76) entre os colonos e os índios foi grandemente prejudicial para
as missões indígenas. Os próprios índios cristianizados foram internados em uma
ilha da baía de Boston e quase todos morreram devido ao frio, doenças e fome.
Os primeiros escravos africanos chegaram à Virgínia
em 1619. Dentro de pouco tempo, a escravidão tornou-se um dos principais
aspectos da sociedade das colônias sulistas. Foi também um importante fator
econômico nas demais colônias, pois o tráfico de escravos enriqueceu muitos
comerciantes de Nova York, Newport, Boston e outros centros comerciais do
norte. A princípio, praticamente nenhum indivíduo ou denominação questionou a
escravidão. Somente no final do século 17 alguns quacres e menonitas alemães
começaram a protestar contra a mesma. O primeiro protesto conhecido surgiu em
Germantown, Pensilvânia, em 1688. Nesse período inicial da história americana,
aparentemente poucos escravos abraçaram a fé cristã.
1.5 Conclusões parciais
O que se pode concluir sobre o cristianismo da
América do Norte depois de um século de colonização inglesa?
(a) Os padrões europeus continuavam a dominar a vida
religiosa, seja na Nova Inglaterra puritana, na Virgínia anglicana ou na
Pensilvânia quacre e menonita.
(b) O novo ambiente estava efetuando mudanças nesse
legado europeu: tolerância religiosa, pluralismo, maior participação dos
leigos, interesse missionário por grupos não-europeus.
(c) A maior parte dos colonos permaneceu em contato
com as igrejas. A adesão integral na realidade era baixa (de 5% dos adultos no
sul a 1/3 dos adultos na Nova Inglaterra), mas a participação relativamente
regular nas atividades religiosas parece ter sido elevada. As evidências
sugerem que em 1700 até 80% dos habitantes freqüentavam algum tipo de culto
religioso com certa regularidade.
(d) A distribuição das igrejas refletia a herança
étnica e denominacional das primeiras colônias. Em 1740, três das quatro
denominações com maior número de igrejas eram inglesas e protestantes: congregacional
(423 igrejas), anglicana (246) e batista (96), e a quarta era escocesa (ou
escocesa-irlandesa) e protestante: presbiteriana (160). A seguir, vinham os
grupos da Europa continental: luteranos (95 igrejas), reformados holandeses
(78) e reformados alemães (51). Havia ainda 27 igrejas católicas romanas, quase
todas em Maryland. Uma série de grupos menores concentrava-se na Pensilvânia e
áreas adjacentes. Numa exceção entre os centros urbanos, Nova York, com suas
nove igrejas de oito denominações, refletia em uma só localidade o pluralismo
cristão que as colônias como um todo estavam começando a exibir.
2. Americanização (1700-1800)
Do início do século 18 até o início do século 19,
três fenômenos contribuíram decisivamente para moldar a nacionalidade
norte-americana e conferir um caráter peculiar ao cristianismo norte-americano:
o Grande Despertamento, a Guerra da Independência e a Revolução Americana.
2.1 O Grande Despertamento
O reavivamento colonial foi denominado “um grande e
geral despertamento” porque atingiu tantas regiões e tantos aspectos da vida
colonial. Embora o despertamento tenha sido mais um surto de piedade
avivamentista do que um evento distinto, ele foi enormemente importante tanto
para as igrejas quanto para a sociedade americana. Na Nova Inglaterra, o
reavivamento trouxe nova vida para muitas igrejas congregacionais e incentivou
grandemente o crescimento dos batistas. Nas colônias centrais, os
presbiterianos e os reformados holandeses, após algumas divisões iniciais,
também cresceram rapidamente. No sul, que foi alcançado por último, o
avivamento produziu um renovado crescimento dos batistas e começou a preparar o
caminho para o grande movimento metodista do período posterior à revolução.
Os primeiros sinais do Grande Despertamento surgiram
na década de 1720 em igrejas reformadas holandesas de Nova Jersey, quando o
jovem pastor Theodore Frelinghuysen (1691-1784), que tivera contato com o
pietismo na Holanda, desafiou as pessoas a terem um conhecimento mais profundo
e experimental da fé cristã. Entre os indivíduos afetados por esse avivamento
estava o presbiteriano Gilbert Tennent (1703-1764), que fora preparado para o
ministério por seu pai, William Tennent, no modesto “Log College” (1736). Como
pastor em New Brunswick, Gilbert tornou-se o líder do avivamento em sua
denominação. Logo, surgiram dois grupos no presbiterianismo: o “New Side”,
representando a preocupação puritana com uma fé experimental, e o “Old Side”,
com sua insistência na doutrina correta, própria dos escoceses-irlandeses. De
1745 a 1758, houve dois sínodos rivais – Filadélfia (defensor da ortodoxia de
Westminster) e Nova York (avivalista), que eventualmente se uniram.
O Grande Despertamento atingiu a Nova Inglaterra a
partir de um avivamento ocorrido na cidade de Northampton, Massachusetts, em
1734-35. Em 1739, o avivamento ressurgiu e difundiu-se amplamente em toda a
região. Embora composto de avivamentos locais, o Grande Despertamento produziu
dois líderes “nacionais”, um pregador inglês e um teólogo da Nova Inglaterra.
2.1.1 George Whitefield (1714-1770)
Whitefield talvez tenha sido o protestante mais
conhecido em todo o mundo no século 18. Com certeza ele foi o líder religioso
mais conhecido nos Estados Unidos naquele século. Whitefield era um ministro da
Igreja da Inglaterra e foi colega de John e Charles Wesley no Clube Santo de
Oxford, nas décadas de 1720 e 1730. Mais tarde, ele iria transmitir aos irmãos
Wesley algumas práticas que caracterizariam o movimento metodista, como
pregações ao ar livre e a evangelização de pessoas comuns que tinham poucas
ligações com as igrejas. Whitefield visitou rapidamente a Geórgia em 1738 para
auxiliar na fundação de um orfanato. Ao retornar às colônias no ano seguinte, a
sua reputação de pregador dramático o precedeu. A sua visita causou enorme
impacto. Quando esteve na Nova Inglaterra no outono de 1740, multidões de até
oito mil pessoas reuniram-se todos os dias para ouvi-lo, durante mais de um mês
(nessa época, toda a população da Nova Inglaterra não passava de 290 mil habitantes).
A campanha de Whitefield, um dos episódios mais notáveis de toda a história do
cristianismo americano, foi o principal evento do Grande Despertamento da Nova
Inglaterra. Ele haveria de retornar muitas vezes às colônias americanas, onde
faleceu em 1770 como havia desejado: em meio a outra campanha evangelística.
Ao contrário de outros reavivalistas posteriores,
Whitefield era um calvinista que acentuava o poder de Deus na salvação. Ele
rompeu com John Wesley em 1741 por causa do arminianismo deste, com sua ênfase
no livre arbítrio humano. (Mais tarde, eles reconciliaram-se como amigos, mas
não em sua teologia, e Wesley pregou um afetuoso sermão memorial após a morte
de Whitefield.) Por outro lado, Whitefield interessava-se muito mais pela
pregação do que pela teologia. Ele sabia como falar às pessoas simples, com uma
linguagem igualmente simples, e apelava fortemente ao coração. Além disso, ele
também pregou quase todos os seus sermões extemporaneamente, sem anotações.
Desse modo, Whitefield contribuiu para o estilo mais democrático e popular do
cristianismo americano.
2.1.2 Jonathan Edwards (1703-1758)
Se Whitefield foi o pregador mais importante do
Grande Despertamento, Edwards foi o principal apologista do movimento e o maior
teólogo americano por mais de um século. Aos 21 anos, ele tornou-se
pastor-auxiliar do seu avô, Salomon Stoddard (1643-1729), na Igreja
Congregacional de Northampton, Massachusetts. Stoddard foi um líder notável que
procurou ir além do “pacto do meio termo” ao defender que todos os que vivessem
vidas externamente corretas podiam participar da comunhão. Ele também propôs
que as igrejas congregacionais criassem um modelo de supervisão “conexional” ou
“presbiteriano” para orientar as igrejas locais e os seus ministros.
Muitas das obras teológicas de Edwards resultaram do
seu esforço em defender os reavivamentos coloniais como verdadeiras obras de
Deus. O seu sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, pregado em Enfield,
Connecticut, em 1741, é seu escrito mais conhecido, mas ele gastou a maior
parte do seu tempo preparando estudos mais formais, inclusive uma profunda
análise dos fenômenos do reavivamento, publicada com o título Tratado Sobre as
Afeições Religiosas (1746). Essa obra argumenta que o verdadeiro cristianismo
não é revelado pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, e sim
quando um coração é transformado para amar a Deus e buscar a sua vontade.
Após a morte de Edwards, seus amigos publicaram sua
obra A Natureza da Verdadeira Virtude (1765), onde ele insiste que a
experiência da graça de Deus é o único fundamento para uma moralidade autêntica
e duradoura. A experiência humana ordinária pode explicar a bondade humana
ordinária, mas não a “verdadeira virtude”. Anteriormente, o livro A Liberdade
da Vontade (1754) havia apresentado idéias calvinistas tradicionais acerca da
salvação com um novo enfoque. Seu argumento básico foi que a vontade não é uma
entidade verdadeira, mas uma expressão do motivo mais forte existente no ser da
pessoa. Em outras palavras, a natureza pecaminosa não pode agradar a Deus a
menos que Deus, por uma infusão da graça, transforme o caráter do pecador.
Edwards deu sustentação à ênfase dessa obra através de outro livro, O Pecado
Original (1758), no qual argumentou que toda a humanidade estava presente em
Adão quando este pecou. Assim sendo, todas as pessoas partilham do caráter
pecaminoso e da culpa que Adão trouxe sobre si mesmo.
Edwards foi um teólogo fascinado com a majestade e o
esplendor do Ser Divino. Os grandes temas da sua teologia foram a grandeza e a
glória de Deus, a total dependência da humanidade pecadora em relação a Deus no
que se refere à salvação e a beleza etérea da vida de santidade. A obra de
Jonathan Edwards e seus seguidores foi a contribuição mais significativa na
área da teologia surgida na América do Norte no século 18. Ver Alderi S. Matos,
“Jonathan Edwards: Teólogo do Coração e do Intelecto”, Fides Reformata III:1
(Janeiro-Junho 1998), 72-87; Gaustad, Documentary History, I:214-220; e
Hardman, Issues in American Christianity, 52-57.
2.1.3 Efeitos religiosos dos reavivamentos
Os reavivamentos produziram, pelo menos por algum
tempo, um aumento no número de adesões às igrejas e o fortalecimento espiritual
de muitas comunidades cristãs. 2) A mensagem cristã foi levada de modo mais
direto a grupos marginalizados da sociedade. Um exemplo inspirador foi o de
David Brainerd (1718-1747), que se tornou um zeloso missionário junto aos
indígenas do leste de Nova Jersey e cujo Diário foi publicado por Jonathan
Edwards. No trabalho entre os escravos destacou-se o presbiteriano Samuel
Davies (1723-1761), especialmente em Virgínia. 3) O avivamento também gerou um
movimento de reforma social através de seguidores de Edwards. Samuel Hopkins
(1721-1803), que foi pastor em Newport, Rhode Island, protestou insistentemente
contra a escravidão. 4) O despertamento gerou um maior interesse pela educação,
tanto para pastores quanto para leigos. Como conseqüência direta ou indireta do
movimento, vários “colégios” importantes foram fundados: Princeton
(presbiteriano, 1746), Brown (batista, 1760), Queens (mais tarde Rutgers;
reformado holandês, 1764) e Dartmouth (congregacional, 1769), destinado
especialmente aos indígenas convertidos.
Conclusão: o Grande Despertamento foi o primeiro
acontecimento nacional dos Estados Unidos. Whitefield e suas façanhas
evangelísticas foram tópicos comuns de discussão desde o Maine até a Geórgia.
Pastores de todas as colônias corresponderam-se para incentivar o reavivamento.
De igual modo, líderes contrários ao entusiasmo avivalista, como o Rev. Charles
Chauncy, de Boston, também estabeleceram conexões para tentar levar o movimento
ao descrédito. O despertamento acelerou o processo que cada vez mais levava os
imigrantes europeus a se identificarem como “americanos”. Ao mesmo tempo, essa
nova identidade produziu uma crescente suspeita contra a Europa, especialmente
a Inglaterra. Conceitos religiosos utilizados no avivamento, tais como
“liberdade”, “virtude” e “tirania”, muito em breve passaram a ter também
conotações políticas. Finalmente, a ênfase dada pelos pregadores às pessoas
comuns como objeto da graça de Deus, ao lado da importância de uma decisão pessoal
com respeito ao evangelho, fortaleceram noções de igualdade, democracia e
responsabilidade pessoal que contribuíram para o processo que levou à
independência dos Estados Unidos.
2.2 A Época Revolucionária
Na segunda metade do século 18, a atenção de muitos
americanos afastou-se do grande interesse religioso produzido pelo Grande
Despertamento para concentrar-se em uma longa série de acontecimentos políticos
e militares de grande relevância: a Revolução Americana (1775), a Declaração de
Independência (1776), a Guerra contra a Inglaterra (até 1783) e a promulgação
da Constituição Americana (1789).
Nesse período, o evento de maior significação para
as igrejas foi a implantação da liberdade religiosa, uma ruptura radical com os
princípios de uniformidade e união entre igreja e estado que haviam
caracterizado a civilização ocidental por mais de mil anos. Essa foi a origem
do que conhecemos hoje como denominacionalismo. A nível nacional, a liberdade
religiosa foi garantida por dois importantes documentos. O artigo 6º da
Constituição Federal declarou: “Nenhum teste religioso jamais será exigido como
qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos”. Em
1791, a Primeira Emenda à Constituição dispôs que “o Congresso não promulgará
nenhuma lei referente ao estabelecimento da religião ou que proíba o exercício
da mesma”. Com isso, todas as igrejas passavam a ser associações voluntárias,
teoricamente iguais perante a lei. (Todavia, em Massachusetts o
congregacionalismo continuou a ser a igreja oficial até 1833!)
A nova realidade afetou alguns grupos mais do que
outros, tais como os congregacionais, batistas e quakers, que já eram
independentes. As igrejas filiadas a suas matrizes européias precisaram
organizar-se nacionalmente, a começar da Igreja Anglicana. Sob a liderança de
William White, foi criada a Igreja Episcopal Protestante dos Estados Unidos,
cuja primeira convenção geral reuniu-se em Filadélfia em 1785. Dois anos
depois, White e Samuel Provoost foram sagrados bispos pelo arcebispo de Cantuária.
Em 1784 foi formada a Igreja Metodista Episcopal, que teve como primeiros
líderes ou superintendentes o pioneiro Francis Asbury e Thomas Coke, nomeados
pelo próprio Wesley, os quais em 1787 passaram a ser bispos. A primeira
Conferência Geral reuniu-se em 1792. Os presbiterianos já eram autônomos, mas
aproveitaram a oportunidade para completar a sua organização eclesiástica. Sua
Assembléia Geral reuniu-se pela primeira vez em 1789.
O período revolucionário também viu o surgimento de
novos grupos nos Estados Unidos, alguns deles bastante heterodoxos, como foi o
caso dos unitários (antitrinitários), que haviam surgido na Inglaterra já no
final do século 16. A primeira igreja unitária inglesa só foi organizada em
1773, em Londres. Em 1787, a King’s Chapel, de Boston, a mais antiga igreja
episcopal da Nova Inglaterra, tornou-se a primeira igreja declaradamente
unitária, sob a liderança de seu pastor, James Freeman. Mais tarde, o
unitarismo iria causar um grande cisma nas igrejas congregacionais. Outro grupo
não ortodoxo surgido nessa época foi o dos universalistas (no aspecto
soteriológico). Os primeiros universalistas ingleses e americanos foram
trinitários, mas eventualmente o movimento abraçou a posição unitária. Um líder
influente foi Hosea Ballou (1771-1852), pastor residente em Boston. Os
universalistas realizaram sua primeira convenção em Filadélfia, em 1790.
2.3 Os presbiterianos
De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em
dois grupos por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação teológica:
Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala Nova (Sínodo de Nova York). Na época da
Revolução Americana, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies, Alexander
Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do país,
especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Os presbiterianos tiveram uma
atuação destacada na revolução. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um escocês
que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco anos, foi o
único pastor que assinou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em
1776. Muitos presbiterianos lutaram na guerra da independência.
2.4 Desdobramentos teológicos
As mudanças introduzidas na teologia mediante
acomodações ao raciocínio da revolução foram sutis, porém amplas. O que aconteceu
entre os teólogos da Nova Inglaterra ilustra essas mudanças. Dois discípulos de
Jonathan Edwards, Joseph Bellamy (1719-1790) e Samuel Hopkins (1721-1803),
chegaram à conclusão de que Deus somente pune os pecados que os seres humanos
efetivamente cometem, e não uma pecaminosidade herdada de Adão. Eles não
repudiaram a teologia calvinista recebida de Edwards, mas a influência de
idéias contemporâneas sobre a felicidade humana e os direitos individuais, bem
como a necessidade de justificar todos os princípios intelectuais por meio da
razão, ficam evidentes na sua obra. Pouco depois, teólogos como Jonathan
Edwards Jr. (1745-1801) e Timothy Dwight (1752-1817), um neto de Jonathan
Edwards, desenvolveram ainda mais alguns conceitos que valorizavam a capacidade
humana inata e se afastavam de uma plena afirmação da soberania de Deus.
3. O “século protestante” (1800-1900)
Os evangélicos deram uma grande contribuição na
Guerra da Independência, tanto no aspecto prático quanto ideológico. No
entanto, após a Revolução as igrejas estavam claramente desorganizadas e o
papel do cristianismo na nova cultura nacional não estava de modo algum
garantido. A filiação formal às igrejas estava em declínio, tendo chegado ao
seu ponto mais baixo na década de 1790 (de 5 a 10% da população adulta).
Reagindo contra essa situação, as igrejas superaram a confusão reinante e
empreenderam vigorosas campanhas para evangelizar o povo e cristianizar a
cultura. Juntos, os representantes das igrejas coloniais e os dinâmicos líderes
das novas denominações formaram uma frente protestante que dominou a percepção
pública da religião nos Estados Unidos. O “império evangélico” esteve na
vanguarda até que o pluralismo cristão e a diversidade cultural introduziram
uma nova realidade.
3.1 A “América evangélica” (1800-1865)
3.1.1 O Segundo Despertamento
O Segundo Grande Despertamento foi o reavivamento
mais influente da história do cristianismo nos Estados Unidos. Desde 1795 até
por volta de 1810 surgiu um renovado interesse pelo cristianismo em todo o
país. Por sua vez, essa renovação serviu de modelo e ímpeto para ondas
semelhantes de reavivamento que continuaram a ocorrer em toda a nação até
depois da Guerra Civil.
Na região da fronteira, o novo interesse religioso
resultou do dedicado trabalho missionário de presbiterianos, batistas e
metodistas. Um evento importante foi o “camp meeting” realizado em Cane Ridge,
no Kentucky, em 1801. Os “camp meetings” eram vibrantes reuniões evangelísticas
ao ar livre com a duração de vários dias, nos quais os participantes ficavam
alojados em tendas e ouviam diferentes pregadores. Os resultados de Cane Ridge
foram notáveis: ao lado de muitas manifestações emocionais houve um rápido
crescimento das igrejas, não somente presbiterianas, mas principalmente
metodistas e batistas. Os pregadores itinerantes metodistas (“circuit riders”)
e os pregadores-colonos batistas espalharam-se pelo sul e pelo oeste em números
impressionantes. Na década de 1830 esses dois grupos haveriam de ultrapassar os
congregacionais e os presbiterianos, tornando-se as maiores denominações não
somente no sul, mas em todo o território nacional.
Mark Noll fornece dados estatísticos impressionantes
sobre as alterações verificadas nos percentuais de filiação religiosa nos
Estados Unidos entre a independência e meados do século 19:
-1776
-1850
Congregacionais
20,4%
Metodistas
34,2%
Presbiterianos
19,0%
Batistas
20,5%
Batistas
16,9%
Católicos romanos
13,9%
Episcopais
15,7%
Presbiterianos
11,6%
Metodistas
2,5%
Congregacionais
4,0%
Católicos romanos
1,8%
Episcopais
3,5%
No leste, o interesse pelo avivamento manifestou-se
entre vários ministros congregacionais de Connecticut. A manifestação mais
visível ocorreu como resultado do trabalho de Timothy Dwight (1752-1817), o
neto de Jonathan Edwards que se tornou presidente do Yale College em 1795. Em
1802 houve um grande avivamento no campus que levou à conversão de um terço dos
225 estudantes, muitos dos quais tornaram-se agentes do avivamento na Nova
Inglaterra, no Estado de Nova York e no oeste. Logo, quase não havia um lugar
em que os cristãos não estivessem orando pelo avivamento ou agradecendo a Deus
por terem-no recebido.
Esses reavivamentos tiveram em comum com os
despertamentos do período colonial um forte interesse pela salvação pessoal e
pela renovação do cristianismo dos dois lados do Atlântico. Mas houve também
importantes diferenças. Enquanto o primeiro despertamento foi liderado por
congregacionais (Jonathan Edwards), anglicanos (George Whitefield) e
presbiterianos (Gilbert Tennent), o segundo foi rapidamente dominado pelos
metodistas, batistas e discípulos de Cristo (Barton Stone e Alexander
Campbell). O Segundo Despertamento também produziu efeitos mais duradouros que
o primeiro. A grande quantidade de sociedades voluntárias surgidas nos Estados Unidos
nas três primeiras décadas do século 19 foi um resultado direto do daquele
reavivamento.
Um dos alunos de Timothy Dwight, Lyman Beecher
(1775-1863), dedicou-se a arregimentar as forças do reavivamento em
organizações permanentes que visavam evangelizar e reformar os Estados Unidos.
Graças aos seus esforços, e aos de pessoas com a mesma visão, foram fundadas
entidades como a Junta Americana para Missões Estrangeiras (1810), a Sociedade
Bíblica Americana (1816), a Sociedade de Colonização para escravos libertos
(1817), a União Americana das Escolas Dominicais (1824), a Sociedade Americana
de Tratados (1825), a Sociedade Americana de Educação (1826), a Sociedade
Americana para a Promoção da Temperança (1826), a Sociedade Americana de
Missões Nacionais (1826) e muitas outras organizações. Essas agências deram ao
Segundo Despertamento uma duradoura influência institucional que o primeiro não
produziu.
A teologia do Segundo Grande Despertamento também
foi diferente da tradição reavivalista anterior. Com sua ênfase na soberania de
Deus sobre todas as coisas, Edwards e Whitefield haviam acentuado a
incapacidade de os pecadores salvarem a si mesmos. Em contraste, a teologia dos
principais avivalistas do século 19, tanto no norte quanto no sul, sugeriu que
Deus havia concedido a todas as pessoas a capacidade de irem a Cristo. Essa
mudança de perspectiva estava relacionada não somente com os eventos políticos
e intelectuais mais amplos, mas com o grande desejo de uma teologia de ação que
pudesse incentivar e justificar a expansão dos reavivamentos.
3.1.2. Dois grandes líderes
Dois líderes personificaram de maneira especial as
principais ênfases desse avivamento. O primeiro foi o inglês Francis Asbury
(1745-1816), que viajou extensamente através dos Estados Unidos promovendo a
causa metodista e liderou a organização oficial dessa denominação em 1784. Pelo
fato de ter percorrido mais de 450 mil km, em grande parte a cavalo, ele
conheceu o interior americano melhor que qualquer um dos seus contemporâneos e
foi também o homem mais conhecido do seu tempo. Quando Asbury chegou aos
Estados Unidos em 1771, somente quatro missionários metodistas davam
assistência a cerca de 300 pessoas. Quando ele faleceu, havia 2 mil pastores e
mais de 200 mil metodistas no país.
Outro líder imensamente influente foi Charles
Grandison Finney (1792-1875), o mais famoso avivalista americano na parte
intermediária do século 19. Convertido de modo dramático em 1821, ele
imediatamente começou a pregar de maneira vigorosa. Um grande reavivamento em
Rochester no inverno de 1830-31 deu-lhe notoriedade nacional. Nessa época, ele
rompeu definitivamente com o seu presbiterianismo de origem, que ele julgava
excessivamente burocrático e possuidor de uma teologia que não valorizava a
capacidade humana natural. Finney estabeleceu o seu quartel general no Oberlin
College, em Ohio, um centro de evangelismo e reforma social. Ele escreveu
livros que também divulgaram amplamente as suas idéias, como Lectures on
Revivals (1835) e Systematic Theology (1846-47). Seu impacto foi especialmente
forte no sentido de moldar as práticas do avivamento. Entre as suas “novas
medidas” estava o “banco ansioso” (anxious bench), uma área especial,
geralmente na frente do auditório, à qual as pessoas eram chamadas para orar e
ser exortadas quanto à condição das suas almas. Outro recurso era o “protracted
meeting”, as reuniões noturnas que se prolongavam por várias semanas. Quando os
críticos diziam que as novas medidas davam excessiva ênfase à ação humana na
conversão e quase nenhuma a Deus, ele se defendia dizendo que elas funcionavam.
Em sua teologia, Finney foi ainda mais arminiano que
John Wesley. Este sustentava que a vontade humana é incapaz de escolher a Deus
sem a sua graça preparatória. Finney rejeitou esse requisito: ele cria que era
possível uma condição permanente de vida espiritual superior para todo aquele
que a buscasse de todo o coração. Seguindo os teólogos da Nova Inglaterra, ele
aceitava uma noção governamental da expiação segundo a qual a morte de Cristo
foi uma demonstração pública da disposição de Deus em perdoar os pecados antes
que o próprio pagamento pelo pecado. Finney envolveu-se com um grande número de
iniciativas religiosas e sociais, mas seu maior impacto, assim como o de
Asbury, foi no sentido de modificar o caráter do evangelicalismo
norte-americano tornando-o menos calvinista, mais arminiano e assim melhor
identificado com os valores e as aspirações da nova república.
3.1.3. Os batistas
O Segundo Grande Despertamento estimulou um enorme
esforço missionário, voltado tanto para o próprio país como para o exterior. Um
dos grupos que mais se destacaram nesse aspecto foram os batistas.
Especialmente nos estados do sul e nos novos estados do oeste americano eles se
tornaram líderes na evangelização da fronteira. Em 1812 havia perto de 200 mil
batistas nos Estados Unidos; em 1850 já eram mais de um milhão.
No período anterior à Guerra Civil, a teologia
batista foi predominantemente calvinista. Uma importante confissão redigida
para uma convenção de New Hampshire em 1833 tornou-se uma declaração de fé
batista amplamente utilizada. (Ver Reily, História Documental, 129-132). À
exceção dos princípios de organização eclesiástica, as partes doutrinárias
dessa confissão aproximavam-se do tipo de teologia promovido por
congregacionais e presbiterianos conservadores. Ao mesmo tempo, as práticas
batistas davam grande ênfase à conversão pessoal e os batistas também
partilhavam da confiança americana nas capacidades de um povo livre. Isso
atenuava junto a muitos batistas as doutrinas calvinistas da eleição
incondicional e da expiação limitada. Mas durante todo o século 19, os batistas
continuaram parecidos com os calvinistas mais antigos em sua teologia formal.
Apesar de sua defesa intransigente da autonomia das
igrejas locais, os batistas logo começaram a trabalhar em conjunto, especialmente
na área de missões. Em 1814 foi fundada a Convenção Missionária Geral, voltada
para missões estrangeiras, e em 1832 a Sociedade Batista de Missões Nacionais.
Por causa das tensões entre o norte e o sul em torno da escravidão, foi formada
em 1845 a Convenção Batista do Sul, quando os batistas pela primeira vez
assumiram uma estrutura denominacional completa (a Convenção Batista do Norte
só foi criada em 1905). Muitos batistas resistiram contra essa nova denominação
predominantemente calvinista. Alguns eram arminianos, como os “batistas do
livre arbítrio” ou “batistas gerais”. Outros, embora calvinistas, eram
defensores intransigentes da autonomia da igreja local e não viam com bons
olhos as atividades missionárias e educacionais conjuntas que retiravam
recursos e pessoal do controle das congregações locais. Mais tarde, esses
dissidentes influenciaram o surgimento de uma ênfase conhecida como
“landmarkismo” na Convenção Batista do Sul, nome extraído do influente livro An
Old Landmark Re-Set (1854), de James R. Graves.
3.1.4. Visão missionária
As missões protestantes dos países de língua inglesa
tiveram início em 1793, quando William Carey partiu da Inglaterra para a Índia.
Pouco depois, os americanos também deram início ao seu trabalho missionário no
exterior. Esse movimento resultou de um reavivamento ocorrido no Williams
College, em Massachusetts, que rapidamente alcançou os estudantes do
recém-criado Seminário Teológico de Andover, no mesmo estado. Andover, a
primeira escola de teologia dos Estados Unidos, foi fundado em 1807 por um
grupo de congregacionais trinitários da Nova Inglaterra em protesto contra o
desvio do Harvard College para o unitarismo.
Sob a liderança de Samuel J. Mills, Jr. (1783-1818),
foi fundada em 1810 a Junta Americana de Comissionados para Missões
Estrangeiras, que dois anos depois enviou para a Índia e o Extremo Oriente os
primeiros missionários americanos, o mais famoso dos quais foi Adoniram Judson
(1788-1850). Judson tornou-se batista ainda durante a viagem para a Índia e em
1814 ajudou a criar a Convenção Missionária Geral ou Convenção Batista Trienal.
Ele trabalhou por quase quarenta anos na Birmânia. Devido a problemas de saúde,
Samuel Mills não pode seguir para o exterior, mas viajou amplamente pelo oeste
americano e contribuiu para a criação da Sociedade Americana de Missões
Nacionais (1826).
3.1.5. Os presbiterianos
Em 1788, o Sínodo de Nova York e Filadélfia
dividiu-se em quatro (Nova York e Nova Jersey, Filadélfia, Virgínia e
Carolinas). No dia 21 de maio de 1789, reuniu-se pela primeira vez a
“Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América”.
Naquela época, a Igreja Presbiteriana era a denominação mais influente do país.
Em 1800, contava com 180 pastores, 450 igrejas e cerca de 20 mil membros.
Em 1801, presbiterianos e congregacionais iniciaram
um trabalho cooperativo conhecido como “Plano de União”. O objetivo era
evangelizar com mais eficiência a população que estava indo para o oeste, a
chamada “fronteira”. O resultado foi um avanço fenomenal. Em 1837, a Igreja
Presbiteriana já contava com 2140 pastores, quase 3000 igrejas e 220 mil
membros. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812 (entre seus grandes
professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e Benjamin
B. Warfield).
Devido a uma controvérsia sobre os requisitos para a
ordenação de ministros, surgiu em 1810 a Igreja Presbiteriana de Cumberland, no
Tennessee. Uma divisão mais séria ocorreu entre os grupos conhecidos como Velha
Escola e Nova Escola, aquele sendo mais apegado aos padrões de Westminster do
que este. Em 1837, a Velha Escola obteve a maioria na Assembléia Geral,
cancelou o Plano de União de 1801 e excluiu quatro sínodos inteiros, dividindo
ao meio a denominação. Foi criada a Junta de Missões Estrangeiras. Finalmente,
em 1857 e 1861 ocorreram novas divisões, desta vez ocasionadas pelo problema da
escravidão. As igrejas Nova Escola e Velha Escola do sul, favoráveis à
escravidão, separaram-se das do norte. Eventualmente, foram criadas duas
grandes denominações presbiterianas, a Igreja do Sul (PCUS, 1867) e a Igreja do
Norte (PCUSA, 1870).
3.1.6 Grupos periféricos
Ao lado das denominações evangélicas principais,
vários grupos periféricos surgiram nos primeiros anos da república americana.
Um desses grupos foi iniciado por William Miller (1782-1849), um colono do
Estado de Nova York que anunciou o retorno de Cristo para 1843-44. Quando isso
não ocorreu, alguns abandonaram o movimento, mas outros perseveraram. Ainda
outros continuaram a sustentar convicções adventistas em diversos movimentos
menores. Um destes, sob a liderança de Ellen White (1827-1915), concluiu que
Cristo havia de fato voltado como Miller tinha predito, mas que o retorno foi
espiritual, para a presença do Pai. Esse foi o início dos modernos adventistas
do sétimo dia.
Se os milleritas estavam na linha divisória entre os
evangélicos e os sectários, os mórmons liderados por Joseph Smith (1805-1844)
ficaram claramente do lado de fora. Nascido em uma família profundamente
religiosa originária da Nova Inglaterra e residente no Estado de Nova York,
Miller começou a ter visões de seres celestiais no início da década de 1820.
Alguns anos depois, declarou ter recebido do anjo Moroni o Livro de Mórmon, que
detalhava o relacionamento especial de Deus com os habitantes pré-históricos da
América e as tribos perdidas de Israel. Um ano após publicar a tradução do
livro (1830), Smith e seus seguidores mudaram-se para Ohio. Depois que Smith
foi morto por uma turba em Illinois, Brigham Young tornou-se seu sucessor e
liderou os mórmons em sua grande migração para a região do Lago Salgado, em
Utah (1846-48).
Outro acontecimento notável do início do período
republicano foi a criação de denominações afro-americanas. Tal foi o caso da
Igreja Metodista Episcopal Africana, fundada por Richard Allen (1760-1831) em
1814, em Filadélfia. Na década seguinte, as igrejas e denominações negras
estavam atuando em diversas áreas, como missões e reforma social. Em 1845, os
negros batistas do norte fundaram a Sociedade Missionária Batista Africana. No
sul escravagista, tais oportunidades foram muito mais limitadas.
Outro grupo que adquiriu grande visibilidade nesse
período foi a Igreja Católica. Em 1789, quando houve a eleição do primeiro
bispo católico dos Estados Unidos, havia cerca de 35 mil católicos no país,
sessenta por cento deles em Maryland, e pouco mais de trinta sacerdotes. Em
1830, o número total de católicos havia ultrapassado a casa dos 300 mil. Nos
trinta anos seguintes, enquanto a população nacional aumentou duas vezes e meia
(de 13 para 31,5 milhões), a população católica cresceu quase dez vezes,
totalizando mais de 3 milhões de pessoas. A causa mais importante desse aumento
foi a imigração, principalmente da Irlanda e da Alemanha.
No mesmo período, chegaram da Europa muitos
imigrantes protestantes, particularmente luteranos e pietistas alemães,
reformados holandeses e luteranos escandinavos. Entre 1800 e 1920, os Estados
Unidos receberam cerca de 40 milhões de imigrantes, entre os quais estava uma
significativa minoria protestante. Muitos desses imigrantes formaram igrejas
que inicialmente eram ligadas a organizações européias, mas depois se tornaram
denominações autônomas.
3.1.7 Teologia protestante
Os teólogos estavam entre os intelectuais mais
respeitados dos Estados Unidos antes da Guerra Civil. A obra de quase todos
eles exibia algumas convicções comuns como a inspiração divina das Escrituras,
um interesse pelos problemas teológicos definidos pela tradição calvinista dos
puritanos e de Edwards e o uso da filosofia escocesa do senso comum como método
intelectual. Essa filosofia afirmava que os sentidos físicos comunicam
informações fidedignas sobre o mundo exterior e dava ênfase ao sentido moral
(consciência) acerca do mundo espiritual. Esses teólogos também se interessavam
pela cultura americana, afirmando os princípios de liberdade política,
republicanismo e oportunidades democráticas que haviam sido abraçados pela
Revolução.
O último estágio da evolução do pensamento que havia
começado com o Grande Despertamento e com Jonathan Edwards foi denominado de
Teologia de New Haven (ou da Nova Inglaterra). Timothy Dwight, neto de Edwards
e presidente do Yale College na virada do século (1759-1817), foi um personagem
chave no sentido de modificar algumas doutrinas do calvinismo colonial para
utilização no século 19. Todavia, quem desenvolveu de modo mais consistente a
Teologia de New Haven foi seu discípulo mais destacado, Nathaniel William
Taylor (1786-1858). Em 1822, Taylor tornou-se o primeiro professor da nova
Escola de Teologia de Yale, onde se considerava um herdeiro de Edwards e um
campeão na luta contra o unitarismo. Porém, Taylor era acentuadamente diferente
de Edwards em suas convicções acerca da natureza humana. Ele certa vez afirmou
que as pessoas têm “capacidade para o contrário” quando confrontadas com
escolhas morais. Com isso ele quis dizer que a pecaminosidade resulta de atos
pecaminosos e não de uma natureza pecaminosa herdada de Adão. De fato, todas as
pessoas pecam, mas elas não estão condicionadas a fazê-lo em virtude da
natureza humana em si. A Teologia de New Haven foi um poderoso estímulo para o
reavivamento e as reformas, uma vez que fornecia uma justificativa para as
pessoas confiarem em Deus ao mesmo tempo em que exerciam ao máximo as suas
próprias capacidades. Essa teologia emergiu da tradição calvinista, mas a sua
ênfase na capacidade humana levou-a em direção ao metodismo que exercia grande
influência sobre a religiosidade americana.
O unitarismo combatido por Taylor e seus
companheiros teve o seu melhor representante na pessoa de William Ellery
Channing (1780-1842). Channing havia crescido sob a influência das pregações de
Samuel Hopkins, o discípulo mais fiel de Edwards, e teve uma experiência de
conversão enquanto estudava em Harvard. Em 1803, tornou-se pastor da Igreja
Congregacional de Federal Street, em Boston, onde permaneceu o restante da sua
vida. Sua presença, bem como o liberalismo do Harvard College, fizeram de
Boston a cidadela do unitarismo. Num famoso sermão pregado em 1819, Channing
investiu contra as doutrinas tradicionais da Trindade, da divindade de Cristo,
da depravação total e da expiação vicária. Em outras ocasiões, ele afirmou a
perfectibilidade dos seres humanos, a paternidade de Deus, a perfeição moral de
Cristo e a realidade da ressurreição. Ele cria que a Bíblia registrava a
inspiração, mas não era inspirada em si mesma.
Charles Finney (1792-1875), quando ainda
presbiteriano, leu as obras de Nathaniel W. Taylor e concluiu que o mesmo estava
correto: os seres humanos têm dentro de si a capacidade de escolher a Cristo e
viver vidas santas. Após deixar o presbiterianismo, ele leu a obra Plain
Account of Christian Perfection, de John Wesley, e teve confirmada a sua crença
na possibilidade da “inteira santificação”. Quando Finney tornou-se professor
de teologia no Oberlin College (1835), sua teologia adquiriu forma definitiva
com os seguintes componentes: compromisso com as “novas medidas” no
avivamentismo, compromisso com a reforma moral e crença em um segundo estágio,
mais maduro, na vida cristã. Esta última convicção foi desenvolvida por
diferentes professores de Oberlin, que usavam expressões como “santidade”,
“perfeição cristã” e “batismo do Espírito Santo”, que mais tarde exerceriam
grande influência no desenvolvimento de teologias evangélicas, “holiness” e
pentecostais. A influência de Finney foi ampliada consideravelmente por seus
colaboradores, entre os quais o primeiro presidente de Oberlin, Asa Mahan
(1799-1889), um enérgico proponente da Teologia de Oberlin.
Nem todos os calvinistas do século 19 estavam
interessados em rever a sua herança em resposta às circunstâncias
contemporâneas. Entre aqueles que insistiram em preservar o calvinismo
tradicional estavam os teólogos do Seminário de Princeton. Esse seminário,
fundado em 1812, por mais de um século foi o centro do calvinismo conservador
americano. As convicções do primeiro professor do seminário, Archibald
Alexander (1772-1851), determinaram as ênfases dessa teologia. Alexander era um
homem de profunda piedade pessoal cuja teologia formal associou algumas ênfases
do calvinismo europeu (Calvino, a Confissão de Westminster e Francisco
Turretino) com uma defesa anticatólica das Escrituras através de recursos
intelectuais definidos pela filosofia escocesa do senso comum.
Um discípulo de Alexander, Charles Hodge (1797-1878)
transformou essa perspectiva teológica em um poderoso sistema de pensamento ao
longo dos seus cinqüenta e seis anos como professor em Princenton. Hodge
utilizou as mesmas fontes que Alexander havia usado para defender a glória de
Deus (em vez da felicidade humana) como o propósito da vida, afirmar o poder do
Espírito Santo na salvação (contra idéias de autodeterminação humana) e
defender as Escrituras como a fonte apropriada da teologia (em contraste com a
experiência religiosa ou os ditames da razão). Hodge certa vez afirmou
orgulhosamente que nunca havia surgido uma nova idéia em Princeton, com o que
ele quis dizer que a instituição queria transmitir a fé reformada como esta
havia sido definida nos séculos 16 e 17. Todavia, Hodge e os princetonianos
fizeram algumas adaptações à sua época, especialmente ao utilizarem os métodos
científicos correntes como modelo para o seu trabalho. A fórmula de Hodge, “a
Bíblia é para o teólogo o que a natureza é para o cientista”, foi usada para
preservar o calvinismo tradicional, mas tomou como certos alguns conceitos e
procedimentos que eram uma parte importante da vida intelectual americana no
século 19.
No sul, com sua ordem social mais conservadora, as
formas mais antigas da teologia tradicional sobreviveram de maneira ainda mais
vigorosa do que no norte. James H. Thornwell (1812-1862) e Robert Dabney
(1820-1898) foram defensores eficazes de um calvinismo não diluído pelas idéias
modernas de autodeterminação pessoal. Thornwell, que era ligado ao Seminário
Teológico de Columbia, tinha um calvinismo semelhante ao de Hodge, com a
diferença de que dava maior ênfase à integridade da igreja e dos seus níveis
superiores de jurisdição como um princípio espiritual. Dabney articulou uma
forma moderada do calvinismo de Westminster, dando atenção especial às maneiras
pelas quais a providência divina atua lado a lado com o curso regular da
natureza, antes que em oposição ao mesmo. O calvinismo conservador dos dois
teólogos também foi influenciado decisivamente pelo seu contexto sulista, pois
eles acharam natural defender tanto a teologia tradicional quanto a ordem
social tradicional da escravidão.
Outros teólogos destacados do sul foram os batistas
J. M. Pendleton (1811-1891) e J. R. Graves (1820-1893), os articuladores do
landmarkismo (termo derivado de Provérbios 22.28), uma concepção segundo a qual
a organização eclesiástica e as práticas batistas eram as únicas formas cristãs
fiéis ao Novo Testamento, sendo que igrejas que manifestavam esse rigoroso
compromisso batista retrocediam até a época do Novo Testamento. Também
notabilizaram-se Barton W. Stone (1772-1844) e Alexander Campbell (1788-1866),
líderes dos chamados “cristãos” ou “discípulos de Cristo”, um movimento
restauracionista que buscava recuperar a pureza original de um cristianismo
voltado apenas para a Bíblia.
Outro pensador muito influente foi Horace Bushnell
(1802-1876), pastor da Igreja Congregacional de Hartford, Connecticut. Com sua
ênfase na experiência, ele antecipou as teologias protestantes, tanto liberais
quanto conservadoras, que adotariam a experiência como seu princípio
fundamental. Bushnell foi influenciado por Friedrich Schleiermacher e mais
ainda por Samuel Taylor Coleridge, de quem aprendeu uma concepção mais
romântica de Deus, da humanidade e do mundo. Em sua obra mais famosa, o tratado
intitulado Christian Nurture (1847), ele argumentou contra os aspectos
grosseiros do avivamentismo popular e defendeu um cristianismo centralizado no
ambiente doméstico.
Uma tradição teológica que partilhava da mesma
inquietação quanto ao evangelicalismo reavivamentista surgiu no seminário
reformado alemão de Mercersburg, na Pensilvânia. Essa teologia foi articulada
principalmente por John Williamson Nevin (1803-1886) e Philip Schaff
(1819-1893). Nevin estudou com Charles Hodge em Princeton, mas concluiu que o
calvinismo do seu mestre era excessivamente “puritano” e que o evangelicalismo
americano em geral era muito influenciado por um reavivalismo mecânico. Após
tornar-se professor do pequeno seminário de Mercersburg em 1840, ele sentiu o
impacto do Catecismo de Heidelberg e de teólogos alemães interessados na
renovação das tradições da Reforma. Respondendo a essas influências, Nevin criticou
o reavivamentismo americano por dar excessiva ênfase ao indivíduo. Ele também
atacou a ortodoxia calvinista americana por dar pouca ênfase à obra de Cristo e
à Ceia do Senhor. Schaff, que passou a trabalhar com Nevin em 1844, trouxe
consigo uma apreciação pela nova filosofia idealista alemã e um profundo
compromisso com a renovação da igreja nos moldes pietistas. A maior influência
desses teólogos somente se faria sentir no século XX.
3.1.8 As igrejas e a Guerra Civil
A Guerra Civil (1861-65) entre o norte e o sul dos
Estados Unidos foi o mais sangrento conflito armado de que aquele país já
participou, com mais de 620 mil soldados mortos. O sul ficou devastado, somente
conseguindo recuperar-se economicamente em meados do século XX. Houve duas
razões principais para a guerra: a definição dos Estados Unidos como nação (um
país unido ou um grupo de estados que podiam separar-se à hora que quisessem?)
e o problema da escravidão. Um momento decisivo foi a emancipação dos escravos,
decretada pelo presidente Abraham Lincoln em 1863.
O cristianismo teve presença marcante na crise que
resultou na Guerra Civil e na própria guerra. Como na Revolução Americana, a fé
cristã em si não foi uma causa do conflito, mas ela proporcionou uma rede de
influências que intensificaram as divergências políticas, sociais e culturais
que resultaram no conflito. Tão intensos quanto o compromisso religioso com a
guerra foram os amplos efeitos religiosos que ela precipitou. No aspecto
prático, as igrejas foram usadas como postos de recrutamento e as tropas eram
enviadas para a batalha mediante a realização de um culto. As mulheres foram
mobilizadas para fazer uniformes para os exércitos. Os ministros ficaram em
situação difícil, presos entre a sua consciência e a lealdade regional. Leonidas
Polk, o bispo episcopal da Luisiana, tornou-se um general no exército sulista.
Muitos hinos foram escritos, dos quais o mais famoso foi “The Battle Hymn of
the Republic” (Vencendo Vem Jesus).
3.2 Os últimos anos da “América Protestante”
(1865-1918)
Após a Guerra Civil, ocorreram enormes mudanças na
sociedade americana que afetaram profundamente o cenário religioso. O
protestantismo clássico – os grupos que se consideravam os protetores da
herança cristã americana e os construtores de uma sociedade nitidamente
protestante – viu a sua influência declinar com a passagem dos anos. Na segunda
metade do século 19 houve um grande crescimento do número de cristãos
não-protestantes (católicos, ortodoxos) ou que não eram de língua inglesa
(alemães, holandeses, escandinavos), bem como de não-cristãos (judeus,
muçulmanos, orientais). Além disso, surgiram crescentes tensões dentro da
própria comunidade protestante majoritária. Todavia, por algum tempo os
protestantes brancos anglo-saxônicos continuaram a exercer forte influência e a
dedicar-se com entusiasmo a atividades missionárias (nacionais e estrangeiras)
e sociais.
3.2.1 Missões
O ímpeto de difundir o evangelho tornou-se ainda
mais forte após a Guerra Civil. Um reavivamento ocorrido em 1857-58, às vezes
denominado o “despertamento dos homens de negócios” por causa da participação
de destacados empresários urbanos na promoção do mesmo, havia estabelecido um
modelo para o evangelismo urbano posterior e também elevado as expectativas
quanto às atividades missionárias no exterior.
O evangelista mais conhecido da segunda metade do
século 19 foi Dwight Lyman Moody (1837-1899). Moody nasceu no interior de
Massachusetts e passou parte da adolescência em Boston, vindo ali a
converter-se. Pouco antes da Guerra Civil, mudou-se para Chicago, onde se
envolveu com o trabalho da Associação Cristã de Moços e passou a dar
assistência às crianças pobres da cidade. Em 1873, convidou o cantor evangélico
Ira Sankey (1840-1908) para acompanhá-lo numa campanha evangelística na Inglaterra.
Os resultados foram muito além das suas mais ousadas expectativas. Regressaram
dois anos mais tarde aos Estados Unidos cercados de enorme celebridade e deram
início a uma série de memoráveis campanhas que marcaram profundamente as
igrejas e a sociedade. Essa revitalização chegou num momento em que o país
sofria com o fracasso da reconstrução do sul, o temor da influência católica e
os problemas da expansão urbana e industrial.
Moody inaugurou um novo estilo de pregação e
evangelismo, mais comedido e melhor adaptado à época do pós-guerra, que seria
seguido por muitos de seus sucessores até os nossos dias (Billy Graham). Ele
ampliou a sua influência através de importantes instituições que fundou, como
um centro de treinamento para obreiros leigos em Chicago (o futuro Instituto
Bíblico Moody) e as conferências missionárias de verão realizadas perto da sua
residência em Northfield, Massachusetts. Dessas conferências resultou a criação
do Movimento Voluntário Estudantil (1876), que inspirou milhares de jovens a
dedicarem suas vidas ao esforço missionário mundial.
Os principais promotores de missões estrangeiras
nessa época foram homens como o presbiteriano Arthur Tappan Pierson
(1837-1911), um dos fundadores da Missão do Interior da África; o batista
Adoniram Judson Gordon (1836-1895), fundador do Instituto de Treinamento
Missionário de Boston; A. B. Simpson (1843-1919), o fundador da igreja Aliança
Cristã e Missionária; John R. Mott (1865-1955), autor da famosa senha “A
evangelização do mundo nesta geração”; e principalmente Robert Eliott Speer
(1867-1947), que, após participar do Movimento Voluntário Estudantil, foi por
mais de quarenta anos (1891-1937) o secretário da Junta de Missões Estrangeiras
da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.
Nas últimas décadas do século 19 houve um
crescimento impressionante das missões protestantes norte-americanas através do
mundo, coincidindo com a própria expansão econômica, política e militar dos
Estados Unidos. Isso criou uma mistura de motivações missionárias e nacionalistas
que por vezes gerou sérios problemas. Na mesma época, ganhou ímpeto a tendência
de aproximação dos missionários e agências de diferentes denominações, que
resultou na realização de grandes conferências missionárias dos dois lados do
Atlântico e contribuiu para o surgimento do movimento ecumênico do século XX.
3.2.2. Envolvimento social
Além do interesse por missões, as igrejas americanas
também se envolveram em atividades políticas e de reforma social, como a
campanha contra a venda e o consumo de bebidas alcoólicas (o movimento da
temperança). Os protestantes preocuparam-se especialmente com os problemas
gerados pela expansão econômica e o resultante crescimento das cidades. Os
centros urbanos tornaram-se lugares em que os muitos imigrantes e outras
minorias viviam na pobreza, sem usufruir a prosperidade que beneficiava a
tantos ao seu redor. Um das iniciativas mais bem-sucedidas no sentido de
enfrentar esses problemas foi o Exército de Salvação. Essa organização
religiosa e caritativa foi criada na Inglaterra na década de 1860 por William
Booth, sendo levada para os Estados Unidos em 1880. No início do século XX, o
Exército da Salvação já possuía mais de novecentos locais de atendimento no
país, proporcionando assistência religiosa, alimento, abrigo, assistência
médica, educação primária, treinamento profissional, assistência jurídica e
outros serviços.
Outra iniciativa de grande impacto foi o movimento
do Evangelho Social, que esteve em evidência desde aproximadamente 1880 até o
início da Grande Depressão, em 1929. Um dos primeiros articuladores do
movimento foi Washington Gladden (1836-1918), um ministro congregacional que
atuou em Massachusetts e Ohio e foi ardoroso defensor dos direitos dos
trabalhadores. Charles Sheldon, um pastor do Kansas também contribuiu para
popularizar o Evangelho Social através do seu famoso livro Em Seus Passos
(1897). Porém, o mais importante expoente desse movimento foi Walter
Rauschenbusch (1861-1918), um pastor batista de origem alemã que trabalhou por
dez anos no bairro novaiorquino conhecido como Hell’s Kitchen (“cozinha do
inferno”) antes de tornar-se professor de história da igreja no Seminário de
Rochester. Seu contato direto com a exploração dos operários e a indiferença
das autoridades fizeram dele um crítico da ordem estabelecida. Todavia, seu
principal interesse foi buscar nas Escrituras uma mensagem para os problemas da
sociedade industrial. Esse esforço resultou em alguns livros marcantes
publicados no início do século XX: O Cristianismo e a Crise Social (1907),
Orações do Despertamento Social (1910), Cristianizando a Ordem Social (1912) e
Uma Teologia do Evangelho Social (1917).
3.2.3 Desafios intelectuais
O novo ambiente urbano posterior à Guerra Civil
ofereceu pressões comerciais mais intensas, maior acesso à educação superior e
crescente contato com pessoas de diferentes grupos étnicos e religiosos,
fatores esses que contribuíram até certo ponto para solapar o caráter
evangélico da fé nacional. Além dessas mudanças sociais, ocorreram alguns
deslocamentos intelectuais que apontavam para a fragmentação do cristianismo
protestante que por mais de um século havia dominado a religião pública dos
Estados Unidos.
O período pós-guerra testemunhou o surgimento da
moderna universidade americana, começando com Harvard, em 1869, e Johns
Hopkins, em 1876, seguidas de Stanford, Universidade de Chicago, Yale,
Princeton, Columbia, Michigan e Winsconsin. Os recursos para essas instituições
vieram da nova classe de riquíssimos empresários como Ezra Cornell, Johns
Hopkins, Cornelius Vanderbilt, Leland Stanford, James Duke e John D.
Rockefeller. O objetivo das mesmas não era mais a formação do caráter, como
havia sido tradicionalmente, mas a instrução especializada, em nível de
pós-graduação, segundo o modelo alemão de vida acadêmica. Essa tendência foi
acompanhada do enfraquecimento da influência cristã nessas instituições e de
uma quase ilimitada confiança na ciência.
Certas proposições acerca da Bíblia também causaram
um grande impacto. Boa parte dos estudos avançados vindos da Europa no final do
século 19 parecia minar a antiga confiança que a maior parte dos americanos
havia depositado na veracidade das Escrituras. As novas concepções da crítica
histórica transformaram a Bíblia de uma fonte inquestionável de autoridade religiosa
em um problema que exigia crescente atenção e gerava crescente controvérsia.
Ao contrário do que aconteceria a partir de 1920, as
primeiras adaptações dos protestantes às novas condições sociais e às idéias
críticas modernas foram relativamente isentas de traumas. As atitudes quanto à
evolução constituem um bom exemplo. Na primeira década e meia após a publicação
da obra de Charles Darwin, A Origem das Espécies (1859), tanto líderes
religiosos quanto cientistas demonstraram grande ceticismo quanto à teoria da
evolução através da seleção natural. Pensadores progressistas como Horace
Bushnell se uniram a conservadores como Charles Hodge e moderados como Phillips
Brooks no sentido de rejeitar essa teoria como uma afronta às sensibilidades
morais e às pressuposições teistas. Por outro lado, o mais notável dos
primeiros defensores de Darwin nos Estados Unidos foi Asa Gray, um botânico de
Harvard que insistia que a teoria da evolução era compatível com o desígnio
inteligente de Deus com relação ao universo, bem como com o cristianismo
ortodoxo, trinitário.
Mais tarde, quando o mundo científico gradualmente
veio a aceitar os princípios evolucionários gerais, os protestantes começaram a
dividir-se. Charles Hodge considerou a evolução proposta por Darwin como
“ateísmo”, porque ele não encontrou nas obras desse autor qualquer espaço para
o propósito divino no controle do mundo. Do outro lado estavam pensadores que
alteraram radicalmente algumas concepções cristãs tradicionais para adaptá-las
ao modelo evolucionário, mas não havia muitos deles até o início do século XX.
Muito mais comum do que a pura e simples rejeição ou aceitação do darwinismo
foram as tentativas de fazer pequenos ajustes tanto no pensamento cristão
tradicional quanto nas concepções populares acerca do cosmos, como foi o caso
de alguns professores de Yale e Princeton. Esses protestantes sentiam que a fé
cristã histórica e a crença tradicional no ordenamento divino do mundo podiam
harmonizar-se com a crença em algum tipo de evolução.
Benjamin B. Warfield (1851-1921), professor do
Seminário de Princeton e principal defensor da inerrância das Escrituras no
final do século 19, escreveu em 1888 que não julgava haver qualquer afirmação
geral na Bíblia ou no relato da criação que fosse oposta à evolução. Outros
indivíduos que tentaram reter a antiga fé com alguma mistura de elementos
modernos foram, por exemplo, os presbiterianos William G. T. Shedd (1820-1894)
e Charles A. Briggs (1841-1913), e os batistas Augustus H. Strong (1836-1921) e
Edgar Young Mullins (1860-1928). As diferenças que existiam entre eles eram
consideráveis, mas o que tinham em comum era um protestantismo que ainda
possuía as marcas do século 19. Eles estavam tão preocupados em preservar
quanto ou mais que em inovar; estavam interessados em assimilar (ou pelo menos
considerar plenamente) os últimos avanços da ciência e prontos a utilizar
certas associações de recursos teológicos que no século seguinte tornaram-se
incompatíveis, escrevendo suas teologias para orientar tanto a igreja quanto a
cultura geral.
Ao mesmo tempo, os novos conhecimentos romperam o
relacionamento existente entre o protestantismo evangélico e a vida intelectual
da nação ao eliminarem o controle protestante da educação superior americana e
abrirem a porta para interpretações seculares da vida. Mais que isso, no
alvorecer do século XX, surgiram dois pólos de teologia protestante
radicalmente opostos: modernismo e fundamentalismo. Os modernistas eram
protestantes que sentiam ser necessário adaptar a fé cristã às normas
definidoras da cultura moderna. Os representantes mais destacados dessa posição
foram homens como o ministro congregacional Theodore Munger (1830-1910), o
professor e presidente do Seminário Union de Nova York, Arthur Cushman
McGiffert (1861-1933), e especialmente o deão da Escola de Teologia da
Universidade de Chicago, Shailer Mathews (1863-1941), autor do conhecido livro
A Fé do Modernismo (1924).
As respostas fundamentalistas aos novos desafios
abrangeram um amplo espectro. De um lado houve intelectuais respeitados como J.
Gresham Machen (1881-1937), professor de Novo Testamento no Seminário de
Princeton e autor do livro Cristianismo e Liberalismo (1923); do outro lado,
proponentes do dispensacionalismo pré-milenista como Cyrus I. Scofield (1843-1921),
autor da edição comentada da Bíblia que leva o seu nome. Um movimento
protestante ainda mais conservador no final do século 19 foi o que recebeu o
nome de “holiness” (santidade), derivado do metodismo e um precursor direto do
pentecostalismo do século XX.
Fonte
Mark A. Noll, A History of Christianity in the
United States and Canada (Grand Rapids: Eerdmans, 1992).
Bibliografia
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Cairns, Earle E., O Cristianismo através dos
Séculos: Uma História da Igreja Cristã (São Paulo: Vida Nova, 1988).
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3. Grupos, personagens e movimentos
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the United States and Canada (1992)
I. Primórdios
1.
Expansão européia e colonização católica: Nova Espanha, Nova França,
Maryland
2. A
Reforma inglesa e os puritanos: Inglaterra, Virgínia, Plymouth
3. Outros
primórdios: batistas, anglicanos, quakers, presbiterianos, reformados e
pietistas, índios e escravosII. Americanização
4.
Renovação da piedade (1700-1750): Solomon Stoddard e Cotton Mather; o
Grande Despertamento (George Whitefield e Jonathan Edwards); seus efeitos
5. As
igrejas na revolução: patriotas e monarquistas; a fé dos fundadores; a
escravidão
6. A
revolução nas igrejas: separação igreja-estado; democracia populista; teologia
americanaIII. O “Século Protestante”
7.
Mobilização evangélica: o Segundo Grande Despertamento; metodistas e
batistas; Finney; mulheres; missões
8. Os
“forasteiros”: adventistas, mórmons, negros, católicos, imigrantes
9. A
“América Evangélica” (1800-1865): missões, educação, teologia, política
10. [O Canadá
cristão]
11. Os
últimos anos da “América Protestante” (1865-1918): evangelismo e missões,
reforma moral, política protestante, o Evangelho Social, o movimento
ecumênicoIV. A Emergência do Pluralismo Religioso
12. A Guerra Civil
13. Grupos
não-brancos e não-protestantes: negros, ortodoxos, católicos
14. O
protestantismo abalado: desafios intelectuais e teológicos
15. Legados
da “América Cristã”(a) Sydney Ahlstrom,
A Religious History of the American People (1972)
I. Prólogo Europeu: catolicismo, Reforma,
puritanismo, colonização
II. A Fundação do Império Protestante: Nova
Inglaterra, Rhode Island, colônias do sul e colônias centrais (holandeses,
puritanos, quakers, anglicanos, pietistas reformados e luteranos)
III. O Século de Despertamento e Revolução:
presbiterianismo, o Grande Despertamento, Jonathan Edwards e teologia,
catolicismo, iluminismo, revolução
IV. A Era Dourada do Evangelicalismo Democrático:
unitarianismo, teologia da Nova Inglaterra, o Segundo Grande Despertamento,
metodistas e batistas, presbiterianos e congregacionais, seitas e movimentos
comunitários
V. Religiões Competidoras: luteranismo, catolicismo,
anti-catolicismo e movimento natisvista, judaísmo, romantismo
VI. Escravidão e Expiação: reformas humanitárias,
escravidão e divisão, Guerra Civil e reconstrução, igrejas negras, igrejas
brancas do sul
VII. As Dores da Transição: crescimento urbano,
imigração, teologia liberal, evangelho social, tensões no protestantismo e
catolicismo, protestantismo militante
(b) Edwin
Gaustad, A Religious History of America (1990)
I. A
Era da Exploração (1492-1607): índios americanos; primeiros esforços
missionários e colonizadores dos franceses, espanhóis e ingleses
II. A Era da Colonização (1607-1775): a religião das
colônias inglesas
III. A Era da Expansão (1775-1898): revolução e
separação igreja-estado,despertamento e inovações, evangelização do oeste,
abolicionismo e Guerra Civil, diversidade religiosa e imigração, urbanização e
industrialização
IV. A Era do Império (1898-1962): da Guerra
Hispano-Americana até o Vaticano II; tema: o ingresso dos EUA no cenário
mundial; missões domésticas e mundiais; grupos religiosos; controvérsias
teológicas
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